domingo, 22 de setembro de 2024

Estamos na Champions!!!


Benfica 91 - 85 Fribourg
28-26, 24-15, 14-25, 25-19

Contra um adversário fraco, vitória 'épica' após uma sequência inacreditável de lesões: primeiro foi o Broussard, depois o Stone, e agora o Drechsel!!! Provavelmente os 3 melhores marcadores do Benfica, na maioria dos jogos, em que eles joguem!!!

Com tantas ausências, caiu nos braços do Rorie e dos restantes a responsabilidade... e até o Thornton acertou no cesto!!!

Se na Supertaça vamos estar muito desfalcados, espero que no início da fase de grupos da Champions, o Stone e o Drechsel estejam disponíveis, senão será muito complicado!

PS: Na Taça Vítor Hugo (feminina), o Benfica, mesmo desfalcado, de duas importantes jogadoras (problemas burocráticos na inscrição...), em dois dias, vencemos três jogos(versão mais curta!)!!! Hoje, vencemos dois: Sanjoanense(51-22) e Sportiva(46-42)!!! E amanhã, vamos disputar a Final com o Imortal.

Estamos na Final da Taça Ibérica!

Benfica 3 - 0 Soria
30-38, 25-22, 26-24

Jogo demasiado equilibrado, apesar do 3-0! A equipa ainda não está a carburar no máximo das nossas capacidades, a derrota em Espanha com o Guaguas tinha sido um aviso! O potencial existe, mas...

Amanhã a Final, com o Sporting vai ser muito aberta...

PS: Na versão feminina desta Taça Ibérica, também nos qualificámos para a Final, com uma vitória de 3-2 sobre JAV Olímpico, com os parciais: 25-22, 24-26, 14-25, 25-22, 15-12.
A Final será contra os Corruptos, em nova Final 100% portuguesa...

Portal da Transparência...

Error 500


"Não tenhas medo. Arrisca! Não é fácil, mas nunca foi. Tenta, tenta, tenta. Desvia. Passa. Devolve. Atira. Recomeça.
Fuço! Larga a bola. Lá estás tu. Se não sabes, não fazes. Estás a tentar para quê? Vai brincar para casa. Não vales nada!
Será que ainda gostamos realmente de quem arrisca? Se o risco está na génese da criatividade, o erro é paradoxo. Tudo começa aí.
E, contudo, só desejamos a perfeição. A segurança. O conforto. A certeza. Lemos estes conceitos aconchegantes na publicidade, nos palavras dos familiares, até no mundo do futebol. Estamos obcecados com os números excecionais, com as promessas de divindades, com o deslumbramento da estatística.
Tudo é mais rápido, intenso, preciso. Inigualável. O ser perfeito. Adoramos a sacralidade que emana da máquina. Mas, afinal, onde está o poder afrodisíaco do erro pagão?
Error 500.
A série documental sobre Di Maria também é sobre a vitória do risco. Das probabilidades que deram certo. Do mundo que continua a premiar o acaso. A carreira de Di Maria é feita de falhas, bolas perdidas e desilusões. E só depois de passes, golos e glória.
Os adeptos do Rosario Central, Sport Lisboa e Benfica, Real Madrid, Manchester United e Juventus nunca o irão esquecer. Nos pés dele vimos o melhor e o pior. Vimo-lo deslumbrante e apático. Vimos o seu céu e inferno, mas poucos ousaram fazer o mais importante: desfrutar. Em Paris, Di Maria foi compreendido. Olharam para ele como o sucesso que começa na falha e aproveitaram o momento, mesmo até ao último segundo. O adeus dele ao Paris Saint Germain é simbólico, em profunda comunhão com quem mais interessa: os adeptos.
Gostaria de pensar que a sua despedida da Luz será igualmente bonita, mas sei que não. Somos adeptos diferentes. Vibramos, acreditamos, desiludimo-nos, desistimos, somos um turbilhão de emoções a toda a hora. É o melhor do mundo. Não vale nada. Este vai ser gigante. Este nem na b. Desisto. Acredito.
Talvez seja preciso um reset à máquina. À nossa máquina. Ao nosso coração. O nosso amor ao futebol precisa de ser puro e intenso. Ingénuo, até. Vivemos num mundo de odds, de contratos milionários e esquemas diabólicos. Gostaria de ser diferente, de ser o que escrevo. De acreditar que vai ficar tudo bem. Que não há nada mais bonito do que uma cueca, rabona ou cabrito, mesmo que seja preciso falhar. Preciso de voltar a acreditar na pureza do erro e na glória daquela bola que sai picada da chuteira. Porque como diz Aimar: “A vida é de quem arrisca.”

PS: Amanhã, todos à AGE. O futuro de um clube também passa por arriscar debatê-lo."

O momento Benfica


"O como é bastante importante nesta fase e o ambiente que se viverá pode ser determinante, também, para o futuro futebolístico da equipa de Bruno Lage.

Duas vitórias, uma com reviravolta empolgante, outra com sofrimento final. Passos normais de qualquer equipa que precisa de reencontrar-se terá, por norma, de dar. O Benfica começou por afastar o fantasma dos jogos fora com uma vitória em Belgrado, na Liga dos Campeões, e pelo menos o resultado da Sérvia vai permitir que o dia de hoje se foque naquilo que realmente importa: os estatutos do clube e só esses.
A discussão sobre tão importante proposta tem de ir para lá do pontapé na bola. Se isso foi conseguido entre partes, não diria desavindas, mas com visões diferentes como são a gestão de Rui Costa e o movimento Servir o Benfica, oposição nas últimas eleições, a vitória frente ao Estrela Vermelha permite que o debate/votação possa vir a decorrer em paz. Ou com mais serenidade.
Se o clube fizer isso bem, tentando colocar mais razão onde a paixão manda, entrar-se-á numa nova era na Luz. Mesmo que haja vozes discordantes com a gestão, mesmo que haja um candidato antecipado a eleições (João Diogo Manteigas), contas negativas e votos contra orçamentos ou exercícios. Estes, por exemplo, afetam um presidente, ou uma direção, a votação dos estatutos afeta todos: a atual gestão e as que vêm a seguir, sejam elas quais forem.
O como é bastante importante nesta fase e o ambiente que se viverá pode ser determinante, também, para o futuro futebolístico da equipa de Bruno Lage.
No fundo, a vitória de Belgrado permitiu retirar alguma probabilidade de contestação por um resultado negativo, por outro, se tudo decorrer com normalidade neste sábado, saberá Lage que os benfiquistas conseguem mesmo dividir as coisas e que enquanto tenta cumprir a promessa de bom futebol, pode contar com os adeptos nas bancadas, a começar pelo Bessa, na segunda-feira.
Lage é um treinador que conhece o clube e tudo o que fez no pós-jogo de Belgrado foi no sentido de unir o pulmão e o coração de que falou antes da reestreia com o Santa Clara. Um gesto pode valer mais do que qualquer discurso e naquela ida para junto da bancada do Marakana onde estavam os adeptos, viu-se Benfica fora de casa como já não se via há algum tempo. E se insisto na tecla fora de casa, é porque há um Benfica que tem de resolver políticas dentro de portas, e solucionar o futebol quando disputado fora delas: as exibições na Luz e longe ainda são demasiado díspares.
O Bessa é um palco traiçoeiro e, por isso mesmo, tudo conjugado, uma excelente oportunidade para os encarnados mostrarem que o momento pode estar mesmo a virar."

Cerveja e futebol


"Há a rima poética, na qual alma rima com calma ou agitação com animação. Depois há a rima simbólica, que tem também ela uma interessantíssima liberdade poética. Não conheço rima mais simbólica e acertada que a de futebol com cerveja, ou cerveja com futebol.
Há várias práticas diferentes na Europa. Portugal, Israel, Irlanda do Norte, Escócia e França são exemplos de países em que a venda é interdita. Na Bélgica, na Letónia, nos Países Baixos, na Dinamarca, na Chéquia e em Itália a venda é livre. Na Grécia, na Irlanda, na Islândia e em Inglaterra pode beber-se uma cerveja, mas não se pode levá-la para a bancada. Ora aqui está o que me parece um belo compromisso entre o bem-estar de todos e a poesia que ainda deve comandar a experiência de ir ao futebol.

De chorar por mais
Grandes golos de Debast e Kokçu em duas das três noites de Champions. Clubes portugueses também dão cartas. E ganham.

No ponto
Carlos Queiroz recebeu uma justa homenagem da Universidade Lusófona. É uma figura incontornável do futebol português.

Insosso
Veremos se a Liga consegue que os clubes de primeira deixem os de segunda receber verbas das competições europeias.

Incomestível
Os incêndios pararam o futebol em três distritos, mas isso é o menos importante de tudo. O flagelo persiste."

Isto foi rápido...!!!

A visão do Tiago


"Julho de 2014. Mundial de futebol. Brasil.
A Seleção portuguesa decide estagiar em Campinas, a cem quilómetros de São Paulo. Escolha estranha, até porque, para a fase de grupos, Portugal defrontaria a Alemanha em Salvador da Bahia, os Estados Unidos em Manaus e o Gana em Brasília.
Quem conhece o Brasil sabe do que falo: temperaturas muito distintas, humidade assimétrica, viagens muito longas e desgastantes. O país-continente merece um cuidado muito especial na preparação para competições de topo.~
A presença de Portugal no Mundial-2014 saldou-se por um desaire (quase) absoluto, não conseguindo o apuramento para os oitavos de final.
Curiosamente, essa dificuldade foi transformada em oportunidade, porque mais fundo não se poderia ir. Fernando Gomes e Tiago Craveiro, há pouco chegados aos lugares de decisão na Federação Portuguesa de Futebol, quase inverteram as polaridades e repensaram as prioridades: construir de raiz um edifício para o futebol português, que aliasse a vertente desportiva e competitiva, a componente formativa e evolutiva, e a substância estrutural essencial para garantir o futuro a médio e longo prazo.
Começava uma grande aventura, justamente a partir de um mau resultado desportivo. A primeira fase da Cidade do Futebol foi inaugurada a 31 de março de 2016, exatamente para servir de base à preparação da Seleção A, que se viria, apenas, a sagrar campeã europeia nesse ano, em França.
Isto é, pensava-se o Futebol como um todo, nas suas diversas particularidades e necessidades. Um passo como ninguém havia dado, pese embora a intenção da edificação de uma casa das Seleções fosse um desejo antigo, do tempo dás presidências de Gilberto Madaíl, mas, por isto ou por aquilo, nunca concretizado.
Mas a FPF foi mais longe na sua missão e tornou-se benchmark em dois aspetos, a nível mundial. A criação do Canal 11 foi uma pedrada no charco da comunicação social portuguesa no que ao tratamento do futebol global diz respeito, na sua génese e nos seus objetivos.
E a Portugal Football School, o braço universitário da FPF, é hoje referência global na formação de quadros nas mais diversas áreas correlativas ao fenómeno desportivo e na investigação em áreas de ponta relacionadas com o treino do futebol.
É uma história que conta com o engajamento de uma equipa de profissionais de elevadíssima qualidade e reputação. Mas há um nome que, inevitavelmente, emerge como fio de primo e corrente transversal a todo este pensamento estratégico adaptado às necessidades do futebol português e à sua valorização perante os pares internacionais. Tiago Craveiro é, seguramente, o melhor dirigente português, do ponto de vista da visão e orientação para o futuro. E dos mais avessos às luzes da ribalta, o que só o tranquiliza e valoriza.
Independentemente do envolvimento de todos os arquitetos deste processo, Craveiro soube conduzir (por vezes por terrenos desconfortáveis e com marés contrárias…) este barco a bom porto, fruto de algo que falta, sistematicamente, no nosso país: capacidade de elencar necessidades, de ir ao fundo da questão e dos problemas para perceber o que efetivamente necessita de intervenção, gestão de prioridades e de equipas, equilíbrio de sensibilidades, jogo motivacional e visão periférica, de helicóptero, a tal que, quando temos, nos mostra uma realidade completamente diferente da perspetiva inicial.
Não me surpreendeu a saída do Tiago para a UEFA, a convite de Aleksander Ceferin. A sua experiência, aliada a uma permanente busca de inovação, já havia proporcionado ao organismo que gere os destinos do futebol continental a criação da Liga da Nações, a tal prova que, desde 2018, permite às seleções nacionais de menores recursos competitivos lutar entre si, conquistar pontos de ranking, equilibrar jogos e ganhar motivação, com o sistema de promoções e despromoções da mais recente competição.
Tem também o seu dedo a reestruturação competitiva a nível europeu, que bem dela necessitava para fazer face aos novos desafios dos direitos televisivos, das verbas de publicidade e marketing e da necessidade de continuar a gerar envolvimento entre público, negócio, espetáculo e competição.
Seria ele (inequivocamente), o melhor candidato à sucessão de Fernando Gomes na presidência da Federação Portuguesa de Futebol. O mais dotado tecnicamente, o de visão mais ampla e transversal, o mais conhecedor, o mais consensual. O mais competente, portanto.
Duvido que ele queira o cargo, o que é uma pena, porque dificilmente algum dos putativos candidatos já em trabalho de bastidores cumprirá tão brilhantemente todos os requisitos (embora, na minha opinião, haja um que se destaca, e dele falarei em breve…).
Fernando Gomes deixará uma marca indelével de competência e arrojo, de estruturação e conquistas. E também sabe, porque é um homem grato, que muito deve a Craveiro em todo o processo.

Nota final: sou amigo do Tiago há mais de trinta anos, o que em nada influencia a opinião que sobre ele exprimi. Espero que ele continue, em cada função e a cada minuto, a ser o que sempre tem sido.

Cartão branco
Quatro fases finais de campeonatos do mundo não são para qualquer um. São, aliás, para muito poucos… Eduardo Coelho, aos 44 anos, cumpre a sua quarta presença na prova máxima do futsal mundial: Tailândia (2012), Colômbia (2016), Lituânia (2021) e Uzbequistão (2024). O árbitro nascido na cidade francesa de Lourdes passa o testemunho a Cristiano Santos (dez anos mais jovem), que faz a sua estreia em Mundiais este ano, por terras uzbeques. Para Eduardo Coelho a certeza de que será um exemplo de dedicação, resiliência e competência numa área e numa modalidade em que esses são valores determinantes.

Cartão amarelo
É dos melhores treinadores portugueses e é, sobretudo, um cavalheiro. Porém, a sua saída do Al Nassr reveste-se de contornos tão previsíveis que não havia necessidade de, na véspera, vir a terreiro dizer que «mentir é uma coisa muito feia», quando confrontado por um jornalista com a quase inevitabilidade deste desenlace. Os jornalistas têm, por vezes, fontes que nem os treinadores dominam, e nem o discurso perfeito, são e escorreito de Luís Castro substitui o dislate da mentira feia… Uma coisa é certa: o técnico português continuará a ser um dos principais nomes na carteira de grandes clubes."

O paradoxo da abundância


"Desde de 30 de agosto, quando expirou o contrato com o Hajduk Split, sem clube, o médio croata Ivan Perisic assinou a 18 deste mês pelo PSV. Mas a 5 de setembro, no Estádio da Luz, lá estava ele sentado no banco ao lado do selecionador Zlatko Dalic, primeiro, e em campo, depois, para os últimos 15 minutos do Portugal-Croácia.
Na hora de convocar, Dalic deve estar-se nas tintas para saber qual é o momento de forma dos jogadores: chama os de sempre, incluindo o então desempregado Perisic, e siga. À frente de uma seleção de um país com menos de quatro milhões de habitantes, o treinador sabe que não tem base de recrutamento suficiente para experimentalismos e inovações se quiser manter os níveis competitivos.
E esse défice quantitativo tem se revelado... uma benção, traduzida em duas meias-finais seguidas de mundiais.
Já o Brasil, que desde que levantou a taça em 2002 só chegou às meias-finais uma vez e era melhor que não tivesse chegado (levou 7-1 da Alemanha), sofre daquilo que em economia se chama de maldição dos recursos ou paradoxo da abundância.
Essa tese contraintuitiva defende que países com mais recursos naturais — petróleo e minerais, sobretudo — tendem a ter crescimentos económicos mais baixos, menor desenvolvimento geral da população e índices piores de democracia do que os países com menos.
Os economistas que mais a estudaram, Jeffrey Sachs e Andrew Warner, comparam os segundos com a imensidão de cidadãos comuns que têm de administrar, tostão a tostão, o orçamento familiar e os primeiros com os raros vencedores de lotarias que gerem os rendimentos sem cuidado.
Voltando ao futebol, enquanto Dalic chamava Perisic e mais aqueles outros ic do costume, Dorival Júnior convocou em 2024, só para o ataque, Endrick, Martinelli, Raphinha, Richarlison, Rodrygo, Savinho, Vinicius Júnior, Galeno, Pepê, Evanílson, Pedro, Estêvão, João Pedro, Luiz Henrique e Lucas Moura. E ainda há Neymar. Como se constrói uma equipa — no sentido de equipa mesmo, oleada, mecanizada — se para as duas ou três posições de ataque há 16 candidatos, todas de qualidade indiscutível, uns mais velhos, outros mais novos, uns mais rápidos, outros mais fortes, todos a reclamarem e a merecerem uma oportunidade, fora mais uns quantos que a imprensa sugere e o público exige? Em suma, pobre Dorival. E rico Dalic.
Por falar no jogo com Portugal, dia 5 na Luz, além de Perisic, estiveram Livakovic, Sosa, Gvardiol, Kovacic, Modric, Kamaric, Pasalic, Budimir e Petkovic. Todos eles, com golo deste último e defesas essenciais do primeiro, eliminaram o Brasil, abundante e cheio de recursos naturais, no jogo dos quartos de final do Mundial-2022 do Catar."

O sistema é relação


"Tudo é sistema — digo eu e dizem outros que sabem mais disto do que eu! Se bem compreendo a ideia de sistema, podemos concebê-lo como uma totalidade organizada, com inter-relações constantes entre os elementos que o constituem. Como se aprende no Método-1, de Edgar Morin: «Fora dos sistemas, há apenas dispersão particular (…). Aquilo a que chamamos natureza não é outra coisa senão essa estranha solidariedade de sistemas emaranhados, construindo-se uns sobre os outros, pelos outros, para os outros, com os outros, contra os outros.» Portanto, um chefe prepotente, que se instalou na convicção que não tem dúvidas, porque vive de princípios absolutamente indiscutíveis; ou um treinador desportivo que vive no conforto de critérios que julga superiores ao tempo e à história — hoje, ambos mostram uma redonda ignorância do que é a Verdade, do que é a Certeza. Certeza só há uma: a Verdade não existe no reino do humano e que nos encontramos tanto mais próximos da inalcançável Verdade, quanto mais, simultaneamente, praticarmos e dialogarmos e estudarmos a área do conhecimento em que nos consideram (e nos consideramos) especialistas. Ninguém, nem nenhuma instituição, possuem a Verdade. Uma Verdade possuída não passa de uma trapaça ou de um logro ou de uma ilusão de um doente mental. A Verdade é um processo em constante construção e, porque é humana, não é uma verdade a-histórica, imperturbável, inamovível, mas um processo em incessante dialética, em imparável devir. Daí, a necessidade absoluta do estudo e do diálogo. A ausência do estudo e do diálogo empurra-nos a verdades inquestionáveis, ou seja, a erros imperdoáveis, ao dogmatismo afinal, que mais não significa do que esclerose e esterilidade do poder criador. Como já o assinalou Bachelard, uma cabeça que se julga bem feita é uma cabeça mal feita que tem a necessidade de ser refeita.
Com o estudo, com o diálogo e quando consciencializo que sou a parte de um todo, surgem em mim, como por milagre, qualidades inesperadas, inéditas e novas, as qualidades chamadas emergências, que assim se definem, em Edgar Morin: «Emergências são as qualidades ou propriedades de um sistema, que apresentam um caráter de novidade, em relação às qualidades e propriedades dos componentes considerados isoladamente, ou posicionados de maneira diferente num outro tipo de sistema». Reside na ideia de emergência pedra angular do pensamento sistémico, pois que só há emergência, novidade, progresso, quando há diálogo, inter-relações, sistema. Quando um dirigente desportivo (fenómeno evidentíssimo no futebol) se desentranha em explicações públicas às atuações menos felizes da sua equipa técnica, está normalmente a desviar as atenções dos sócios e simpatizantes da verdadeira patologia de que sofre o seu clube. Porque, por mais que se vistam com as lantejoulas da retórica, a sua presença nos pedestais, nos lugares-de-honra da vida desportiva portuguesa significa, antes do mais, que há, aqui e além (há muita gente séria no futebol) demasiada ignorância e um pavoroso oportunismo, em certos dirigentes do futebol. De facto, se tudo é sistema; se tudo é uma unidade complexa de vários elementos: as culpas das crises que vergam os clubes não se refugiam só nos treinadores (ou nos árbitros), mas nos sistemas que os clubes são. E começam, demasiadas vezes, na incapacidade de auto-crítica dos seus dirigentes e na falta de hábitos de estudo de alguns seus técnicos e na ausência do velho (e dizem que extinto) amor à camisola nos jogadores, que o profissionalismo extinguiu. Esperava-se de algumas pessoas que tivessem uma mensagem a dar, um sólido projeto a desenvolver, uma obra a construir. E, por vezes, terminam os seus mandatos, com pouca mensagem, com limitadíssimos projetos e com um currículo gotejando inêxitos. Mas com muito ressentimento e muito azedume…
Já fomos campeões europeus de futebol; é português o melhor jogador do mundo; José Mourinho, Fernando Santos e Jorge Jesus (e mais nomes poderia citar) podem ombrear com os melhores treinadores da atualidade; os treinadores portugueses têm um árduo, mas vitorioso, caminho percorrido, ao serviço de clubes estrangeiros; o Dr. Fernando Gomes tem obra inigualável ao leme da Federação Portuguesa de Futebol — não nos falta portanto conhecimento, ou seja, teoria e prática, quero eu dizer: ciência e consciência; liderança e capacidade de comunicação; ganhar condição ética, pela competência, pelo trabalho, pela solidariedade. Os economistas, se bem leio, procuram ensinar que é informacional e global a economia capitalista: é informacional, porque a produtividade e a competitividade dos seus agentes muito dependem da sua capacidade de criar e aplicar informação, baseada em conhecimento. É global, porque tudo se organiza, principalmente a competitividade, à escala global. Mas é preciso não desistir na luta persistente, na esteira de Edgar Morin, de uma ciência com consciência. É que o progresso, no âmbito da tecnociência, como esconder-se? E, no entanto, é também inquestionável o recrudescimento do desemprego e de uma alta competição marginalizante. Deve-se à tecnociência progressos fundamentais no bem-estar de cada um de nós, mas ainda se investe demasiado na ignorância das maiorias como forma de manutenção de um status quo manipulador e alienante. Alguns agentes desportivos prestam-se a situações ridículas, não por falta de boa vontade, mas porque a alta competição, sem o apoio de certos valores e de um rigoroso espírito crítico e auto-crítico, deixa, mais tarde ou mais cedo, nos homens (e mulheres) que dizem servi-lo, uma imagem degradada, amesquinhada de si próprios — que afinal não merecem, porque não é fácil gerir a alta competição desportiva, onde há (suprema contradição!) mais irracionalidade do que racionalidade…
Tudo é sistema, quero eu dizer: numa situação de crise, todos os elementos do sistema, por ação, ou ausência dela, por desconhecimento, por cegueira ou por interesse — todos têm a sua quota parte, na crise que se lamenta. Há um escopo primacial a transmitir: é preciso mudar de paradigma! Por outras palavras: é preciso uma revolução paradigmática. Só que uma revolução paradigmática depende de condições históricas, sociais e culturais, que nenhuma consciência poderia controlar. Mas depende também de uma revolução na consciência das pessoas. «O novo paradigma só pode conceber-se e compreender-se, através de um pensamento complexo. Só que este ainda não está enraizado na nossa cultura [Edgar Morin]». E, por isso, em situações de crise, ninguém quer esclarecer o que parece disperso, vago, informe. Ninguém tem culpa: a culpa é sempre do outro. E, porque ninguém tem culpa — a culpa não existe, não há transformações a fazer. E assim fica tudo na mesma — porque não há culpados, ou seja, ninguém põe em causa as suas certezas, os seus axiomas, os seus métodos. Por outro lado, os discursos permanecem exteriores uns aos outros, recusam o necessário diálogo, ou a indispensável interdisciplinaridade. No entanto, tudo é sistema: voluntaria ou involuntariamente, a crise (e as causas) está em todos os elementos da mesma totalidade. Não há ideias puras, não há factos puros, não há homens puros. Dentro de cada um de nós, o trigo e o joio crescem inextrincavelmente unidos. Não escondamos o joio que há também em nós… para que a crise se resolva! Entretanto, tudo é sistema: tudo está em tudo! Mas, principalmente no âmbito social e humano, tudo é sistema, porque tudo deve converter-se em relação fraterna."