Meio anjo, meio diabo: o vento do Rio Ave, a brisa de Rafa e o furacão de Conceição


"Pantufas, meus caros, é em casa com uma canequinha de chá, um roupão e os pés embrulhados numa botija de água quente.

O vento de Vila do Conde esteve endiabrado. Tão endiabrado que, de princípio a fim, pareceu sempre estar a favor do Rio Ave: quando esteve a seu favor, esteve mesmo a favor; quando esteve contra, continuou a estar a favor. Acompanhou as equipas, no fundo: mudou de campo ao intervalo. Há depois, como diz o povo, o vento e o casamento que raramente chegam bons de Espanha. O casamento do Sporting e de Adán já conheceu melhores dias. O guarda-redes espanhol teve uma primeira época muito boa, mas daí para cá tem alternado os dias bons com os dias maus e os dias assim-assim. Adán não merece, até pela atitude que sempre teve dentro e fora de campo, que se lhe aponte o dedo, mas é justo que se diga que, de momento, Benfica e FC Porto têm grandíssimos guarda-redes e o Sporting não. O brilhante olheiro que os leões tiveram para descobrir o desconhecido Gyokeres tem pela frente a tarefa de encontrar um número 1 ao nível de Diogo Costa ou Trubin. Que não parece ser Franco Israel porque, se o fosse, já estaria a jogar com bem maior regularidade.
Rafa é um jogador controverso. Porque corre muito e falha muito. Porque abandonou a Seleção Nacional. Porque marcou o golo da sua vida, correndo com a bola de ponta a ponta o relvado da Luz, mas não festejou. Porque fala pouco. Porque não é propriamente simpático para o exterior. Porque rompe defesas como quem rompe manteiga no verão. Porque está em final de contrato e não parece crível que o renove. Mas, sobretudo, porque parece ter atrás de si uma brisa de tal forma forte e certeira que, quando está em dia sim, é capaz de desbloquear jogos. Como agora frente ao Portimonense. Rafa é, de facto, um jogador muito especial. Tão especial que, a caminho dos 31 anos, percebemos que lhe terá faltado um niquinho para ser jogador de top.
Pepe é um furacão. Completa hoje 41 anos e continua a correr, a lutar e a jogar de dragão ao peito como se não houvesse amanhã. Claro que ter 41 não é o mesmo que ter 21 ou mesmo 31. Ter 41 é ter 41. Mesmo para Pepe. O luso-brasileiro bem merecia, pois, ter o corpo examinado por cientistas de todo o mundo. E não é só ter 41. É ter 41 e jogar assim há duas décadas. Outro furacão é Sérgio Conceição. Sobretudo quando perde pontos. Não se sabe exatamente para quem foram as palavras do treinador portista após o empate com o Gil Vicente. A verdade é que, tal como disse SC, não pode haver jogadores que entram para dentro de campo com sapatinhos de balé, prontinhos a fazer um plié, mas sem capacidade de luta. Pantufas, meus caros, é em casa com uma canequinha de chá, um roupão e os pés embrulhados numa botija de água quente. Tipo Pinto da Costa. O discurso do futuro ex-presidente do FC Porto (algum dia o será!), atacando a imprensa de Lisboa, já não é apenas bolorento. É de alguém que sabe que a sua cadeira de sonho pode estar em perigo e que, por isso, vai repetindo chavões atrás de chavões como um disco riscado do final de 1937. Não sei se André Villas-Boas será (se ganhar) um bom presidente do FC Porto, pois a sua experiência para aquele cargo é zero. Porém, entre bolor experiente e inexperiência fresca..."

O Benfica, Toulouse, e o resto da época


"Na antecâmara das grandes decisões, quando a margem de retorno é quase nula, Schmidt precisa de reencontrar o equilíbrio

O Benfica que se apurou para os oitavos de final da Liga Europa em Toulouse é um mistério. Em primeiro lugar porque qualquer semelhança entre o futebol que praticava na época passada e o que ali produziu só pode ser coincidência. As saídas de Grimaldo e Ramos, e a entrada de Di María, alteraram a matriz do jogo encarnado, e a verdade é que, quase em março, Roger Schmidt ainda não foi capaz de encontrar a tecla certa para afinar a orquestra.
Na antecâmara de três jogos de transcendente importância - Sporting, FC Porto e Rangers - não será tempo do treinador alemão regressar a alguns conceitos por onde já andou, sem se fixar? Na esquerda da defesa, por onde já passaram Jurásek, Morato e Carreras, é Aursnes, pau para toda a obra, a opção mais fiável (como se viu com o Portimonense); e no meio-campo, até para compensar o que Angel Di María já não consegue entregar em termos defensivos, o comparsa de João Neves só pode ser Florentino, que faz, na recuperação de bola, o que não é feito por João Mário (o Portimonense não é nem o Sporting, nem o FC Porto).
Depois, quanto ao ponta de lança, Schmidt tem de saber o que quer, se alguém que segure a bola de costas para a baliza contrária e sirva os companheiros (Arthur Cabral); se um jogador que pressione a saída de bola adversária (Tengstedt); se um ponta-de-lança com faro de golo (Marcos Leonardo); ou se um falso nove (Rafa). Todos com qualidade, mas cada um com características diferentes, que dão ao treinador opções diversas.
Já Kokçu (como se viu com o Portimonense), a jogar na sua verdadeira posição (entre o dez e o nove e meio), razão que justificou o grande investimento feito pelo Benfica, é um jogador entusiasmante, capaz de fazer a diferença.
Perante um adversário muito acessível como o Toulouse, o Benfica suou as estopinhas para classificar-se, e realizou, no sul de França, uma segunda parte pura e simplesmente lamentável. Nesta fase da época, ou Schmidt encontra um equilíbrio que lhe permita estabilizar a equipa, ou cada jogo será uma roleta russa, sem que se saiba, antes de premir o gatilho, se a bala está no carregador, ou se já passou para a câmara.

PS - João Neves e António Silva, ao dizerem-se em condições de jogar em Toulouse, e fazendo-o com grande qualidade, mostraram uma força mental que é própria dos campeões."

Faltam 11 jornadas (e 'meia') de emoção. Vamos continuar a dizer mal do nosso campeonato?


"Um dia aprenderemos que nem tudo gira em torno de três clubes; é que os 'os outros' também ganham pontos

Podemos continuar a carpir as mágoas de não ser um dos Big 5 e vermo-nos atrapalhados, muito provavelmente, para vender direitos televisivos que, por acaso, ainda não conseguimos centralizar, e portanto a venda em bloco não é sequer hipótese em cima da mesa.
Podemos - e devemos - queixar-nos dos sucessivos lamentos sobre arbitragens e processos judiciais que marcam a intervenção de boa parte dos dirigentes, funcionários e por vezes treinadores e jogadores da nossa Liga. Poluem o ambiente e, invariavelmente, desviam as atenções do essencial.
Mas, por favor, não continuemos a queixar-nos da competitividade do campeonato, a vários níveis da tabela, só porque nos habituámos a dizer mal do que é português.
O Rio Ave apresenta, neste ano de 2024, uma das melhores propostas futebolísticas dos últimos anos. Já perdeu e empatou jogos do seu campeonato, mas empatou no Dragão e ontem travou o Sporting. Perdeu na Luz, até com ligeiro estrondo (1-4), mas foi dono e senhor desse jogo até ficar com dez elementos.
A equipa de Luís Freire quer jogar futebol e joga. Olha para os poderosos de frente e consegue brilhar. Tem 22 pontos após uma jornada gloriosa (quebrou ciclo de oito vitórias consecutivas daquele que era até este domingo um dos líderes), mas tem a corda na garganta.
Onde quero chegar? Se uma equipa que (ainda) luta pela manutenção consegue impor-se desta forma perante os três crónicos candidatos ao título, parece-me difícil defender que temos uma Liga pouco competitiva e desinteressante.
E que dizer do Gil Vicente? A perder em casa com o FC Porto conseguiu reunir energias e empatar no período de compensação. Isto é sinal de um campeonato demasiadamente desnivelado e previsível?
O que se passa em Portugal, e há muitos, muitos anos - quiçá desde sempre - é que tudo gira em torno de três emblemas. Se o Sporting e o FC Porto empataram em Vila do Conde e em Barcelos é porque não foram suficientemente competentes, raramente porque um Rio Ave ou um Gil Vicente fizeram pela vida e merecem o prémio dos pontos.
Se o Benfica não tivesse arrancado para três minutos épicos diante do Portimonense, resolvendo um jogo num ápice com eficácia raramente vista, já todos estaríamos de dedo em riste, prontinho a ser apontado a Roger Schmidt porque jogou com mais pontas de lança ou menos pontas de lança.
Na realidade parecemos pouco preparados para uma Liga em que os grandes perdem pontos. Ou melhor (e cá estava eu, sem querer, a embarcar na onda da narrativa habitual): onde os menos ricos e teoricamente menos fortes ganham pontos aos maiores.
Um ponto interessante: o Sporting viu fugir o Benfica na classificação e não se ouviu de Amorim ou dos jogadores um ai sobre arbitragem. Será que algo está a mudar na nossa mentalidade?
Venham dai essas 11 jornadas (mais o Famalicão-Sporting) que faltam!"

‘Doping’ nas estradas


"Será o ‘doping’ um problema de ciclismo e atletismo? A FIFA não parece preocupada

O doping mata fisicamente, arruína carreiras, destrói o desporto. O caso da equipa de ciclismo W52 é nisso paradigmático. Dirigentes e muitos ciclistas foram condenados pelas instâncias desportivas da Union Cicliste Internationale (UCI), Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) e Autoridade Antidopagem de Portugal. Arriscam também, conforme acusação do Ministério Público, e se esta proceder, penas de prisão.
Vamos aos factos da chamada Operação Prova Limpa e às decisões das instâncias desportivas. A UCI tem na parte 14 das Regras do Ciclismo, versão fevereiro 2023, as suas normas Antidoping que, no ponto 2.1, dizem: «É dever pessoal dos ciclistas garantirem que não entram no seu corpo quaisquer substâncias proibidas» e «Não é necessário que exista intenção, falha ou negligência ou conhecimento do uso por parte do ciclista». Quer dizer, basta a substância proibida estar no corpo do ciclista para este ser culpado de doping. Percebe-se, se fosse requerida a má-fé, se os ciclistas não soubessem do doping, não haveria doping.
Sabemos que nestes casos é a UCI - regra 3.1 - que tem de fazer a prova do doping, através das análises que efetua e que os atletas estão obrigados a fazer - regra 2.3. No caso da W52 a questão foi analisada pelo Tribunal de Antidoping da UCI e pela Autoridade Antidopagem de Portugal que determinaram, por exemplo, para José Ferreira Rodrigues e Nuno Ribeiro, diretores da equipa, e no caso de Ribeiro, vencedor da Volta a Portugal em 2003, uma suspensão por 25 anos, a sanção máxima prevista nos regulamentos desportivos e na Lei Antidopagem (Lei n.º 81/2021). E no caso dos ciclistas, condenados pelo consumo, três anos de suspensão da prática do desporto.
Mas sanções desportivas são uma coisa e sanções penais (prisão por ex.) só os tribunais criminais podem determinar. Por isso, o Ministério Publico acusa, em julgamento que começou há poucos dias, 26 arguidos, entre os quais os já referidos e ainda o conhecido Adriano Quintanilha, de «Tráfico de Substâncias e métodos proibidos», dizendo o art.º 57 da Lei Antidopagem que «quem, sem que para tal se encontre autorizado, produzir, fabricar (...) transitar (...) substâncias proibidas é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos». Existindo ainda o crime de Administração (ou tentativa de) substâncias e métodos proibidos. Ou seja, o crime de doping não compensa: não só as autoridades do ciclismo são lestas a atuar, como os acusados, sempre presumidos inocentes, podem ainda suportar penas de prisão. Deixo apenas uma questão: será o doping um problema no ciclismo e atletismo? É que não se nota, e pode ser apenas uma perceção, que a FIFA tenha grandes preocupações com o doping no futebol.
Esta semana o Direito ao Golo vai para o FC Porto, que venceu o Arsenal, e para Benfica e Sporting, apurados para os oitavos de final da Liga Europa. E um Direito ao Golo Especial para o Artur Jorge, que faleceu na passada quinta-feira e que foi grande jogador de futebol pelo Porto, Benfica e Académica, treinador titulado em Portugal e vencedor da agora denominada Liga dos Campeões com o FCP, licenciado em filosofia e poeta com obra publicada. Um Rei!"

Do Bairro Alto a Benfica


"Entre a Travessa da Queimada e as Torres de Lisboa, as memórias que atravessam a cidade

Este texto, ainda que uniforme no jornal e no ecrã, começou a ser escrito na Travessa da Queimada, no Bairro Alto, e foi acabado nas Torres de Lisboa, em Benfica. Foi lá no Bairro que entrei, em maio de 2004, a dias do Euro português, com expectativa, nunca até hoje me esquecendo da melhor dica que me deram no primeiro dia entre tantas portas, salas e salinhas – o Hugo Vasconcelos ensinou-me onde era casa de banho. Desde então que o fazia com quem entrava de novo.
Associo, como muitos o farão, eventos relevantes da minha vida a datas de Europeus, Mundiais e até Jogos Olímpicos. É por elas que recordo acontecimentos, pessoas e locais. Nesse Euro-2004, vi todos os jogos na mesma sala e na mesma cadeira, enchendo-me, a cada jogo, de convicção de que essa superstição bastaria para ganhar o título em casa. Não chegou. Também no Bairro, jantava com o meu futuro marido quando aconteceu a cabeçada de Zidane em Materazzi em 2006; os Olímpicos de Pequim-2008 foram passados a entrar à meia-noite para dar tudo em direto no site que começava a despontar e agora é uma referência. Em 2010 houve vuvuzelas, tudo o que ficou.
Do Euro-2012 não me lembro de quase nada, porque tinha uma bebé - houve golos importantes ao ritmo de mudas de fralda, e uma eliminação pela Espanha num dia encoberto. Nos Jogos Olímpicos houve prata na canoagem. Do Mundial 2014, nada a dizer.
Em 2016, já tinha outra bebé, e solta da superstição da cadeira e da sala na Queimada, vi a final entre Portugal e França sozinha em casa no sofá, depois de deitar as meninas mais cedo, segurando-me a morder o lábio e a soltar palavrões para dentro, depois de o Éder me fazer pisar, descalça, uma peça de Lego esquecida no tapete.
A partir de agora já nada será no Bairro Alto, mas tudo isto veio comigo. Estamos em 2024 e é ano de Euro e Olímpicos, estes em horários finalmente normais e assim já me posso emocionar novamente a cada hino do Quénia, ver saltos para a água e a ginástica. A minha filha mais velha começou este ano a gostar de futebol e por isso o Euro vai ser o primeiro a sério dela.
Nas Torres de Lisboa não há portas, salas e salinhas, não é preciso apontar os sítios a ninguém. Estamos juntos. Já não estão todos os que estavam no Bairro. Mas é onde vou construir novas memórias."

Desolador...


"Aos profissionais do Benfica é exigida uma resiliência mental extraordinária para enfrentar adversários fortes, arbitragens altamente tendenciosas e, paradoxalmente, uma parte dos próprios adeptos. Estes últimos transformaram o ambiente intimidador da Luz, antes reservado aos adversários, num cenário adverso para os nossos jogadores, equipa técnica e dirigentes. É uma situação incompreensível e vergonhosa.
Assistir a jogos no Estádio da Luz tornou-se verdadeiramente desolador. Há até quem saia frustrado com as vitórias, o que é absurdo. A esses, sugerimos que fiquem em casa.
Para aqueles que apoiam sem hesitar e acreditam, o estádio continuará a ser o nosso ponto de encontro. A nossa dedicação ao Sport Lisboa e Benfica é inabalável, e permaneceremos leais, porque o nosso compromisso vai muito além das vitórias e derrotas.
Rumo ao bicampeonato! 👊🏼🦅"

Pura verdade...

Diogo...

4 e 87

João Mário...

Triunfo esclarecedor


"A goleada, por 4-0, conseguida na receção ao Portimonense, num jogo de homenagem a Diogo Ribeiro e de solidariedade Benfiquista para com António Silva e João Neves, é o destaque nesta edição da BNews.

1. Boa exibição coroada com quatro golos
Roger Schmidt elogia a exibição e enaltece o resultado: "Fizemos um jogo muito bom. Penso que os jogadores desfrutaram de jogar no nosso Estádio. Mostrámos desde o início que queríamos dominar. Estou muito contente com a performance dos jogadores e a atitude, que, no geral, foi muito boa."

2. Três pontos
Para Kökcü, autor de duas assistências para golo, "foi uma vitória importante. Os três pontos são tudo o que importa, para sermos campeões no final".

3. Homem do jogo
Com dois golos e uma assistência, Rafa foi considerado o Homem do Jogo.

4. Família Benfiquista
Minutos 4 e 87, minutos de comunhão entre Benfiquistas e de solidariedade e carinho para com António Silva e João Neves. À Benfica!

5. Homenagem devida
Ao intervalo do desafio com o Portimonense, foi prestado tributo a Diogo Ribeiro, campeão do mundo nos 50 e nos 100 metros mariposa. O jovem nadador agradeceu o apoio do Benfica e dos Benfiquistas: "Sem vocês também não era possível."

6. Bronze europeu
O Benfica classificou-se no 3.º lugar da Taça dos Clubes Campeões Europeus de corta-mato, melhorando em relação ao 4.º posto obtido na temporada passada.

7. Atividade da formação
Os Juvenis ganharam, por 0-2, na visita ao Casa Pia e os Iniciados venceram, por 2-1, o Belenenses. Ambas as equipas estão na liderança das classificações dos respetivos campeonatos.
Nota ainda para a ação de formação realizada no Benfica Campus e dirigida aos Sub-13, no âmbito da ética e valores no desporto.

8. Outros resultados
O Benfica selou o apuramento para a final four da Taça de Portugal de voleibol ao ganhar, por 3-0, ante o Ala Nun’Álvares. Em futsal, goleada, por 16-1, ao Candoso. A equipa feminina de voleibol venceu, por 3-0, frente ao SC Braga, a feminina de basquetebol triunfou, por 67-51, com o Esgueira.
Entretanto, já são conhecidos os adversários do Benfica nas meias-finais da Taça de Portugal de voleibol, em masculinos e femininos: Sporting e Vitória de Guimarães, respetivamente."

Mais uma goleada, e esta sem ponta de lança!


"Benfica 4 - 0 Portimonense

Antes do jogo
> Tanto mandaram vir com Schmidt por jogar sempre com os mesmos que agora é uma lotaria acertar na equipa...
> A mim parece-me que está a usar este jogo para preparar - ou será para enganar? - o Sporting e o Porto.
> O ambiente, para variar, é de festa do lado de fora e dentro do estádio também. Mais de 55 mil outra vez?

Durante o jogo
> Kökcü no lugar que há muito reclamavam ser o dele. Só falta Schmidt tirar as mãos dos bolsos.
> Min 4 primeiro momento de emoção no jogo. Vamos António!!!
> 25 min estamos a jogar devagar e sem roturas. Eles todos lá trás no papel deles: um autocarro de 11 que vai basculando para um lado e para o outro! Trubin é mais um espetador.
> Isto parece um treino: uma equipa só ataca e a outra só defende. Tomem lá e ataquem outra vez. E nós já podíamos e merecíamos ter marcado
> Segunda parte sem mudanças. Mas já marcámos um: Rafa. E o segundo: Neres, lindo. E o terceiro: Rafa para Di María, que categoria!!! Em 5 minutos fechámos o jogo.
> E agora o autocarro o que vai fazer?
> Neres e João Neves para o descanso que temos batalhas duras pela frente.
> Grande Tiago Gouveia (gosto deste miúdo). E Rafa a concluir. Tomem lá 4 sem ponta de lança!
> Uma distração no meio campo serve para o António mostrar que está em grande momento com excelente ação defensiva de um para um. E vai para o banho sem ver o amarelo que o tirava do Dragão. E com 57.201 a aplaudi-lo de pé.
> Min 87 é o minuto João Neves. Impressionante o carinho que tem da parte dos benfiquistas. E tanto o merece!
> Próxima paragem: Alvalade.
> O Jorge Máximo, com 86 anos, continua em na maior - grande benfiquista!!!"

O Benfica escondeu Rafa. Quando o destapou, o Portimonense foi atropelado numa rajada


"Houve dois golos e uma assistência de Rafa Silva, mais um acrescento para o avassalador registo do português esta época (já participou em 31 golos), mas, enquanto o Benfica não ajustou a espécie de invenção de uma nova forma de atacar que tentou na primeira parte, pouco se viu dele e de flagrantes oportunidades para marcar. Só após o intervalo os encarnados acertaram na tecla para ganharem (4-0), sem dificuldades, ao Portimonense

Quando Kökçü recebeu de João Mário a bola acabadinha de ser recuperada no seu meio-campo, olhou à volta e viu-se sem incómodos nas redondezas, ao longe mirou a baliza de frente, avistando David Neres a sprintar rumo à deserta pradaria que havia até ao alvo. Confortável, o turco açoitou suavemente um passe com o interior do pé, o recado foi ter à trajetória da corrida do brasileiro, ele aguentou a tentação de cair face ao encosto de um adversário, não resistiu a fintar o guarda-redes Nakamura e marcou. Havia 57 minutos. Dois antes, a trivela de um Rafa escondido à direita da área marcara o 1-0; e dois minutos depois, o exterior da canhota de Di María faria o 3-0. Numa tempestiva rajada, o Benfica resolvia o jogo contra o Portimonense.
Parecia uma equipa esbaforida e furibunda, vinda de um embalo ofensivo que só podia vir de há muito no jogo. Era um ímpeto, sem dúvida, mas dissonante do visto durante toda uma primeira parte que desconvidou a suspeitar que o Benfica arrepiasse caminho como o fez nessa mera mão de minutos.
Muito antes, quando o minuto era o 14 e entrasse um atrasado na Luz, espreitando por uma entrada de acesso à bancada, veria o esparguete humano em palmos de relva habituais, lá na direita do ataque do Benfica, a receber a bola. Com a sua esguia curvatura, fletindo ainda que só ligeiramente o pescoço para a frente, Ángel Di María nem precisava de olhar para a grande área à qual conhece cada aresta, qualquer centímetro, mas, nessa jogada, por certo a mirou antes de transmutar dimariescamente o seu corpo: no ápice em que decidiu que pontapé daria na bola e depois o deu, mudou a postura aconchada e inclinou o corpo para trás enquanto bateu com o pé esquerdo na bola.
Nesse instante, nada de novo. Era um momento quase marca de água do Benfica esta época.
O decidido por Di María apresentou-se como um inócuo lançamento para o lado oposto a que Fredrik Aursnes, outra vez com a sina de ser lateral esquerdo, quase chegou nas costas do ala direito do Portimonense. Não era um cruzamento, nem um lançamento com bisturi de cirurgião apontado do espaço entre defesas e guarda-redes, ambas tentativas repetidas e revistas esta época quando a equipa ataca. Sabido tem sido que a questão não é ‘se’, mas ‘quando’ a bola irá ao argentino para ele desencantar um passe genial que deixe alguém em condições refasteladas de cortejar um golo - é uma certeza repetente no jogo ofensivo dos encarnados, não uma ideia ocasional.
Mas, à 23.ª jornada do campeonato e quase dois terços da época preenchidos, o Benfica recebeu um previsivelmente prudente Portimonense, que Paulo Sérgio encosta nos seus três centrais e não tem problemas em montar, quando lhe toca defender, num bloco baixo, com uma nova forma de atacar. E depois de aos 14’, Di María foi o que costuma ser aos 22’ (bola longa para David Neres, que corria para a linha de fundo), aos 29’ (de novo a ver Neres) e 39’ (um cruzamento tenso, cortado por uma testa algarvia). Quatro esporádicas bolas longas e o argentino em nenhuma injetou o veneno habitual que procura, cheio de insistência, por vezes até demasiada, em todas as vezes que espera perto da linha que a bola lhe chegue.
Pelo contrário, o argentino cumpriu a primeira parte a enfiar-se por dentro do compacto bloco dos visitantes, perdido entre o aglomerado de corpos, ele e David Neres perto de um Orkun Kökçü em pára-arranca constante nos espaços curtos entre médios e defesas, a querer mostrar-se aos passes. Ao centro do ataque e longe do seu lugar de eleição, era estranho ver Di María por ali, mas também o turco, desconfortável de costas para a baliza e quase irrelevante a tocar na bola nessas circunstâncias. E Rafa, sozinho como um falso ou verdadeiro avançado, dependia das jogadas em que se percebia o propósito (levar uma posse de bola longa para perto da área contrária), embora se diagnosticassem os problemas.
Sem um ponta de lança de raiz, o pequeno jogador envolvido em 28 golos até então desdobrava-se em corridas para as costas de três corpulentos centrais que o controlaram durante 45 minutos, Rafa correu atrás da bola em vez de correr com a bola, tipo de corrida em que é excelso, Di María era inofensivo no meio de tantos adversários, Kökçü não via o jogo de frente e Neres só aparecia quando Aursnes, à esquerda, tinha a bola e ele se desmarcava. Percebia-se a ideia de baralhar um fechado Portimonense, mas o Benfica, apenas de roçar os 70% da bola, não trocava o suficiente as voltas ao adversário.
Antes do intervalo, só Otamendi, que se deixou ficar na área após um canto para ser lançado por Kökçü na única vez em que o médio teve uma bola de frente para a baliza, e Neres, a desviar o também único cruzamento feito por Di María para ser finalizado, ameaçaram a baliza. Cumprido o descanso, os balneários trouxeram um Benfica mais atrevido na intenção de querer baralhar as marcações da catrefada de jogadores que o Portimonense juntava na cobertura da sua baliza e quando Rafa, à direita da área, encostou o exterior da bota direita no 1-0, a jogada (que teve um ressalto pelo meio) fez-se com o argentino a ir à esquerda e Bah, lateral direito, a participar no miolo.
O isolamento de Rafa veio desse tweak nos posicionamentos ofensivos, gente a aparecer onde não era suposto e a criar dúvida na cabeça dos adversários. Os dois seguintes, quase instantâneos, da velocidade que aumentou a sair para o ataque e na ânsia demonstrada pelos jogadores do Portimonense em quererem logo remediar o golo sofrido, atabalhoando uma organização coesa até então como radiografou o treinador Paulo Sérgio no final. Soprada essa rajada furiosa, os encarnados encontraram o conforto que nunca tiveram antes no jogo.
Com o prejuízo já gordo, a projeção dos algarvios para o ataque também se alargou, Hélio Varela e Jasper eram setas que lançou com frequência para se acercar da área encarnada e houve cruzamentos feitos, remates tentados, aproximações feitas à baliza, mas a definição das jogadas pecava no Portimonense com jovens talentosos e que sujeita o técnico a afinar uma equipa a partir de um plantel que roda a cada seis meses. Pelo contrário, o Benfica foi crescendo no conforto a que se agarrou na segunda parte.
Rafa ainda faria o 4-0 a passe de Di María quando a equipa já fluía sem travões, com Kökçü mais recuado para armadilhar passes. Aursnes e Bah crescenram nos espaços vagados pelo maior atrevimento dos alas do Portimonense e o Benfica, em fases, divertia-se em campo, fosse com o pequeno acelerador de jogo a baralhar as atenções dos centrais já atinado com esse jogo de sombras, ou depois com Arthur Cabral em campo, a ser um avançado declarado. Foram 10 remates do Benfica em cada parte. A impressão de quem esteve na Luz provavelmente guardará maior memória de perigos atacantes do segundo ato, quando a equipa já soube lucrar dos novos posicionamentos dos seus jogadores no ataque.
Confirmada a vitória, o maior lucro dos encarnados viria de outra parte, jogada longe e em Barcelos, onde o FC Porto empataria com o Gil Vicente para a diferença entre os rivais ficar em nove pontos. O Benfica soltou-se na sua forma de atacar e agora está mais solto de um dos seus perseguidores."