terça-feira, 9 de julho de 2024

Treino...

Dinheiro Champions...

O pecado capital


"Após quase quatro anos à frente da Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal, sempre com a missão de dar voz e capacidade interventiva aos atletas olímpicos, a inquietação ainda é tanta que sobram ideias e vontade, sempre encarando os problemas como oportunidades e contribuindo de forma positiva para uma verdadeira revolução de mentalidades, de novas estratégias, ou apontando caminhos alternativos.
Se me perguntarem qual tem sido o maior prazer nesta jornada, indubitavelmente foi conhecer tantas e tantas pessoas dentro e fora da Associação: atletas olímpicos, atletas em geral, pessoas do desporto, treinadores, dirigentes, pessoas da sociedade civil e do tecido empresarial. Todos aqueles que, ao quererem fazer parte da mudança, contribuem para acabar com a estagnação de ideias. Querem quebrar o paradigma dos que dizem e afirmam repetidamente que "sempre se fez assim", dos que continuam a utilizar as mesmas receitas e esperar resultados diferentes. Temos a firme crença de que podemos trazer mais intervenientes de dentro e fora do desporto, sempre por um bem maior, acima das nossas circunstâncias individuais, privilegiando os atletas, a comunidade, a sociedade e o grupo.
Se me perguntarem se existe alguma mágoa, são poucas, muito poucas, sendo, porém, uma resposta relativamente simples numa caminhada em que o lema maior é transformar um problema em oportunidade, mesmo tratando-se de uma equação relativamente complexa de resolver. Chamo-lhe o pecado capital dada a sua importância, quer na forma quer na consequência, de um pequeno grupo de pessoas que, ao exercerem os seus pequenos poderes, utilizam como estratagema uma linha de pensamento da Antiguidade Clássica e que tem como objetivo máximo dividir para reinar. Assistimos desencantados àqueles que promovem a fragmentação das concentrações legítimas de poder para enfraquecer um grupo que, antes de ser um adversário, deveria ser pela sua natureza um aliado.
Este é o verdadeiro pecado capital, praticado por quem o faz, pela responsabilidade que deve ter, pelas questões éticas e até pela defesa de um fenómeno de que hoje tanto se fala e pouco se pratica: a inclusão.
Falo dos atletas, de todas as classes, desportos, origens, raças, sexo e religião. Falo de dividir um grupo que se tem afirmado como uma entidade forte e independente, que soube ganhar a pulso o seu espaço, que quer dar voz e capacidade interventiva aos atletas, a todos os atletas, que quer dar palco e dar a conhecer os desafios e oportunidades que estes atletas podem e devem trazer para a sociedade civil. Desilude-nos ver aqueles que utilizam esta estratégia de combate de forma desleal e sorrateira.
Não devem ser merecedores de respeito, não merecem louvor, mesmo se em alguns casos obtêm os resultados desejados. A história acabará por fazer o julgamento necessário. Esta talvez seja a maior mágoa: os que dividem para reinar e também aqueles entre os atletas, um pequeno grupo mais incauto, que se deixa seduzir pelos afetos, pelas honrarias individuais, esquecendo o que nos torna fortes e interventivos, para os que foram atletas, para os que são, e para os que ainda estão por vir. Esta lógica de grupo é a força incontornável que nos pode dar garantias e condições de começarmos nossa carreira desportiva, sermos bons e excelentes, e mais tarde termos a segurança de enfrentar os dois terços da vida que ainda estão por vir, com a mesma paixão, segurança e ambição com que somos apaixonados pelo nosso desporto.
Temos um meio desportivo cheio de cerimónias de retribuição, compensação, homenagens, glorificação, muitas vezes à procura apenas do botão da sensibilidade dos atletas, procurando utilizar o reconhecimento com oportunismo, sabendo que é disso que os atletas individualmente e naturalmente gostam. Quanto a este último facto, está tudo certo. Mas esta estratégia de glorificação individual é perversa quando apenas serve como uma arma eficaz para evitar a criação de um corpo forte e unido, com força aglutinadora, positiva, contribuindo para que os atletas não se afirmem pelo coletivo e sejam meras figuras decorativas para conveniência de uns quantos, não promovendo nunca quem os representa.
O verdadeiro pecado capital, dividir atletas para reinar, pretende criar fissuras e desentendimentos, utilizando de forma consciente o medo, a divisão, anulando a capacidade interventiva e a voz enquanto grupo.
Quando ainda hoje se ouve em relação aos atletas que o que eles sabem é "dar uns pontapés na bola" ou que "só sabem correr" e que estas são as suas zonas de conforto, mais uma vez se está a alimentar o estigma do atleta incompetente para a vida social e para a vida profissional.
A nossa ambição é que todos se esforcem por dar dimensão social aos atletas, estes que têm capacidades e talento para bater recordes, saltar mais alto e mais longe e serem mais fortes, nas pistas e fora delas. Quando passamos o tempo todo a falar de ética, de responsabilidade social, de respeito, excelência e amizade, e a prática é ver as homenagens que, numa figura alegórica, representam o atleta na segunda fila, sendo chamado ao palco, levando uma pancadinha nas costas e voltando para a segunda fila, sem voz e sem capacidade interventiva, recorda-nos o velho mito de Sísifo condenado para toda a eternidade, a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que se aproxima do topo, a pedra rola novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido.
O que pretendemos é a participação ativa dos atletas. Queremos transparência e comunicação aberta, procurar um ambiente de sã convivência com boas práticas de gestão transparente e comunicação clara num processo educativo para todos, com políticas de ética e integridade.
Queremos criar um ambiente de trabalho positivo e de apoio, onde os atletas se sintam valorizados e respeitados, onde, em última análise, possam melhorar o seu moral e o desempenho. Queremos abordar estes temas de maneira eficaz, não fugir deste debate. Todos, das organizações desportivas à sociedade civil, podem contribuir para melhorar as relações de todos os intervenientes, promovendo um ambiente mais saudável e produtivo para todos os envolvidos. É preciso que esta nova vaga de atletas dirigentes se afirme e comece este processo de mudança, tenha a lucidez suficiente para não cair na tentação de ser mais um do lado de lá, e arraste e comprometa nesta causa todos aqueles que de alguma maneira já se encontram noutras vestes, fazendo este caminho unidos na defesa da nossa classe.
Dividir atletas para reinar é o verdadeiro "pecado capital". Promover a unidade, a cooperação e o respeito mútuo é essencial para alcançar o sucesso e manter a integridade do desporto. Para isso, atletas deste país, temos de ser unidos e fortes.

P.S.: Faltam poucos dias para os Jogos Olímpicos de Paris e a Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal deseja a todos os qualificados, treinadores, dirigentes e restante staff uns magníficos Jogos Olímpicos, uma participação saudável e competitiva com resultados de topo, feitos com ética, respeito, excelência e amizade. FORÇA ATLETAS DE PORTUGAL!"

As canções de Augusto de Oliveira tinham a melancolia do lado esquerdo


"Tite jogava muito mas tinha sempre alguém à sua frente para o lugar. Dedicou-se à música.

Os brasileiros pelam-se por alcunhas. Se Edson Arantes do Nascimento foi Pelé e Manoel Francisco dos Santos foi Garrincha, Augusto Vieira de Oliveira foi Tite. Foram. Todos no passado, porque a senhora da gadanha não perdoa a ninguém e, neste momento, já jogam na planície da eterna saudade. Mas, ao mesmo tempo continuam a ser porque mesmo que muitos os esqueçam há sempre alguém que os recorde, nem que seja em linhas curtas de crónicas como esta. Tite jogou no Santos, com Pelé. E com Coutinho. E com Mengálvio, Dorval e Pepe. Aliás passou pelo Santos duas vezes, a primeira entre 1951 e 1958, a segunda entre 1959 e 1964. Desta última vez chegou contra a vontade dos adeptos. Tite não vinha para somar, diziam, não lhe perdoando a fuga intermédia para o Corinthians da vizinha São Paulo. Amargurado enfiou-se na escrita e na música. Publicou um livro: Futebol x Música –Minha História e Seus Detalhes. Não foi um sucesso. Nessa altura já poucos queriam saber de Augusto Vieira de Oliveira. Ou, se calhar, nem reconheciam o nome assim por extenso. No relvado sempre fora oTite, era difícil tirar o apelido do relvado. Pois, apelido é como os brasileiros chamam à alcunha.
No dia 26 de agosto de 2004, estão quase a cumprir-se 20 anos, Tite entregou a alma ao Criador. (Chamam-lhe Criador, assim mesmo com maiúscula, mas afinal também é Destruidor, igualmente com maiúscula).Para trás ficava a juventude no Campos dos Goytacazes, cidade de petróleo no Estado do Rio de Janeiro, quando seguiu as pisadas de um tio que também vestira a camisola azul e branca do Goytacaz Futebol Clube, ele que, por sua vez, foi tio de outro jogador, o lateral-esquerdo Léo que jogou no Santos e veio para o Benfica. Eduardo Bueno, um historiador brasileiro, afirmava que os goytacazes eram uma das tribos de índios mais ferozes de toda a América do Sul. Mas Tite nunca foi feroz. Era um bailarino, escorregadio como Nijinsky, tinha pés de algodão nos passes longos e milimétricos e uma biqueira de aço para os pontapés certeiros que assustavam os guarda-redes, apavorados como se estivessem frente a frente com um perigoso ostrogodo.
Em 1947, com apenas 17 anos, chegou ao Fluminense. E encarou-se com um problema irresolúvel. Era demasiado jovem para tirar o lugar aos dois jogadores que jogavam na sua posição. Um deles era Telê Santana. O outro era Joaquim Albino, a quem chamavam o Quincas, tal e qual o personagem de Jorge Amado em A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água, protagonista daquela passagem maravilhosa em que pensa que está a emborcar um copo de cachaça e de repente descobre que foi enganado berrando: «Áááááágua!».
Quando chegou ao Santos pela primeira vez tinha vinte anos. Ainda era um menino numa equipa que viu dois meninos estrearem-se antes de fazerem 17, Pelé e Coutinho. O seu pé esquerdo era encantador, os olhos da multidão fixavam-se nele à espera do momento mágico em que o coelho sairia da cartola e daria o golo a um companheiro ou o faria ele próprio, mas o lado esquerdo tinha dono, era de José Macia, a quem chamavam de Pepe. Impaciente, Augusto disfarçava nas cordas do violão. Carregava com o instrumento para todo o lado, inclusive para os estágios da equipa do Santos. Tocava bem e era contra os estágios. Embirrava com os treinadores. Concentração? Concentração para quê? Ele vivia concentrado. No futebol e na música. Preferia ser deixado solto para poder ir com os amigos tocar em bares de chorinho.
«Tenho medo da verdade
Por isso vivo de ilusão
Porque a realidade
Pode ferir meu coração», cantava acompanhado por Viviani e Seu Conjunto.
«Com a ilusão que ela me espera
Como a flor da Primavera
Tão perfeita no jardim
Com a minha cobardia
Nem em paz tenho alegria
Que fazer/Eu sou assim».
O título era, como está bem de ver, Eu Sou Assim. E o assim de Tite ia ficando cada vez mais triste e mais distante do futebol e cada vez mais perto da melancolia. Ora, dentro do campo não pode haver local para gente que sofre daquele ‘spleen’ de que falavaBaudelaire. Aos 33 anos, Augusto Vieira de Oliveira decidiu que nunca mais calçaria um par de chuteiras, por muito imortais que fossem.
«Perdi meu amor
Fiquei sozinho
No meu caminho
Perdi meu amor
E quero morrer…».
Talvez dramatizasse. Se o amor perdido era o da bola, não se pode dizer que tenha perdido grande coisa tal o menoscabo com que os torcedores o tratavam. Pelé orgulhava-se de ter aprendido a tocar violão com Tite, o que não é propriamente um elogio ao professor. Pelé jogava como ninguém, mas tocava mal e a sua vida na música nem deu para um rodapé. Tite ainda está por aí, em discos de vinil. Negros como a sua tristeza íntima."

Fechados em casa


"Em tempo de comunicação controlada e redes socais, teria sido bom saber mais sobre a equipa das Quinas

Acabou o Euro para Portugal. Se o que se passou em campo já foi analisado e continuará a ser nos próximos dias, interessa-me outro aspeto: o da comunicação. Ou o da falta dela.
Escrevia em março o meu colega Nélson Feiteirona que ver a Seleção era como ir ao cinema e não podia concordar mais. Não se cultivou verdadeiramente uma relação entre a Seleção e os adeptos – não basta à FPF colocar bandeiras nas cadeiras dos estádios quando há jogos – tirando da equação os emigrantes incondicionais, que bem se mostravam naquele treino aberto para 8 mil adeptos.
A nossa foi uma das poucas, talvez a única Seleção a não fazer um vídeo de promoção com os convocados para o torneio. Até a Ucrânia, com todas as dificuldades inerentes ao estado de guerra com a Rússia o fez; e a Espanha convocou as famílias e Rafael Nadal para narrar o vídeo, por exemplo.
Não sei quase nada do que se passava no hotel Klosterpforte, em Marienfeld. Os jogadores entravam e saíam. A Federação fez dois vídeos, um de 18 minutos, outro de 10, com imagens soltas de treino e jogadores a andar de um lado para o outro. Vi João Félix e João Neves a jogar bilhar, mas não sei quem ganhou; Rúben Neves no ténis de mesa, mas nem sei contra quem jogava; depois do jogo com a Eslovénia, nem uma imagem de festa no balneário, apenas Diogo Costa e Pepe num abraço. O mesmo foi pedido insistentemente pelos adeptos, ávidos de mais contacto, nos comentários nos vídeos ao Youtube.
Aqui ao lado em Espanha, vi como Álvaro Morata consegue cozinhar uma carbonara; como começou a amizade de Nico Williams e Lamine Yamal contado pelo próprios; como é a festa no balneário da La Roja. A Espanha soube como aproveitar os ativos e abriu a seleção ao mundo. Talvez Portugal possa aprender, dada a parceria para organizar o Mundial 2030.
Até dos suíços sei quem é o contacto mais famoso que têm no telemóvel e que o Ed Sheeran foi cantar para os ingleses. Só alguma criatividade evidenciada com Ricardo a ver fotos da estada da Seleção em Marienfeld, em 2006. Com uma Seleção tão cheia de estrelas, era obrigação da FPF mostrar-nos mais daquilo que só ela controla – como de resto se passa hoje com os clubes."

O A a Z do Euro 2024: deve seguir-se a festa de despedida de Cristiano Ronaldo


"Um País eternamente grato estará presente, em massa; o futuro será certamente risonho... 

Onde se fala das proezas de Diogo Costa que imitou Ricardo, da superação de Pepe, da excelência de Vitinha, do abençoado futebol de rua de Leão, dos 364 minutos a seco de Portugal, do ótimo Soares Dias, de Martínez que passou com Suficiente, do ódio de Bernardo Silva ao desempate por penáltis em 2023/24 e de Cristiano que quer e já não pode. É tempo da festa de despedida…

A
Alemanha-2024 — Não é em vão que se diz que os Europeus são mais difíceis que os Mundiais. São-no, pelos menos, na fase de grupos, onde o equilíbrio é maior. As equipas do Velho Continente aprenderam a arte da organização, são capazes de maximizar recursos e fazer das fraquezas forças. E já é possível decretar como extintos os chamados bombos da festa, que só viam no acesso às fases finais um ponto de chegada e nunca um ponto de partida.

B
Bernardo Silva — O playmaker lusitano, tal como o seu companheiro Rúben Dias, acaba a época com um profundo ódio ao desempate por pontapés da marca de grande penalidade. Mas o ódio de Bernardo ainda será mais profundo. Ao serviço do Manchester City, foi dos onze metros que perdeu a possibilidade de defender o título de campeão europeu, ao ser derrotado, no desempate, pelo Real Madrid, após dois empates, por 1-1 e 3-3, com a agravante de o médio português ter falhado um dos penáltis. Na Alemanha, apesar de ter feito a sua parte, ao marcar contra a Eslovénia e a França, acabou por ver-se afastado das meias-finais do Euro, também dos onze metros. É como os alcatruzes da nora, umas vezes por cima, outras por baixo.

C
Cristiano Ronaldo — Foi a figura mais mediática da competição. E só. A Portugal nada acrescentou, limitando o recurso a diversas opções que a riqueza do plantel lusitano constantemente sugeria. Vamos ser absolutamente claros? Ok, então vamos lá a esse penoso exercício. O avançado do Al-Nassr é capaz de oferecer produtos gourmet como o golo que marcou à Irlanda, em Aveiro, ao minuto 50 do último jogo de preparação, mas deixou de fornecer refeições. É ele que se alimenta da Seleção, enquanto que nas últimas duas décadas foi a Seleção a alimentar-se dele. Estarei a ser ingrato ao dizer que o Rei vai nu? Não sei, pelo menos é assim que me sinto ao fazê-lo. Mas, ao dia de hoje, Cristiano Ronaldo é, para a Seleção Nacional, um problema e não uma solução, e o melhor que podia acontecer era que caísse nele e anunciasse que depois de 21 anos de Quinas ao peito, 212 jogos e 130 golos, tinha chegado o momento de passar a ser um de nós, dos que torcem por fora por Portugal. Porque se não o fizer, terá de haver quem o faça por ele. Pelé e Cruyff souberam sair, Maradona, infelizmente, foi traído pelo vício e Messi sairá em tempo útil. Será uma pena se CR7 falhar o timing, embora nada apague tudo o que lhe devemos. Mas… obrigado e adeus.

D
Diogo Costa — Não sei se foi dos ares de Marienfeld, não sei se foi da companhia de Ricardo, mas a verdade é que o guarda-redes do FC Porto fez um belíssimo Europeu, do qual sai muito valorizado, com dois highlights: o primeiro quando defendeu de forma soberba, com o pé que tinha mais à mão, qual keeper de andebol, um remate de Sesko, com selo de golo, à beira do fim do jogo com a Eslovénia. O segundo, ao parar, na mesma partida, três penáltis no desempate da marca dos onze metros, igualando em Frankfurt a proeza conseguida 18 anos antes em Gelsenkirschen por Ricardo, seu atual treinador na Seleção, que defendeu três penáltis da Inglaterra, no desempate do Mundial de 2006.

E
Espanha — Muito interessante a mistura geracional que junta jovens turcos, jogadores no auge e veteranos dentro do prazo de validade que, todos juntos, formam uma bela equipa, atrevida e solidária. F França — Já tínhamos sido eliminados pela França no tempo regulamentar (2006), no prolongamento (1984), no prolongamento com morte súbita (2000), mas nunca nos penáltis. Foi agora. O que vale é que teremos sempre Éder e a noite de 10 de julho de 2016…

G
Gomes, Fernando — O presidente da FPF despede-se das grandes competições internacionais de seleções com uma presença nos quartos de final de um Campeonato da Europa (perdida no desempate dos onze metros contra aquela que muito provavelmente é a melhor equipa nacional do planeta, depois de uma partida muito bem conseguida). Porém, dos 12 anos que leva à frente da FPF, para lá das conquistas do Euro-2016 e da Liga das Nações de 2019, expoentes máximos, no âmbito desportivo, da turma das Quinas, desde que iniciou atividade, em 1921, deixa como legado a Cidade do Futebol, infraestrutura de primeiro mundo que será sempre polo de desenvolvimento das seleções, da arbitragem e do dirigismo, além de colocar a fasquia muito alta para quem vier a suceder-lhe. Parte agora para a vice-presidência da FIFA com a consciência do dever cumprido. O futebol português, neste País normalmente ingrato — não é por acaso que a última palavra dos Lusíadas é inveja — deve curvar-se perante a excelência da sua herança.

H
Hjulmand — O médio do Sporting afirmou-se na seleção da Dinamarca e passou a estar, sendo visto com outros olhos, no radar de equipas com grande capacidade financeira. Trata-se de um projeto de jogador interessante, embora inacabado, que deverá moderar o ímpeto com que aborda os adversários, para subir alguns patamares na bolsa de valores do futebol. Trabalho para Rúben Amorim.

I
Itália — Vá lá perceber-se estes italianos. Falharam os mundiais da Rússia e do Catar, coisa que nos dias que correm não é nada fácil, pelo meio foram a Inglaterra bater os anfitriões na final e sucederem a Portugal como campeões da Europa e quando foram chamados a defender o cetro limitaram-se a uma saída triste e envergonhada pela porta dos fundos. Um caso de estudo.

J
João Félix — Há 12 anos, na Donbass Arena, em Donetsk, hoje palco de guerra, a fava de falhar o penálti no desempate com a Espanha (que viria a sagrar-se campeã), nas meias-finais do Euro-2012, tocou a Bruno Alves. Desta feita foi João Félix a acertar na moldura, uma dor que há de persegui-lo até ao fim dos dias. Como agora já não há remédio, Félix vai ter de aprender a viver com essa dor, como fizeram, em circunstâncias ainda mais dramáticas, Baggio, Hoeness ou Trezeguet…

K
Kvaratskhella — O avançado do Nápoles, de 23 anos, autor do primeiro golo da Geórgia a Portugal na derrota lusa por 2-0, fica associado àquele que terá sido o resultado mais desprestigiante da Seleção Nacional em fases finais de grandes competições internacionais.

L
Leão, Rafael — Um grande Europeu de um jogador que não se deixou espartilhar pelos estereótipos táticos (embora não deixasse de defender, apoiando Nuno Mendes, especialmente no jogo com a França), e continua a espalhar o perfume de um futebol que a cada momento tem o condão de surpreender e entusiasmar. Pena foi que a presença portuguesa na área fosse inofensiva e desaproveitasse as inúmeras assistências que saíram do seu pé esquerdo.

M
Mikel Merino — O médio basco, que atua na Real Sociedad, marcou à Alemanha, ao minuto 118 do prolongamento, um dos melhores golos de cabeça que vi na vida. Correspondendo a um grande cruzamento de Dani Olmo, Merino foi poesia em movimento, na impulsão, na forma como parou no ar, na beleza plástica do gesto de rodar o tronco para impulsionar a cabeça e bater inapelavelmente Manuel Neuer. Quem não viu, vá ver. E veja as repetições, também. Vale a pena.

N
Nélson Semedo — Chegou ao Europeu na melhor forma de sempre. Entrou sempre bem e só não fez mais porque a concorrência era realmente fortíssima…

O
Oportunidades — Francisco Conceição foi, dos novos, aquele que mais se afirmou como jogador de Seleção. Irreverente e descomplexado, foi o agitador de que Portugal precisava do lado direito contra a França. Já Gonçalo Ramos merecia mais tempo. E a equipa também tinha ganho muito com isso…

P
Pepe — Confesso que quando vi as dificuldades por que Pepe passou na luta contra Sesko no jogo com a Eslovénia (que me fez lembrar o duelo com Gyokeres, em Alvalade) perguntei aos meus botões se não seria mais avisado optar por Danilo na partida com os gauleses. Afinal, Pepe não só apareceu fisicamente recuperado, como mostrou a fibra de que é feito, ao ir para além dos limites, honrando a camisola que vestiu em 11.566 minutos. Para Pepe, português como eu, ele de Maceió, eu de Lisboa, só tenho uma palavra: obrigado. Por tudo o que fez pelo nosso País.

Q
Quimera — Portugal, em 2024, caiu nos penáltis nos quartos de final contra a França, em Hamburgo, enquanto em 2016 ultrapassou a Polónia, em Marselha, nos quartos de final, também no desempate por penáltis, na noite em que Ronaldo incentivou Moutinho antes de ele se encaminhar para a marca dos onze metros, com a famosa frase, «vai João, tu bates bem, agora é com Deus…»

R
Roberto Martínez — Com o técnico espanhol, Portugal só caiu diante da França, e no detalhe dos penáltis. E foi contra os gauleses, que provavelmente têm a Seleção mais forte do mundo, que a turma das Quinas fez a sua melhor exibição no Euro-2024. Depois de passear por um grupo de apuramento declaradamente fácil, Martinez, que tem feito um esforço notável de integração nos nossos usos e costumes, não conseguiu passar para a opinião pública outra imagem que não fosse a de um técnico sensível ao peso específico de cada jogador dentro do balneário, e não daqueles que são menos gestores e mais treinadores e cortam a direito. Seguem-se a Liga das Nações e o apuramento para o Mundial, onde ou Martinez renova o que há para renovar, ou perde a oportunidade de ficar na história do futebol português.

S
Soares Dias — O árbitro do Porto fez um excelente Europeu (de parabéns também Tiago Martins, Paulo Soares e Pedro Ribeiro) e foi com surpresa e desilusão que se verificou a injustiça de não ter ido mais longe na prova. De qualquer forma, estivemos perante um desempenho ao nível do melhor que Portugal já apresentou nas grandes competições internacionais. Quase a fazer 45 anos, que rumo quererá dar à sua carreira, é a questão que se coloca…

T
Trubin, Anatoly — Não parecia fácil, perante a época de Lunin no Real Madrid, tirar-lhe o lugar, mas o guarda-redes do Benfica aproveitou a oportunidade após a derrota da Ucrânia frente à Roménia (3-0), e arrancou duas exibições magistrais contra Bélgica e Eslováquia, que apuraram o país-mártir e o colocaram no radar dos grandes da Europa, deixando o Benfica de sobreaviso quanto a uma eventual investida estrangeira.

U
UEFA — Grandes organizações, competições lucrativas (de Seleções e clubes) e uma eventual Superliga cada vez com menos hipóteses de singrar. O Europeu da Alemanha está a ser um bálsamo para Nyon.

V
Vitinha — Afinal, os elogios que ouviu de Luís Enrique não eram contra Mbapée. O médio português cresceu muito e foi, ao longo do Europeu, o principal dinamizador da equipa de Portugal, que piorou de cada vez que Roberto Martinez o substituiu. Um jogador que ataca e defende, transporta a bola e também a mete longe e ainda é capaz de uma boa meia distância vale o seu peso em ouro. Como é o caso de Vitinha, o elo mais forte de Portugal na Alemanha, a par de Diogo Costa.

W
Wilker Angel — Mais ou menos à mesma hora em que João Félix, em Hamburgo, falhava o penálti contra a França, o mesmo sucedia, no Texas, ao venezuelano Wilker Angel, que joga nos brasileiros dos Criciúma, entregando, no desempate dos onze metros, a meia-final da Copa América ao Canadá.

X
Xenofobia — Tem sido intenso, constante e profícuo o contributo do futebol contra este flagelo. Com resultados positivos.

Yamal, Lamine — A uma semana de cumprir 17 anos, não há como dizê-lo de outra forma: Lamine Yamal é um fenómeno. Um fenómeno de talento, de desinibição, de maturidade, de ambição e de classe pura. Com ele a Espanha é perigosa à direita e abre caminho para que Nico Williams possa sê-lo à esquerda. Porque um pássaro sem asas não voa…

Z
Zero — Vamos a contas: na fase de qualificação, Portugal marcou um golo a cada 24 minutos e 20 segundos. No Euro-2024 Portugal não conseguiu marcar qualquer golo nos últimos 364 minutos que jogou. Se aqui não estiver matéria não só de reflexão, mas essencialmente para decisões de quem de direito, não sei que outros argumentos serão precisos. Estes são por demais gritantes e eloquentes…"