domingo, 21 de julho de 2024

A caminho...

Rui Costa sente o pulso ao Benfica


"Presidente dos encarnados estará este sábado na Suíça onde se encontrará com sócios e adeptos

Rui Costa vai este sábado sentir o pulso ao Benfica. A ida à Suíça e a França vai servir ao presidente para perceber o estado de espírito da nação encarnada. Podemos sempre achar que há diferenças entre o benfiquista helvético e o gaulês que vive o clube à distância, daquele que se senta e participa nas Assembleias Gerais do clube na Luz. Haverá muita verdade nisso, até porque o indivíduo contestário, seja no Benfica ou numa outra associação, é por norma mais participativo e audível do que a sua contraparte.
Na entrevista que concedeu aos jornalistas, a qual me incluiu, Rui Costa deu a entender que o tempo era a melhor estratégia para voltar a ter os sócios, adeptos e simpatizantes com ele. O que, como se vê pela entrevista de Mauro Xavier nas páginas de A BOLA hoje, pode ser manifestamente diferente de estar com a direção que lidera. Ou dito de forma mais clara, com algumas das pessoas que fazem parte da estrutura encarnada. Com a equipa a ter duas exibições relativamente boas nesta pré-época, e essa ideia de o tempo e ânimo novo curar feridas, estranha-se até alguns timings, com a direção encarnada, não pelo seu líder, vir a público falar de temas que reacendem todas as discussões na Luz.
Já o disse e repito: nenhum presidente, do Benfica ou de outro clube, deve estar dependente do resultado da equipa de futebol. Deve ser votado pela sua estratégia, visão e, obviamente, claro que sim, também pelos resultados: desportivos e não só. Por norma, os primeiros mencionados vêm à cabeça e, neste caso, foi esses que Rui Costa se propôs a dar prioridade.
A ambição desportiva de uma equipa é tão grande quanto a sua saúde financeira, pelo que, na realidade, as duas têm de andar lado a lado. O Benfica ganha mais dinheiro se, por exemplo, for mais longe na Champions, mas para ir mais longe na Champions tem de ter dinheiro para investir em jogadores, seja em contratações, seja nos que já estão no plantel ou vêm da formação.
Ao caminho para atingir esse equilíbrio chama-se, lá está, estratégia: para ser-se superior no campeonato interno e ir diminuindo a diferença para quem está no topo lá fora. Por isso, mais do que responder sobre a venda A ou a compra B, Rui Costa devia hoje explicar aos benfiquistas qual é mesmo o plano de desenvolvimento para ali chegar.
E já agora, estando Rui Costa no clube e na SAD, líder de um e de outra, não devia restar dúvidas a ninguém onde reside o poder, como deu a entender um seu vice-presidente."

O Benfica volta a descer à terra


"Negócio de João Neves faz lembrar outros casos

A transferência iminente do médio de 19 anos João Neves para o PSG volta a lembrar o Benfica e o futebol português que continuam fora dos cinco maiores campeonatos da Europa.
Os clubes nacionais continuam a precisar de vender para equilibrar as contas e é o mesmo que dizer que se mantêm sem argumentos para reter talento.
Por um lado é difícil recusar valores colocados em cima da mesa e por outro é impossível oferecer aos jogadores ordenados tão altos como outros clubes.
João Neves, que desportivamente tem sido fundamental, tornou-se também num elemento agregador juntos dos adeptos benfiquistas e paralelamente no maior ativo do plantel, mas pouco haverá que a SAD dos encarnados possa fazer para o manter. Se tudo correr normalmente, sairá depois de apenas época e meia na equipa principal, numa operação que globalmente colocará €70 milhões no Benfica e que ninguém poderá dizer que se trata de um mau negócio para as águias.
Mas será natural que doa aos adeptos e lhes faça recordar outros casos das últimas décadas.
Alguns exemplos: Bernardo Silva foi vendido ao Mónaco por €15 milhões e com apenas três jogos pela equipa principal das águias; João Cancelo saiu por valor semelhante para o Valência, com dois jogos pelo Benfica; André Gomes trocou a Luz pelo Valência numa transferência igualmente a rondar os €15 milhões, com 41 jogos; Renato Sanches (que pode voltar esta época) foi vendido ao Bayern depois da época de estreia na equipa principal, por €35 milhões, com prémios que podiam colocar o negócio perto dos €80 milhões; Gonçalo Guedes foi vendido ao PSG por €30 milhões depois de época e meia; João Félix fez só uma temporada pelo Benfica e seguiu para o Atl. Madrid, a troco de €126 milhões; Gonçalo Ramos saiu para o PSG por valor a rondar os €80 milhões depois da época de afirmação no Benfica… e fora da formação do Seixal há ainda o caso do argentino Enzo Fernández, que fez somente a primeira metade de 2022/2023 e em janeiro foi vendido ao Chelsea por €121 milhões.
Por muito que custe aos benfiquistas não os ver jogar mais tempo com a camisola do clube, continua a parecer impossível mudar esta realidade e fica o (grande) consolo das transferências milionárias, quase inacreditáveis se tivermos em conta a falta de protagonismo do nosso campeonato."

Repetições que valem a pena


"Não sei se hei de ter pena por a pena do ofensor de Rudiger e Vinícius Jr. ter sido suspensa e não efetiva.
Quer dizer, sou por princípio a favor da pedagogia em vez da punição. Vejo (gostava de ver) as prisões como locais de regeneração e não de condenação social, por isso jamais serei a favor da prisão perpétua, por exemplo.
Quando vejo pessoas, aparentemente de bem, a defender (e a votar) que crianças filhas de desempregados devem ter menos possibilidade de acesso a creches gratuitas fico com dúvidas. Depois penso duas vezes e continuo a achar que mesmo assim vale a pena haver penas suspensas. Rudiger e Vini que me desculpem.

De chorar por mais
Paulinho mostrou os dentes e marcou três vezes em dois jogos no México. É pena deixar de vê-lo por cá.

No ponto
Floresce, no FC Porto, um jogador que parece ir dar que falar. Rodrigo Mora faz lembrar João Pinto e isso não é pouco!

Insosso
Renato Sanches merece ser feliz. Mas merecia regressar, se for mesmo o caso, por outra porta. Ainda há tempo, porém.

Incomestível
Já falei de racismo hoje? Não sei bem, mas nunca é de mais. Fora do futebol e da sociedade, para sempre, por favor."

Os jogos da festa e da fantasia


"Há, apenas, umas semanas, Paris era um imenso estaleiro. Agora, a uma semana dos Jogos Olímpicos, transformou-se num gigantesco parque de diversões para adultos.

Estive há umas poucas semanas em Paris. A cidade estava inabitável. Longas avenidas e pontes cortadas ao trânsito, a Concorde intransitável, vestida de pó e de aço. Um trânsito caótico e com longas filas de autocarros com turistas ansiosos. As pérolas parisienses em arranjos e limpezas, a Notre-Dame ainda cercada de andaimes povoados por operários vindos dos confins do oriente e muitos, mas mesmos muitos mendigos deitados em cartões amarrotados, estendidos ao longo das margens do Sena e pelos cantos das grandes boulevards.
Nem sombras daquela Paris do glamour, da estética e da cultura que durante séculos marcou o Portugal mais elitista e estrangeirado de modos, hábitos, costumes e certos requintes burgueses.
Os parisienses andam loucos com a vida. A política, como se sabe, desaguou num imenso mar de dúvidas, a economia espera por melhores decisões do Banco Central Europeu e existe um desconforto generalizado com uma sociedade que cresce não se sabe para onde, nem por onde.
Porém, a uma semana dos Jogos, Paris está transformada num enorme parque de diversões para adultos. Houve tempo em que Coubertin fez de Paris a cidade mais importante do olimpismo. Claro que Atenas era o “chão sagrado”, mas Paris era o centro do pensamento olímpico. Não foi por acaso que o barão, apesar de avesso a certas modernices para o tempo, percebeu a importância de ligar o desporto com a cultura, o desporto com a ciência, o desporto com a arte. Coubertin percebeu há mais de cem anos quais deveriam ser os parceiros essenciais do desporto, mas já muitos, hoje, o esqueceram. A Universidade da Sorbonne, em Paris, foi o palco do primeiro congresso olímpico e para o evento foram convidados artistas de renome mundial, escritores consagrados, cientistas de diversos ramos da ciência e algumas das mais afamadas personalidades do pensamento político e social.
Ao longo dos anos, sobretudo nas cerimónias de abertura e de encerramento, a relação do desporto, na sua expressão mais alta e universal, com a cultura, tem-se mantido. Mas é um facto que, ano após ano, afirma-se uma nova expressão de cultura. Daí que Paris nos prometa, agora, uns jogos que une o Desporto com uma cultura popular de diversão.

O PARQUE URBANO NA CONCORDE
Uma das propostas mais futurista dos Jogos acontecerá no coração de Paris. A célebre praça da Concorde foi transformada num imenso parque urbano, onde irão decorrer provas de BMX, breacking, skateboard e um género de mini basquete jogado na versão 3X3. O público pode circular pela praça fechada ao trânsito, assistir a treinos dos atletas e se achar a competição do desporto urbano menos interessante, pode muito simplesmente abastecer-se num dos muitos pontos de restauração, sentar-se e ficar a ver alguma prova mais interessante, que estará a passar nos ecrãs gigantes da Praça.

UMA GIGANTESCA OPERAÇÃO DE COSMÉTICA
Há um objetivo essencial nestes Jogos Olímpicos: celebrar Paris e dar ao mundo a imagem renovada de uma cidade que sempre fascinou gerações e gerações, em toda a parte do planeta. É uma gigantesca operação de cosmética, que não resistirá no tempo. Quando as cortinas baixarem no palco e a chama olímpica se apagar, é bem provável que renasça, entre os parisienses, um sentimento de nostalgia, frustração e até de medo do futuro.
Mais de dez mil milhões de dólares gastos no maior espetáculo do mundo, mais de 15 milhões de visitantes de todos os continentes, mais de quinze dias de competição, que irão envolver dez mil e quinhentos atletas de elite mundial e quando Paris regressar à sua realidade da rotina quotidiana poderá apenas ficar na memória – se tudo correr bem em matéria de segurança – uma imagem de festa cor de rosa do Desporto no mundo. E é precisamente essa sensação de irrelevância histórica que coloca dúvidas e incomodidades em muitos resistentes do pensamento, que mantém firme a convicção de que o Desporto, (com maiúscula) pode continuar a ter um papel social e político importante, desde que não continue a deixar-se capturar pelo sistema dominante.

A MARATONA E A MARCHA DAS MULHERES
Provas de desporto urbano na Concorde, provas de desporto aquático no Sena, onde a atual Prefeita de Paris, Anne Hidalgo, mergulhou para provar que não há perigo dos atletas serem contaminados, e ainda, uma cereja no topo do bolo parisiense, com a prova final da maratona, que irá homenagear a marcha das mulheres na revolução francesa, quando, a 5 de Outubro de 1789, saíram do Hotel de Ville e avançaram sobre o Palácio de Versalhes, numa impetuosa manifestação contra a fome do povo e a riqueza ostensiva da realeza.
A maratona sairá, pois, do mesmo Hotel de Ville irá até Versalhes e regressará ao centro de Paris, passando pelas margens do Sena, os Inválidos, o Louvre, a Concórdia, o Trocadero e a inevitável Torre Eyfell.
Tony Estanquet, presidente da organização dos Jogos de Paris, não quer a celebração da cidade e da sua magnífica história apenas retratada nas cerimónias de abertura e de fecho que se aguardam, sempre, com expectativa. Estanquet quer unir os Jogos com a cidade de Paris. Algo que talvez consiga fazer com os mais belos e famosos monumentos, mas que dificilmente conseguirá fazer com o povo de Paris. Os parisienses, tal como os londrinos, em 2012, veem nos Jogos mais um fator de perturbação das suas vidas e todos os que podem vão fugir da cidade. Para longe."

Quem será o 'novo' campeão mundial?


"O Europeu e a Copa América recém-acabados tiveram um desfecho comum: quem ganhou foi o, agora, maior conquistador de cada uma das provas. A Espanha largou a companhia da Alemanha e passou a somar, sozinha, quatro troféus e a Argentina, ao vencer pela 16.ª vez, isolou-se do Uruguai. Nada de novo, portanto. Pelo contrário. E no Mundial de 2026, haverá algo de novo? Ganhará uma das potências habituais ou teremos um novo campeão? Novo, assim mesmo, em itálico, para reforçar o sentido de sem precedentes, de inaugural.
A última vez em que o novo campeão do mundo foi, de facto, novo aconteceu no Mundial-2010, na África do Sul, que consagrou a Espanha como vencedora inédita. Antes, fora a França a estreante, em 1998, e, antes ainda, a Argentina, em 1978, ambas campeãs do mundo pela primeira vez como anfitriãs. E o próximo novo campeão, quem será? A maioria dos leitores responderá o nome de um país começado por P e acabado em gal mas aqui não vai ler nada disso para não agoirar.
Sejamos, aliás, o mais científicos possível na previsão, assim como o economista (e fanático do Manchester United) Jim O’Neill, quando listou fatores como área, população, produção e matérias-primas para atribuir ao Brasil, à Rússia, à Índia, à China e à África do Sul, os cinco BRICS, o papel de potências emergentes. No futebol, aqueles fatores de O’Neill poderão ser substituídos por 1) paixão pelo jogo, 2) organização das competições nacionais, 3) presença habitual em Mundiais e 4) relevância demográfica.
O Brasil, apesar de dever melhorar o 2), tem nota máxima nos restantes pontos e, por isso, é o maior campeão de todos. E, à exceção do pequenino Uruguai que, com todo o respeito pela sua fabulosa tradição, só ganhou na pré-história dos Mundiais, os demais campeões – Itália, Alemanha, Argentina, França, Inglaterra e Espanha – obedecem perfeitamente àqueles critérios.
Na calha, pode estar o México, liga tradicional e rica, força demográfica, presença constante nos eventos, triunfo olímpico recente e fator casa já em 2026. Ou a Rússia, futebol com história e um oceano de terra mas um governo que prejudica toda a gente, inclusive o próprio país. E os Países Baixos, que já chegaram a três finais, mas têm só 18 milhões de habitantes. Talvez também a Colômbia, país mais populoso do que a Argentina, fértil produtor de talentos, cada vez mais espalhados por grandes da Europa. E, porque não, a Nigéria, que, apesar da falta de organização, já levantou taças a nível juvenil e olímpico e é, com 224 milhões de habitantes, o sétimo país em população à escala global.
Porque a Copa, como se diz no Brasil, é «briga de cachorro grande». Com os pontos 1), 2) e 3) assegurados, àquele tal país começado por P e acabado em gal falta-lhe o 4). E isso, num Mundial, pesa."