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Di María não pode ser o Ronaldo de Schmidt


"Alguém terá de explicar ao argentino que o seu ponto de partida já não pode ser o mesmo e ninguém melhor do que Rui Costa, amigo e líder do clube, para fazê-lo

Di María provocará sempre sentimentos contraditórios. Há o reconhecimento da sua importância no passado, e não só com a camisola do clube, porque atingiu níveis de grandeza, não completamente esperados aquando da primeira passagem, por gigantes continentais e pela Argentina. Junte-se ao estatuto – justo, reconheça-se, basta olhar para a despedida que lhe fizeram Messi e companhia – os números com que concluiu a segunda etapa na Luz e a dúvida ficará mais forte. O impacto individual foi grande numa equipa que falhou depois coletivamente.
Apesar de todo esse peso, o individual não garantiu mais do que um 2.º lugar na Liga e uma Supertaça. Notaram-se no argentino fragilidades naturais que decorrem da idade avançada e perda de potência e resistência muscular, e só um coletivo forte, com todas as peças no sítio certo, recolocará os encarnados no caminho do sucesso.
Ora, a influência de Di María junto de Rui Costa é grande. Há uma amizade que torna ainda mais complicado o papel do treinador. Daí que, perante as dificuldades em escolher o melhor 11 para cada encontro, ficando refém da obrigação de tê-lo quase sempre em campo – como aconteceu com Portugal e Cristiano no Euro –, e inclusive de gerir esforço para tê-lo a top para quando realmente preciso, como ficou demonstrado na primeira vez que o substituiu, é necessário defender desde já um Schmidt mais exposto do que na época anterior.
O arranque teve sinais positivos. Foram contratados jogadores que se enquadram melhor no modelo. A adaptação de Rollheiser também parecia estar a ser feliz, provando que o processo analítico chegara a conclusões interessantes. Há ainda jovens e outros menos jovens a dizer presente perante a chamada. Não faz sentido colocar tudo em causa.
Quer isto dizer que Di María não pode ser útil? Pode. Alguém só terá de lhe explicar de que ponto parte e cabe-lhe aceitá-lo. Ronaldo, por exemplo, todos sabíamos que não iria conseguir fazê-lo. O argentino, figura enorme do futebol mundial, terá de ser capaz dessa humildade. É muito dinheiro para ter no banco? É, mas pior investimento será se o clube não cumprir objetivos. Schmidt nunca montará (e bem) uma guarda pretoriana para sustentar Di María, já que contrariará as suas ideias e, por muito que custe a todos, o passo tem de ser dado. Liderado por quem realmente manda, protegendo o treinador: Rui Costa."

Benfiquismo na Suíça


"A inauguração das novas instalações de duas Casas do Benfica na Suíça, com a presença do Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Rui Costa, é o tema em destaque nesta edição da BNews.

1. Em Genève e Romont
As embaixadas do benfiquismo nestas cidades suíças, onde existem grandes comunidades benfiquistas, inauguram as novas instalações no próximo sábado, dia 20. A comitiva oficial do Sport Lisboa e Benfica é liderada pelo Presidente do Clube, Rui Costa.

2. Estatutos
A Mesa da Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica anuncia, no âmbito da revisão estatutária, a mediação de reuniões com associados benfiquistas no sentido de atingir "o consenso possível, mas desejável".

3. Novo adversário
O jogo de preparação do Benfica, agendado para o próximo domingo, em França, é com o Almería.

4. Empenho e intensidade
Os trabalhos de pré-época do plantel às ordens de Roger Schmidt prosseguem.

5. Jogos-treino
O apronto da Equipa B com o Mafra, no Benfica Campus, saldou-se por um empate a uma bola. Os Sub-23 venceram, por 4-0, frente ao Fabril.

6. Renovação de contrato
José Melro, avançado que, na temporada passada, se destacou pelos muitos golos marcados ao serviço dos Sub-23, estendeu a ligação ao Benfica.

7. Juniores com bola
A equipa Sub-19 do Benfica já trabalha no relvado.

8. Calendário definido
Os Iniciados começam a temporada oficial com um dérbi com o Sporting.

9. Contratações no andebol
Egon Hanusz, central de 26 anos oriundo do TVB Estugarda, chega ao Benfica para reforçar o plantel, ao qual se juntará após a participação, pela Hungria, nos Jogos Olímpicos.
Anteriormente, o Benfica já havia anunciado a contratação do pivô internacional português Fábio Silva."

João Félix: uma flor num jardim de cimento


"Continuo a alimentar a ideia de que João Félix continua sem encontrar o jardim e os jardineiros certos. Terá de pensar muito bem no que vai fazer

Ali pelo final de 2022, numa intervenção para a rádio espanhola Cadena SER, convidado a falar de João Félix, deixei escapar uma ideia, seguramente inspirado por alguém a quem hoje não consigo atribuir o mérito apenas por esquecimento, para descrever momento e circunstância do avançado português. Que João Félix, naquele Atlético Madrid e já com relação irreparável com o treinador, me parecia uma flor num jardim de cimento.
A imagem sugere uma crítica a Simeone e, no entanto, até confesso que tenho um fraquinho pela arquitetura brutalista e pela figura do técnico argentino. Os anos passaram desde que João Félix, ainda adolescente, deixou o Benfica num negócio de €126 milhões. Não se afirmou no Atlético Madrid, teve uma passagem de meia temporada, sem brilho, num Chelsea em crise e outra de uma época num Barcelona sem as armas do principal rival, vítima de dificuldades financeiras e desnorte político, que levou o treinador a dizer que saía, para depois voltar atrás e finalmente sair.
Depois de duas temporadas prometedoras no Atlético Madrid até ser operado ao tornozelo, estaremos muitos de acordo em dizer que João Félix esteve longe de corresponder às elevadas expectativas que criou quando foi determinante para o Benfica conquistar o título de 2018/2019.
E, no entanto, quem olhar para João Félix sem os óculos do respetivo clube vê que está tudo lá como há cinco anos. Aquela elegância a tratar a bola, a leveza sobre o relvado, o génio na tomada de decisão e na execução de um passe ou de um remate, a facilidade com que torna simples o que é difícil.
Sem querer ignorar que João Félix também terá responsabilidade na situação que atravessa, até porque nem todos os males do mundo podem ser culpa dos outros, continuo a alimentar a ideia de que Félix continua sem encontrar o jardim e o jardineiros certos. Pode acontecer, mesmo, que nunca possamos ver tudo aquilo que ele tem capacidade para oferecer, até porque o futebol de hoje não valoriza muito o que ele faz.
João Félix tem 24 anos, tem muito caminho pela frente e, neste verão, terá de pensar muito bem no que fazer. O Benfica está de braços abertos para recebê-lo, os benfiquistas iriam acolhê-lo com carinho paternal, dispostos a perdoar-lhe erros e defeitos, mas o futebol é uma máquina industrial sem consideração pelo sentimento.
Muita coisa teria de falhar ao Atl. Madrid, ao qual pertence o passe e que pagou muito pela transferência, e a João Félix, que terá mais oportunidades para lá do Benfica, noutros campeonatos mais competitivos e ricos, para que se concretizasse o regresso a casa.
Em sentido contrário, muita coisa teria de correr bem para o Benfica poder contratar João Félix por €30 milhões ou €40 milhões, admitindo que estaria disponível e teria capacidade para pagar um salário que nada tem a ver com a realidade nacional."

Talvez seja inconsciente, mas não deixa de ser racismo


"A propósito do cântico dos jogadores argentinos entoado após a conquista da Copa América

«O bicampeão americano, campeão argentino e melhor jogador da história não tem de pedir desculpas a ninguém. Eles que continuem a chorar por uma simples canção de futebol.»
Rodrigo Marra, político argentino

A canção de péssimo gosto que os jogadores argentinos entoaram após a conquista da Copa América, no autocarro da equipa, e que Enzo Fernández, absurdamente, partilhou em direto nas redes sociais, causou ondas de choque em todo o lado. Da França à própria Argentina.
Abstenho-me de a reproduzir, basta referir que tem diversas referências às origens africanas dos jogadores franceses e que questiona inclusivamente as preferências sexuais de Mbappé. Está, sem dúvida alguma, pejada de racismo e xenofobia.
Foi por serem racistas e xenófobos que os jogadores argentinos a cantaram agora, após ganharam a Copa América à Colômbia? Creio que não. Provavelmente, nem pensaram no significado das palavras, foi apenas uma provocação a um rival. Mas mesmo que inconsciente, ou não propositado, o racismo não deixa de ser racismo.
E a sugestão do secretário de Estado do Desporto argentino, de que Lionel Messi, como capitão, e o presidente da federação deveriam pedir desculpas, parece-me perfeitamente legítima. Mas neste mundo polarizado em que vivemos, e no qual tudo serve de arma de arremesso, até essa sugestão teve resposta dum político de Buenos Aires, que diz que Messi, por ter ganho o que ganhou, não tem de pedir desculpas a ninguém. Como se o palmarés fosse um livre-trânsito para se dizer tudo com impunidade..."

A bem ou Yamal


"O tratado filosófico de Jorge Palma: «Somos todos escravos do que precisamos. Reduz as necessidades se queres passar bem.»

No regresso a casa depois mais um dia de trabalho, após a final do Europeu, vou ainda a digerir como é que um miúdo que fez 17 anos na véspera da final se assume como figura maior da competição em todas as valências técnicas, táticas e de personalidade. Lamine Yamal. Ouvir música ajuda-me a pensar e a escolha é demasiado óbvia para mim: «A gente vai continuar», de Jorge Palma.
Jorge Palma tem lugar garantido na minha playlist. Mais do que um grande intérprete, escreve canções com a arte e precisão de um ourives. E a letra de A Gente Vai Continuar é um verdadeiro tratado filosófico: «Somos todos escravos do que precisamos / Reduz as necessidades se queres passar bem». E eis como em dois simples versos encontramos um roteiro para a felicidade. A felicidade nunca está naquilo que temos mas no saldo entre o que temos e o que desejamos. É possível ser-se feliz com pouco, é possível ser-se profundamente infeliz com muito, em especial se esse muito se consome num processo de dependência. Porque – dou de novo a palavra a Jorge Palma – «A dependência é uma besta / que dá cabo do desejo». Um estado em que o objeto do desejo desafia as leis da física por, em vez de preencher espaços, aumentar vazios. Neste contexto, reduzir as necessidades é um exercício de liberdade que, no tratado filosófico de Jorge Palma, «é uma maluca que sabe quanto vale um beijo».
Esta semana, Francis Obikwelu decidiu também ele transformar simples declarações num tratado filosófico. Não entende o medalha de prata dos 100 metros nos Jogos de 2004 porque é que os jovens se queixam tanto tendo tudo. Vida difícil? Não. Havendo saúde, é muito fácil, atira Obikwelu. E a necessidade aguça o engenho e os… músculos, já a fartura torna-nos escravos das necessidades que a sociedade vai inventando para nós.
Lembrei-me agora de um provérbio que julgo ser oriental: «Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes.» Um ciclo que se renova e que só pode ser quebrado quando homens fortes garantirem que as gerações mais jovens serão livres para escolherem apenas o que é essencial e tiverem de lutar por elas próprias. Estamos a perder essa batalha.
Estou a chegar a casa e acho que já estou a divagar. Voltando ao tema, não sei se Lamine Yamal vai ter a carreira que o seu talento antecipa. Não sei se vai chegar ao topo. Sinceramente, espero que ele seja o primeiro a nem pensar nisso. O mal de definirmos metas é que nos limita o prazer do percurso. Meu caro Lamine Yamal, «Vai onde tu quiseres, mas goza bem a tua rota», é o conselho de Jorge Palma. Reduz as necessidades, ordena bem a lista de prioridades e assume o direito a seres livre, deixando espaço para seres feliz a fazer o que mais gostas. Se assim fizeres, vais ter sucesso. A bem ou Yamal."

Obrigado, Espanha


"Luis De la Fuente defendeu uma ideia e ganhou. Uma equipa a fazer lembrar o Sporting de Amorim e o FC Porto de Mourinho

Grande vitória da Espanha no Euro. Campeão da Europa com toda a justiça, com sete vitórias em sete jogos e diante de adversários do calibre de Croácia, Itália, Alemanha, França e Inglaterra. Melhor era difícil. Confesso que a Espanha não era uma das minhas favoritas a vencer o Euro. Coloquei numa primeira linha França, Inglaterra e… Portugal, pelo que só faltou à La Roja vencer a Seleção Nacional. Isto tudo antes de 14 de junho.
Vi o primeiro jogo da Espanha, com a Croácia, e logo constatei que estava ali um candidato ao título. Confirmou-se. A Espanha foi sempre a melhor seleção. A que melhor futebol apresentou, a que melhores espetáculos proporcionou. A mais alegre e irreverente. É uma equipa de autor. Luis De la Fuente chegou ao topo aos 63 anos, depois de um longo percurso nas seleções jovens. Depois dos títulos europeus de sub-19 e sub-21, conquistou a Liga das Nações e agora viu consagrada a sua ideia de jogo.
O basco apostou nos jovens e ganhou. Ganhou porque defendeu uma ideia e fez os jogadores acreditarem nela. Simplificou os processos e escolheu os jogadores que considerou mais adequados para os interpretar. Salvaguardadas as devidas distâncias, esta seleção espanhola fez-me lembrar o Sporting de Rúben Amorim e o FC Porto de José Mourinho. O Sporting pela fome — expressão até muito utilizada por Amorim — que os jogadores demonstraram, jogando sempre nos limites, com alegria, como se cada jogo fosse uma final e pela disciplina que a equipa apresentou. Todos, individualmente, sabiam bem o que tinham de fazer para que o coletivo funcionasse. Como, por exemplo, Dani Olmo que começou como suplente de Pedri e acabou como um dos melhores jogadores do torneio. Ou Oyarzabal que partiu sempre como alternativa a Morata e ficou na história como o homem do golo do título.
Para Luis de la Fuente sempre se percebeu que não havia vacas sagradas, ninguém está acima da equipa. Não há estrelas, todos são iguais, ou melhor sempre fiquei com a sensação que ninguém se sentia superior a ninguém. Um bom exemplo disso foi o à-vontade com que Zubimendi entrou ao intervalo do jogo para o lugar de Rodri, só o melhor jogador do Europeu. A fazer lembrar a revolução que Mourinho operou no FC Porto antes de levar os dragões à conquista da Taça UEFA e da Liga dos Campeões, reforçando-se no Vitória de Setúbal ou no União de Leiria.
De la Fuente descomplicou um bocadinho o futebol e isso também me deixou feliz. A seleção espanhola abriu sempre as portas à imprensa, os jogadores e o próprio treinador surgiam todos os dias nas redes sociais, divertindo-se fora e dentro de campo. Sem fantasmas. Depois também fiquei rendido àquele 4x3x3 bem agressivo, alegre, ofensivo e disciplinado, bem distante do da escola Barcelona, com um meio-campo à FC Porto, com um 6 (Costinha/Rodri), um 8 (Maniche/Fabián Ruiz) e um 10 (Deco/Dani Olmo). Simples. Obrigado, Espanha."

O espelho de um país


"A nossa Seleção é representada maioritariamente por jogadoras que ou jogam no estrangeiro ou nos três principais clubes portugueses

A Seleção Feminina de Portugal empatou com a Bósnia, no penúltimo jogo da fase de grupos da Liga das Nações B, e desse empate resultaram duas boas notícias.
A primeira é que, apesar do resultado sem golos, Portugal garantiu o apuramento para voltar a jogar a Liga das Nações A, onde se encontram as melhores seleções europeias. O que nos permite jogar ao mais alto nível contra as melhores jogadoras e as melhores equipas e com isso construir um caminho de exigência máxima que nos leve a continuar a crescer e evoluir.
A segunda boa notícia é que vi muita gente, dentro e sobretudo fora da seleção, descontente com o resultado e com a exibição. Sinal de que a exigência está a subir e que já não nos contentamos ou que ficamos frustrados quando a vitória não aparece.
Esse nível de exigência tem de vir principalmente de fora. Dos adeptos, que gostam de ver bom futebol e já perceberam que o feminino proporciona bons espetáculos, dos clubes que investem para ter cada vez melhores condições – apesar de nesse particular faltar muito caminho – e melhores jogadoras.
Uma seleção nacional representa o espelho do futebol de um determinado país. A nossa Seleção – que jogou com Malta, na última terça-feira, apenas para cumprir calendário, preparando já o play-off de acesso ao Europeu – é representada maioritariamente por jogadoras que ou jogam no estrangeiro ou nos três principais clubes portugueses, aqueles que no fundo são sustentados por orçamentos que refletem décadas de aposta ao mais alto nível no futebol masculino. E é neste pormenor que todos nos devemos empenhar e batalhar. Só construindo um campeonato profissional, competitivo e com condições dignas, os restantes clubes conseguirão crescer, fomentar a competitividade e com isso abrir as portas das suas jogadoras na Seleção.
Foi com agrado que li as notícias que deram conta que as inscrições para as captações de jovens para o futebol feminino no FC Porto rapidamente esgotaram. Pode ter demorado, mas o FC Porto parece ter percebido o potencial de jovens jogadoras que existe na cidade do Porto e na região. E parece determinado a fazer as coisas bem feitas, começando a casa pelas fundações e não pelo telhado. Oxalá não se desvie do caminho."