"Bruno Lage teve de ir ao banco buscar Kokçu, Di María e Pavlidis para transformar exibição bem insípida numa ponta final brilhante
Há quem diga que não há coincidências. E não há. Bruno Lage nunca vencera um jogo da Taça da Liga e venceu. Pavlidis vinha de um jejum bem prolongado, marcou dois golos e, como cerejinha no topo de bolo bem confecionado, ainda assistira Di María para o golo de abertura. O Benfica segue para a meia-final da Taça da Liga depois de uma hora com ‘cheirinho’ à aguia de Roger Schmidt e, na última meia hora, com ‘cheirinho’ à aguia de Bruno Lage. Não à águia que jogou com o Feyenoord, claro, nem sequer à de Pevidém, antes à das goleadas a Atlético Madrid, Santa Clara, Boavista, Gil Vicente e Rio Ave.
O jogo não começou bem para o Benfica. Como já se esperava, Bruno Lage deixou no banco de suplentes alguns dos titulares dos últimos tempos, como Di María, Kokçu, Pavlidis, Florentino Luís e Tomás Araújo. Talvez por esta opção, o jogo dos encarnados não esteve oleado, também porque o Santa Clara (com oito alterações no onze!) fechou quase todos os caminhos para a baliza de Gabriel Batista. Apenas em dois lances de Beste (3’ e 16’) e num de Arthur Cabral (39’) estiveram relativamente perto de marcar.
Não foi primeira parte entusiasmante, apesar destes três lances e de um remate de Safira (39’) por cima da barra, após jogada brilhante de Klismahn na linha de fundo, ultrapassando António Silva de forma inesperada. Aqui e ali foram-se ouvindo alguns assobios, imerecidos se olharmos para modo como as águias se entregaram ao jogo, compreensíveis atendendo ao jogo demasiado mastigado apresentado pelas mesmas águias.
Sabia-se, porém, que Bruno Lage tinha demasiados trunfos importantes no banco para que o Santa Clara de Vasco Matos pudesse estar demasiado tranquilo para o que ainda faltava jogar. E assim foi quando, logo ao intervalo, Di María entrou para o lugar de Amdouni e Kokçu substituiu Renato Sanches. Se o primeiro tempo fora demasiado chocho por parte do Benfica e intenso do lado do Santa Clara, era preciso introduzir algo eletrizante no onze encarnado para que algo pudesse, por fim, mudar. Os açorianos, compreensivelmente, até porque não jogavam com qualquer autocarro na frente do seu guarda-redes, antes, apenas, um bem mexido 3x4x3 que se transformava num 5x3x2 a defender, fecharam o máximo de espaços possíveis para as progressões do Benfica.
A eletricidade necessária ao Benfica, porém, não apareceu de um momento para o outro. Só mesmo quando Pavlidis entrou para o lugar de Beste e os encarnados passaram a jogar, finalmente, com dois avançados mais fixos, digamos assim, o prato da balança se desequilibrou em definitivo. Ainda antes do primeiro golo, o Santa Clara desperdiçou belíssima oportunidade de golo, com Gabriel Silva, isolado sobre a esquerda, rematar muito por cima da barra da baliza de Trubin.
Honra e mérito ao golaço de Di María, claro que sim, com um volei fulminante de pé esquerdo, mas honra e mérito para Pavlidis, que foi à linha de fundo, como se fosse uma espécie de extremo, cruzar direitinho para a canhota de campeão do Mundo de 2022 fazer o que faltava.
Faltavam, porém, os dois golos do grego que não marcava há uma série de jogos. Pavlidis fez o primeiro de cabeça, após cruzamento de Carreras; o segundo com um pontapé fortíssimo e indefensável para Gabriel Batista. Se há quem precise de golos para viver e respirar, são os pontas de lança. Agora, com estes dois golos e uma assistência, o 14 da Luz volta a respirar a plenos pulmões e recupera, de algum modo, a alegria de jogar, que poderia estar debilitada após tão prolongado jejum."