Sven Goran Benfica


"Quase tudo parece ter sido escrito sobre Sven Goran Eriksson, e ainda bem. Felizmente, não deixaram uma extraordinária história para depois da morte do protagonista. Os elogios fúnebres a pessoas que fomos esquecendo, mesmo sabendo que eram importantes, ganham sempre uma aura de arrependimento por não se ter dito tudo o que queríamos ou não termos estado lá tantas vezes quanto devíamos. Eriksson foi tão marcante na sua passagem pelo Benfica e pelo nosso futebol que ficou sempre entre nós, muito depois de ter liderado a equipa técnica num dos grandes períodos da história do clube e de ter encantado milhões de adeptos. E é assim que permanecerá. Não é caso para menos. Ocorria-me hoje, horas após a morte confirmada de alguém há muito em paz com o seu destino, que existirão diferentes formas de explicar a totalidade do Benfica a alguém. Podemos falar de Cosme Damião e dos 24 magníficos que decidiram criar algo muito maior do que eles, de Eusébio, de Mário Coluna, José Augusto, Torres, Águas e tantos outros, de Chalana, de Carlos Manuel, e de tantos outros que juntos encheriam esta página. Podíamos falar dos adeptos que são aquilo que sustenta a grandeza da instituição, ou de mais ídolos que têm o seu nome inscrito na história do clube, mas nenhuma explicação será fiel à realidade sem explicar que Eriksson foi e continuará a ser um dos alicerces que faz do Benfica um gigante do futebol.
Nasci em 1981 e só me apercebi da existência de Eriksson na sua segunda passagem pelo clube. Lembro-me de já viver obcecado por futebol, de memorizar todos os jogadores, todos os marcadores de golos e os minutos a que cada golo tinha sido marcado. Lembro-me de sonhar relatar jogos na rádio quando chegasse a adulto, a única profissão que me lembro de alguma vez ter desejado. Lembro-me da primeira vez no estádio e das muitas que se seguiram, dias inteiros que eram uma realidade alternativa. Lembro-me de ver o Domingo Desportivo como se de um momento sagrado se tratasse, e quase sempre irrepetível. Os golos chegavam pelo correio, numa experiência que seria insuportável aos olhos dos adeptos mais jovens de hoje, a quem o sismo chegou numa notificação da Google antes mesmo de terem sentido a terra tremer. Comprar jornais às escondidas dos meus pais, com o dinheiro das gomas, tornara-se um hábito. Aprendera a ler cedo e estava convencido de que o mundo inteiro estava contido nas páginas dos desportivos (há dias em que ainda penso assim). Eu e o leitor sabemos que há recordações muito mais grandiosas do que era então o Benfica e de quem era Eriksson, vindas de quem estava sempre na Luz enquanto tudo isto acontecia. São as pessoas que mais gosto de ouvir. Cada um viveu a história de acordo com a sua circunstância, umas vezes partilhada, outras vezes meio tola e singular. A minha circunstância era a de um miúdo cheio de sonhos, um miúdo ao qual vou tentando regressar desde então. De todas estas recordações, há uma que me marca até hoje, e que relembro sempre, mesmo quando ninguem me pergunta, como o momento em que percebi a grandeza do Benfica. Eram 16:45 do dia 23 de maio de 1990 quando a minha professora da terceira classe, que não era benfiquista, decidiu que as aulas terminariam mais cedo. Passáramos o dia no recreio a ensaiar o modo exato como o jogo aconteceria, eu mais por palavras do que por gestos técnicos com a bola. Os meus relatos, inspirados naquelas tardes da Antena 1 a saltitar de estádio em estádio, terminavam sempre da mesma forma: uma jogada construída de forma ardilosa e dramática, eu a adiar o prazer para dar um efeito realista ao relato e não parecer que íamos ganhar só porque sim, a bola disputada no meio campo, com direito a sucessivas reações à perda, até ao momento apoteótico em que punha à prova as minhas reais aptidões para um dia vir a relatar jogos na rádio. Tinha que ser capaz de prolongar a palavra golo, ênfase no primeiro o, até ficar sem ar. Aí chegado, inspirava se suficiente para gritar bem alto: do Benfica!
As aulas terminaram mais cedo porque naquele dia o Benfica jogava uma final da Taça dos Campeões Europeus. Se fosse hoje, a professora teria as redes sociais à perna e seria obrigada a escolher outro ofício. Felizmente isto não aconteceu em 2024 (a parte de sairmos mais cedo, irmos a uma final da Champions pode ser já amanhã), e por isso lhe posso dever hoje estas palavras de gratidão, à minha professora e a Sven Goran Eriksson, o treinador que, anos mais tarde, vim a perceber tratar-se de uma pessoa invulgarmente carismática, um homem com uma vida cheia de histórias para contar e pouco arrependimento para dispensar, mas que naquela altura me parecia só um tipo diferente.
O tempo explicou melhor o porquê dessa sensação. O reconhecimento daquilo que foi a sua passagem pelo Benfica e pelo futebol português revela a marca singular de alguém que tornou um clube gigante, ainda maior à sua passagem. Mostra um homem que se engrandeceu por causa do Benfica, mas que nunca se esqueceu do Benfica, essa coisa linda que lhe aconteceu e lhe abriu as portas do resto do mundo. Sinto tristeza e angústia quando penso na morte de uma pessoa que esteve sempre aqui, de pedra e cal, intrinsecamente ligada a um acontecimento tão importante na minha vida. Penso nisso e naquilo que as perdas sucessivas dos heróis do meu clube significam. Ainda sou uma criança “feita para grandes férias”, como escreveu Ruy Belo, uma criança sempre a desejar o dia em que sai mais cedo das aulas porque nesse dia joga o Benfica. Mas agora tenho as minhas próprias crianças, uma forma mais empedernida de ver as coisas, e a realidade concreta teima em intrometer-se na agenda. Já não pede licença nem negoceia férias. Nos últimos anos fui a mais funerais do que a casamentos. Sempre que alguém vai a enterrar, penso no mesmo que muitos de nós. Sou convencido novamente da urgência de vivermos o máximo que podemos enquanto podemos. Saio do cemitério simultaneamente comovido e comprometido em fazer uma espécie de justiça a quem nos deixou primeiro. Foi isso que o próprio Eriksson nos transmitiu numa das suas últimas mensagens, em que pede que saibamos viver com alegria. Se tomarmos a sua vida como inspiração, isso significa deixar as tristezas para trás, como na história contada por Dietmar Hamann, internacional alemão treinado por Eriksson no Manchester City. Uma manhã, numa viagem do City à Tailândia para alguns jogos promocionais, Eriksson chegou à beira de Hamann com uma garrafa de champanhe e dois copos. O jogador perguntou ao treinador o que estavam a celebrar e Eriksson esclareceu: «a vida, meu caro.» Mais uma vez, o Benfica perde uma das suas maiores referências num tempo em que, por força da nossa finitude e do trajeto do clube, as referências se tornam cada vez mais escassas. Cada dia que passa é mais um dia em que a instituição Sport Lisboa e Benfica vive mais à conta da grandeza dos que vieram do que daqueles que hoje cá estão hão-de vir.
Mas, para lá dos dias tristes em que, de certa forma, nos despedimos de quem somos, fica a ânsia de apontar aos novos começos. Que saibamos contrariar a sentença inevitável e consigamos honrar com alegria os pergaminhos do Benfica e aproveitar a vida e a paixão que este clube pode dar a tanta gente. Começando pelo pequeno Francisco, um miúdo a quem a vida pregou a mais dolorosa das partidas, e a quem a Fundação Benfica em boa hora deu a mão para lhe arrancar o mais difícil, um sorriso. Que o clube lhe dê mais alegrias e o relembre, apesar da dor, que é uma criança feita para grandes férias.
Quanto a Sven Goran Eriksson, não tenho dúvidas de que sorriria perante uma última homenagem. Não sei quanto custa nem me interessa, mas seria bonito que, no próximo jogo em casa, todos os lugares no estádio tivessem um chapéu da Macieira à espera de cada um de nós. Se alguém perguntar o que estamos a celebrar, responderemos a quem estiver ao nosso lado: a vida, meu caro."

Pipa em modo colorido!

Mundial de Clubes...

Partiu um dos maiores


"Sven-Göran Eriksson, antigo treinador do Benfica, faleceu aos 76 anos. Este é o tema em destaque na BNews.

1. Percurso extraordinário
Conheça o notável contributo de Eriksson para a grandeza do Sport Lisboa e Benfica em cinco temporadas de uma carreira marcada pelo sucesso e pela admiração de diferentes gerações de adeptos.

2. Figura incontornável da história do Benfica
O Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Rui Costa, salienta que "será sempre um orgulho enorme termos tido na nossa casa um homem tão importante e tão bom como Sven-Göran Eriksson".

3. Testemunhos sentidos
Foram várias as figuras do Benfica a lembrar o homem e o treinador nesta hora de consternação e já de saudade.

4. Homenagem em vida
Recorde a homenagem prestada a Eriksson em abril passado.

5. Bilhetes esgotados
Já não há ingressos para o Moreirense-Benfica da próxima 6.ª feira (20h15).

6. Informação clínica
São 5 os jogadores do Benfica constantes na informação clínica divulgada.

7. Prémio Futebol Feminino
O Benfica arrecadou o "Prémio Futebol Feminino" do Liga Portugal Awards. O Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Rui Costa, salienta o percurso na temporada passada e projeta o futuro: "Fizemos história no ano passado, com a conquista dos quatro títulos nacionais e a chegada aos quartos de final da UEFA Women's Champions League. É um projeto para continuar, de forma sustentada, esperando que possamos contribuir para o crescimento da modalidade em Portugal."

8. Excelente prestação
No Campeonato do Mundo de canoagem de velocidade, houve várias medalhas para canoístas do Benfica, incluindo o ouro em K1 200 metros e K2 500 metros mistos.

9. Jogos e resultados
A equipa B ganhou ao Vizela, por 1-0; os Sub-17 venceram, por 0-2, no reduto do Sacavenense; os Sub-15 triunfaram, por 0-3, na visita ao Académica de Santarém. No andebol, o Benfica foi derrotado na final da Supertaça disputada com o Sporting.
Hoje há partida dos Sub-23 no Benfica Campus, frente ao Portimonense (18h00). Amanhã, os Sub-19 recebem o Lusitânia, no Seixal, às 11h00.

10. Jogos de preparação
A equipa masculina de basquetebol do Benfica triunfou, em Espanha, ante o Unicaja Malaga, vencedor da Basketball Champions League e 3.º classificado do campeonato espanhol na época passada. O resultado foi 76-80.
A equipa feminina de andebol, também em Espanha, foi derrotada, por 30-25, pelo Beti Onak Tudela.

11. Casa Benfica Batalha
Esta embaixada do benfiquismo celebrou o 12.º aniversário."

Arbitragem: sobre a aplicação da vantagem


"Os adeptos em geral não terão noção, mas para um árbitro a aplicação da vantagem é um dos momentos mais gratificantes na direção de um jogo de futebol.
Acompanhem o meu raciocínio, vestindo a pele daquele por instantes: vocês estão dentro das quatro linhas, a acompanhar em corrida constante todas as incidências do jogo. Bola pelo ar, cruzamento, lance dividido, contra ataque, remate perigoso, salto de jogadores à bola, tudo. De repente, percebem que há uma infração. Um atleta carrega outro de forma ilegal. Não têm dúvidas, a falta é clara. A primeira tentação, que obedece a um instinto imediato de tentar preservar aa verdade desportiva, é apitar! Apitar logo! É preciso fazer justiça e conceder à equipa do jogador que sofreu a carga um pontapé-livre.
Mas o que a lei recomenda é que se faça um compasso de espera. Recomenda que contenham esse impulso para perceberem se a não interrupção da partida pode ou não ser mais favorável à equipa lesada. Vão por mim, não é fácil. É aí que entra muitas vezes o fator experiência (quanto mais lances sucedem, mais se aprimora essa capacidade) e, claro, a importância do treino. Como disse em tempos um famoso golfista «quanto mais treino, mais sorte tenho».
Há no entanto alguns fatores a ter em conta para que essa premissa, a da aplicação da vantagem, seja colocada em prática. A primeira e eventualmente mais relevante é nunca confundi-la com mera posse de bola. A ideia subjacente à não paragem do jogo é que a equipa ganhe mais com isso do que com o recomeço decorrente da interrupção.
Se a bola continua na posse da mesma equipa, indo para o lado ou para trás, se vários adversários rodeiam o colega que depois fica com posse, se eventual jogada prometedora se perdeu porque o jogo não parou... não há benefício.
O importante é que o árbitro (e todos cá fora) façam a seguinte pergunta: quem sofreu a falta ganha mais com o assinalar de um pontapé-livre e respetiva paragem de jogo ou com a continuação da jogada?
Pontos importantes a considerar: se a bola segue para a frente, para mais perto da baliza adversária e para um colega do jogador carregado, que se encontra em ótimas condições para prosseguir o lance... a vantagem é bem aplicada. Mas se a bola recua por exemplo até à zona defensiva, onde estão atacantes adversários a pressionar tudo e todos, a infração é para assinalar.
Outras considerações relevantes: se a infração for demasiado dura ou susceptível de criar reações e animosidade, a decisão mais sensata é interromper o jogo, mesmo que sacrificando uma boa vantagem. Porquê? Porque a continuidade nessas condições pode promover confusões ou até agressões. De novo, pede-se sensatez e nteligência na condução de jogo.
O mesmo se aplica quando se percebe que a partida está a ferver, com demasiada intensidade e propensão para entradas perigosas. Dar demasiadas vantagens aí pode ser interpretado como "um convite à violência", que é a última coisa que um árbitro de qualidade deve avalizar.
Por fim, a questão das infrações perto das áreas adversárias. Se a falta for em zona prometedora, capaz de gerar um pontapé-livre direto perigoso, a não interrupção do jogo só se justifica se a vantagem for quase para golo. Isto porque hoje em dia as equipas têm executante de luxo (nas bolas paradas), que treinam até à exaustão esse tipo de lances. Por fim, nos pontapés de penálti não deve haver vantagem, a menos que a bola esteja quase a entrar/ou mesmo a entrar na baliza de quem infringiu. O que o árbitro pode e deve fazer é retardar o apito, esperar um pouco, para ver se de facto a bola vai ou não para golo.
Como veem, esta ação de jogo tem mais que se lhe diga do que parece.
De cada vez que estiverem a ver um jogo ao vivo ou em casa, tentem fazer este exercício mental. Pensem se determinado lance devia valer vantagem ou paragem de jogo. Verão que é interessante ver a coisa nessa ótica."

Não pode ser


"1. Vamos diretamente ao assunto. Bom, na verdade, não é diretamente que vamos ao assunto porque, primeiro, devo partilhar uma máxima que sempre ouvi ao meu avô quando nas bancadas da Luz, no estádio antigo, não neste, despontavam manifestações de impaciência ou mesmo de agressividade dirigidas a jogadores do Benfica. Sim, porque os assobios que João Mário escutou no sábado na nova Luz, sobretudo na segunda parte do jogo com o Casa Pia e até ser substituído, não são uma novidade absoluta no nosso clube.

2. A intensidade dessas vaias que, na ausência de Otamendi, o capitão do Benfica teve de suportar talvez tenha sido mais brutal do que as que ouvi quando comecei a ir ao futebol no fim da década de 60 do século passado e que, por norma, duravam pouco. Eram, nesse tempo, fogachos episódicos não menos insultuosos, mas prontamente serenados pela presença maioritária e ativa de adeptos plenamente conscientes de que humilhar um jogador do Benfica na nossa casa é um enorme desfavor prestado ao Clube.

3. É este, como já terão entendido, o assunto principal das contas desta semana e, perdoem-me, ainda não desvendei o que aprendi de cor com o meu avô ao ouvi-lo dizer sempre, sempre a mesma coisa de cada vez que um atleta do Sport Lisboa e Benfica sofria umas assobiadelas vinda das bancadas quando não se estava a exibir da forma que os terrivelmente exigentes exigiam.

4. 'Assobiar um jogador do Benfica é tão feio como cuspir na sopa'. Era o que ele dizia, e ouvi-o dizer as vezes suficientes para nunca mais me esquecer. Ficou-me, felizmente. No último sábado lembrei-me muito desta máxima a que pretendo obedecer toda a vida independentemente de simpatias e de antipatias do momento e da discussão, amplamente legítima, sobre a qualidade do rendimento em campo de qualquer atleta do Benfica.

5. O que se passou com João Mário no sábado foi tão feio como cuspir na sopa. Estes comportamentos têm consequências ultranegativas para o Benfica, sendo a primeira delas a dissolução do espírito solidário que nos deveria ligar nos momentos de fraqueza como é este que estamos a passar.

6. A segunda consequência é a tristeza que não pode deixar de afetar todos os jogadores da equipa principal vendo um seu companheiro ser tratado sem piedade pelo nosso público e na nossa casa. A terceira consequência é a alegria que estas anormalidades provocam no campo dos nossos maiores rivais.

7. O Benfica volta a jogar na Luz já no próximo sábado, e o adversário é o Estrela da Amadora. Houve um tempo em que a nossa casa era conhecida nacional e internacionalmente pelo Inferno na Luz porque era um inferno para as equipas adversárias. Agora ameaça ser infernal para os nossos jogadores. O que se passa, Benfica?"

Leonor Pinhão, in O Benfica