segunda-feira, 12 de abril de 2010

Provavelmente a melhor iniciativa de sempre !!!


"Ocuparam a sede do partido de Franco quando mataram o Rei e lá nasceu o SL Benfica


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Modéstia de Cosme Damião e prisão de Cruz Viegas

Foi nesse ano de 1904, a 28 de Fevereiro, que antigos alunos da Casa Pia e jogadores do Grupo dos Catataus se juntaram na sala de reuniões da Farmácia Franco para fundarem um novo clube. Primeira sugestão de nome: Grupo de Football Lisboa. José da Cruz Viegas, então aspirante do exército, que na I Guerra Mundial cairia, prisioneiro, nas masmorras dos alemães, contrariou-a com curioso argumento: «As iniciais dariam GFL, talvez aparecesse alguém a suor que se trataria da Guarda Fiscal de Lisboa».

Falou-se em Grupo Sport Lisbonense – e em Grupo Sport Lisboa se ficou, não muito depois já era simplesmente Sport Lisboa.

A Cosme Damião coube redigir a acta da fundação – mas por modéstia não escreveu nela o seu nome. Logo se acertou que presidente seria José Rosa Rodrigues, o mais velho dos irmãos Catataus; que o símbolo seria uma águia - «por significar elevação de propósitos, largo espírito de iniciativa e ânsia de subir o mais alto possível»; que a divisa seria Et Pluribus Unum como apologia de união na comunhão de sentimentos. As cores, escolheu-as Cruz Viegas: vermelho e branco por «traduzir alegria, colorido e vivacidade e ser fonte de entusiasmo».

Bola em segunda mão, 1500 réis...


Compraram-se camisolas de flanela na Alfaiataria Nunes e uma bola em segunda mão ao Cricket Club por 1500 réis. As redes eram umas que tinham sido usadas na pesca da corvina, na Trafaria – e para os jogos e treinos, que se faziam, ali mesmo em Belém, numa faixa de terreno junto da linha de comboios para Cascais, montavam-se e desmontavam-se as balizas, havia um carpinteiro que recebia 50 réis pelo trabalho. Para o banho usava-se a água de um poço, um moço retirava-a com um balde e despejava-a pela cabeça abaixo dos jogadores.

A 1 de Janeiro de 1905, fez-se o primeiro jogo «formal», contra o Campo de Ourique. Treinador foi Manuel Gourlade – e o SL venceu por 1-0. Nesse, como em vários outros jogos seus esteve apenas um polícia à guarda, pelo serviço lhe deram 500 réis – e o Sport Lisboa criou igualmente o hábito de oferecer lanches aos adversários, nos seus primeiros documentos de contabilidade há despesas de 4,5 litros de vinho por 540 réis e de 36 sanduíches por 1800 réis.

O truque da sede dos franquistas


A 19 de Maio de 1906, D. Carlos colocou ponto final ao rotativismo entre regeneradores e progressistas que vinha de 1893 – nomeando João Franco para primeiro-ministro. Ele prometeu governar, liberal, democrata, à inglesa – mas depressa passou a governar, autocrático, ditador, à turca.

Semanas depois, a 26 de Julho, fundou-se o Sport de Benfica, José Duarte foi o seu primeiro presidente. Três meses volvidos sucedeu-lhe Luís Carlos Faria Leal, major do exército – e em Maio de 1907, o SB por 40 mil réis ao ano, tomou posse de terreno da Quinta da Feiteira onde montou campo de futebol de 120 por 79 metros.

Passou tempo com o Benfica a brilhar em ciclismo e atletismo – e a 31 de Janeiro de 1908 Franco convenceu o rei a promulgar decreto que permitia a deportação dos presos políticos para as colónias de África ou para Timor. Ao assiná-lo, D. Carlos largou, premonitório, num murmúrio:
- Assino a minha sentença de morte, mas os senhores assim o querem...

No dia seguinte, o rei e o príncipe real caíram às balas de dois carbonários. E ali mesmo, no olho da tragédia, ao avistar João Franco, Maria Pia, a velha rainha-mãe, praguejou, apontando para os cadáveres de D. Carlos e D. Luís Filipe estendidos no chão do Arsenal:
- A vossa obra, Senhor Presidente! Diziam que o senhor era o coveiro da monarquia. Foi pior. Foi o assassino de meu filho e de meu neto...

D. Manuel assumiu a coroa – e atirou João Franco para o exílio. Alguns dos membros do Centro Regenerador Liberal da Cruz da Pedra, o braço político franquista, que tinha a sua sede na Travessa de Sanches de Baena, eram também sócios do Sport Benfica - e Faria Leal contou não muito tempo volvido: «Porque os franquistas haviam abandonado, na retirada, armas e bagagens –numa simulada assembleia geral, aprovámos acta testamentária a considerar por herdeiro o Sport Benfica, que assim se viu pomposamente instalado, com uma sala de bilhar e um decente e moderno mobiliário...»

Tinha campo, tinha sede – só não tinha grandes jogadores de futebol. Cosme Damião, a alma do Sport Lisboa, também era um dos 129 sócios do Sport Clube de Benfica. E como o SL tinha jogadores, mas não tinha campo, lembrou-se de fundi-los.

António Freire Sobral apresentou em AG a proposta de junção e sugeriu o nome: Sport Club de Lisboa. Achou-se que ficaria melhor Sport Clube de Lisboa e Benfica – e a 13 de Setembro de 1908, ao oficializar-se a união, a designação que se acertou, à última hora, foi Sport Lisboa e Benfica.


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2 comentários:

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