sábado, 23 de março de 2024

Bem...

Ferreira do Zêzere 4 - 6 Benfica

Boa vitória, com alguns golos bem trabalhados coletivamente, mas com demasiados golos sofridos...

Benfica, o que queres ser quando fores grande (novamente)?


"Tenho uma relação amor-ódio com o Vietname Benfiquista.
Por um lado é evidente que será sempre forçosamente recordada como uma das épocas mais negras na nossa história, se não a mais negra.
Por outro, incrivelmente é das épocas das quais guardo mais carinho e saudades, já que foi quando comecei a ter autonomia para frequentar a Luz e dedicar uma atenção mais associativa ao nosso Sport Lisboa e Benfica.
De todas as camisolas que tenho em casa, as únicas expostas são as camisolas da Telecel/Netc e emociono-me quando penso nas tardes que vivi naquele Estádio, ao perceber fora do contexto dos relatos da TSF o que era e a magnitude que representava ser adepto do Sport Lisboa e Benfica.
Vivíamos atordoados ainda pelo rumo recente que o clube começava a seguir, apesar dos variadíssimos sinais que assim o indicavam já no início dos anos 90, e estávamos sempre plenamente convencidos que na época seguinte haveria um reset emocional e tudo seria como dantes. Este sentimento acompanhou-nos todas as épocas sem excepção, inclusive depois do famoso 6º lugar. "Para o ano é que é!", dizia-se. E se tivesse sido, tudo teria sido perdoado. Seríamos enormes de novo!
Viviamos iludidos, afinal em tempos não muito longínquos o Sport Lisboa e Benfica tinha tido equipas de futebol que podiam, com algo mais de sorte, ter tido uma carreira distinta na Europa, e o regresso dos êxitos seguramente estaria ali ao virar da esquina.
Sonhávamos com os troféus que iríamos conquistar quando chegassem as remessas de dinheiro enviadas pelos sócios residentes nos U.S.A. e com os craques que aterravam na Portela, com as promessas dos Presidentes e dos candidatos a Presidente. Caniggia, Paulo Nunes, Amaral, Gamarra, fora os outros que frequentemente apareciam na capa da Bola estando "Na rota da Luz". Não havia outras fontes de informação, agarrávamo-nos aquilo.
Lembro-me um dia de aproveitar o intervalo de um jogo de rua, daqueles que duravam 5 horas, para lanchar enquanto via as ultimas noticias no Teletexto da RTP. Lá vinha em maiúsculas "POBORSKY NO BENFICA". Desci à rua ansioso por esfregar aquela bomba na cara dos meus amigos sportinguistas.
Caramba, éramos enormes. Passaram-se mais de 25 anos. E continuamos a viver no pensamento e ilusao de achar que ainda somos um monstro adormecido.
Um Hércules que a qualquer instante despertará deste pesadelo que é não sermos capazes de reinar confortavelmente a nível interno e fazer frequentes brilharetes lá fora, tendo em conta os recursos de que dispomos.
E, sobretudo, um recurso que todos no Mundo invejam e poucos podem igualar: a dimensão da sua massa adepta.
Nunca devemos perder o respeito e o reconhecimento aos nosso principais adversários no futebol, Sporting Clube de Portugal (SCP) e Futebol Clube do Porto (FCP). Nem nunca devemos confundir pessoas com instituições.
Dito isto, resulta-me difícil compreender a dificuldade crónica que o Sport Lisboa e Benfica tem para conseguir uma presença mais dominante na paisagem dos títulos em Portugal. Se, de uma forma natural, deveria ser algo recorrente a conquista de Taças e Ligas, mais ainda o deveria ser tendo em conta os momentos que os referidos rivais têm atravessado.
O SCP continua a ser um saco de gatos onde ninguém se entende e ainda anda a apanhar cacos derivados de décadas de más gestões financeiras e desportivas. Já o FCP, e apesar das suas recentes conquistas inclusive internacionais, só não anda a navegar do 3º lugar para baixo porque insistentemente e de forma absolutamente incompreensível continuamos a lançar-lhes bóias de salvação em pleno alto-mar.
Depois eles sobem ao barco, tentam empurrar-nos borda fora, tropeçam sozinhos e voltam a cair ao mar, e lá vai outra bóia. É assim há anos.
E no meio deste convés, nós os adeptos, impotentes a observar tudo, com uma raiva que nos consome e sem percebermos muito bem o porquê de não ser possível ter um rumo que saiba honrar e defender os valores, orientações e ambições do nosso clube.
Não é problema desta Direcção, nem das anteriores, é estrutural. É um problema de todos.
Não discuto nem por um segundo que Rui Costa queira e deseje o melhor para o Sport Lisboa e Benfica, mais faltaria questioná-lo sobre isso.
O que quero trazer à discussão é se de facto continuamos a ser o tal monstro.
Talvez fosse positivo dar um ou dois passos atrás na escadaria da ambição e reflectir bem sobre que Clube queremos ser e onde queremos estar dentro de 5, 10 e 20 anos.
Reflectir sobre os valores que queremos ver aplicados.
Reflectir no respeito que os sócios do clube merecem e que muitas vezes nao o têm, por parte de sucessivas Direcções que insistem em considerar-nos como meros adeptos anónimos cujo único propósito é gastar o máximo de dinheiro possível em merchandising.
Reflectir porque não temos um Departamento de Comunicação que sirva precisamente os sócios.
Reflectir porque estamos constantemente a ser associados a prácticas menos positivas.
Reflectir sobre o que verdadeiramente é o Sport Lisboa e Benfica.
Daqui por 10/15 anos quando no Benfica Independente quiserem fazer programas com antigas glorias, conseguirão eventualmente trazer à conversa Diamantino, Joao Vieira Pinto ou Mozer, mas poucos mais! Porque a partir daí, então, não vão conseguir ninguém. As futuras velhas glorias não existem.
Vai sendo hora de tentar obter uma outra perspectiva daquilo que somos e do que queremos ser. Cavar, a partir daí, a senda dos êxitos. Com um rumo. Com organização de ideas. Deixar a conversa da ambição Europeia de parte, perceber como é que queremos lá chegar, aprender com os erros. Com os nossos erros e com os erros dos outros (AJAX estou a olhar para ti). Perceber porque continuamos na fanfarronice de apresentar Di Maria daquela maneira, só faltou a volta olímpica ao Marquês.
Não significa isto que devemos deixar de lutar por títulos. O Benfica nunca pode deixar de lutar. Significa lutar por eles com outros óculos. Com óculos de seriedade, de pragmatismo, de passos acertados. De varrer de uma vez por todas com tudo e todos os que prejudicam o Clube. Óculos que permitam blindar o Benfica a tudo o que é prejudicial, interno e externo, com pessoas competentes em rigorosamente todas as secções e departamentos. Encarar de frente esse medo cénico que é o FCP e tratá-lo. Sao muitos anos, 40 anos é demasiado tempo para ter medo do que quer que seja. Perceber que para eles nunca será só mais um jogo, que vivem para nos ver desaparecer nas Distritais, e que cada jogo é uma guerra e pode ser o ultimo dia da vida deles.
Arrumar de vez os óculos saudosistas de épocas passadas. Temos ganho coisas, sim. Foram feitas coisas boas, também. Agora imaginar como teria sido com o Penta mais fácil da história do Futebol Mundial, com gestões cuidadas e pensadas. Com critério e rigor. Seríamos o tal monstro que, à imagem de uma ou outra Liga, seria capaz de vencer 8 campeonatos em 10. Quero lá saber se a Liga Portuguesa ficaria menos interessante do que já é. Eu quero é ver o meu clube ganhar. Sempre.
Viva o Sport Lisboa e Benfica!"

Kokçu ajudou Roger Schmidt


"Se a razão estivesse toda de um lado, nenhuma discussão durava mais do que cinco minutos... Mais uma página do Livro do Desassossego

No mar revolto em que se podem transformar os meus pensamentos, dou por mim a pensar que ainda vamos chegar à conclusão que Kokçu prestou um favor a Schmidt com a entrevista que deu à publicação holandesa De Telegraaf. Num ápice, o treinador deixou de ser o foco principal da contestação e viu o seu estatuto reforçado. Se Kokçu entendeu que o ambiente de crispação entre os adeptos e o treinador lhe conferiam terreno fértil para plantar o desabafo e colher solidariedade dos benfiquistas, já chegou à conclusão que, em termos de futebol, Portugal sempre foi um país de direita: o adepto põem-sempre ao lado do patronato, no caso, o Benfica e a sua imagem. Ironia das ironias: os adeptos que condenam Kokçu por ter discordado publicamente de Schmidt são os mesmíssimos que brindaram o treinador com uma assobiadela nunca ouvida e lhe arremessaram objetos por uma simples substituição!
Pensemos um pouco na nossa vida profissional: quem não sentiu já que não estava a ser valorizado pelo seu superior? Ou que o chefe foi injusto? Engolir em seco faz de si melhor profissional? Se engolimos em seco é por medo das represálias, não é por entendermos que é o mais correto em prol da empresa e do espírito de grupo. E é aqui que me coloco ao lado de Kokçu antes mesmo de avaliar se tem ou não razão: ele deu uma entrevista que foi meticulosamente pensada; deu a cara e não mandou recados por ‘fontes ligadas ao jogador’; foi ponderado no tom; assumiu as consequências. Respeito-o por não ter pedido desculpa, neste tipo de situações, por norma cheiram a falsidade e rabinho metido entre as pernas. Mostra personalidade. Tenha ou não razão.

A febre é um aliado do corpo
Deslealdade não é assumir publicamente discordâncias. Deslealdade é ser hipócrita e boicotar o esforço de uma equipa. Não são as declarações de Kokçu que podem provocar um efeito negativo no balneário. O mensageiro não criou um problema, o mensageiro revelou que existe um problema. Pessoal. E não é por a mensagem ser pública, privada ou guardada apenas para si que Kokçu está mais ou menos comprometido. Comparo o desabafo de Kokçu com um sintoma febril. A febre é forma que o corpo tem de comunicar e passar a mensagem de que algo está mal e nos obriga a ir em busca da causa e da solução para o problema. E é neste diagnóstico, e não na febre, que o Benfica tem de se preocupar.
Numa liderança forte não há melindres, apenas argumentos. O Benfica deveria estar menos preocupado em fazer ver ao médio turco que errou ao assumir a sua opinião publicamente e mais em explicar-lhe que está errado na análise. Se Kokçu for um caso isolado, fica a falar sozinho. Mas se não for o único a pensar assim, entre dois limites é mais útil ao Benfica uma crítica assumida que permite o combate ao problema do que um descontentamento escondido. Kokçu tem é de ser avaliado pela qualidade do treino, pelo comprometimento, pelo cumprimento das instruções do treinador, goste ou não delas. Se for aprovado nestes critérios e chumbar apenas no embrulho de uma entrevista, Kokçu só será um problema se o Benfica quiser que seja.

Três conselhos a Kokçu
Kokçu garante que, antes de falar publicamente, expôs os seus argumentos a Schmidt. É um exercício interpretativo, mas não concluo da entrevista que foi egoísta e pensou apenas em si. Acho que foi mais um exercício de defesa e explicação perante quem, em Portugal, o considera um flop e questiona os 25 milhões pagos pelo Benfica; e perante quem, nos Países Baixos, não entende a razão de não estar a brilhar ao nível que o levou a ser considerado o melhor jogador do campeonato na mais unânime votação de sempre. Passou de menino bonito e idolatrado para um clube e um país onde era um perfeito desconhecido. E sentiu isso.
Eu entendo que Kokçu se sinta confuso. Schmidt nem sempre foi linear. Em apenas um mês foi médio centro ao lado de João Neves, médio ofensivo no apoio ao avançado, médio esquerdo e… suplente. Mas mesmo entendendo tudo, três conselhos deixo a Kokçu:
1 - Não se menospreze, assumindo, ainda que sem o perceber, que só pode render onde se sente mais confortável em função das suas características.
2 - Leia a brilhante entrevista que Bruno Fernandes concedeu a A BOLA, mormente na parte em que ele explica como a necessidade de se ajustar a diversas posições o obrigou a evoluir e a tirar partido de outras características – e a cooperar melhor com os companheiros em campo – e como se pode partir de uma posição mais fixa e recuada para se ser mais livre do que nunca;
3 - Peça conselhos a Aursnes, o segundo melhor jogador do último campeonato – para muitos o melhor – numa posição que deixou de ocupar esta época. Ainda assim, se não é o melhor anda lá perto como melhor lateral-direito do campeonato e um dos mais competentes laterais-esquerdos. Kokçu tem de respirar fundo. Não tem de responder pelo preço que o Benfica pagou para o contratar. Mas tem uma palavra a dizer quanto ao preço que o Benfica vai pedir por ele."

Portugal, o Manchester City das seleções nacionais


"Um Europeu apenas começa a ser curto para tanto talento numa Seleção que não só pode ambicionar a grandes conquistas como a deixar marca pela forma de jogar

Tak, Jon! Obrigado! Embora com diferente pronúncia, vale tanto para dinamarqueses como para suecos. Já os noruegueses precisam de mais um k para dizer o mesmo, um erro que faria com que nos levasse a pedir ao técnico para olhar para o teto. E o bom do Tomasson, antigo goleador de uma das equipas com mais refinado gosto em equipamentos de que há memória e hoje selecionador do diabólico Gyokeres, lá teria ainda mais razões para achar que é Portugal o Tibete das seleções e está no teto do mundo no que à qualidade diz respeito. «É o Manchester City!» Pronto! Olhando para a lógica dos suecos, e mesmo que se trate de um adotado e não original, que chamam mor e far respetivamente a pai e mãe e depois mormor e farfar a avó e avô, não será difícil encontrar alguma linearidade no raciocínio.
Há, contudo, uma grande diferença, Jon. No lado azul de Manchester, o dinheiro dos Emirados deu para tudo. Para comprar talento, mas também para plantá-lo e nutri-lo. Há Haaland, Álvarez, Bernardo, Rodri, entre tantos outros, porém também Foden, Lewis e Bobb. Enquanto formos pobres, vivermos sob a ameaça de troikas e populismos oportunistas e extremistas que ainda mais nos empobrecem, sobretudo a nível de espírito, e não encontrarmos petróleo na Lourinhã ou em qualquer outro lugar, teremos de ser o que temos sido: verdadeiros MacGyver na formação, por vezes até contra a nossa própria natureza. Só assim pudemos preencher os 30 metros que nos faltavam, moldar o guarda-redes que não tínhamos, construir os laterais que só víamos nos outros e alargar as fronteiras de um pequeno país periférico, onde as novas ideias chegam mais tarde, já trocadas e digeridas, e o talento estrangeiro se apresenta demasiado verde ou para lá do maduro, até se tornar uma potência do jogo.
É para o fruto dessa dedicação, primeiro por carolice, depois integrada numa visão mais global, que as gerações mais novas olham sem questionar os rótulos que lhe colam. Como o de um Manchester City das seleções, em que há dois ou mais jogadores de altíssimo nível por cada posição, e que leva a que depositemos hoje mais expetativas numa consagração que começa a não andar a par com o potencial que se leva para o campo. Um Europeu apenas é agora curto quando antes já foi tudo. No entanto, é preciso não esquecermos o que somos, de onde viemos, e que por cada Blue Moon que nos oriente o caminho há também um Liverpool algures escondido na seleção francesa, um Arsenal na espanhola ou um Chelsea na alemã. E todos na inglesa.
Além disso, mais do que os troféus será sempre importante o caminho que nos conduzirá à glória. Apaixonei-me em 2000 naquele frenético 3-2 à Inglaterra e nunca mais esqueci essa seleção, apesar de todos os seus defeitos. A culpa foi do túnel de vento criado pelas pernas de Tony Adams no tomahawk Ipiranga de Figo, do cruzamento de Rui Costa para o voo de JVP depois de inúmeros passes em cadeia, da délicatesse que um Nuno Gomes acrescentava sempre que usava as quinas ao peito e da força de vontade de um Conceição disposto a colar o selo de obsoleta a uma sempre beligerante Alemanha, que lá teve de renascer uma vez mais das próprias cinzas. E era, sobretudo, uma Seleção que bailava e inspirava. Era o Brasil da Europa mesmo que, apesar da arrogância capilar de Abel Xavier, andasse cheio de dúvidas quanto ao lateral-direito e trocasse a geometria quase infalível de il regista Paulo Sousa pela consistência de Vidigal, Paulo Bento ou Costinha, dois dos quais em simultâneo. Porque depois, em campo, tudo fazia sentido. Portugal disse adeus ao sonho nas meias-finais e nunca mais teremos visto um futebol como aquele. Foi a nossa vez de sermos Áustria, Hungria ou Holanda. A uma medida muito nossa.
Já em 2016, quando ganhámos, fizemo-lo em losango, com Adrien, um 6, na posição 10 para que anulasse as grandes figuras dos outros, os médios-centro Renato Sanches e João Mário a fechar direita e esquerda, à frente de William ou Danilo, e Nani a vaguear nas costas de Cristiano Ronaldo. Ricardo Quaresma e a sua trivela tinham de ficar à espera, só havia lugar para dois criativos no plano A. Em 11. Apurámo-nos a empatar, um islandês marcou um golo de que não precisava, ganhámos a outros underdogs para lá dos 90 ou nos penáltis, apenas nos soltámos diante do País de Gales e acabámos a plantar um Maracanazo em plena Paris, graças a uma dupla fezada. A de Fernando Santos no último dos anti-heróis e a de este, de Éder, num remate que não parecia seu, empurrado por todos os que gritaram chuta!, em uníssono e para si próprios, de todos os sítios de onde se falava português no Stade de France. Para lá disso, orações, suor, concentração, rigor e... sorte. Claro que lembraremos essa conquista por ter sido a primeira, porém a história recordará contos mais belos, se os conseguirmos escrever. E temos de conseguir.
Ainda faltam uns meses e acredito que Roberto Martínez já tenha a lista praticamente fechada. Até me parece que deverá ser, habituais birrinhas à parte, a mais consensual de que me lembre se, como esperamos, nenhum azar surgir. E, caso surja, também será seguro afirmar que há vida para lá desta. Bastante, aliás. No entanto, mais importante do que quem esteja ou não na convocatória final, desde que o núcleo duro esteja garantido, é sabermos que há fundamentos para podemos vestir a nossa verdadeira pele, uma pele de gente grande. Então, nessa altura, as palavras de Jon Dahl Tomasson, fossem ou não de circunstância ou motivadas por Portugal ser o próximo adversário em campo, podem ser tão proféticas quanto possível.
A seleção portuguesa não deve ver-se a si mesma como um Manchester City apenas enquanto aglomeradora de talento, mas também como este quando joga de acordo com a sua identidade, não condicionada pelos rivais."

Futebol feminino: um espaço seguro


"Deem condições ao futebol feminino e este agarrará mais público e novos públicos

O Estádio da Luz recebeu, na terça-feira, 19.736 adeptos para um jogo dos quartos de final da Liga dos Campeões feminina. No mesmo dia, o Ajax recebia o Chelsea e os Países Baixos batiam o recorde de maior assistência num jogo de futebol feminino: foram mais de 35 mil nas bancadas.
No caso do Benfica-Lyon, o jogo era transmitido em direto na TVI, mas isso não demoveu os quase 20 mil espectadores de irem ao estádio. Porquê? Muitos, suspeito que por ser na Luz. Quanto mais oportunidades o futebol feminino tiver de criar a sua ligação com o público num palco à altura, mais essa relação se vai desenvolver, evoluir e tornar-se um hábito. Os adeptos de futebol não são propriamente um público difícil: deem-lhes o seu estádio, a sua cadeira, o seu cachecol e a sua equipa e, normalmente, está feito.
Mas o segredo não está só aqui. Quem esteve na terça-feira no Estádio da Luz não precisou de olhar muito à sua volta para notar o óbvio: o futebol feminino começa não só a convencer o público do masculino (até as claques), como, e sobretudo, está a adicionar novos públicos ao futebol. Várias famílias, muitas mulheres, imensas meninas e aquele brilho no olhar de quem finalmente se pode identificar com alguém no relvado. O futebol feminino pode ser, se lhe derem as condições para isso, o espaço seguro que tanta gente deixou de ter ou nunca teve no masculino. Não percamos tempo a analisar as diferenças entre os dois, admitamos só que em algo falhámos num para que alguém agora pense que só pode levar os filhos (ou as filhas) a outro.
O espaço também é seguro porque é mais autêntico. As jogadoras são mais reais, estão mais próximas, falam a mesma linguagem. Não cresceram em centros de treino que formam futebolistas para não falarem, raramente se aproximarem ou dizerem aos microfones que têm de pensar jogo a jogo. Antes da partida começar, ouviu-se uma mensagem durante o espetáculo de luzes no estádio. Não é novidade nos jogos do Benfica em casa, mas as palavras soavam mais acertadas, mais verdadeiras. Sim, estava ali um grupo de guerreiras que ia levar o nome do clube mais alto. Em campo, foi isso mesmo que aconteceu e, apesar da derrota, frente à equipa que mais vezes venceu esta prova, a equipa feminina do Benfica mostrou que já avançou muito em pouco tempo e que, daqui a uns anos, continuando esta aposta, poderá ter outros trunfos para ganhar este tipo de jogos.

Promessas no FC Porto
No mesmo dia, a candidatura de Pinto da Costa à presidência do FC Porto prometeu que terá uma equipa sénior de futebol feminino no próximo mandato. Depois de um atraso inexplicável de anos, os portistas - e sobretudo as portistas - poderão finalmente começar a construir este espaço seguro com as suas cores. Nem tudo tem sido agradável na campanha azul e branca e o tom tem azedado, mas pelo menos nisto a concorrência está a trazer evolução."

Dixit:

Jéssica Silva não está lesionada e não somos todas vacas


"Filipa Patão está em rota de colisão com Jéssica Silva e A BOLA noticiou isso mesmo em primeira mão na quarta-feira, dia 20 de março, depois de a avançado ter sido excluída do jogo da Liga dos Campeões com o Lyon. Nesse dia assinei uma notícia a contar a história, depois de confirmar a verdade, ouvindo várias partes envolvidas.
Demos conta de uma reunião que existiu entre a treinadora e a internacional portuguesa, promovida pelo Benfica, para tentar acalmar o impacto que teve no grupo a decisão de afastar Jéssica Silva de um jogo importante, que as águias acabaram por perder. No dia seguinte o Benfica fez sair uma nota informativa no site, dizendo que a jogadora, de 29 anos, estava a realizar tratamento. Não disse que estava lesionada, porque não está. O Benfica sabe que não está e nunca disse que estava.
A verdade é que esta decisão do Benfica de justificar a ausência de Jéssica Silva com um tratamento motivou comportamentos vergonhosos que só refletem que há adeptos a olhar para o futebol feminino com os mesmos olhos errados com que olham para o masculino. Tenho sido inundada com mensagem insultuosas a chamarem-me de «vaca mentirosa» por noticiar que a ausência de Jéssica Silva da competição se deve a opção técnica de Filipa Patão e tenho a certeza de que a treinadora do Benfica e a própria jogadora recebem muitas mais mensagens semelhantes nas suas redes sociais.
Só me entristece, e certamente também entristece ambas (que conheço e com as quais já falei sobre a projeção que pretendem que o futebol feminino tenha), é que se ofenda desta forma mulheres que só estão a fazer o seu trabalho. O meu é, apenas e só, o de cumprir o meu dever como jornalista: informar com verdade. E sim, Jéssica Silva não está lesionada. Está a treinar com as restantes jogadoras do Benfica e, para além de não ter jogado com o Lyon, também não vai jogar este sábado com o SC Braga porque Filipa Patão não quer e excluiu-a, uma vez mais, das convocadas. Não o pode fazer? Claro que pode!
Como treinadora, Filipa Patão tem todo o direito de convocar quem entende que está em condições de dar o melhor pelo Benfica. Jéssica Silva tem todo o direito de ficar magoada com as atitudes da treinadora, porque também ela quer dar o melhor pelo Benfica. Não há é necessidade de não o assumir, porque isso só faz com que nos ofendam, a todas, e nos carreguem com mensagens vergonhosas. Isto é só futebol!"

Prioridades...


""𝐀 𝐩𝐫𝐨𝐠𝐫𝐞𝐬𝐬ã𝐨 𝐝𝐨𝐬 𝐜𝐥𝐮𝐛𝐞𝐬 𝐟𝐫𝐚𝐧𝐜𝐞𝐬𝐞𝐬 𝐧𝐚𝐬 𝐜𝐨𝐦𝐩𝐞𝐭𝐢çõ𝐞𝐬 𝐞𝐮𝐫𝐨𝐩𝐞𝐢𝐚𝐬 é 𝐮𝐦𝐚 𝐩𝐫𝐢𝐨𝐫𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐚𝐛𝐬𝐨𝐥𝐮𝐭𝐚" - Liga Francesa, em comunicado.
Por cá, o Sport Lisboa e Benfica , no período em que tem a eliminatória contra o Marselha, ainda tem os jogos que podem decidir uma época, contra o Sporting.
E a Liga o que faz? Nada!! Assobia para o lado e fica à espera que sejam os clubes a mendigar um adiamento. Uma Liga que vive do mesmo jeito que a burguesia.
Que aprendam alguma coisa com a Liga Francesa. Aprendam com se defende os interesses dos seus clubes e o seu prestígio.
Entre o dia 11 e o dia 18 o Marselha apenas joga contra o SL Benfica. Já o SL Benfica ainda tem um jogo pelo meio, para a Liga."

Contrastes...

Pontos Bónus...

Fim de semana preenchido


"Esta edição da BNews é dedicada a diversos temas da atualidade benfiquista.

1. Atividade nas seleções
Foram vários os futebolistas dos plantéis das equipas A e B do Benfica em ação pelas seleções nacionais.

2. Forte presença
São 10 os jovens futebolistas do Benfica na Seleção Sub-18.

3. Jantar dos nomeados
Rui Costa esteve acompanhado, em jantar na tribuna presidencial, pelos 64 nomeados, de oito categorias, para os Galardões Cosme Damião.

4. Sempre em evolução
A nova APP Benfica já está disponível.

5. Jogos do dia
Em futsal, o Benfica desloca-se a Ferreira do Zêzere (20h00). A equipa feminina de voleibol joga com o Vitória de Guimarães, às 18h00, em Viana do Castelo, a contar para as meias-finais da final four da Taça de Portugal.

6. Agenda do fim de semana
No sábado, há os seguintes jogos: a equipa feminina de futebol recebe o Braga, no Benfica Campus, às 14h00; em voleibol, Benfica-Sporting, às 15h00, relativo às meias-finais da final four da Taça de Portugal; à mesma hora, visita à Ovarense em basquetebol; também às 15h00, em Torres Novas, a equipa feminina de basquetebol discute a passagem à final da Taça de Portugal com o Quinta dos Lombos; às 17h00, receção, na Luz, ao CH Carvalhos em hóquei em patins; e, às 18h00, deslocação ao recinto do Marítimo em andebol.
No domingo, os Sub-15 recebem o Marítimo às 11h00. A equipa feminina de andebol é visitada pelo Madeira SAD às 16h00. À mesma hora, a equipa feminina de futsal tem encontro marcado, na condição de visitante, com o Atlético. E, às 17h00, desafio de hóquei em patins, no feminino, no rinque do Escola Livre."

O pequenote que se tornou no grande ‘Monstro de Trieste’


"A História da luta-livre guardou aquela tarde em que Raicevich destruiu o sérvio Antonich, de 210 cm.

Os irmãos Raicevich eram danados para a porrada. Tinham tamanho para isso, é preciso dizê-lo, sobretudo, com perdão desta misturada frase, quando começaram a ter tamanho para andar à bofetada nas ruas e pracetas de Trieste, ainda antes de esta magnífica cidade do Adriático ter passado para as mãos do Império Austro-Húngaro. Falo dos últimos anos do século XVIII, mesmo à beirinha do XIX. Roberto Massimo e Emilio Ruggerio eram os mais dados a lutar só por lutar, aquilo que nós começámos por chamar de luta-livre e os britânicos de ‘wrestling’ (expressão que os norte-americanos utilizariam mais tarde para aquela espécie de palhaçada em cima de um ringue), sendo que os franceses patrioticamente trataram de apelidar de luta francesa, um termo utilizado para o que é a também tida como luta greco-romana, sendo que os especialistas se rebelaram maioritariamente contra esta última designação. Mas, não percamos o fio à meada, e voltemos aos irmãos Raicevich e, principalmente, àquele do qual ainda não falei e que foi o mais conhecido de todos eles: Giovanni Raicevich.
Aposto que já olharam para a fotografia do bom Giovanni, aí ao lado, e já o terão classificado com vários adjetivos, do ridículo ao grotesco. Eram assim os lutadores do seu tempo, muitos outros até com figuras muito mais atarracadas. Neste caso sou muito a favor do domador de leões do Circo Areola Paramés. Farto de um fulano que, no sossego do exterior da jaula, resolveu apepiná-lo à custa de frases como «isso é tudo uma aldrabice!», «o leão foi drogado, está meio a dormir!», «isso é só para enganar a malta!» e por aí fora, se limitou a responder: «Anda dizer isso cá para dentro». Pois… Acham o nosso mano Raicevich mais novo um bocado bizarro? Gostava de vos ver dizerem isso em voz alta com o sujeito pela frente.
A família Raicevich sempre esteve ligada ao exercício físico pois o pai abriu um ginásio num tempo em que os ginásios eram coisa rara, sobretudo em Trieste. Pobretes mas alegretes, fomentavam rivalidades de bairro ou mesmo de rua para cobrarem uns tostões aos que estavam dispostos a desembolsá-los para ver dois calmeirões em cima de um ringue, agarrando-se um ao outro, torcendo braços, amarrotando cotovelos, amachucando rótulas e pingando suor até que um deles desse as tais três palmadas no chão que tinham o peso das pancadas de Moliére mas ao contrário: serviam para indicar desistência e acabar com o espetáculo em vez de anunciarem que estava prestes a começar.
Em 1902, os manos Raicevich meteram-se num barco rumo a Alexandria, no Egito, para o seu primeiro grande debute internacional, tendo todos eles regressado com medalhas espetadas nas volumosas peitaças. Foi um ano particularmente especial para Giovanni que se tornou profissional e começou a ser convidado para combater com os grandes lutadores do seu tempo, como foi o caso do sérvio Simon Antonich, um bicho de imponentes 210 centímetros de altura e 130 quilos de peso, que prometera esmagar os seus 172 centímetros e os seus apenas 110 quilos. Pobre Simon. Não sabia com quem se estava a meter. Raicevich chegou-lhe a roupa ao pelo (embora combatessem sem roupa e praticamente em pelo), vitória essa que teve um expressão internacional intensa. Nos anos que se seguiram, além de campeão da Europa, conquistou o primeiro lugar nos torneios sonantes de Liège, Krefeld e da Vestefália. Em 1906 percorreu a América do Sul colecionando vitórias atrás de vitórias. No ano seguinte, espancou sem piedade o francês Paul Pons, não por acaso alcunhado de ‘Le Colosse’, tal como o fizera uns meses antes ao seu compatriota Laurent le Beaucairois, garantindo dois títulos de campeão do mundo. Depois, já na fase em que Trieste voltou a ser italiana, manteve-se por casa e foi campeão de Itália ininterruptamente desde 1907 a 1929. Um tédio! No entretanto vestiu a farda e cumpriu o seu dever no Exército Italiano nas batalhas de Piave e Isonzo, durante a IGrande Guerra. Ah! Sim. O povo tinha uma paixão assoberbada por Giovanni Raicevich! Se alguns viam nele uma personagem digna de comédia, outros olhos o contemplavam sob a aura de herói. Um checo, Hans Kavan, desafiou-o para lutarem. Giovanni aceitou mas avisou desde logo que seria a última luta da sua vida. Como é óbvio, ganhou-a. Em seguida entregou-se à disposição do realizador Ubaldo Maria Del Colle que o transportou para o cinema fazendo de Maciste, a hercúlea invenção dos livros de Gabriele d’Annunzio e Giovanni Pastrone. Continuava remediado. Nem o sucesso de bilheteira de L’uomo della Foresta lhe garantiu a existência. O Comité Olímpico Italiano entregou-lhe 5000 liras por mês até morrer. Aguentou-se até aos 75: o ano de 1957 levou de vez ‘O Monstro de Trieste’."