"Leões vão em vantagem para a 2.ª mão da Taça de Portugal depois da vitória por 2-1 frente aos encarnados em Alvalade. A equipa de Rúben Amorim dominou coletivamente na primeira hora de jogo, mas o talento individual de Di María quase igualava a eliminatória, que vai viva para a Luz
Ficará para os adeptos do Sporting um travozinho alcalino a desapontamento mesmo que os leões, a meio das meias-finais da Taça de Portugal, estejam em vantagem frente ao Benfica, depois de um triunfo por 2-1 em Alvalade. Desilusão talvez seja palavra forte depois de uma vitória, mas quem domina coletivamente um adversário perdido de ideias durante toda uma hora e acaba a tremer terá de se sentir inacabado, truncado de qualquer coisa que não permitiu que, quiçá, este jogo tivesse acabado com outros números.
Com Roger Schmidt a apostar novamente num sistema sem um avançado fixo, o Benfica foi de uma total inexistência na 1.ª parte. Mérito também do Sporting, que rapidamente conseguiu ler a pressão alta do Benfica para a conseguir ultrapassar e foi ganhando duelo atrás de duelo. Nos primeiros 20 minutos, os encarnados não remataram nem uma vez à baliza, mal a viam, na verdade, tal a capacidade leonina de recuperar bolas e partir para a frente.
Pote era aqui o jogador chave, a aparecer em todo o lado: na área, nos flancos, na recuperação defensiva. E é dele o primeiro golo do Sporting, logo aos 9’, num lance em que Hjulmand deixou para Geny, a criar o desequilíbrio na direita, e recebeu novamente do moçambicano para o espaço livre, onde pode armar um cruzamento perfeito para o segundo poste. Estava lá Pote sozinho para marcar, mas se não fosse ele seria Matheus Reis. Di María chegou atrasado, atrasadíssimo, novamente absorto do momento defensivo, e Bah, de repente, viu-se com três homens para defender.
A primeira parte foi toda ela feita de um Sporting dominador, com facilidade a sair da pressão, a assustar na transição um Benfica que não conseguia ter bola e via o jogo a passar só com os olhos, minorizado também pela fisicalidade dos jogadores leoninos, sempre mais preparados para as segundas bolas. Hjulmand e Morita lideram com bola, cobriam o campo sem ela. Mas faltaram sempre as melhores decisões no último terço: para o caudal ofensivo que teve, o Sporting criou poucas oportunidades flagrantes. Para lá do golo, só aos 44’ houve frisson na área encarnada, num lance que Otamendi não resolveu, apesar do vistoso corte acrobático, o que terá apanhado Edwards de surpresa. O inglês perdeu tempo e quando rematou já tinha defesas do Benfica em cima. António Silva ia ganhando no 1x1 a Gyokeres, limpando um ror de cruzamentos, segurando o possível da sua equipa.
E isso seria decisivo na 2.ª parte, que começou com o Sporting a chamar a pressão do Benfica, colocando bolas longas para a correria do sueco e de Edwards. Logo no primeiro lance, Edwards caiu na área num lance de superioridade do Sporting, mas havia fora de jogo de Gyokeres na jogada. O aviso foi alerta para o Benfica chegar ao jogo, acertando a pressão, conseguindo um par de recuperações em zonas altas.
Só que, mesmo com o Benfica melhor, aos 54’ Gyokeres, quais carro de assalto em campo aberto, recebeu na transição um passe perfeito de trivela de Geny Catamo e fez o que quis de Otamendi, seguindo para a baliza para bater Trubin. No primeiro lance em que não se viu acossado ou atrapalhado por António Silva, Gyokeres marcou.
Parecia lançado o momento. Poderia o Sporting, acertando as transições e tomando decisões mais interessantes no último terço, em campo aberto, golear? Talvez. Só que do outro lado há um jogador especial. Ángel Di María é esse jogador, que exasperará os adeptos do Benfica quando a equipa necessita de dobras, de apoio no momento defensivo, mas que é depois capaz dos maiores feitos individuais no ataque. Cantavam alguns adeptos do Sporting olés injustificados quando o argentino, com um cruzamento perfeito, encontrou Aursnes solto de marcações, com o norueguês a fazer o 2-1.
Estávamos ao minuto 68’ e três minutos depois aqueles olés, como sempre (as pessoas não aprendem), transformaram-se em obras de karma, com Di María de novo, num momento de brilhantismo, a empatar o dérbi: combinou com Kökçü a partir da esquerda, vai buscar ao meio e remata subtilmente com o pé esquerdo, bem encostadinho ao poste. O bonito desenho não valeria, já que o VAR considerou que, no momento do remate de Di María, Casper Tengstedt estava em fora de jogo posicional, atrapalhando a visão do guarda-redes leonino.
Mesmo antes do segundo golo-que-não-seria-segundo-golo, Rúben Amorim já preparava a entrada de Esgaio. A entrada de Tengstedt e a varinha mágica de Di María iam massacrando o lado direito da defesa do Sporting, onde o cansaço de Geny era mais que notório. O ala português deu a consistência defensiva necessária, mas ofensivamente pouco ajudou os leões, numa altura em que os espaços assim o convidavam.
O jogo acabou então com as duas equipas balançadas para a frente, a tentarem o golo. Já nos descontos, Nuno Santos teve durante dois segundos mais uma nomeação ao prémio Puskas na mão, com um remate extraordinário de fora da área, mas Paulinho (cuja entrada se pedia para mais cedo) estava adiantado no início da jogada.
Coletivamente, o Sporting foi mais equipa, mas o aparecimento do talento ofensivo de Di María gelou, por momentos, a organização leonina, que na 2.ª parte também se viu sem a energia dos primeiros minutos. A não existência dos encarnados na 1.ª parte não se coaduna com a qualidade que Schmidt tem à disposição. No final, feitas as contas, com 2-1 a eliminatória está viva, bem viva e tudo será decidido na Luz."