sábado, 20 de abril de 2024

Sebastianismo e oportunismo no Benfica.


"1- Estrutura para o sucesso: Rui Costa ofereceu a Roger Schmidt todas as condições necessárias para o sucesso. Construiu um plantel de qualidade indiscutível, amplamente reconhecido como o melhor da Liga por praticamente todos os analistas, e, nos momentos críticos, reiterou o apoio ao treinador!
2- Investimento: O Benfica fez um investimento significativo no atual plantel, demonstrando um compromisso sério com o sucesso desportivo. Fez isso de forma consciente, sem precisar de vender os anéis e os dedos, como o FC Porto, ou recorrer a perdões bancários, como o Sporting. O histórico do clube em valorizar jogadores mostra que este investimento irá, sem dúvida, trazer retornos avultados no futuro.
3- Lições a extrair: Observemos o exemplo do Sporting e de Frederico Varandas. No início, muitos criticavam-no e exigiam a sua demissão, mas agora estão a colher os frutos da estabilidade na liderança. Não podemos repetir os mesmos erros e exigir mudanças radicais a cada contratempo. Se o Benfica conquistar o próximo campeonato, será o segundo num mandato de quatro anos de Rui Costa. Um balanço claramente positivo, ao qual se somam os quartos de final alcançados nas competições europeias em todos os anos da sua presidência.
4- Exigência versus estupidez: É frequente confundir-se exigência com estupidez. Em momentos difíceis, alguns adeptos do Benfica tornam-se prejudiciais - até nocivos - ao próprio clube. Por isso, quando caímos, caímos com estrondo, enquanto outros, apelando à união contra adversidades, conseguem manter-se firmes. Não devemos misturar exigência com burrice e insensatez. Devemos agir com ponderação, sobretudo nas bancadas do estádio e pavilhões. Devemos exigir resultados, mas ao mesmo tempo promover uma cultura de apoio. Só assim se alcançam grandes feitos.
5- Oportunismo parasitário: É verdadeiramente triste e lamentável ver alguns pseudo-benfiquistas a tirarem proveito da desilusão e frustração dos adeptos após uma época aquém do esperado para promoverem os seus interesses pessoais, como se fossem os Dom Sebastiões do Benfiquismo. Atitudes lamentáveis que só prejudicam o clube e que iremos sempre condenar e denunciar. O Benfica necessita de união e solidariedade, não de divisão e oportunismo.
Não contem connosco para essa campanha suja."

Quantos golos falhou Schmidt em Marselha?


"Eliminação na Liga Europa não altera o essencial e há várias questões por responder antes de se partir para a maior e mais difícil decisão de Rui Costa: o alemão fica ou não?

Schmidt, já se escreveu, é a maior decisão de Rui Costa. Acrescento: é a mais difícil, por tudo que implica, desde logo a pressão dos adeptos. O presidente é um deles, a sua política tem sido virada mais para fora do que para dentro e não lhe passa pela cabeça ter a multidão contra si, bem pelo contrário. O técnico esteve demasiadas vezes sozinho, ainda mais quando lhe atiraram objetos das bancadas, deu a entender que podia sair e as suas palavras ecoaram, sem reação, pelos paredes nuas da Luz. Não basta assinar um novo contrato, é preciso acreditar no projeto e haver exposição que ajude à estabilidade e ao sucesso, por muito que possa beliscar a imagem pública. Nem sempre Rui Costa esteve lá quando devia estar.
Apesar de ser a mais difícil, o mais importante é que seja a mais acertada. Haverá antes várias perguntas a responder. Um campeonato e uma supertaça em duas épocas chegam para garantir a continuidade? A ideia de jogo ofensivo, pressionante e moderno é circunstancial ou se pretende que se torne ADN? Há algum nome emergente para a rendição de Schmidt e que possa garantir melhorias? Se existir, serão necessários mais do simples ajustes no plantel para a implementação de um novo modelo? E ainda: está totalmente fora de questão que a resposta a Schmidt seja o próprio Schmidt?
Na época passada, os encarnados contrataram Enzo, que não só se tornou a chave-mestra para todas as outras fechaduras como, potenciado pelo Mundial, uma das maiores transferências do clube. E ainda Aursnes, Bah, Musa, Neres, João Victor, Brooks, Ristic e Draxler. O norueguês assumiu dimensão maior que o esperado, o dinamarquês acrescentou verticalidade e capacidade de pressionar, o sérvio passou a integrar um último fôlego que garantia golos e o brasileiro deu o condimento criativo e de irreverência. Os centrais foram respetivamente erro de casting e contratação de emergência, e o sérvio, um acordo antigo, tinha Grimaldo à frente. Já o ex-PSG nunca seria de deitar fora se estivesse bem fisicamente. A maior parte das contratações enquadrava-se no modelo vertical, de pressão asfixiante de Schmidt.
Ao mesmo tempo, este nunca perdeu a noção da importância do Seixal. Se António Silva hoje parece grande central foi o alemão que o lançou. João Neves é cobiçado por meio mundo e tal deve-se ao trabalho da equipa técnica. Florentino vinha de dois empréstimos falhados.
Guedes, Schjelderup e Tengstedt chegaram mais tarde, no Inverno. O português teve a infelicidade das lesões, o norueguês veio verde e o dinamarquês ficou para ser hoje o 9 menos mau do ponto de vista do equilíbrio. Enzo resolveu-se primeiro com Chiquinho, numa adaptação inesperada.
O clube vendeu o suficiente, mas não deixam de ser 200 milhões gastos em duas épocas. Ramos e Grimaldo, entre outros, saíram. O português somava golos à pressão, o espanhol era criativo importante. Esta temporada, Di María foi contratação-estrela, com rótulo de intocável, como o próprio garantiu à primeira substituição. Não é só campeão do mundo. Jogou com Rui Costa, de quem é amigo. No entanto, com Neres no grupo e depois de época assente no equilíbrio, o argentino ia no sentido contrário ao modelo. Mesmo que seja paradoxal e faça sentido em campo.
Kokçu, Cabral, Jurásek, Trubin, Guedes e Bernat foram os primeiros. Marcos Leonardo, Rollheiser, Prestianni e Carreras aterraram depois. O turco não pressiona como Enzo e à frente abrem-se buracos por todos os lados. Também Arthur não é Ramos, sobretudo sem bola. Com esta, precisa de ser alimentado. Entretanto, o checo, de perfil completamente diferente de Grimaldo, não demorou muito a ser flop. É lateral de linha sem capacidade de drible e a equipa estava demasiado viciada no espanhol para poder entendê-lo e também se adaptar. Já o ucraniano é ainda promessa demasiado intermitente. Acrescenta coisas a Vlachodimos, porém falta-lhe a consistência do grego no bê-á-bá. O internacional português não pareceu a 100 por cento e o lateral espanhol acumulou lesões, apesar de, em teoria, ser solução. Em janeiro, o ex-Santos pareceu ser aposta imediata, contudo também se sentiu que precisa de tempo, tal como o jovem argentino. O ex-Estudiantes tem Di María e Neres à frente. Já o segundo lateral-esquerdo espanhol mostrou em campo que Aursnes não podia largar a farda de bombeiro.
Chegou talento, mas não só o reforço foi mais aleatório e menos cirúrgico em relação ao modelo como fracassou. Ramos continua por substituir. Tal como Grimaldo. O que falhou? Quem? São precisas respostas.
Pelo meio, Schmidt é acusado de não ter plano B. Amorim inventou Inácio a médio e desistiu. Coates na frente é modo chuveirinho, não é um plano. Conceição teve vários: o losango, os 3 centrais e até o 4x1x4x1, que tem sido tão inconsistente que várias vezes volta ao 4x4x2. Não será mais importante um bom plano A?
Atiram-lhe que não faz substituições. Guardiola, numa segunda mão dos quartos de final da Liga dos Campeões, fez a primeira aos 72’ e a segunda aos 91’. Não estou a comparar sabedoria, é um exemplo. Ambos responsabilizam os jogadores pela ideia, que no espanhol varia e no alemão é quase sempre a mesma. Também já trocou jogadores ao intervalo, mas a caricatura é há muito indelével.
Não me parece ainda que alguma vez, mesmo com o caso Kokçu, lhe tenha escapado das mãos o grupo de trabalho. Pelo menos, não há sinais exteriores.
O alemão pareceu perdido, sim, a certa altura. E só terá acertado o 11 perto do fim. Também terá dificuldades em ler o jogo, antes e depois, porque estrategicamente nunca se preocupa com o rival. Aqui, não se espera que mude. Mas a história está cheia de homens de sucesso que não pontuam no máximo em todas as áreas.
No entanto, no final, a resposta à pergunta ‘deve Rui Costa manter Schmidt’ sairá sempre de outra, importante: será que, num enquadramento mais favorável, com a estrutura do futebol, o treinador e o scouting a trabalharem em conjunto para um mercado mais assertivo, e uma proximidade maior entre todos, o alemão pode ter mais sucesso?
Marselha? Quantos golos falhou ele?"

Schmidt sem futuro


"A derrota em Marselha consagrou o fiasco anunciado na temporada do Benfica. E anunciado há muitos meses, desde que foi surpreendido pelo Salzburgo, quase humilhado pela Real Sociedad, totalmente manipulado pelo Inter. Falo dos jogos europeus, porque a nível doméstico a diferença de plantéis é tão grande que alimenta sempre as ilusões dos ditos grandes. A questão é que quando a qualidade individual do adversário se equiparou à dos encarnados, percebeu-se que a competência coletiva do Benfica era anémica.
E depois foi a sucessão de exibições fantasmagóricas, a goleada humilhante no Dragão, a estranheza de jogar melhor com as reservas – contra Vizela e Moreirense – do que com o onze eleito e repetido, uma série de opções individuais inexplicáveis (Morato a lateral, Cabral atrás de Tengstedt), as substituições tardias e falhadas, os jogadores intocáveis, para acabar na eliminação aos pés de um Marselha banal, que vai em nono na liga francesa e tinha quase dez jogadores indisponíveis. Roger Schmidt disse no final do jogo: “ficou provado que poderíamos ter chegado às meias finais”. Alguém lhe lembrará que há um ano essa frase se aplicava à Liga dos Campeões? Não houve evolução, mas involução.
Não era fácil, mas o treinador alemão conseguiu desiludir ainda mais esta época do que tinha iludido na anterior. Para usar um eufemismo, manifestou flagrante incapacidade, desde logo de perceber erros e de os corrigir. Como dizia um anúncio antigo, o Benfica apostou tudo no vermelho e saiu negro. Rui Costa, que errou ao renovar com Schmidt e mesmo em não o ter substituído a meio da época, não tem agora alternativa possível. Por muito que tenha de ser financeiramente criativo, não se vê como pode deixar nas mãos do mesmo homem um conjunto de jogadores que vale bem mais de 20 milhões, quando todos parecem hoje piores do que há uns meses e do que efetivamente são. Se um presidente não perceber que um treinador neste contexto deixou de ter condições para continuar, a curto prazo vai discutir-se se o presidente tem condições para continuar ele próprio.

PS: Confesso que ainda me espanta o prazer de tantos na vitória de quem joga pior. Ou na derrota de quem joga melhor. Ancelotti tem méritos indiscutíveis, mas está longe de gerir um plantel mais barato que o do City, só foi superior nos penaltis (tantas vezes mentirosos) e não evitou que um onze que tem Vinícius Jr., Rodrygo, Bellingham, Valverde ou Kroos, levasse o que a gíria trata como um “amasso”. Claro que podemos sempre falar de eficácia. E eficácia é capaz de ser, bem mais do que ganhar jogos a eliminar quando se tem os melhores jogadores, a capacidade de amealhar cinco campeonatos em seis na Liga mais competitiva do mundo. E já faltou mais para o sexto em sete."

Ensaio sobre a parvoíce


"«Um parvo de pé vai mais longe do que um intelectual sentado». António Lobo Antunes

A ideia peregrina de submeter os árbitros ucranianos ao detetor de mentiras provocou-me uma sonora gargalhada, a ponto dos meus companheiros de trabalho em A BOLA se questionarem se eu estava mesmo a trabalhar ou a ver vídeos de apanhados. Respondi que há situações em que não é possível traçar essa fronteira… O futebol é um mudo fértil de apanhados. Só não esperava que a decisão partisse de Shevchenko, um dos melhores avançados que vi jogar, hoje presidente da Federação Ucraniana de Futebol. A decisão, justificou, prende-se com o combate à corrupção no futebol ucraniano e quem chumbar no polígrafo é liminarmente afastado.
Ainda falta explicar ao pormenor como e em que circunstâncias os árbitros se vão submeter ao polígrafo. E porque sempre que é para a parvoíce podem mesmo contar comigo, preparei, graciosamente, uma sugestão de adenda aos regulamentos:
1 — Cada vez que um árbitro tome uma decisão gravosa e que seja contrariada pelo VAR, o capitão da equipa inicialmente penalizada tem o direito de se dirigir ao árbitro para exigir a clarificação das motivações que conduziram à decisão.
2 — O capitão mantém a obrigação de se coibir da prática de linguagem ou gestos ofensivos, pelo que deve dirigir-se ao árbitro nos seguintes termos: «Confirmada uma desconformidade entre a decisão de Vossa Excelência e os factos que lhe deram origem, desconformidade que me parece ter excedido os limites do erro involuntário, venho por este modo exercer a prerrogativa de o mandar submeter ao teste do polígrafo para aquilatar das suas reais motivações».

Novo VAR: Verdade Absoluta Registada
O árbitro dirigia-se a um segundo posto de VAR (Verdade Absoluta Registada), sendo questionado se alguém lhe tinha prometido contrapartidas financeiras ou de outra natureza. Os adeptos sustinham a respiração e pelo sistema sonoro seria ouvida a pergunta e a resposta do árbitro. Uns segundos de suspense e o veredicto: honesto ou não honesto, acompanhado por um emoji no ecrã gigante.
Se o veredicto fosse honesto, uns gritariam «é sério, é sério», outros exigiriam uma inspeção ao aparelho por uma entidade estrangeira, bem como um teste do polígrafo ao… técnico do polígrafo. Se o veredicto fosse a desonestidade do árbitro, só não chamariam a polícia porque dois agentes estavam já de prevenção para detenção imediata, entrando para o seu lugar o 1.º árbitro suplente da lista de 20 nomeados...
Se o método for eficaz, aplica- se depois aos jogadores que falham grandes penalidades ou golos de baliza aberta, que fazem autogolos, que sofrem frangos ou são expulsos. A seguir os treinadores sobre as opções que tomam ou a gestão das substituições e também os dirigentes a cada apresentação de contas. Quem deve estar a interrogar-se «como é que nunca me lembrei disto?» é União Ciclista Internacional. As fortunas que se gastam em laboratórios e controlo anti-doping quando bastava chamar os ciclistas à mesa do polígrafo para se submeterem à pergunta sacramental: «Tomaste substâncias proibidas?»

Portugal vai muito mais à frente...
Este sistema nunca será necessário em Portugal. Herdeiros de uma tradição ancestral que nos tornou pioneiros no Mundo, adotámos uma método muito mais infalível e, bolo no topo da cereja, muito mais barato: se o árbitro decide a nosso favor é sério; se decide contra nós é desonesto… Não falha!
Talvez a ideia do detetor de mentiras tenha pernas para andar. António Lobo Antunes até defende que «um parvo de pé vai mais longe do que um intelectual sentado». Já para Erasmo de Roterdão o parvo serei eu, já que «rir de tudo é próprio dos parvos», embora junte «não rir de nada é próprio dos estúpidos». Menos mal, antes parvo do que estúpido. Só não concordo com o músico e ativista angolano Mauro Seralo, para quem «o silêncio é a melhor resposta à parvoíce». Eu continuo a achar que é a gargalhada..."

Vermelho em Conceição


"Quem já foi expulso mais de 20 vezes, apenas na condição de treinador, deve saber do que se fala quando de cartões vermelhos se trata

Quem já foi expulso mais de 20 vezes, apenas na condição de treinador, deve saber do que fala quando de cartões vermelhos se fala. Já menos isso acontecerá quando se ensaia uma espécie de teoria conspirativa depois de um empate em casa com uma equipa minhota para justificar mais um resultado negativo. Que estão a meter a região norte fora do mapa de sucesso desportivo, acusa-se, sem provas, atirando a integridade do jogo para a lama e ignorando o desempenho de SC Braga e V. Guimarães, que, até prova em contrário, também não são do sul do país. Não vale a pena dizer muito mais sobre isso.
Sérgio Conceição, antes do jogo com o V. Guimarães da segunda mão da Taça de Portugal, considerou interessante uma estatística - que o FC Porto é a equipa que precisa de menos faltas para ter vermelhos. Tomemos por boa a palavra do treinador, apesar de ser impossível estabelecer uma relação direta entre as duas coisas e de não sabermos se estava apenas a referir-se ao campeonato.
Esta época, em 45 jogos em todas as provas, o FC Porto soma dez expulsões, nove no campeonato e uma na Supertaça (seis por vermelho direto e quatro por acumulação de amarelos). Todas corretas, segundo o ex-árbitro Duarte Gomes, colaborador de A BOLA.
Só Pepe foi expulso três vezes: uma na Supertaça, contra o Benfica, por conduta violenta sobre Jurásek, atingindo o lateral checo na coxa/nádega, numa ação ostensiva com o joelho direto, outra contra o Sporting, por agressão a Matheus Reis, e finalmente contra o V. Guimarães, por gesto tipificado como ofensivo. Fábio Cardoso, contra o Benfica, viu o vermelho direto por derrubar Neres e impedir o avançado de criar clara oportunidade de golo. Diogo Costa, contra o Estoril, foi para a rua depois de impedir que um avançado adversário pudesse prosseguir clara oportunidade de golo. Evanilson, contra o Famalicão, deu uma cabeçada num adversário.
Sobram as expulsões por acumulação de amarelos. Fábio Cardoso, contra o Arouca, viu um por pisar um adversário e cortar um ataque prometedor e outro por entrada negligente. Wendell, na primeira jornada, contra o Moreirense, foi advertido por entrada por trás e por entrada negligente. David Carmo, contra o Portimonense, na jornada 8, viu amarelos por duas entradas negligentes. Por fim, Francisco Conceição, no Estoril, foi advertido por protestos e por conduta antidesportiva.
Só nestes jogos, muita sorte teve o FC Porto. Na partida da Amoreira, por exemplo, ficou um vermelho direto por exibir a Otávio por conduta violenta e Francisco Conceição deveria ter visto logo vermelho direto por insultar António Nobre, que lhe mostrou apenas amarelo. «A escolha de ter permanecido em campo foi, apenas e só, do árbitro leiriense», escreveu Duarte Gomes. Recuando ao jogo com o Portimonense, no Algarve, que os dragões venceram por 1-0, ficou um penálti por assinalar contra o FC Porto, quando Diogo Costa «tentou tocar a bola […] mas atingiu apenas o rosto de Dener». Finalmente, no jogo com o Arouca, Francisco Conceição deveria ter sido sancionado com o segundo amarelo e consequente expulsão, mas o lance escapou à equipa de arbitragem. «Passou a bola a Weverson, não para as mãos, mas na direção do rosto do adversário. O instinto do avançado foi mesmo antidesportivo», assinalou Duarte Gomes.
Sérgio Conceição é o primeiro responsável pela conquista de troféus no FC Porto e, na medida exata, do fiasco da atual temporada."

A paciência de Xabi Alonso é uma virtude. E faz muito bem ao futebol


"Em termos virulentos, de likes e partilhas, um dos vídeos desta época acabará por ser o da soalheira manhã em Leverkusen que Xabi Alonso escolheu para, do lado oposto do campo ao da câmara, cortar com o seu suave pé direito vários passes tensos, fazendo a bola rodopiar no ar e em voos rasantes à relva. Um atrás do outro, a transbordar da classe e souplesse que lhe são inatas, ainda tudo no sítio em relação aos tempos de jogador, o espanhol demonstrou como queria as cartas a serem entregues para um jogador, depois, cruzar a bola à área. Poder-se-ia pensar que o treinador, também astuto, se pavoneava. A argúcia terá sido mais de quem o filmou, que viu o ouro por diante e clicou no botão de gravar no sítio certo, à hora certa, quando o espanhol quis “sentir o que os jogadores sentiam lá dentro”.
A frase não lhe pertence, foi escrita pelos dedos do Pedro Barata, meu colega de carteira cujos ouvidos escutaram gente que trabalhou com Xabi Alonso em San Sebastián, cidade que beija o mar no País Basco onde ele treinou a equipa B da Real Sociedad. Indetetável nas sondas do futebol ávidas de purpurinas e exacerbação de expetativas, não fosse quem ele foi enquanto jogador, Xabi já enxotara a hipótese de serem laivos de ego a empurrarem-no para o campo com os jogadores que treina. “Podes acreditar que sabes muito bem uma receita, mas que saia bem e funcione é outra coisa”, enquadrou ao “El País”, o ano passado, ao justificar como gosta de “comprovar a sensação” de que “há coisas mais teóricas do que práticas”.
O matutino sucesso de Xabi Alonso não se explica só por esta sua vontade em intrometer-se nos exercícios que monta nos treinos, nem podemos começar a entender o treinador apenas num ato. Será mais pelos motivos que o empurram. O passado de jogador no Liverpool, Real Madrid, Bayern de Munique e seleção de Espanha que tudo ganhou, como antigo médio que tudo via e equacionava, nada garantia que, um dia, viesse a dar um treinador capaz. Ter sido bebedor dos métodos de Rafa Benítez, José Mourinho, Pep Guardiola e Carlo Ancelotti tão pouco lhe explicam o sucesso. Fazer não chega e é menos valioso do que pensar no que se faz.
Aos 42 anos, parece que ainda ontem víamos Xabi Alonso, o alquimista do passe, a jogar, mas ele, ao equipar-se e tirar o pó às chuteiras nos treinos, põe-se na pele dos futebolistas para experimentar, por dentro, que emoções há quando pede que façam as coisas à sua maneira. Este tato que revela, a empatia em conhecer as consequências do que propõe, sustentará mais a glória que alcançou com o Bayer Leverkusen do que propriamente o seu passado. Hoje um homem de roupas minimalistas e escuras no banco e sapatilhas brancas a destoarem, de penteado aprumado e a barba de três dias aparada, já tinha uma rua batizada com o seu nome, em Leverkusen, antes de os adeptos do clube, no domingo, desrespeitarem qualquer fronteira dentro do estádio.
Colados à baliza e quase a pisarem o relvado, sedentos pela invasão de campo nos últimos 10 minutos, Florian Wirtz, o rapazola da casa, teve de pedir-lhes calma quando marcou o quarto golo no 5-0 que confirmou o título. Por uma vez com as suas gentes esbaforidas, Leverkusen, uma pacata cidade da Alemanha que se confunde com os subúrbios de Colónia, podia festejar: 557 dias após ser contratado, o clube conquistou a Bundesliga com o treinador espanhol. Nunca o tinha feito. Pior, era o “Neverkusen” para os adeptos de outras equipas devido aos cinco segundos lugares no campeonato, os seis terceiros e a final da Liga dos Campeões perdida para o melhor golo da carreira de Zidane. Adeptos esses com narizes entortados à mínima menção do clube, desconsiderado por ter como dono a Bayer, a farmacêutica das aspirinas, no país onde existe a regra de que os adeptos têm de ter posição maioritária na propriedade dos clubes. A visão de Xabi Alonso e Simon Rolfes, o diretor-desportivo do Bayer, no domingo, ao festejarem a conquista do Bundesliga com os adeptos. A visão de Xabi Alonso e Simon Rolfes, o diretor-desportivo do Bayer, no domingo, ao festejarem a conquista do Bundesliga com os adeptos.
Foi este clube inexpressivo que Xabi Alonso escolheu, há ano e meio, quando estava em lugares de despromoção. Estranhou-se a demora. O treinador já recusara um convite da Bundesliga, estava a levar o seu tempo longe da cusquice mediática e a contradizer a urgência em chegar ao topo que paira sobre a maioria no futebol. “Queria marcar os tempos que eu sentia serem os naturais”, explicou o paciente que começou nos infantis do Real Madrid onde percebeu que gostava de treinar, seguiu para três épocas na equipa B da sua casa, na Real Sociedad, para se conhecer a ele próprio, e depois foi com calma. Pelo carisma e a aura com que saiu, enquanto jogador, de um trio de clubes dos píncaros do futebol europeu, era tentador para Xabi e qualquer uma dessas instituições já o ter chamado a reencenar o estatuto como treinador, só que não.
Sereno e ponderado, preferiu a calma na ascensão para se habituar ao ar rarefeito que se respira em maiores altitudes. “Por difícil, por inesperado, este título é especial. Merecemo-lo, não só pelo resultado, mas também pela forma como o fizemos”, disse, no domingo, encharcado na cerveja que os jogadores entornaram-lhe em cima, hábito germânico na hora das celebrações. Passaram 12 anos desde que uma equipa não chamada Bayern de Munique vencera a Bundesliga e foi adequado ser logo nesta semana que os adeptos do Bayer encheram o relvado do estádio com bandeiras, tochas e lágrimas, a entoarem “Nie deutscher Meister, wir werden nie deutscher Meister!” - “Nunca campeões alemães, nunca seremos campeões alemães!” - para esfregarem na cara de adeptos adversários o cântico que tanto ouviram durante anos.
A sua loucura nas ruas de Leverkusen e no estádio do Bayer sucedeu à conquista do Athletic Bilbao da Taça do Rei em Espanha, 40 anos depois, que inundou a cidade basca de farra. E veio depois da limpa vitória da Atalanta, por 0-3, em Liverpool para a Liga Europa, das derrotas do mesmo clube e do Arsenal, em casa, na Premier League, contra o tipo de clubes que uma Superliga ainda existente no papel queria longe de uma suposta prova ainda mais milionária do que a Champions, onde a desigualdade de meios (leia-se, de dinheiro) tão pouco sorri às hipóteses das equipas menos chorudas lá competirem. Na ganância dos tempos que vivemos, o Bayer de Xabi Alonso é a única equipa esta época nos principais campeonatos europeus que não sabe o que é perder, com 38 vitórias e cinco empates em 43 jogos.
Com o título garantido, estão com 16 pontos a mais do que o Bayern que tudo seca na Alemanha, velho estratega do truque de acenar com milhões aos melhores jogadores dos rivais. Levam uma vantagem de 2-0 para a 2.ª mão dos quartos de final da Liga Europa, com o West Ham, e vão jogar a final da Taça com o Kaiserslautern, da II divisão do país. O sonho de um triplete para o Bayer Leverkusen é real e Xabi Alonso, perante a glória no horizonte, mantém-se calmo e composto, a mostrar as benesses de não embandeirar em arco. Ganhe ou não essas duas provas, o espanhol já parece ter chegado lá acima no futebol embalado na mesma naturalidade com que punha a bola em colegas a 40 metros de distância ou diz, nas raras entrevistas que dá, que um médio de excelência pensa antes nas mensagens que dá a quem vai receber um passe seu - para que pé o direciona, com que força, se direto ao alvo ou no espaço.
Eu penso, logo jogo. E, mais tarde, treino.
Ainda antes desta conquista, o Liverpool, o Real Madrid e o Bayern que muita gente terá a roer-se com o logrado por Xabi em Leverkusen, já eram trauteados como prováveis destinos do treinador na próxima época. Mas, no mês passado, ele, cheio de serenidade, esclareceu que ficará no Bayer por mais uma temporada - um anúncio que precipitou os rumores para o quintal de Rúben Amorim, outro treinador que cedo saboreou o sucesso, mas sem a delonga que se viu em Xabi para chegar a clubes que almejem títulos. Nesta era apressada em que se veem jogos com telemóveis espertos na mão a desviarem a atenção do campo e o cool é acumular muitos instantes, rapidamente, em vez se suster momentos prolongados de uma qualquer experiência, o treinador da moda é um homem que está a levar a sua erupção nos bancos de treinador com calma. A virtude de Xabi Alonso é esse descurar da urgência, o desprezo que tem pela pressa no futebol que tanto costuma aferir capacidades olhando para a rapidez com que se alcança o topo."

Nas vitórias ou derrotas...


"Depois de uma noite quase sem dormir, a digerir a eliminação que nos afastou daquela que seria a nossa 15ª meia-final europeia, lembrei-me de um momento marcante de há 30 anos. Com 16 anos, recebi a minha primeira bonificação pelo trabalho feito nos Bombeiros Municipais de Abrantes, 10 dias de piquete durante as férias da Páscoa para me tornar sócio do Benfica, um sonho tornado realidade.
Nas vitórias ou derrotas, nos momentos altos ou baixos, a minha paixão pelo Benfica é incondicional. Ver os jogos com os meus filhos e mulher é um dos meus programas favoritos. O Benfica faz-me feliz. E como depois de qualquer tormenta vem a bonança, acredito firmemente que já para o ano estaremos a festejar títulos e troféus das nossas vitórias. Viva o Benfica."

Di Maria = Red Pass Relvado


"Foi assim a temporada toda, certo, teve momentos de brilhantismo, marcou golos decisivos, fez assistências. Não nego nada disso, é estatística, os números estão lá…
Tais como estão os minutos de jogo…mais do que na maioria das temporadas da sua já longa carreira.
Péssima gestão do ativo desde que fez birra no Bessa ao ser substituído.
Hoje desde o minuto 70 que era um a menos a juntar ao facto de ele e toda a frente de ataque terem sido uma nulidade a partida toda.
Ou seja…o reforço que mais cativou os adeptos foi para mim um dos grandes problemas da temporada…como lidar e encaixar um elemento que já não é jovem, que tem peso no balneário, mas que joga numa posição de enorme desgaste…não sendo Messi que joga mais ao meio e que sempre fez do jogar a passo uma arma…Di Maria na ala sempre foi um jogador de desgaste… que não se coíbe de ir para cima, de tentar o que mais ninguém tenta…mas merecia uma gestão física adequada…hoje senti que não o tirar ia dar no que deu…130 minutos à espera da bola no poste no penálti…tá certo…
Péssima gestão de Schmidt, de depois de ver as alternativas quer a Rafa, Di Maria e Neres terem dado boa resposta no fim-de-semana teimou em não lhes dar minutos hoje, meter um PL de referência e deixar de armar jogo para o mesmo…insistir na mesma circulação de bola…jogo após jogo, sem ideias sem rasgo…enfim…
Tem mais 5 jogos, que os aproveite para sentar quem de direito preparando já a próxima temporada.
Rafa e Di Maria banco, Aursnes de regresso ao seu lugar e Carreras na esquerda, Kokcu, Rolheiser e Gouveia lá para dentro e ponto final, faz uma mini-pré temporada, aproveite para dar minutos a jovens da formação e pronto.
Mas não quero que saia…se chegássemos as meias-finais parecia 2010/11 a papel químico…por isso é bom que o Roger arrepie caminho…porque a Supertaça não chega e o Benfica precisa de ampliar o museu!"

Inglório


"O Benfica não conseguiu regressar às meias-finais de uma competição europeia após ser eliminado, pelo Marselha, no desempate por pontapés da marca de grande penalidade. Este é o tema em destaque na BNews.

1. Oportunidade desperdiçada
Na opinião de Roger Schmidt, "como vimos nestes dois jogos, era possível chegar à semifinal". "É muito desapontante, tínhamos muita ambição de vencer este jogo, passar à semifinal. No global, tivemos as melhores chances, e tínhamos de marcar, mas não conseguimos. Eles usaram a vantagem de jogar em casa, mas no prolongamento poderíamos ter vencido", avaliou.

2. Desilusão
Para João Mário, "perder nos penáltis é sempre triste". "Deixa-nos desiludidos, mas faz parte do futebol", afirma o médio. E Florentino considera: "Tivemos algumas oportunidades, mas não tivemos eficácia."

3. Distinção
A equipa técnica do futebol feminino benfiquista foi considerada a melhor de fevereiro e março da Liga BPI.

4. Final do Campeonato
O primeiro jogo da final do Campeonato Nacional de voleibol realiza-se no sábado, às 19h00, na Luz. O Benfica procura, ante o Sporting, sagrar-se pentacampeão nacional.
Marcel Matz refere o objetivo da equipa e apela ao apoio dos Benfiquistas: "É preciso fazer as coisas bem. O nosso objetivo é não deixar que ganhem e sermos pentacampeões nacionais. Contamos sempre com os adeptos, pois oferecem-nos uma ajuda que é incrível. Para qualquer atleta, ter a presença dos adeptos é muito bom."

5. Frente europeia
Em entrevista ao programa da BTV "Sport Lisboa e modalidades", João Alexandre Florêncio e Constança Sequeira abordam a 1.ª mão da meia-final da EHF European Cup Women que o Benfica vai disputar com o MSK Iuventa Michalovce. A partida é no domingo, às 16h00, na Eslováquia.

6. Agenda desportiva
Há mais partidas agendadas para o fim de semana.
No sábado, há jogos dos Sub-19 e dos Sub-15 no Benfica Campus, ante Vitória SC (16h00) e Boavista, respetivamente (15h00). No andebol, dérbi com o Sporting no Pavilhão João Rocha (16h00). No basquetebol, a equipa feminina recebe o GDESSA às 11h00 e a masculina é anfitriã do Póvoa às 17h00. Em hóquei em patins, o Benfica visita o Óquei de Barcelos (21h30). E a equipa feminina de voleibol tem deslocação ao Clube K (15h00 locais).
No domingo, às 15h00 nas Caldas da Rainha, a equipa feminina de râguebi procura vencer a Taça de Portugal frente ao Sporting e conseguir assim a dobradinha. Às 17h15, o Benfica disputa, em Alcochete com o Sporting, a 2.ª mão das meias-finais da Taça de Portugal feminina de futebol. Os Sub-17 visitam o Belenenses às 11h00. Em futsal, deslocação ao Fundão (18h30). E, em voleibol no feminino, receção ao Clube K (20h30).

7. História
Veja a rubrica habitual das manhãs de quinta-feira na BTV."

Quando jogamos com o resultado, o resultado não joga connosco


"Marselha 1 (4) - (2) 0 Benfica 0

Antes do Jogo
> Jean-Pierre Papin, velha glória do Marselha, com o golo do Vata, que viu no relvado, ainda atravessado na garganta - e assim estará até ao fim dos seus dias, temos pena! - deseja que "o Benfica passe um mau bocado". Vai passar?
> O treinador Gasset avisa que o "estádio vai estar em chamas", mas também adianta que "é preciso arrastar o público connosco através do nosso compromisso". É a velha história do ovo e da galinha: quem puxa por quem?
> "O ambiente vai ser quente, mas também ninguém vai morrer", reconheceu Palatsi, antigo guarda-redes do Guimarães, que jogou vários anos em França. E deu a receita: "Os jogadores têm que saber para onde vão." Mal seria.

Durante o Jogo
> 00 min Só um louco com guia de marcha passada para o Júlio de Matos seria capaz de falhar o onze do Benfica. E andaram os programas de televisão dedicados ao futebol a encher chouriços durante horas para adivinhar as apostas de Schmidt. 
> 5 min É cedo para juízos, mas entrámos bem no jogo. Primeira jogada de perigo é na área do Marselha.
> 7 min Primeira vez que lá vão iam marcando: defesa apertada do Trubin. O jogo passou para o nosso meio campo e nós com dificuldade em sair a jogar.
> 16 min Oh, Rafa, essa tinha que ir lá para dentro. Tão bem o Aursnes e o Neres...
> 30 min A iniciativa do jogo é toda deles. Nós a defender, às vezes no limite. Vejo o João Neves muito dentro da área. E o Tino também. Estamos com uma linha de seis a defender demasiadas vezes.
> 35 min Eles ultrapassam a nossa linha de pressão com muito mais facilidade do que nós a deles.
> 40 min João Neves gigante, Florentino gigante. Dá para aguentarem 90 minutos? Ainda não vi foi o Di María hoje, está em campo? É que precisamos de quem pegue no jogo. O Tengstedt não consegue segurar uma bola para a equipa subir.
> 45 min Muito poucas oportunidades, empate está certo, mesmo com maior domínio deles. Fica a sensação de que um Benfica mais ousado - mais Benfica! - poderia arrumar com isto facilmente.
> 46 min Segunda parte. Regressam os mesmos. Possível penálti? Estamos a brincar? Os nossos com os braços encostados ao corpo. O VAR não é o Hugo Miguel... siga!
> 55 min Também nos está a fazer falta um Neres nos seus dias.
> 58 min Duas jogadas de muito perigo na área deles. Desperdícios de Di María e Aursnes. Neres e Tengstedt por João Mário e Kökcü. Rafa para ponta de lança? Quem segura a bola para a equipa ganhar tempo e subir? Estamos muito recuados no campo. Ambição precisa-se.
> 69 min António Silva a fazer também um bom jogo. E o Trubin a defender agora um golo cantado. Precisamos correr tantos riscos?
> 74 min Duas oportunidades nossas de uma assentada. Acabávamos com isto, caraças!
> 79 min Quem joga com o curto 1-0 da primeira mão arrisca-se a isto. Eliminatória empatada a dez minutos do fim. Não havia mesmo necessidade contra este Marselha.
> 85 min Há semanas que não vejo o Rafa. Não era hoje um dia bom para reaparecer? E o Di María a falhar um golo feito de cabeça.
> 90+4 min Toma lá prolongamento. Quem está fisicamente melhor?
> 98 min E vai a segunda perdida do Di María de cabeça. Nunca foi o forte dele, mas destas... Eh pá, por favor, não deixem isto ir para os penaltis.
> 101 min O Aubameyang, mesmo velhinho, ainda nos dava um jeitão. Não?
> 107 min Nunca, mas nunca me cansarei de repetir: tivessem todos a entrega e a atitude do João Neves...
> 115 min Estamos fisicamente melhores que eles. Vamos lá resolver isto no prolongamento, crl!
> 120+2 min E agora seja o que o diabo quiser. Fé no Trubin!
> Acabou a época. Cinco jogos para cumprir calendário. Tristeza."

O alter ego de Schmidt foi demasiado parecido com o verdadeiro Roger para o Benfica ser feliz em Marselha


"Contrariando a ideia de jogo que levou o Benfica ao sucesso na temporada passada, Roger Schmidt foi a França defender a vantagem que trazia da primeira mão dos quartos de final da Liga Europa. Os encarnados acabaram por ver o Marselha igualar a eliminatória por Moumbagna (1-0). Tudo se decidiu nas grandes penalidades (4-2), onde Di María e António Silva falharam

É privilégio de treinador que as linhas orientadoras das suas opções técnico-táticas sejam passíveis de serem redefinidas por quem inicialmente as estabeleceu. Nesse aspeto, ninguém está obrigado a cumprir regras que não queira para satisfazer uma voz interior. Em Marselha, Roger Schmidt, que tão criticado é por nada mudar, tentou algo diferente. Porém, o seu novo alter ego ainda não é maduro o suficiente para deixar de lado erros de petiz.
As primeiras notícias do aparecimento da nova versão do alemão foram impressas no duelo do campeonato, contra o Moreirense. Revendo a química demasiado forte com a teimosia, o alemão revolucionou o onze inicial diante dos cónegos, algo que só os arquivos se devem recordar de ter acontecido anteriormente. Os encarnados estavam a dar o pontapé de saída na segunda mão dos quartos de final da Liga Europa ainda em Portugal e num jogo do praticamente fenecido campeonato. O passo seguinte do desenvolvimento deste Schmdit 2.0 ficou guardado para território francês.
Aquele Benfica que só em pontuais situações se sujeitava a que o jogo não decorresse no seu meio-campo ofensivo tem um espaço reservado no Museu Nacional de Arte Antiga. Esta nova versão cansou-se da corrente impressionista e teve que aprender a viver da realidade. A vantagem de 2-1 que os encarnados levavam para o Vélodrome, casa do 9.º classificado da Ligue 1, era olhada como uma obra concluída.
É arriscado dizer que houve inspiração no Real Madrid que eliminou o Manchester City na Liga dos Campeões. A proximidade entre os dois jogos torna difícil acreditar que Schmidt tenha plagiado o homólogo merengue na postura defensiva com que enfrentou o Marselha. Vamos então acreditar em coincidências. No entanto, o desfecho não foi o mesmo. O Benfica estacionou-se, mas ocupou um lugar que não era seu e pagou multa por isso, acabando eliminado e falhando o regresso à meia-final da Liga Europa.
Roger Schmidt, que num jogo de 120 minutos mais grandes penalidades deixou três substituições por fazer, acertou em cheio no precipício ao retirar, aos 60, David Neres, até então o jogador mais capcioso em campo.
Aquele bloco baixo até esteve sólido grande parte do tempo. Casper Tengstedt e Rafa condicionavam a primeira fase de construção do Marselha. Não foi tarefa fácil. A superioridade criada por Pau López (sim, o guarda-redes), impedia eficácia nas ambiciosas tentativas de recuperar.
João Neves e Florentino tinham que se aguentar numa ocupação zonal dos espaços. Não dava para ser de outra forma. A equipa treinada por Jean-Louis Gasset despejava no miolo gente em número superior que impedia uma perseguição individual. Kondogbia e Veretout que jogassem de frente para a baliza de Trubin. Ounahi é que era um caso mais complicado de resolver sempre que o fazia.
David Neres destacou-se mais a assistir do que a finalizar, como sugeria a colocação no lado esquerdo. Rafa, de trivela, e Aursnes, num remate picado à malha lateral, foram os principais beneficiados pela clarividência do brasileiro em lances praticamente separados por uma hora, sinal do baixo fluxo ofensivo encarnado. Menos agradado com a prestação do extremo estava Schmidt que deu prioridade à saída de Neres do campo antes de fazer qualquer outra substituição. Alheio à troca não é o facto do Marselha ter reforçado o lado direito com a entrada de Murillo para o lugar de Mbemba.
Não se tratava de um cenário conveniente para o Benfica que o jogo se partisse. No rácio entre lucros e perdas, os encarnados foram iludidos com a dupla possibilidade que Rafa e Di María tiveram no mesmo lance para marcarem. As águias começaram a esticar a corda e as inseguranças de Trubin ficaram expostas. A possibilidade do Benfica fechar a eliminatória nos 90 minutos escapou não pelas mãos, mas por entre as pernas do ucraniano. Moumbagna fez o 1-0 a dez minutos do final do tempo regulamentar e forçou o prolongamento.
O treinador do Benfica tinha realizado apenas duas substituições – entraram João Mário e Orkun Kökçü, passando Rafa a ser o jogador mais adiantado – o que dava margem para que pernas frescas pudessem refrescar um encontro fervoroso. Di María ia sendo protegido pelo escudo de um polícia de serviço no Vélodrome dos objetos que lhe eram atirados a partir da bancada sempre que dela se aproximava para bater um campo. A maneira mais fácil que tinha de evitar ser alvo dos arremessos era concluir de maneira mais convicta as oportunidades que ia tendo.
O jogo tornou-se uma maratona e, nas maratonas, a tática é pouca e a resistência quer-se em abundância. Nesse aspeto, o Benfica aguentou-se. Arthur Cabral, que entrou já para lá do minuto 100, pediu a Pau López que o deixasse ser herói. O espanhol disse-lhe que não e assumiu ele esse papel. Nas grandes penalidades, já depois de Di María ter falhado, o guarda-redes travou o remate de António Silva, dando a Luis Henrique a oportunidade de fechar a eliminatória (4-2, após grandes penalidades) e deixar o Benfica sem objetivos na temporada."

O homem de coração de pão que sabia quando erguer o nariz


"José Francisco Sasía e Waldemar eram primos mas como irmãos: um jogava a bola, o outro cantava.

José Francisco Sasía e o seu primo direito Waldemar Sasía gostavam de ensaiar juntos músicas que lhes nasciam como lírios entre abrolhos no tempo da sua adolescência descontraída no Departamento de Treinta y Três, um dos dezanove departamentos que compõem a parte norte do Uruguai e cuja capital é, precisamente, a cidade de Treinta y Três. Se Waldemar levava jeito com o violão e com o encaixe das colcheias, José Francisco levava a coisa para a brincadeira. Vendo bem, preferia usar os pés para disputar jogos de futebol com a garotada da vizinhança. Como cresceu à bruta, de tal ordem que parecia ter sido adubado, não tardou a ganhar a alcunha de Pepe el Grande, um apodo mais propriamente de circo do que de bola. A verdade é que El Grande acabou por ter uma carreira bonita como poucas. E Waldemar também: aos 15 anos caiu sobre a proteção de um professor de música chamado Carmelo Rodríguez. Era pobrete mas alegrete. Como lhe faltava dinheiro para adquirir uma guitarra a sério, tratou de construir um instrumente bastante particular, aproveitando uma velha guitarra esburacada para lhe juntar um fundo de lata que servia de caixa de ressonância. O mais fantástico de tudo isso é que conseguia tirar daquele brique-à-braque sons harmoniosos o que deixou cada vez mais fascinado o seu mestre Carmelo que decidiu que valia a pena gastar a sua sabedoria com ele.
Paralelamente, o seu primo José Francisco ia percorrendo um caminho de sucesso que o levou mesmo a representar a seleção uruguaia. Heber Pinto, um jornalista que seguiu de perto o seu crescimento e que escreveu longas e belíssimas crónicas sobre ‘El Grande’, e teve uma fama tremenda como relatador radiofónico, conhecido mais tarde como ‘El relator que televisa con la palabra’, conta o episódio que se passou no final de uma partida entre o Defensor (equipa de Sasía) e o Racing. O árbitro marcou um penalti a favor do Defensor no último minuto do jogo e Pepe avançou decididamente para marcá-lo. Depois do apito, com a sua tranquilidade habitual, Sasía caminhou a passo para a bola e parou em frente dela. Em seguida, sem balanço, disparou um tiro fulminante com o pé esquerdo que fez a bola entrar com uma violência inaudita no canto superior da baliza do Racing. Era uma das suas habilidades preferidas. Rematar com brutalidade sem precisar de correr para a bola. Dir-se-ia até preguiçoso. Mas nenhum preguiçoso jogaria como Pepe jogou no Peñarol e no Nacional, os dois maiores clubes uruguaios, ou no Boca Juniors e no Rosario Central, da Argentina. Além de ter sido 43 vezes selecionado pelo Uruguai para os Mundiais do Chile (1962) e de Inglaterra (1966), ele que terminou a carreira em 1970 para se tornar treinador de um clube com um nome encantador: Tiburones Rojos de Veracruz, no México.
Enquanto o primo José Francisco ia encantando multidões, o sucesso de Waldemar foi ligeiramente mais humilde. A verdade é que nunca esqueceu a fraternidade que uniu os dois garotos do bairro degradado da velha Treinta y Três. E, a melhor forma de o provar, foi dedicar-lhe uma canção:
«El Pepe tenía en la sangre
la bronca del corralón
y la escuela del arroyo
era su libro mejor», começava uma espécie de samba, já que foi sempre muito influenciado pelos tons vindos do Brasil. E continuava:
«Peleador de barrio pobre
sin boca de charlatán
‘Aires puros’ te recuerda
como corazón de pan
José Sasía, amigo fiel
cara de murga, nariz de rey
alma de guapo…».
Todos concordavam que Pepe el Grande tinha feitio de menino e alma da leveza de uma andorinha. Era de uma bondade total e levava-a para dentro de campo onde, no meio das tranquibérnias consecutivas do futebol sul-americano, se erguia do alto da sua autoridade de um metro e oitenta e muitos e nariz grosso como o de Mehmet Özyürek, durante anos considerado o maior nariz da Humanidade, com 8,8 centímetros de comprimento, mas que nunca o atrapalhou («Fui abençoado por Deus!», respondia aos que os que queriam achincalhá-lo com piadas de maus gosto). E assim, o ‘Coração de Pão ‘não só ganhava a admiração de adeptos e adversários pela sua categoria como jogador, como também pela sua bonomia nos momentos de altercações tão frequentes como as mudanças de ideias do Destino.
José Francisco e Waldemar foram como irmãos até à morte. Tinham praticamente a mesma idade. O primeiro nasceu em 1933, o segundo em 1934, mas abriram os portões da planície da eterna saudade com mais de dez anos de diferença:José em 1996 e Waldemar em 2010. Talez tenham voltado a cantar juntos, Mesmo que José Francisco Sasía tivesse o mau hábito de desafinar…"