domingo, 14 de julho de 2024

Vermelhão: Confirmação das boas indicações...



Benfica 2 - 2 Celta de Vigo


Algumas alterações nos 11's de cada parte, em relação ao 'treino' de ontem, permitindo confirmar que as boas indicações, nesta fase inicial, devem-se essencialmente a 3 jogadores: Rollheiser, Prestianni e Pavlidis! Com isto não estou a dizer que o resto está a jogar mal, mas em relação à última época, as exibições destes 3 estão a fazer a diferença e a dar esperanças!!!

1.ª parte muito boa, pressão alta eficiente, e a criatividade e qualidade de passe curto dos dois jovens Argentinos com a qualidade nas movimentações do Grego a fazerem a diferença! Neres com algumas perdas de bola parvas, mas bem no geral...
O único problema que encontrei foi a defesa em bloco baixo: quando o Celta conseguiu atacar apoiado, com uma dupla de meio-campo João Mário/Rollheiser e com o Neres na direita, notou-se algumas falhas de posicionamento...
O Gouveia hoje esteve melhor, mas mesmo assim, continua a pensar que precisamos de ir ao mercado...

2.º parte: voltámos a combinar os dois médios-defensivos, com os dois pontas-de-lança, e voltou a deixar muito a desejar! Ontem, com o Neres na Direita, com esta dinâmica, ainda conseguimos 'alinhavar' alguns ataques, mas hoje com o Pedro Santos e o Schjelderup nas Alas, faltou ligação ofensiva, entre o Tino e o Barreiro e o Cabral e o Marcos!
E até foi o jovem norueguês, a criar mais perigo no 2.º tempo, com vários remates perigosos...
Defensivamente sem bola, acabámos por abrir alguns buracos na defesa... Sendo que os golos sofridos, nascem de erros individuais, totalmente evitáveis...


Quero ver o Rollheiser a jogar com o Tino ou o Barreiro ao lado... e mesmo o tal esquema dos dois pontas-de-lança, com o Rollheiser no meio-campo ainda não foi testado, e poderá resultar...

Nota para a não utilização do Tengstedt, do Paulo Bernardo e do Martin Neto nestes jogos.

Início dum percurso longo, ainda com muitos ausentes (7 internacionais), e com as saídas e entradas por definir... Mesmo assim, podemos avaliar estas primeiras impressões como positivas, sendo que o plantel parece ter mais opções, tornando assim mais fácil a vida ao treinador, caso decida executar maior rotação durante a época...!!!

Benfica: a atitude dos mais novos


"A segunda parte com o Farense mostrou alguma fome competitiva dos 'rookies'

A bola começou a rolar na TV e se na primeira parte do Benfica-Farense viram-se Pavlidis e Leandro Barreiro, na segunda mostraram-se os rookies, ou em bom português, dos novatos.
Haverá sempre diferenças entre Rollheiser - que acabou a licenciatura com estreia e confirmação na liga argentina - e os colegas mais novos, sobretudo os que cresceram no Seixal. No fundo, o argentino está quase no destino, já os outros, com Prestianni e Schjelderup incluídos nestes, estão a meio do caminho.
Seja Benjamin ou não, o que a segunda parte com o Farense mostrou foi alguma fome competitiva dos rookies. Essa fome não é apenas de vitória, mas de validação, reconhecimento, e de um lugar. Primeiro, no plantel, e, mais tarde, comandados pelo sonho, entre as lendas do desporto.
Não usei o termo rookie à toa. No altamente profissionalizado desporto norte-americano, a formação de atletas ocorre em liceus e universidades. Nunca, portanto, dentro do clube que um dia se vai representar. Nos EUA, um indivíduo pode ser um atleta de topo e ir para um clube/franchise com o qual nunca teve contacto. A sua viagem até ao profissionalismo é muito diferente, pois a organização que representa na juventude pode não ter nada a ver – até nos resultados – com aquela em que se vai tornar profissional.
Isso, virando de novo para o Benfica, é obrigatoriamente diferente no futebol. Desde logo porque a maioria dos seus formandos lidou com o sucesso; aliás, dir-se-ia que quase só lidou com sucesso – na ótica de que o Benfica, como Sporting ou FC Porto - vence uma grande parte de jogos nas camadas jovens; mas a passagem para o plantel sénior é um salto que implica ritmo mais rápido, adversários mais difíceis e riscos mais elevados.
Na pré-época, existe uma pressão maior. Os olhos de treinadores, colegas, adeptos e imprensa estão neles. E o rookie do desporto é um profissional a quem poucos perdoam um erro, mesmo que se fale, nalguns casos, de jovens de 18 anos ou até menos. Dir-se-ia que esta é uma luta que pode ser assustadora em idade tão precoce, mas que também forma caráter e resiliência. Esta última, condição para ser-se um desportista de topo.
A exibição dos «miúdos» do Benfica no segundo tempo com o Farense foi boa. E até houve erros de alguns deles, o que, pelo escrito acima, só pode ser encarado como normal. Mais do que a parte técnica, é a atitude, essa sim, que fica da tarde/noite desta sexta-feira, quando se olhar ao jogo dos rapazes mais novos.
As tomadas de decisão foram, na sua maioria, boas no sentido coletivo, o que denota uma atitude pró-equipa. Essa ambição, essa fome de mostrar utilidade ao plantel acaba por ser, muitas vezes, algo que eleva os mais velhos e, mais do que isso, obriga-os a não facilitar. Isto, claro, se o treinador apostar em jovens. E Roger Schmidt, por aí, já lançou Morato, António Silva, João Neves e até Tiago Gouveia."

Nada como começar com uma boa vitória!


"Farense 0 - 5 Benfica

Finalmente, após uma travessia do deserto de longos 55 dias, pudemos ver de novo o BENFICA!

PRIMEIRA PARTE
> A novidade de iniciarmos um jogo com dois pontas-de-lança. Será aposta para continuar quando Kökcü regressar de férias?
> Primeiros lances de perigo foram do Farense e foram boas oportunidades para SAMUEL SOARES fazer três ou quatro excelentes intervenções.
> TIAGO GOUVEIA como defesa direito foi só mera experiência ou será mesmo ele o concorrente de Bah? Viu-se que estranhou a posição: dificuldades iniciais a defender e pouco atrevimento a atacar. Foi melhorando com o decorrer do tempo.
> FLORENTINO com remate do meio da rua, sem balanço, fez o primeiro golo da época, com valioso contributo do guarda redes do Farense. Mas se não se tentar... O capitão, diga-se, fez uma muitíssimo boa primeira parte.
> NERES foi quem se mostrou, a par de Florentino, com mais andamento, quem mais agitou o jogo e melhor assistiu.
> PAVLIDIS, muito trabalhador, muito participativo, estreou-se com um golo pleno de oportunidade, de quem não dá um lance como perdido.
> MARCOS LEONARDO foi outro que se apresentou bem, com bons movimentos, provocou muitas faltas ao Farense, esteve em vários lances de perigo, merecia um golo.
> LEANDRO BARREIRO mostrou à vontade, dinâmicas, domina a posição, não brilhou mas mostrou que pode vir a ser útil.

SEGUNDA PARTE
> Começou com 11 trocas e um belo golo de fora da área de PRESTIANNI, que esteve em grande, com ótimos pormenores técnicos, a jogar atrás do ponta de lança.
> Aos 53 minutos o 4-0, com grande livre direto de ROLLHEISER, que jogou, e muito bem também, no duplo pivot do meio campo. Uma bela revelação ali. E bisou ao concluir uma excelente jogada coletiva aos 85 min.
> Gostei de ver o ANDRÉ GOMES na baliza, do GUSTAVO MARQUES, que tem pinta de central, e do JOÃO REGO.
> ARTHUR CABRAL, ao seu estilo, um pouco desligado da equipa, acabou por brilhar em dois grandes lances individuais."

Mais um título!

Estreias positivas


"O Benfica venceu o Farense, por 5-0, no primeiro jogo de preparação para a nova temporada. Este é o tema em destaque na BNews.

1. Bom teste
No encontro com o Farense, saldado com uma vitória benfiquista por 5-0, Roger Schmidt utilizou 22 jogadores, metade em cada parte. Os reforços Leandro Barreiro e Pavlidis estrearam-se, assim como três jovens formados no Benfica: André Gomes, Bajrami e Tiago Parente. Rollheiser bisou, Florentino, Pavlidis e Prestianni foram os restantes marcadores de serviço.

2. Foco no processo
Florentino, capitão de equipa ao longo da primeira parte e autor do golo inaugural, considera: "Foi um jogo muito positivo da nossa parte, onde conseguimos colocar algumas dinâmicas que o míster pediu. A equipa está a entrosar-se. Estamos a ir passo a passo para conseguir os nossos objetivos."

3. Boas sensações
Pavlidis estreou-se a marcar e destaca o coletivo: "O jogo foi muito bom, marcámos cinco golos e não sofremos nenhum. As primeiras impressões são boas. Todos me falaram dos adeptos, temos de deixá-los felizes e ganhar jogos." Sobre a sua integração no Benfica, o avançado releva o apoio recebido: "Os colegas têm-me ajudado a adaptar à equipa, bem como o treinador e o staff."

4. Segundo embate hoje
Benfica e Celta de Vigo têm partida agendada para as 19h00, também em Águeda. Os bilhetes estão à venda nas bilheteiras do estádio.

5. Em busca do pleno
A equipa feminina de hóquei em patins do Benfica, hendecacampeã nacional e vencedora da Supertaça e da Elite Cup, procura, hoje às 18h00, em Sesimbra, frente ao Turquel, o apuramento para a final da Taça de Portugal.

6. Calendários definidos
As tetracampeãs nacionais de futebol iniciam a defesa do título em casa, frente ao Torreense. Nas meias-finais da Supertaça, o Benfica recebe o Damaiense.
Entretanto, Carole Costa, Jéssica Silva e Andreia Norton estiveram em ação por Portugal frente à Bósnia e Herzegovina.

7. Encontro histórico
Benfica e Real Madrid voltam a defrontar-se, em basquetebol, passados quase 28 anos do último embate. O encontro particular entre os campeões nacionais de Portugal e Espanha, denominado Supertaça Ibérica, é em Badajoz a 7 de setembro.

8. Casa Benfica Sabugal
A BTV esteve nas celebrações do 25.º aniversário desta embaixada do benfiquismo."

A vitória do futebol honesto


"As meias finais foram apaixonantes. Jogos que celebraram o espectador, que souberam elevar o talento acima da ditadura do sistema. Pena que Portugal tivesse ficado do lado errado do futebol

Sim, este Europeu de futebol consagrou a vitória do futebol honesto, desse futebol que é mais feito de jogo puro, que celebra e estima o espectador, que reconhece e eleva o talento, mesmo quando este desperta da dimensão coletiva da equipa. Não se trata, assinale-se, de um futebol honesto no sentido de estar em oposição a um futebol viciado e batoteiro, mas de um futebol que renega a ditadura de um sistema acima de todas as coisas, que abdica da ideia desconsoladora de que não sofrer golos deve ser a prioridade na garantia do sucesso e que os grandes torneios se ganham não pela maneira como se joga, mas pela maneira como não se deixa o adversário jogar.
Há, de facto, equipas que jogam para não deixar jogar e que recorrem a estratégias de sobrevivência que tornam o futebol entediante. E há equipas que, mesmo sendo virtuosas, têm como primeiro objetivo matar as virtudes alheias. O futebol resiste a tudo isto e até permite pensar que é nessa diversidade que ele supera todas as outras modalidades coletivas. No entanto, importa reconhecer que é no outro futebol, no futebol jogado no campo todo, palmo a palmo disputado como se de cada centímetro com bola dependesse a vida, no futebol alegre e vibrante, sem tempos mortos, sem jogadores estatelados no chão por mera estratégia de antijogo, sem árbitros ameaçados na sua função, que o futebol ganha a atenção do mundo e regenera os seus fãs.
Neste Europeu, para sorte do futebol e para sorte de quem dele gosta, há uma vitória clara e nítida do que chamamos futebol honesto. Deixemos, por um momento, a questão nacional e pensemos nos jogos das meias finais, onde, infelizmente, Portugal já não esteve. O Espanha-França e os Países Baixos – Inglaterra foram jogos apaixonantes, que levaram os adeptos ao delírio. Daí que final de amanhã, entre a Espanha e a Inglaterra, seja tão apetecida.
Pena que temos de Portugal não ter estado, neste Europeu, do lado certo do futebol. Uma Seleção de belíssimos talentos que se perdeu, algures no tempo, deixando para trás os seus valores mais preciosos. Uma equipa que trata a bola com pés de veludo, sábia e criativa, capaz de deslumbrar, mas que não acreditou no seu poder de magia e quis apenas ser uma equipa competente e resultadista. Ideia fixa no sistema, preso a um futebol de régua e esquadro, a um futebol de Excel, que se sentia perturbado pelos rasgos de Rafael Leão, pelas incursões subversivas de Cancelo ou de Nuno Mendes, pela ousadia reprimida de Bernardo e apenas se encaixava na triste nostalgia de Cristiano.
Tudo acabou num remate estatelado no poste e depois disso nada de exaltante ficou na memória. E esse simples facto, numa seleção que tem os valores individuais que tem, é profundamente lamentável. Porque poderíamos ter sido, de novo, campeões europeus? Não. Porque poderíamos ter sido uma seleção lembrada pela afirmação da sua qualidade e acabámos por ser uma seleção da qual já ninguém verdadeiramente se lembra.
Será que, ao menos, aprendemos alguma coisa para o futuro? Será que Roberto Martinez, um senhor na vida e na relação com os portugueses, admitirá que errou e que existem valores competitivos que não se protegem apenas com a gratidão aos velhos heróis que já não traçam armas? Oxalá que sim.
Antes de o sabermos, fiquemos ansiosamente à espera do grande jogo de amanhã. Eu diria, talvez a Espanha se confirme e leve a Taça para aqui ao lado, fica perto e fica bem. Ou talvez não. Talvez esta Inglaterra que tão mal começou, sem brilho e sem aparente ambição, tenha crescido tanto que ainda tenha condições de tornar a surpresa maior. As incertezas do futebol continuam a ser o seu maior sortilégio."

Obrigado, Abel


"Falou de «índios» e soube voltar atrás. Sim, as palavras são importantes

Abel Ferreira nasceu no final de 1978. Cresceu nas escolas e nos balneários onde se utilizavam expressões irreprodutíveis para classificar minorias. Quem tiver nascido nos anos 1970, ou antes, ou mesmo nos anos 1980, e (degraçadamente) até nos anos 1990, sabe do que falo.
Quando se referiu ao facto de o Palmeiras não ser «uma equipa de índios» cometeu uma imprudência, não um pecado. Não devia tê-lo feito. Como eu não devia ter chamado coisas muito feias a colegas de escola e de futebol. Ou eles a mim. Ou toda a gente que anda no futebol e ainda é homófoba, xenófoba e racista, por mais estrangeiros que cheguem (homossexuais não chegam, o futebol pelos vistos é diferente de toda a sociedade) .
Abel Ferreira percebeu, bem a tempo, que há termos e expressões que já não podem utilizar-se. Trazem com elas séculos de opressão e toda a carga que isso tem sobre os netos dos netos dos netos de todas as vítimas. Que continuam a ser vítimas. Por mais que o vão negando e tentado apregoar o contrário.
O treinador português, que claramente falou sem o menor preconceito contra as comunidades indígenas — mas disse o que disse — emitiu depois um comunicado muito digno. Foi ao encontro do que tem de ser dito numa sociedade cravada e rasgada pelo racismo e pela ameaça de extrema-direita que volta a pairar sobre parte da Humanidade, Brasil incluído.
Assumiu que há estereótipos que temos de largar de vez, reconhecendo que «as palavras têm poder e impacto, independentemente da intenção». Falar de índios, pretos, brancos, amarelos, chinocas ou monhés enquanto definição de pessoas é realmente politicamente incorreto. E bem.
Chamei nomes vergonhosos a colegas, companheiros e amigos. Sou dos anos 1970. Espero ainda ir a tempo de redimir-me.

De chorar por mais
Chegam à final do Euro duas equipas promissoras. Uma mais que a outra, é certo. Mas haverá sempre um lado romântico na Inglaterra.

No ponto
O golo de Lamine Yamal na meia final contra a França fica na história do futebol. Tem 16 anos...

Insosso
O impasse sobre a contratação de jogadores estrangeiros não comunitários, por causa dos vistos, vai comprometer a vida a muitos clubes portugueses.

Incomestível 
Lewandowski está acusado de ter falseado dois mestrados numa universidade polaca. Mas ele precisava de mestrados para alguma coisa?"

O 7 a 1 entrou no dia a dia


"O Brasil, como nenhum outro país, atrai expressões do futebol para a linguagem quotidiana

No Brasil, mais do que em Portugal ou noutro país, as expressões do futebol fazem parte do dia a dia das pessoas – mesmo daquelas que não ligam ao desporto. Quando alguém incorre numa gafe, diz-se que foi «uma bola fora» mas se, por outro lado, comete um erro afirma-se que «pisou na bola». Se for ignorada, a pessoa foi «jogada para escanteio [canto, portanto]» mas se falta a um compromisso «deu um balão [o famoso chapéu]» no amigo que ficou à espera. Se não consegue, por pouco, realizar uma tarefa, «bateu na trave» mas quando a cumpre à última hora fê-lo «aos 45 do segundo tempo». E, nesse caso, pode festejar, isto é, «partir para o abraço» aos companheiros de equipa.
Numa discussão entre alguém, quem tenta apaziguar «faz o meio de campo» porque na verdade «dá bola» para as pessoas desavindas, já quem desiste de as tentar ajudar «tira o time [a equipa] de campo» porque prefere «nem dar bola» aos contendores. Os exemplos vêm de longe e são intermináveis mas, mesmo assim, há atualizações constantes, como quando em 2023 os dicionários, em homenagem a Pelé, falecido no final de 2022, decidiram transformar o nome do génio do futebol, já tão usado nas conversas quotidianas, num formal adjetivo masculino singular – «aquele cara é o Pelé da medicina» ou «ela é o Pelé do teatro brasileiro» para indicar alguém que chegou ao topo da carreira no seu ramo.
Mas 2014, ano de Mundial de futebol organizado pelo Brasil, foi particularmente rico na adaptação de novas expressões do futebol ao dia a dia. Aliás, 2013 já havia sido com o «imagina na Copa...», usado sempre que um avião se atrasava, sempre que um elevador avariava, sempre que um holofote de um estádio apagava. Ou seja, significava o vexame que o país supostamente passaria, por culpa desses incidentes comuns, quando os olhos do mundo estariam sobre si a exigir ordem, perfeição, primeiro-mundismo.
No fim das contas, a organização da Copa até foi elogiada – mas não, de maneira nenhuma, a atuação da seleção brasileira. Na prática, o quarto lugar final acabou por ser a melhor participação dos canarinhos desde o título de 2002 no Mundial do Oriente, já que em 2006 e 2010 e, depois, em 2018 e 2022, o Brasil caiu nos quartos de final, mas a goleada sofrida nas meias-finais aos pés da Alemanha, com golos humilhantes, dolorosos, catastróficos, uns atrás dos outros, soterrou tudo.
E fez nascer duas novas expressões: agora, sempre que um detalhe negativo acontece, um brasileiro diz para o outro «gol da Alemanha». Mas quando a situação é mais profunda, uma política pública errada, um descaso social absurdo, um discurso patético de um deputado, o desabafo é «no Brasil, todos os dias há um 7-1».
O 7-1 do Brasil à Alemanha fez 10 anos no passado dia 8."

E agora José? Ou o homem que mudou de nome


"Altafini foi Mazzola e voltou a ser Altafini. Em 1958 era titular do Brasil até que entrou Pelé…

Alessandria é uma cidade que se ergue na confluência dos rios Tanaro e Bormida. Terra de planície no centro do triângulo formado por Turim, Génova e Milão. É aí que vive Mazzola. Ou Altafini, depende. José João Altafini, de nome baptismal, nasceu em Piracicaba a 24 de julho de 1938. Piracicaba, no Estado de São Paulo, ficou para a História como centro da cultura da cana-de-açúcar e de café. Tem um clube de futebol chamado Esporte Clube XV de Novembro e foi lá que José começou a jogar como avançado antes de assinar um contrato profissional com o Palmeiras em 1956. Um dia um companheiro de equipa fitou-o longamente e decidiu que ele era parecido com o falecido Valentino Mazzola, estrela maior do Grande Torino que desapareceu por inteiro no desastre de Superga, a queda do avião que trazia o super-campeão italiano de Lisboa, onde jogara com o Benfica: 4 de maio de 1949. Ficou Mazzola.
O Mazzola do Palmeiras marcava golos, muitos golos.Era um rapaz poderoso fisicamente, apavorava as defesas adversárias como Átila, o Huno, apavorou o Império Romano-Ocidental e o Império Bizantino. Em duas épocas marcou noventa. No Verão de 1958 era o titular da seleção brasileira que chegou à Suécia para vencer o seu primeiro Campeonato do Mundo. Mazzola era titular; Pelé não. Depois o Universo mudou para sempre. E Edson Arantes do Nascimento, por extenso Pelé, como escrevia sempre Nelson Rodrigues, grande mestre da crónica, mostrou-se a um mundo embasbacado com a sua arte. E o contrário fez-se lei: Pelé era titular; Mazzola não.
Entretanto a Itália tinha-se apaixonado pelo estilo meio brusco meio elegante de José. O convite do Milan surgiu e ele aceitou de bom grado. Só que, em Itália, não havia mais espaço para Mazzolas. Valentino era adorado por toda a gente de todos os clubes e apesar de estar morto continuava vivo. Mazzola só quem fosse do seu sangue, como o filho Alessandro que surgiu dois anos depois no Inter, ou o seu outro filho, Ferrucio, mais novo, que jogou pouco no Inter porque sonhou e cumpriu o sonho de ser presidente do Torino. «E agora José?», perguntaria Drummond de Andrade. E José voltou a ser José. José Altafini. E voltou a marcar golos porque a baliza era o ponto para onde se dirigia sempre o seu olhar de cada vez que a bola lhe chegava aos pés. Na sua primeira época de ‘nerazzurro’ marcou 28 em 32 jogos. Para o ‘calcio’ era muito. Os adeptos gostavam daquele brasileiro com nome italiano que fora campeão do mundo. José João tornou-se um ídolo e irmão-gémeo do golo. Foram dele os dois que bateram o Benfica na final da Taça dos Campeões de 1963. Do Milan passou para o Nápoles e do Nápoles para a Juventus. Os golos iam atrás. Foi ficando velho. Os clubes tornaram-se mais pequenos: Chiasso, Mendrisio, na Suíça. Mas os golos não murcharam. Ainda hoje ocupa o quarto lugar na lista dos goleadores de todos os tempos na Série A com 216 marcados. Mudou de nome e mudou de país: vestiu a camisola da Itália e com ela jogou o Mundial de 1962, no Chile. Era neto de italianos, justificavam os italianos. E ele, triste: «Não fui eu que deixei o Brasil. Foi o Brasil que me deixou».
Altafini era um cavalheiro e um sedutor. Casou em 1959 com Eleanna d’Adio e teve duas filhas, Patrícia e Cristina. Abriu a página dos escândalos quando iniciou um caso amoroso com a mulher de Paolo Barison, seu camarada de balneário no Nápoles. Ninguém gostou. E ele, que era alegre, ficou triste. «E agora, José?/Está sem mulher/está sem discurso/está sem carinho/já não pode beber/já não pode fumar/cuspir já não pode/a noite esfriou/o dia não veio/o bonde não veio/o riso não veio/não veio a utopia/e tudo acabou/e tudo fugiu/e tudo mofou/e agora, José?». Mas José tinha resposta para tudo. Mudou de cidade, trocou Nápoles por Turim, trocou de mulher e casou-se outra vez, com Annamaria. Quando deixou os campos tornou-se um dos mais considerados comentadores televisivos. Sabia histórias e sabia como contá-las. José nunca foi aborrecido durante um dia inteiro da sua vida longa. Tinha sempre um dom de palavra, escorreito, recordava episódios, falava de velhos colegas de balneário como Rivera e Omar Sivori, era o mestre dos paradoxos, dono de lendas ainda por escrever.
Nunca escondeu, no entanto, a mágoa inicial: a de ter sido trocado por Pelé durante o Mundial de 1958. Mas soube escondê-la. E tapá-la com montes de golos por cima até que ela não passasse de uma recordação distante. Em Alessandria, aos 85 anos, é vendedor de relvados sintéticos. Logo ele que foi o mais autêntico dos autênticos. Já ninguém pergunta mais: «E agora José?». Pois… «Você não morre/você é duro, José»."