terça-feira, 4 de junho de 2024

Núm3r0s d4 S3m4n4


"1
A equipa B dos juvenis do Benfica ganhou o Campeonato nacional da 2ª divisão sub-17. Outros títulos nacionais na formação esta semana: sub-19 feminino de futsal; sub-18 feminino de basquetebol e cadetes femininos de voleibol;
O Benfica é campeão nacional de basquetebol sub-18 no feminino pela 1ª vez;
As cadetes de voleibol do Benfica sagraram-se campeãs nacionais;
No futsal feminino, as águias estão a um triunfo de conquistar o heptacampeonato nacional;
Também os sub-15 de futebol estão a uma vitória da revalidação do título;

3
Fernando Pimenta conquistou o ouro em três provas da Taça do Mundo II de Velocidade (K1 5000, K1 1000 e K1 500);
A equipa feminina do Benfica de trampolim individual e sincronizado classificou-se no 3º lugar no Campeonato Nacional;
As sub-19 de futsal do Benfica são tricampeãs nacionais;

10
Em andebol no feminino, o Benfica, já tricampeão nacional, terminou a fase final com um pleno de vitórias nos 10 jogos disputados;

14
O Benfica está, pela 14ª vez em 15 temporadas, na (agora) fase da Liga dos Campeões;

64,36
Novo recorde nacional do lançamento do disco estabelecido pelo atleta do Benfica Emanuel Sousa (64,36 metros);

2029
O Benfica acionou a cláusula de compra de Álvaro Carreras ao Manchester United e o contrato firmado com o jogador tem duração até 2029."

João Tomaz, in O Benfica

Real, Mourinho, Schmidt e Conceição


"Mais que sublinhar o evidente, que o Real Madrid é o rei da Champions, vale a pena buscar a razão mais profunda deste domínio, até porque - valerá a pena lembrar aos mais novos - não foi sempre assim. O último grande dominador da Europa foi também o primeiro, mas viveu um hiato de… 32 anos (!) sem ganhar uma Taça ou Liga dos Campeões, de 1966 a 1998. O que aconteceu, entretanto? Aconteceram jogadores. Primeiro de topo, como Roberto Carlos, Redondo, Suker Mijatovic, depois galácticos de verdade, de Figo a Vini Jr, numa galeria que inclui Zidane, Ronaldo fenómeno, Bale, Cristiano Ronaldo, Benzema, Modric, Kroos. Em provas a eliminar, ter os melhores jogadores é ainda mais decisivo, porque em dias de motivação absoluta são imparáveis e na hora certa raramente falham. A cultura de vitória é filha desta qualidade. E por isso não há outra igual na Europa.
Para ter sucesso no Fenerbahçe, José Mourinho tem de perceber que não foi bem nas últimas épocas. Ele próprio não foi bem e as suas equipas nunca entusiasmaram, ao contrário do que sempre aconteceu na primeira década da carreira. Percebo que valorizar as finais que alcançou com a Roma seja uma forma de desmentir o declínio, mas será bom que o próprio não acredite nisso. O que fez no FC Porto, no Chelsea, no Inter e mesmo no Real esteve muito acima. Já sem ele, a Roma esteve recentemente à porta de mais uma final, e a Fiorentina, por exemplo, também vai em duas decisões consecutivas na Europa. Istambul pode marcar o relançamento da carreira de um técnico lendário, mas depende muito do que ele próprio for capaz de mudar.
Rui Costa explicou a repetição da aposta em Roger Schmidt com uma ideia que pode parecer absolutamente racional, mas que aparenta solidez discutível. O presidente encarnado acredita que não foi por acaso que a primeira época correu bem. Já descontando o facto de essa primeira época não ter sido propriamente uniforme - claramente de melhor a pior - a questão é: então a segunda época, em que correu quase tudo mal, foi por acaso? Ou seja, quando chegou e aproveitou a matéria-prima disponível, o sucesso não foi por acaso, quando teve mais influência nas opções e contratações, já foi. Parece uma questão de fé, ou pelo menos de grande otimismo. Não costumam ser os caminhos mais seguros numa decisão crítica.
Apesar de todas as debilidades demonstradas, a verdade é que Schmidt conseguiu, nas duas épocas em Portugal, ficar à frente de Sérgio Conceição, o que não deixa de ser assinalável, e até curioso, dada a quase unanimidade em redor do futuro ex-técnico portista. Que, a propósito, ganhou apenas um dos últimos quatro campeonatos que disputou. As taças também contam, naturalmente, e Conceição tem méritos indiscutíveis, como os da competência estratégica que muitas vezes aqui sublinhei. Acredito, contudo, que seria tanto (ainda) melhor treinador quanto mais reduzisse a sua instabilidade emocional.
A verdade é que nem os seus mais próximos, nem o próprio clube, ajudaram a atenuar tal caraterística. E no meio do turbilhão de excessos que tantas vezes incluiu ou rodeou Conceição, Vítor Bruno surgiu recorrentemente como um contraste de racionalidade. Também por isso o ex-adjunto será visto hoje como o homem que pode ajudar a construir um novo Porto.

PS: O Portimonense desceu de divisão e o Estrela da Amadora sofreu até ao fim. Mandar às malvas um jogo mais elaborado e apostar num futebol musculado, feito de duelos e correrias, não funcionou. Os erros individuais, de que ambos os técnicos – Paulo Sérgio e Sérgio Vieira – se foram lamentando, ocorrem mais vezes quando as qualidades técnica e de tomada de decisão são desvalorizadas."

Uma mão cheia de nada


"A centralização mais parece ter nascido de uma tentativa de poder e de atribuir ‘tachos’

Ouvi recentemente uma entrevista de um diretor executivo da Liga de Clubes sobre a centralização dos direitos televisivos.
Deu para perceber que a centralização está num plano de uma mão cheia de nada e de outra sem coisa alguma. Continuam ausentes respostas a perguntas básicas como se algum clube poderá perder dinheiro, quem são os stakeholders interessados na compra ou intermediação dos direitos televisivos da 1.ª (e talvez da 2.ª) liga portuguesa e que valores de avaliação estão em cima da mesa. A visão que continua a ser vendida pelos porta-vozes da Liga mantém-se imutável.
Manifestam-se cheios de fé nos números que passam pelas suas secretárias com base na credibilidade de estudos realizados de origem empírica e académica. Quanto aos resultados académicos, já há algum tempo que se fala num valor global de € 220 m pelos direitos a centralizar.
Mas há um senão: é que a vertente académica faz-se com recurso, maioritariamente, a benchmarking que consiste, leiga e genericamente, no processo de análise das melhores e com mais sucesso práticas de gestão numa determinada indústria com vista à obtenção de desempenhos e resultados superiores seguindo uma linha de observação e aprendizagem sobre o desenvolvimento estratégico e operacional em relação ao cliente e respetiva satisfação.
Esperamos que não seja sustentado por comparação às 5 principais ligas europeias (Premier League, Bundesliga, Ligue 1, La Liga e Serie A). Até se podem basear na parte mais operacional dessas ligas ou nas práticas que estas implementaram para melhorar a experiência de assistência dos jogos.
Mas deve existir um cuidado na linguagem utilizada em Portugal para que não se pense a centralização vai dar a ganhar balúrdios aos seus participantes. Exceção feita aos três grandes, não me parece existir dúvidas que todos os outros 15 clubes (da I Liga) ficarão a ganhar.
Resta saber se será num estilo Robin Hood (roubar aos mais ricos para dar aos mais pobres) ou porque há algures neste mundo investidores dispostos a investir muito dinheiro (para poderem ganhar o juro que irão distribuir aos seus acionistas) e que vai dar para todos viverem à grande e à francesa (ou à inglesa, germânica, espanhola ou italiana).
Há que ser cauteloso num mercado altamente volátil e extremamente sensível. E, já agora, se me permitirem a análise, a centralização mais parece ter nascido de uma tentativa de poder e de atribuir futuros tachos também, o que é típico do tuga.
A liga centralização é uma sociedade comercial unipessoal que foi criada pela sua sócia única (Liga de Clubes) em Novembro de 2021 à revelia da Federação Portuguesa de Futebol.
A vivência nos últimos anos entre as duas não foi a melhor. Basta ler a última entrevista de Fernando Gomes sobre este tópico.
Em Junho de 2026 tem que ser apresentada o modelo de comercialização e a chave de distribuição à Autoridade da Concorrência para, em Julho de 2028, a centralização estar concretizada para entrar em vigor. Estão, portanto, aí à porta. Se estivesse na Liga ou numa SAD, preocupava-me mais em fazer lobby junto do Primeiro-ministro, do ministro dos Assuntos Parlamentares e do secretário de Estado do Desporto para alterar a lei em vigor que força estes prazos. Isto porque convém ter a certeza que os dirigentes desportivos nacionais têm noção do índice cultural, populacional e de assistência fundamentais para a análise do tema. Qual a melhor forma de centralizar num país em que 3 clubes consomem mais de 90% dos interessados e que os seguintes 10 classificados nas médias de assistência nos estádios em 2023-24 tiveram os seguintes resultados: V. Guimarães (16.116), SC Braga (15.490), Marítimo (Liga 2 - 8.509), Boavista (6.520), Gil Vicente (4.528), Paços Ferreira ( Liga 2 -4.430), Chaves (3.896), Famalicão (3.800), Casa Pia (3.422) e Vizela (3.310).
Nos Países Baixos, o Ajax teve uma média de 53.774 (inferior à do Benfica e superior à do FC Porto) e o NEC Nijmegen (6.º classificado) teve 12.475 por jogo (10.ª em assistências).
Na Bélgica, o Anderlecht (2.º classificado) teve uma média de 21.136 no seu Lotto Park e o KV Kortrijk (15.º lugar) teve 6.588. Comparem para perceberem que não se acena com dinheiro na resolução de obstáculos culturais e demográficos!"

Coisas da bola - versão atualizada


"São versões iguais (e piores) a estas que se repetem semana após semana por esses relvados fora

Não sendo nova no conceito, é sempre imprevisível na forma como supera o que já foi dito. Sejam de novo bem-vindos à saga Preso por ter e preso por não ter:

ÁRBITRO JOVEM EM JOGO DA FORMAÇÃO
«Com tanto velho a apitar e mandam esta verdura fresca. Não tens andamento, pá! Vai-te mas é embora! Maçarico! Nem com uma mão na cara aguentas, puto» (nota: os pais desses jovens também estão nas bancadas a apoiar os seus filhos).

ÁRBITRO EXPERIENTE EM CAMPO
«Ehhhh láaaa... quem é o artista...! É preciso não ter vergonha na cara! Que grande ladrão! Não têm mais ninguém para mandar, é sempre este boi preto? Com tanto puto novo a aparecer e vem este ginja desgraçar-nos outra vez! Cambada de corruptos!!»

ÁRBITRO QUE ASSUMIU SIMPATIA CLUBISTA
«Olha, olha, quem é ele! Eh, eh!! E depois não querem que a malta se passe dos carretos! Que corja! Este animal teve a grande lata de dizer ao que veio e ainda o mandam prá’qui? É que é à descarada, nem disfarçam!»

ÁRBITRO QUE NÃO ASSUMIU SIMPATIA CLUBISTA
«Ao menos dá a cara, covarde! Maricas! Quem não deve não teme, ó ladrão! Todo sonso, caladinho que nem um rato! Nem é carne nem é peixe! Disfarças mal, animal! Nojento, pá!»

ÁRBITRO MAIS RIGOROSO
«Mas chegámos ao Natal ou quê? Para quê tanto cartão, seu pulha? Então o homem já não pode falar? Pareces um sinaleiro! Que nojo! O rapaz nem lhe tocou! Bem dizia a minha mulher que só venho prá’qui perder tempo! Isto está tudo feito!!»

ÁRBITRO MENOS RIGOROSO
«Mas o que é isto, pá? Agora é canela até ao pescoço? Então o sarrafeiro magoa o miúdo e tu dás-lhe palmadinhas nas costas? F***! Ladrão de m***! Não tens pulso nem para segurar relógios, maricas! Volta prá’s saias da mamã!»

ÁRBITRO DIPLOMÁTICO
«Olha-me este... queres ver? Eh pá, deixa-te de letra e apita, mas é! Tanto paleio, porra! Futebol é para homens! Espeta-lhe logo com o amarelo! Os gajos gozam contigo e tu nenúfares!! Que virgenzinho que és!»

ÁRBITRO MENOS DIPLOMÁTICO
«Mas que grande filho da p***!! Arrogante de m***! Parece um pavão! Pá, eles é que são as estrelas, não és tu, ó cab**! Sê humilde, sac**!! Como é que é possível não ensinarem estes gajos a falar com os miúdos? Vaidosão!»

ÁRBITRO RECONHECE QUE ERROU
«Ai agora é que pões a mão na consciência? Depois da m*** estar feita? Já te apertaram os calos, foi? Quem tem c*, tem medo! Que tristeza, pá! Tens o rabo preso, não tens? Estás tão comprometido! Apita mais e fala menos, pá!»

ÁRBITRO NÃO RECONHECE QUE ERROU
«Eh, pá!! É mesmo de ficar maluco! Então este meia leca nem dá a cara? Mas que tipo de homem és tu?? Não tens a humildade de pedir desculpa?? Ficava-te mal, é? Corporativista, covarde, arrogantezeco!! Tens a mania, mas é até ao dia...»

ÁRBITRO EM ESTREIA
«UI!! Que libelinha que mandaram prá’qui!! Mas temos que levar com isto, pá? Isto não é a Santa Casa da Misericórdia, pá! Ainda por cima sabe inclinar, isto já nasce com eles!! Está-lhes no sangue! Não sabe correr mas sabe lixar-nos! Vai mas é prá’s obras, parvalhão!»

ÁRBITRO NO ÚLTIMO JOGO DA CARREIRA
«Queres mesmo sair pela porta dos fundos, não queres, seu chuleco? É que é roubar até à última!! Ainda te pagam este ou é mesmo gosto em f****-nos, seu ladrão? Andas a matar isto há demasiado tempo! Já vais tarde!! Desgraçado!»

ÁRBITRA EM CAMPO
«Eh lá! Estás perdida? Não?!? Então o que estás a fazer fora da cozinha? Vai mas é limpar o pó, sua p***! Esta grande v**** ainda é pior que os outros todos juntos!! Que porc*!! Olhem bem á’quilo! A roupa já tá no estendal? Não demores!! F****»

São versões iguais (e piores) a estas que se repetem semana após semana por esses relvados fora. Pode ter piada para alguns, para mim, confesso... nem por isso. Quando quero rir, vejo stand up ou vou ao circo ver palhaços. E vocês?"

O que tem faltado a João Félix


"Barça quer ficar ele, mas só uma mudança poderá trazer o futuro que dele se espera

Já é difícil haver um mercado de transferências sem algum burburinho à volta de João Félix. Desta vez, ainda estamos no início de junho e a imprensa catalã já garante que o avançado português vai ser novamente emprestado ao Barcelona.
Da Catalunha chegam notícias de que Xavi não quereria ficar com ele, mas que o recém-chegado Hansi Flick quer. Novo treinador, nova esperança, nova época para mostrar o que vale.
É que talvez não pareça, mas João Félix já saiu do Benfica há 5 anos, com o estatuto e peso de uma transferência astronómica. No Atlético não foi difícil antever que teria problemas com o estilo de Simeone. Mas as épocas têm passado, os clubes e treinadores também, e acabamos sempre a constatar que o talento do português não está a ser concretizado com a regularidade que se espera de um craque destes valores.
Além da ‘culpa’ de Simeone - e de Xavi e de outros... -, a responsabilidade também será sempre dos tais 120 milhões de euros e do que essa carga coloca em cima de um jovem. Talvez por isso, sem preço na etiqueta, seja mais fácil a João Félix destacar-na Seleção Nacional. Esteja em que forma estiver, poucos terão dúvidas da qualidade que acrescenta e o avançado lá aproveita a camisola de Portugal para ser mais feliz. O Barcelona, nesta altura, nem parece estar à espera do Euro para o querer no plantel, mas que uma boa prestação pode ajudar a deixar os catalães com mais vontade, ai isso pode...
Além disso, acredito que só uma coisa poderá ajudar mais João Félix a deixar de ser um destaque a espaços e uma dúvida ao fim de cada época: mentalidade competitiva. O internacional português pareceu dar-se bem numa fase de qualificação quase ‘a brincar’, mas também já mostrou no Catar que gosta da pressão de uma fase final. Só que a carreira de um jogador - e sobretudo de um que custou 120 milhões - não se faz sem pelo menos um clube o desejar muito, a toda a hora, seja qual for o treinador. E, para isso, não chega o que Félix tem feito. Será preciso perceber que os jogos de uma La Liga num domingo à noite em Maiorca podem não ter espetáculo, mas são para ganhar. E que nem todos os adversários vão ser treinados por Simeone para poder brilhar e assim ‘vingar-se’. Para João Félix ser o que se espera dele, tem de querer ganhar, ganhar, ganhar. Sempre, a toda a hora, contra todos. Craques há muitos, mas os melhores do Desporto não toleram perder - e tornam-se mais fortes por isso.
É um bom exercício para começar já no Euro. Terá por perto, por exemplo, Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo ou Pepe. Não precisamos de conversar sobre o talento deles, mas Félix talvez precise de entender que nenhum teria o estatuto que tem se não fosse um animal competitivo.
Para ser feliz em Barcelona, a culpa tem de deixar de ser do treinador ou da venda milionária. O fim das dúvidas está nos pés - mas sobretudo na cabeça - de João Félix."

Ver o fim no espelho


"Cristiano Ronaldo continuará a ser um dos melhores atletas da história do desporto, pelo menos enquanto a espécie humana não atingir um novo estado evolutivo

Em 2021, numa entrevista à publicação Esquire, Kylian Mbappé, o melhor futebolista da sua geração e futuro vencedor de seis ou mais Ligas dos Campeões ao serviço do Real Madrid, explicou tudo com a inteligência de processos simples que o caracteriza dentro e fora de campo. Quando questionado acerca dos ídolos que vieram antes dele, Kylian, então já campeão do mundo pela seleção francesa, disse o seguinte: «Se te convenceres que és superior a Messi e Ronaldo, isso vai para lá do ego ou da determinação. É falta de noção. Estes jogadores são incomparáveis, desafiaram todas as leis da estatística.»
Já tudo foi dito sobre Messi ou Ronaldo, mas não me lembro de alguém os ter descrito adequadamente, pelo menos não à semelhança de uma proeza do falecido escritor David Foster Wallace, autor de uma peça quase mitológica, publicada pelo New York Times em 2006, intitulada ‘Roger Federer as religious experience’ (Roger Federer enquanto experiência religiosa). Ao longo de uma extensa reflexão, Foster Wallace, um amante da modalidade, explica-nos, com uma minúcia descritiva própria da sua escrita, com um talento irredutível no cronismo do desporto, a dimensão material, física, absolutamente concreta do ténis de Roger Federer, o que isso significa no contexto de uma modalidade praticada por milhões de pessoas e o que significa no contexto das representações estéticas ao alcance do corpo humano.
Foster Wallace dedica-se arduamente à descrição da realidade para, com as suas palavras, fazer a atuação de Federer ascender ao patamar sobrenatural, esteticamente inatingível, de tenista favorito de todos os amantes do ténis, e musa inspiradora de David Foster Wallace. O texto atinge o seu momento mais memorável com a expressão, cunhada na perfeição e usada desde então: Federer Moments (momentos Federer). Coisas que só o tenista suíço era capaz de fazer acontecer e uma experiência superior, neste caso do observador, que só Federer poderia dar a conhecer.
Infelizmente, Foster Wallace não sobreviveu tempo suficiente para assistir ao declínio de Roger Federer e explicá-lo enquanto figura novamente terrena. Não sei o que diria sobre o caminho inevitável do suíço na direção do fim, mas foi de Federer e de Foster Wallace que me lembrei há uns dias quando, depois de um jogo ao qual dificilmente teria assistido em direto - a final de uma taça na Arábia Saudita - vi um dos melhores futebolistas de sempre chorar copiosamente. Não acompanhei a evolução do marcador, não sabia qual tinha sido o resultado final, e tenho feito um esforço muito consciente para evitar o futebol da Arábia Saudita após uma tentativa gorada há alguns meses.
Continuei a fazer scroll no Twitter e os vídeos de Ronaldo repetiam-se, uns em que ele chorava deitado no relvado, outros dele já no banco de suplentes, mal escondido por alguns funcionários do Al Nassr incumbidos de proteger a privacidade de Ronaldo num momento de particular tristeza.
Fez-me lembrar outros momentos tristes da carreira de Ronaldo, em que também o vimos reagir sem conter as emoções. Mas desta vez não vi o homem que chorava mas se recompunha porque sabia que ainda tinha tudo pela frente. Desta vez vi um homem a braços com o destino mal resolvido. Lembrei-me do quão perto está o final da sua carreira e do quanto atletas como Cristiano Ronaldo são obrigados a existir muito mais na sua cabeça do que por via da empatia dos outros. Não faço ideia do que é ser Cristiano Ronaldo. Não consigo colocar-me no seu lugar.
É muito fácil que alguém se possa solidarizar com a circunstância menos feliz de Ronaldo, como faço aqui, mas não sei verdadeiramente explicar o que ele sente. O lugar solitário em que o encontrei na final da King’s Cup é o lugar solitário de alguém que atingiu um cume de desempenho desportivo que, golo a golo, feito impensável após feito impensável, o separou do mundo.
É o mesmo lugar solitário de quem hoje não consegue aceitar o seu voo descendente da estratosfera até à superfície terrestre. Cristiano trabalhou freneticamente para tudo o que conseguiu e aprendeu a viver sozinho. Pareceu sempre feliz na sua condição, até o corpo deixar de responder e a realidade o trazer de volta. Cristiano continua a publicar fotos no instagram para mostrar que é esculpido e tem tudo para ser imensamente feliz, mas suspeito que a realidade será um pouco diferente quando se nasceu essencialmente para vencer e para viver num lugar longínquo, simultaneamente à vista de todos mas inacessível. Hoje, Cristiano sabe que não tem muitas mais finais pela frente. Olha-se no espelho e vê um fim.
O corpo e a mentalidade patologicamente competitivas continuam a lutar contra o crepúsculo, mas o fim está próximo. E foi esse o homem que vi chorar após mais uma taça perdida. Mas, se existe alguém que sempre pareceu capaz de contrariar a realidade, foi ele. Espero que o destino lhe permita terminar com uma taça, quem sabe ao serviço do seu país. Mas, aconteça o que acontecer, Cristiano Ronaldo continuará a ser um dos melhores atletas da história do desporto, pelo menos enquanto a espécie humana não atingir um novo estado evolutivo. Fez o que só Messi conseguiu e o que, como diz Kylian Mbappé, mais ninguém conseguirá. A sua biografia perdurará em incontáveis Ronaldo Moments, como os de Federer. Mas não deixa de ser irónico, e triste, que a única pessoa incapaz de aceitar isso seja mesmo ele."

Aqueles que vivem na gaiola da solidão


"Enquanto a bola rolava longe da sua baliza, Amadeo Carrizo, entre os postes, filosofava.

Desde o dia em que alguém descobriu que o escritor Albert Camus tinha tido um passado de guarda-redes numa insípida equipa argelina que o cargo subiu vários degraus na escala da pseudo-intelectualidade universal. Camus nunca perdeu muito tempo a filosofar sobre o seu posto de keeper infantil na Association Sportive de Montpensier e, em seguida, já mais velho, no Racing Universitaire d’Alger, até que aos 17 anos apanhou uma tuberculose que o deixou incapaz de esforços suplementares. Depois, certo dia, no Parque dos Príncipes, o dia 17 de outubro de 1957, foi entrevistado por um canal televisivo quando se preparava para assistir a um encontro entre o Racing de Paris e o Mónaco. Houve um repórter atrevido que lhe pôs um microfone à frente e ele soltou a frase que ficaria gravada na fita da memória desta espécie de Humanidade cada vez mais doente: «Tudo o que sei sobre moralidade e obrigações devo-o sobretudo ao futebol». Enfim, convenhamos que terá sido mais uma pilhéria do que de verdadeira filosofia. Afinal nunca passou assim tanto tempo no futebol para sair dele com convicções morais suficientemente alicerçadas para dar lições a quem quer que seja. Mas, a verdade é que deu um jeitão para que se escrevessem milhares de páginas sobre ele e sobre aquela função assombrada que é a de guarda-redes, o único da equipa que joga com um equipamento diferente do dos colegas e que, só por isso, merece a atenção especial de todos os que amam o jogo inventado pelos ingleses.
Confesso que, tendo sido sempre um apaixonado pelo nove, e ter passado anos a fio a jogar desde os relvados dos Olivais Sul (e a placa de cimento do Maracangalha) a todos os campos do país, da Luz, Alvalade, Jamor, a Freiria dos Chapéus e ao campo do Redolho, em Águeda, fazendo de conta que era ponta-de-lança e esforçando-me em cada jogo por marcar um golo de pontapé-de-bicicleta, o movimento mais bonito do futebol, nunca resisti à tentação de escrever sobre guarda-redes, aqueles que, afinal, deveriam ter sido os meus grandes inimigos. Há algo de sublime naquela solidão de estar entre dois postes com uma barra por cima a defender os 7,34 metros x 2,44, tantas e tantas vezes longe da bola, essa mágica senhora das paixões.
Amadeo Raúl Carrizo Larretape: era a ele que eu queria chegar hoje. Num dia de desespero soltou uma frase que abafa a vulgaridade da frase de Camus: «Vivo en el puesto más ingrato del fútbol!». Nascido em Rufino, Santa Fe, a terra que Amelita Baltar tornou imortal no tango de Piazzola Balada para Mi Muerte:
«Hoy, que Dios me deja de soñar
A mi olvido iré por Santa Fe
Sé que en nuestra esquina vos ya estás
Todo de tristeza hasta los pies
Abrazame fuerte, que por dentro oigo muertes
Viejas muertes agrediendo lo que amé
Alma mía, vamos yendo/Llega el día, no llorés».
Amadeo, como lhe chamavam, sofria de solidão quando a bola estava lá longe e ele, na sua gaiola da baliza, tinha saudades de segurá-la com os braços. Foi o primeiro guarda-redes argentino a usar luvas num tempo em que resolveu copiar o seu colega italiano Giovanni Viola. Foi o primeiro guarda-redes argentino a libertar-se da solidão da baliza e sair para o ataque, jogando fora da grande área, esperando pelos adversários fora da grande-área como os desafiasse, toureiro chamando o touro, gritos de incentivo como quem se recusasse a estar ali, quieto, à espera do momento em que iam exigir tudo da sua pacificação interior para que se tornasse selvagem na busca da impossibilidade da morte. Foi herói do River Plate com 521 jogos, uns mais solitários do que outros. No seu posto, com a bola distante, filosofava. Morreu em Buenos Aires, em março de 2020, tal como Amelita saberia certamente quando cantou:
«Moriré en Buenos Aires, será de madrugada
Que es la hora en que mueren los que saben morir
Flotará en mi silencio la mufa perfumada
De aquel verso que nunca yo te pude decir
Andaré tantas cuadras y allá, en la Plaza Francia
Como sombras fugadas de un cansado ballet
Repitiendo tu nombre por una calle blanca
Se me irán los recuerdos en puntitas de pie…».
Li muitas coisas sobre Amadeo mas não sei se morreu de madrugada. Sei que era um homem amargurado mas que voava como um pássaro cujos braços fossem asas que um deus qualquer se esqueceu de acabar. Sei que pensava muito em todos os momentos em que se encontrava fechado e só na gaiola da sua solidão. Não quis, apesar de acabado, deixar de ser guarda-redes. Fugiu para o Peru e para o Alianza, para a Colômbia e para os Millionarios, mas já ninguém o queria para jogar, queriam-no para terem Amadeo, o guarda-redes filósofo e triste que nunca escondeu a sua solitude e a ingratidão desse lugar de guarda-redes perdido…"

José Augusto Pinto de Almeida


"UMA VERDADEIRA LENDA VIVA
11 ÉPOCAS | 368 JOGOS | 176 GOLOS

José Augusto, um dos obreiros da melhor década da história do Benfica: foi bicampeão europeu e participou em mais três finais, ganhou 8 Campeonatos e 3 Taças de Portugal. Foi mesmo o único jogador que participou em todos os jogos das cinco campanhas europeias que levaram o Benfica até à final da Taça dos Campeões Europeus (hoje Liga dos Campeões).
Impressionante como alguém que jogava a extremo direito marcava tantos golos. Nas paredes da sua pequena casa, no Barreiro, percebe-se pelas fotografias que ali estão penduradas que tinha um poder de impulsão absolutamente único - e por isso tantos dos seus golos foram obtidos de cabeça.
Dá que pensar ver hoje em dia jogadores vulgares com condições de vida extraordinárias e constatar a modéstia em que vive um bicampeão europeu, que chegou a ser considerado, no seu tempo, o melhor extremo direito da Europa. É um sinal dos tempos, da evolução do futebol, eu sei, mas não deixa de ser revoltante.
Tenho o privilégio de me ter encontrado várias vezes com o José Augusto ao longo da vida. Hoje foi por uma razão que muito me orgulha: dar os passos finais no trabalho de edição do livro "José Augusto e o Benfica dos Anos 60", da autoria de Luís Lapão. Esta grande lenda do Benfica vai ver reconhecida a sua enorme carreira contada em livro ainda em vida. Nada mais justo!
MUITO OBRIGADO POR TUDO, JOSÉ AUGUSTO.
BENFIIIIIIIIIIIICAAAAAAAAAA!!!"

Eliminados...

Braga 5 - 1 Benfica

Fim de época, em mais uma partida onde cometemos erros, voltámos a demonstrar que o nosso 5x4 ofensivo é suicida, mas onde voltámos a ser roubados, com um penalty marcado contra o Benfica, através do VAR, de forma inacreditável... Penalty que teve uma influência gigante na forma como a partida foi jogada, pois obrigou o Benfica a jogar em desvantagem durante todo o jogo!
Fomos muitos melhores na 1.ª parte, o 0-1 contra, devia ter sido, no mínimo um 3-0 a nosso favor, no 2.º tempo o Braga conseguiu encaixar alguns contra-ataques, com a nossa ajuda, equilibrando a partida, mas nunca foi superior... até ao momento onde o Benfica 'arrisca' o 5x4!!!

Já o afirmo há bastante tempo: Após a nossa penúltima vitória no Campeonato, nos penalty's na Negra, em Loures, com o 'novo' presidente dos Lagartos Babalu, a bater em todos, com confusão na Tribuna, no campo e nos balneários dos árbitros, o Tugão 'acabou' com a possibilidade do Benfica vencer um Campeonato de forma natural... Vencemos mais um após essa época, de forma milagrosa, mas para isso se repetir, é preciso um alinhamento astral raríssimo! Podemos trocar de jogadores, de treinadores e dirigentes, como já fizemos, o resultado será o mesmo! Enquanto o Benfica permitir competir num Campeonato destes, com estes dirigentes, na arbitragem e na disciplina, nada irá mudar...

Já se conhecem alguns nomes de jogadores que vão reforçar a equipa na próxima época, não sei se o treinador vai continuar, mas nada irá mudar! O Sporting esta época está mais fraco, e os resultados provam-no, era demasiado arriscado jogar a Final contra o Benfica!!!

Vai ser curioso, ver este Braga na Final, transformar-se numa equipa altamente faltosa, que irá levar Amarelos às carradas, e muito provavelmente com algumas Expulsões; irá acabar praticamente todas as partes, apertados com faltas, e não vão beneficiar de um único penalty (ao contrário do que se passou nestes 3 jogos: 3 penalty's!)... e ainda vão ser vitimas de arremesso de todo o que tiver à mão, obrigando o 'banco' a saltar para meio da quadra!!!
Exatamente o inverso do que se passou nestes 3 jogos!!!

Heptacampeão


"A equipa feminina de futsal do Benfica é campeã nacional para 7.ª vez consecutiva. Este é o destaque na BNews.

1. Hegemonia reforçada
Heptacampeãs! Bastaram três jogos da final para que o Benfica, na vertente feminina de futsal, voltasse a celebrar o título nacional. É o 7.º consecutivo de uma equipa que, em 2023/24, também ganhou a Taça de Portugal, a Supertaça, e o prestigiado torneio Women's European Champions.
Alex Pinto fala da conquista, partilha o mérito e aponta já aos desafios vindouros: "Era o objetivo número 1 e culminámos a época com este Heptacampeonato. Parabéns às minhas jogadoras, ao staff, à Direção e aos adeptos, que nos acompanham para todo o lado e que nos fazem sentir sempre em casa. Vamos festejar, descansar e, depois, pensar na próxima época, onde queremos estar ao nível desta. Vamos trabalhar para ganhar tudo, pois queremos continuar a fazer história."
Na mensagem de felicitações, o Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Rui Costa, refere "mais um capítulo brilhante da história da modalidade no nosso Clube."

2. Trubin em destaque
Os números atestam a rápida adaptação ao Benfica e a elevada qualidade de Trubin.

3. Discussão na negra
Depois da vitória obtida no jogo 2, o Benfica volta a jogar em Braga, hoje, às 20h45, para decidir o finalista do Campeonato Nacional de futsal. Mário Silva salienta que, "em termos de compromisso e atitude tem de ser, no mínimo, igual, ou melhor ainda" que no jogo anterior.

4. Triunfo importante
O Benfica ganhou à Oliveirense, em Oliveira de Azeméis, após desempate por grandes penalidades. A meia-final do Campeonato Nacional de hóquei em patins, disputada à melhor de cinco, está empatada com uma vitória para cada lado.
O SL Benfica não pode deixar passar em claro as lamentáveis declarações proferidas pelo treinador de hóquei em patins da UD Oliveirense após o jogo de ontem. Além de fazer uma acusação falsa, Edo Bosch pediu deliberadamente para ser beneficiado no próximo jogo. É uma tentativa clara de condicionar a arbitragem, isto quando o jogo de ontem ficou marcado por várias agressões de atletas da UD Oliveirense a atletas do SL Benfica.

5. O pleno tão perto
A equipa feminina de andebol do Benfica foi derrotada pelo Madeira SAD, após prolongamento (34-36), na final da Taça de Portugal, numa época em que se sagrou Tricampeã nacional, venceu a Supertaça e a Taça FAP e chegou às meias-finais da EHF European Cup Women.

6. Outros resultados
No primeiro jogo dos quartos de final do Campeonato Nacional de hóquei em patins no feminino, o Benfica ganhou, por 3-1, ao CENAP.
Os Sub-15 de futebol sofreram um desaire caseiro com o Braga (0-1), continuando a dois pontos do título com duas jornadas por disputar.

7. A não perder
Veja, na BTV, com estreia às 22h00, a reportagem especial "Menino de ouro" com Diogo Ribeiro, o prodígio da natação portuguesa.

8. Europeu Sub-17
Portugal está na final e conta com o contributo decisivo de quatro jogadores do Benfica.

9. Título na formação de voleibol
Depois das Sub-21 e das Cadetes, agora foi a vez das Sub-15 celebrarem a conquista do Campeonato Nacional.

10. Iniciativa do museu
O Museu Benfica – Cosme Damião assinalou o Dia Mundial da Criança com duas iniciativas."

Villas-Boas atento a minas e armadilhas


"Sérgio Conceição volta a fazer uma tempestade num copo de água, desta feita a propósito da sua substituição no FC Porto. Defeito ou feitio?

Sérgio Conceição é um bom treinador de futebol e terá, por certo, sucesso no clube que escolher, depois de sete anos no FC Porto, onde potenciou os recursos que lhe foram disponibilizados. Mas sempre foi alguém que viveu entre o ótimo e péssimo, entre o comedimento e o exagero, entre a afabilidade e a agressividade, com ausência total do meio-termo que está na base do equilíbrio. Pouco importa se estamos perante um defeito ou um feitio, o que interessa é a conclusão final, e esta é que com Sérgio qualquer constipação é tratada como uma pneumonia, qualquer brisa se transforma, rapidamente, num furacão.
O que está a acontecer agora com Vítor Bruno é mais do mesmo, uma reação exacerbada, sem meio termo, como se fosse pecado alguém sair-lhe da órbita. Ao longo deste processo, não pode esquecer-se a posição de Sérgio Conceição face às eleições, nas quais tomou o partido de Pinto da Costa, de forma pública e notória, exercendo um direito de cidadania que se lhe reconhece e não contesta, mas que mostrou que não estaria interessado a trabalhar com outro que não fosse o presidente cessante, que lhe renovou, até, o contrato a escassos dias do ato eleitoral. Surpresa na saída de Sérgio Conceição do FC Porto? Zero. Surpreendente será se, eventualmente, vier a exigir alguma indemnização, mas essas são contas de outro rosário.
Saindo Sérgio Conceição, alguém tem de entrar, e diz a história do FC Porto que os adjuntos que vieram a sentar-se na cadeira de sonho não se deram nada mal: José Mourinho, Vítor Pereira e André Villas-Boas ganharam, em cinco épocas, cinco Campeonatos, uma Champions, uma Liga Europa, uma Taça UEFA, duas Taças de Portugal e quatro Supertaças. Logo, pensar em Vítor Bruno para treinador principal, sabendo-se que 2024/25 será ano de apagar fogos em várias frentes, não parece, de todo, despropositado.
Francamente, não consigo perceber onde pode estar a traição a Sérgio Conceição no meio de tudo isto. Aliás, a eventual promoção daquele que foi durante anos a fio o seu braço direito, deveria ser motivo de satisfação e não de crispação, a não ser que o ainda treinador dos dragões pretendesse continuar no FC Porto. O que não parece ser o caso.
Depois de uma vitória esmagadora de Villas-Boas, que não deixou dúvidas quanto ao rumo que os portistas querem ver ser dado ao seu clube, torna-se cada vez mais evidente que a nova gestão vai ter de tirar um curso de minas e armadilhas para sair destes primeiros tempos sem danos de maior…"

Uma reflexão especial


"Opção de Mourinho merece respeito...e uma reflexão que não deve ficar pelo próprio

Após 20 anos a treinar nas principais Ligas europeias, as denominadas Big Five, com curtos períodos no desemprego, José Mourinho foi para a Turquia. Depois de Chelsea, Inter, Real Madrid, Manchester United, Tottenham e Roma, o técnico português decidiu sentar-se no banco do Fenerbahçe. Uma escolha legítima, que oferece ao técnico português a oportunidade de continuar a lutar por títulos, embora num plano mais periférico, onde continua a ser visto como o Special One e a ser «amado antes de ganhar», como o próprio destacou na apresentação deste domingo.
Parecia dia de jogo, tal o entusiasmo gerado pela chegada do treinador português, que decidiu salvaguardar o direito a esse aparato, conquistado ao longo da carreira de sucesso. Na Arábia Saudita — ou destino equivalente — a receção também seria assim, mas Mourinho optou por um contexto que pode ser financeiramente (um pouco) menos tentador, mas mais relevante do ponto de vista desportivo, que não é o mesmo que mediático.
O primeiro objetivo será garantir mais uma participação na Liga dos Campeões e provar que é da casa mesmo quando há remodelações. E depois tentar incutir espírito vencedor a um Fenerbahçe que não é campeão há dez anos — soma três anos seguidos como vice — e que já só tem mais três títulos nacionais do que o rival Galatasaray, agora bicampeão.
Ir para a Turquia não representa qualquer mancha para o currículo de Mourinho. Pode até enriquecê-lo. A paixão daqueles adeptos pode revelar-se um combustível valioso nesta fase da carreira do treinador português, até porque corresponder à ambição do Fenerbahçe não é desafio menor do que treinar um West Ham.
A reflexão deve ter um ângulo ligeiramente diferente: ao abraçar este desafio com a legítima paixão de quem ama o que faz, José Mourinho deve pensar o que faz com que não seja candidato aos bancos dos crónicos candidatos à conquista das principais ligas europeias. Tem capacidade para voltar a essas lides, mas por agora parece estar a afastar-se gradualmente desse patamar. Não será uma questão de desatualização, antes a insistência numa abordagem demasiado resultadista e num discurso mais conflituoso do que disciplinador.
Mas até por aquilo que o próprio representa, a reflexão de Mourinho deve incentivar uma análise mais alargada da classe que representa, perante o vazio que fica: talvez Paulo Fonseca venha a contrariar a tendência, mas os treinadores portugueses andam afastados das cadeiras mais cobiçadas do futebol europeu. Pelas portas que Mourinho abriu já pouca luz passa. É verdade que outras ficaram escancaradas, por mérito sobretudo de Jorge Jesus — e depois de Abel, por exemplo — mas é preciso voltar a entrar no mercado principal, agora dominado pelos espanhóis, campeões em França, Alemanha e Inglaterra, ou mesmo na Liga Conferência."

Sergio Conceição: a jogada que correu mal


"Quem renova a dois dias de uma eleição que se antevia muito disputada está a agir de má-fé

Dia 28 de maio foi o primeiro dia da nova administração na SAD do FC Porto. A partir desta data, todos os antigos administradores ficaram sem acesso de entrada nas instalações da SAD com exceção do presidente honorário Jorge Nuno Pinto da Costa. Após a tomada de posse dos destinos da SAD, André Villas-Boas pode finalmente realizar a tão esperada reunião com Sérgio Conceição. Numa preparação já por si tardia, durante a reunião entre Presidente e treinador, surge o primeiro problema desportivo que AVB tem de gerir…

Renovação a dois dias das eleições
A renovação de Sérgio Conceição a dois dias das eleições foi uma cartada que correu muito mal a Pinto da Costa e ao treinador azul e branco, por quatro motivos. O primeiro, porque quem renova a dois dias de uma eleição que se antevia muito disputada, está a agir de má- fé. Ainda para mais, quando se sabe publicamente da relação próxima entre Pinto da Costa e Sérgio Conceição. Se efetivamente queria renovar, porque não esperou dois dias para fazê-lo? Ou porque não esperou dois dias para perceber se o futuro presidente tinha interesse na sua renovação? O segundo motivo tem a ver com o facto de o treinador ter sido o único a renovar contrato, sem ter exigido que a sua equipa técnica também o fizesse, ou seja, pensou apenas em si próprio! O terceiro motivo foi o resultado esmagador com que a lista de Pinto da Costa perdeu as eleições. O quarto ponto tem a ver com a forma como o contrato foi feito. Na renovação entre SC e o FC Porto, o treinador pode sair quando quiser sem pagar nenhuma indemnização. Já o clube, se o quiser despedir terá de o indemnizar ou chegar a acordo. Após terem surgido várias críticas, Sérgio Conceição referiu publicamente que se não o quiserem como treinador do FC_Porto sairá e não irá cobrar qualquer cêntimo, sendo este ponto muito relevante para tudo o que está a acontecer.

O caminho de AVB
A nova administração do clube tomou conta da SAD e vai colocar em prática o seu projeto. Como AVB sabe tão bem, o treinador é uma peça fundamental em qualquer clube. Por este motivo, a escolha deverá seguir um conjunto de critérios e pressupostos previamente definidos que permitam fundamentar uma decisão. É mais ou menos público, que Sérgio Conceição não tem o perfil que AVB pretende para o seu projeto. Também é público que SC assinou um contrato de quatro anos, com o qual a atual administração tem de lidar.
Ao longo da sua carreira, AVB sempre demonstrou ser alguém metódico, organizado e disciplinado. Como tal, deverá estar a analisar e avaliar um conjunto de treinadores que farão parte de uma pequena lista de alvos com a missão de suceder a SC. Neste enquadramento, surge o nome de Vítor Bruno, que conhece o clube, o plantel e que tem as competências que se enquadram no perfil pretendido pela SAD azul e branca.

Sérgio Conceição preterido?
Da tão esperada reunião entre AVB e SC, não houve fumo branco. Pelo contrário, aparentemente, extremaram as posições. Podemos especular sobre tudo o que possa ter sido falado entre SC e AVB. Será que o que motivou a ira de Sérgio Conceição foi o facto de ter sido preterido por AVB e para o seu lugar terem já definido alguns nomes, entre os quais o seu adjunto com quem trabalhou 13 anos? Depois de sete anos, sendo o treinador com mais títulos e jogos no FC Porto, a realidade é que nem isso impediu que a atual administração opte por seguir outro caminho. De uma forma muito crua, SC não tem, nos dias de hoje, um projeto melhor para seguir do que o FC Porto. Possivelmente, também não terá um contrato melhor para assinar. Por outras palavras, o reconhecimento pelos seus méritos desportivos não chega a clubes de outra dimensão. Por que motivo isto acontece? Possivelmente porque para os grandes clubes, vencer não chega. A forma como os treinadores se comportam, respeitam os adversários e as competições, ganha um peso muito grande no processo de decisão. As inúmeras expulsões na carreira mancham a imagem de SC e contribuem para que os clubes de outros campeonatos o olhem com alguma desconfiança.

Hierarquia
De uma forma concreta, AVB e a sua administração tem toda a legitimidade para escolher o caminho a seguir mas estão condicionados por um contrato que foi assinado a dois dias das eleições. No caso da opção Vítor Bruno, AVB definiu um perfil, tendo e conta o contexto do clube (financeiro e desportivo). Recolheu informações, analisou e decidiu colocar Vítor Bruno na sua lista restrita de alvos a atacar. Aqui devemos colocar algumas questões. Não pode um presidente escolher o treinador que pretende? Não pode um treinador (Vítor Bruno) querer seguir a sua vida e fazer o seu caminho? Se Vítor Bruno tivesse um convite do Moreirense ou Arouca, Sérgio Conceição teria tido a mesma reação? Sérgio Conceição entende que tem legitimidade para definir quem pode ou não lhe suceder ou o caminho que um seu adjunto pretende seguir? Vítor Bruno não foi leal com Sergio Conceição? Ou será que foi SC que não foi leal ao deixar os adjuntos fora da renovação?

O que está em causa
Todo este enredo existe porque Pinto da Costa renovou com um treinador a dois dias de umas eleições muito importantes, oferecendo-lhe quatro anos de contrato e colocando todas as vantagens do lado do técnico. Se esta jogada não tivesse acontecido, hoje, AVB teria todo o centro de decisão do seu lado e já estaria a trabalhar na definição da nova época. No limite, parece-me que o caminho está bem definido para cada um dos lados. Também sabemos que a administração da FC Porto SAD e SC têm margem para decidir o que fazer: do lado da administração da SAD pode sempre rescindir com SC pagando-lhe uma indemnização e do lado do treinador pode sair quando quiser e exigir (ou não) uma compensação pela rescisão. É óbvio que o poder negocial das duas partes é (completamente) diferente, até pelas dificuldades financeiras que o clube atravessa. O único ponto que acho estranho é o facto de ainda não ter existido um acordo entre as duas partes, até porque Sérgio Conceição tem referido publicamente que não pretende uma compensação, caso o clube opte por outro treinador. Toda esta indecisão acaba por atrasar a preparação e planeamento da nova época. A grande realidade é que é o clube que está a ser prejudicado com toda esta situação, que mais parece um problema de ego!"