quinta-feira, 13 de julho de 2023

Cadomblé do Vata


"Southampton FC 0 x 2 SL Benfica

1. Ganhamos tranquilamente o primeiro jogo a seguir à paragem para jogos das seleções... chupem.
2. João Vitor assume em 2023 a posição de lateral direito com a mesma naturalidade que Paulo Madeira exibiu em 1995... cadê o sorrisinho João?
3. Jogo típico de pré-época onde o principal destaque foi Neres... o rapaz é um pote de talento.
4. Kokçu ainda pouco entrosado, mas a revelar técnica apuradíssima... naqueles pés, a bola não chora bebé.
5. Segunda época seguida que se inicia no St. George Park... centro de treinos batizado com o nome do homem que disse "vou-te fder" ao dragão."

Mesmo em jogos de preparação as vitórias são muito bem vindas


"Algumas notas:
Excelente transição no primeiro golo.
Rafa bem no jogo, com boa atitude.
Equipa com bom ritmo, intensa, mantendo as características principais do que lhe observámos na época passada.
Neres bem também. E Kokçu!
Golaço de Ristic - já o ano passado reclamava mais minutos.
Não desgostei do Schjelderup.
Primeira parte melhor do que a segunda.
VAMOS BENFICA! RUMO AO 39!!!"

O primeiro Benfica na TV: ‘Onde Está a Minha Cabeça?’


"Com tão-só sete dias de treinos na pré-época, a equipa de Roger Schmidt fez o primeiro encontro e ganhou (2-0) ao Southampton no estádio em Inglaterra. Com ainda muito ritmo de treino e pouco Kökçü, que foi titular, pouco de novo se viu no Benfica - que ainda não mostrou um declarado dono do seu jogo com bola

O que se viu de novo
Pouco. Sete dias contados desde a entrada dos bronzeados e sorrisos de férias no Seixal, as peles menos morenas e a dentição já não tão à mostra pela força do trabalho de andarem a correr no primeiro jogo da pré-época, os jogadores do Benfica exibiram, como esperado, um ritmo de treino em largas fases do jogo. A pressão alta viu-se pouco, a rápida reação pós-perda de bola também só de vez em quando e as trocas de bola a poucos toques para atrair adversários e depois acelerar a jogada, idem - tudo marcas d’água do futebol de Roger Schmidt.
Em jogo de tão pouca taxa de natalidade de novidades viu-se, porém, já alguns indícios de uma inevitável: saindo Grimaldo, a saída de bola requereu mais do par de médios para a equipa tentar agitar a forma como o adversário a pressionava. Com os quatro laterais que jogaram, o Benfica assentou mais em combinações de passe sem alguém para agitar algo numa ação individual fora da caixa. Mas também se viu o que um lateral com as valências de Mihailo Ristic pode oferecer: verticalidade nas ações e agressividade a atacar a baliza, como no 2-0 que marcou ao rematar na quina da área. David Neres, ao acabar uma transição rápida, fez o primeiro golo.

Os reforços
Algo discreto, Kökcü parece ainda um pouco peixe a dar às barbatanas fora de água. Simplificou as ações ao máximo, preferindo o passe curto às tentativas de acelerar o jogo ao longo, de um lado ao outro do campo ou para lançar um ataque (fê-lo uma vez, com facilidade e precisão, para David Neres na primeira parte). O pautar do jogo ofensivo de toque passou mais por Chiquinho do que pelo turco. No lado direito da defesa, João Victor foi dos mais erráticos da equipa, precipitando-se bastante no passe na construção de jogadas ainda dentro do meio-campo da equipa.
Retornado do empréstimo, Tiago Gouveia pisou relvas distintas das que deixou pegada no Estoril, mostrando-se não tanto colado a uma ala, mas a deambular entre o centro (nas costas de Tengstedt, o pouco móvel avançado dinamarquês) e a esquerda. O drible pouco lhe saiu, tal como a Andreas Schjelderup, o norueguês que tentou algumas investidas em corrida com bola que pecaram depois na decisão subsequente. E ainda provocou a parada da tarde a Gavin Bazunu, guarda-redes dos ingleses que evitou o que parecia um golo cantado (depois de um roubo de bola perto da área e de João Mário lhe passar a bola só para ele encostar).
Tomás Araújo, vindo de Barcelos e do Europeu sub-21, pouco testado foi a defender, mas denotou aqui e ali a costela que o torna um central de qualidades especiais: assumiu na saída de bola, correu com ela e até fintou a pressão de adversários. Na lateral esquerda, o jovem Rafael Rodrigues, vindo da equipa B, foi certinho.
Como começou: Samuel Soares; João Victor, Lucas Veríssimo, Morato e Mihailo Ristic; Chiquinho e Orkun Kökcü; David Neres, Rafa Silva e Fredrik Aursnes; Petar Musa.
Como acabou: Samuel Soares; Alexander Bah, António Silva, Tomás Araújo e Rafael Rodrigues; Florentino Luís e João Neves; Andreas Schjelderup, Tiago Gouveia e João Mário; Casper Tengstedt.

O melhor
Com o seu habitual diabo fintador no corpo, o endiabrado David Neres torceu a espinha ao desafortunado lateral esquerdo do Southampton durante a primeira parte, cheio de receções orientadas e fintas curtas para arranjar os espaços onde inventou quatro remates. Marcou num deles, noutros dois sacou paradas vistosas do guarda-redes. Com Di María recém-chegado, ainda a assistir das bancadas, o desequilibrador individual da época passada mostrou que mantém o faro das fintas apurado.

A banda sonora



Aturem, por favor, o seguinte raciocínio.
No Benfica órfão de um pensador de jogo descarado desde a badalada saída de Enzo Fernández no Natal passado, espera-se que seja Kökçü, médio em quem o clube rebentou o seu recorde de transferências, a assumir na bola e no campo essa responsabilidade de por ele tudo ter de passar no miolo do futebol encarnado. Ao fim de uma semana de treinos, o turco ainda não foi esse íman de jogo para demonstrar as capacidades que se lhe reconhecem. Foi, sim, o ‘velho’ Chiquinho quem mais tocou na bola e ditou coisas na primeira parte - na segunda, Florentino e João Neves pouco se destacaram ofensivamente.
Chiquinho é Francisco, que é Francis se dito em inglês, que não era originalmente o nome de nascimento de Black Francis, o vocalista e cancionista dos The Pixies com quem, já lá vão os anos, questionou onde parava a sua mente. Por enquanto, o jogo do Benfica pergunta o mesmo. A boa notícia para os encarnados é que há mais do que tempo para ela aparecer."

Vermelhão: E assim começa...

Southampton 0 - 2 Benfica


Vitória em Inglaterra, num típico primeiro jogo de pré-época, com o Benfica este ano, sem mudança de equipa técnica, e com muitos jogadores 'repetentes', mantendo assim, a filosofia de jogo, notando-se imediatamente os princípios básicos do Rogerball... mesmo com as pernas ainda longe da melhor forma!


Pequenas notas: Veríssimo bem; Kokcu não engana (falta perceber a dinâmica defensiva); Neres em forma; Rafa com espaço, já acelera; Aursnes mantém-se na esquerda; Schjelderup com muita vontade...
João Vítor, não dá para defesa-direito, senão vier mais um Lateral destro, será o Aursnes muito provavelmente a tapar o buraco!
A não utilização do Henrique Araújo é um péssimo sinal! Muito sinceramente, o Tengsted não tem metade do potencial do Henrique!

Di Maria, primeiro dia...

Grupo de trabalho "reforçado"


"A chegada de Rui Costa, Otamendi, Di María e Jurásek a Inglaterra e as declarações do Presidente do Benfica são os temas em destaque na BNews.

1. Foco no 39
O Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Rui Costa, reforça a relevância destes dias de preparação do plantel: "Acima de tudo foco total no objetivo do ano, de lutarmos pelo 39 e aqui é o ponto de partida. Vamos partir do zero, como todos os adversários diretos. Não há favoritos. Há que preparar a época da melhor maneira e temos de focar-nos nesta temporada, deixar para trás o que fizemos."
Rui Costa também abordou a temática da construção do plantel, a qual se faz "dentro de um plano de extraordinária ambição desportiva, mas de uma forma financeira muito rigorosa".

2. Trio junta-se ao plantel
Otamendi, Di María e Jurásek já se juntaram ao grupo de trabalho em Inglaterra e estão às ordens de Roger Schmidt.

3. Mais um dia de trabalho árduo
A preparação da nova época prossegue em St. George’s Park.

4. Incompreensível
O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, na sua sanha persecutória ao Benfica, entendeu que deveria suspender David Neres por um jogo devido a uma alegada provocação a adversários.
É chocante que o Conselho de Disciplina equipare essa atitude aos insultos grosseiros a uma instituição e a milhões de adeptos ocorridos no final da época anterior, cujos autores, Otávio, Fábio Cardoso, Diogo Costa e Manafá, foram suspensos na mesma medida, por um jogo.
Colocar uma picardia no mesmo patamar de insultos é profundamente errado e merecedor do repúdio do Sport Lisboa e Benfica, o qual, evidentemente, recorrerá da decisão.

5. O Benfica nunca se esquece
"É maravilhoso voltar ao Benfica, o clube do meu coração em Portugal, que vai continuar a trilhar o caminho das vitórias". Anderson, antigo jogador encarnada, em entrevista à BTV.

6. Partilha de experiências e conhecimento
Benfica e Flamengo encontraram-se, no Estádio da Luz, para conhecerem melhor a realidade de cada clube no que respeita às Casas do Benfica e às Embaixadas do Flamengo, fulcrais para ambos.

7. Calendários definidos
As equipas masculina e feminina de basquetebol do Benfica já conhecem o calendário das respetivas ligas em 2023/24."

Chupa futebol!


"David Neres não vai jogar a Supertaça com o FC Porto porque o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol decidiu castigar o extremo do Benfica com um jogo de suspensão por injúrias e ofensas à reputação de Sporting e FC Porto durante as comemorações do título de campeão nacional das águias: «Chupem lagartos, chupem tripeiros», foi o que disse a dada altura no relvado da Luz e que ficou gravado num vídeo que rapidamente se tornou viral.
Goste-se mais ou menos, termos como lagartos, tripeiros ou lampiões fazem parte do léxico do futebol português e seguramente que ninguém, no seu perfeito juízo, os considera ofensivos. Provocatórios, sim, depreciativos, sim, mas em ambos os casos com a dose certa de sal e pimenta que faz parte da rivalidade, seja em Portugal, em Inglaterra ou no Botswana. Terá sido então o «chupem», que como se sabe tem o sentido de ‘tomem lá’? Custa a acreditar.
Ninguém pode negar que Neres foi deselegante no que disse e que o momento que protagonizou foi escusado, mas só alguém altamente condicionado por uma qualquer ‘obrigatoriedade de coerência à força’ pode achar que o jogador foi ofensivo para com Sporting e FC Porto e merecedor de um jogo de castigo, seja qual for esse jogo.
Sim, quatro jogadores do FC Porto foram castigados há um ano, também com um jogo de suspensão, por cânticos contra o Benfica durante as comemorações do título 2021/2022, mas na altura Otávio, Fábio Cardoso e Manafá cantaram «filhos da p… SLB» (Diogo Costa também insultou o Benfica mas noutro contexto durante a festa), o que não é bem o mesmo do que se tivessem cantado, gritado ou dito «Chupem lampiões». Ou é?
Mais: Depois da despromoção do árbitro Vítor Ferreira, que tinha sido ameaçado pelo engenheiro Luís Gonçalves, e depois do castigo de David Neres, que o FC Porto tanto desejava (mas nem precisou de apresentar queixa), o que se segue?
Vou recuperar aqui aquela velha história: uma senhora entra no autocarro e ao não ter lugar para se sentar manda indireta para o ar, dirigida a um senhor que se encontrava sentado: «Já não há cavalheiros!» Ao que o senhor reagiu: «Cavalheiros há, lugares é que não!» Pois bem, no futebol português há disciplina, vergonha é que não. Chupa futebol!"

Parcial e enviesado...


"A decisão de aplicar uma suspensão a Neres no jogo da Supertaça de Portugal, abre um precedente sem igual. Bastará para isso recordar, a quantidade vezes, que as "chalaças" foram usada por Pinto da Costa, e seus pares, para falar do Benfica.
Veremos que castigos serão aplicados cada vez que se falar no "salão de festas" da Luz. Já para não falar das ofensas semanais aos adeptos do SL Benfica em jogos fora de casa, inclusive por speakers de jogo.
A comparação desta situação com as passadas com jogadores do FC Porto é abjecta e irresponsável. Só demostrando aquilo que já todos sabemos. Que o CD da Seleções de Portugal é parcial e enviesado.
Bem o Sport Lisboa e Benfica ao recorrer da decisão."

Telepatas?!!!


"Os especialistas da especialidade dos canais de televisão, continuam na sua demanda persecutória para tentarem, fora de campo, aquilo que os seus clubes não conseguem dentro das quatro linhas.
Se já não bastava um Camelo com profecias, vaticínios e prognósticos que acontecem sempre completamente ao contrário, agora temos um ex-assalariado do SL Benfica - que mais não demonstra do que dor de cotovelo e azia - a tentar encontrar situações menos agradáveis, onde elas não existem.
António Manuel Bernardo , e bem, não deixou passar em claro, no Benfica 10h de hoje, na BTV.
São todos farinha do mesmo saco. Neste caso, um Farinha, que até foi corrido dos encarnados por ser um dos bufos do clube."

Exames esverdeados!!!


"Imaginem um clube presidido por um médico arranjar a desculpa de que o jogador tinha uma falsa lesão para abortar o negócio. É o presidente do Sevilha que diz que não tinha lesão nenhuma e que o Sporting abortou o negócio porque não houve acordo. Não percam o próximo episódio. 🍿"

A época já se joga fora das 4 linhas, como avisámos


"Durante anos os jogadores do FC Porto chamaram “filhos da puta” aos benfiquistas e levantaram, com orgulho, cachecóis a dizer “Benfica é merda”. Nunca foram castigados. Este é um Conselho de Disciplina ao serviço do FC Porto, e que já não tem qualquer pudor em escondê-lo.
Preparados para tudo. Nem assim nos vão derrotar."

Os 3 melhores golos de Di María no SL Benfica


"Craque argentino regressa ao SL Benfica e recordamos os seus melhores golos durante a sua primeira passagem pela Luz.

A espera foi longa. Demasiado longa, mas, finalmente, ele aí está. 13 anos depois de ter saído do SL Benfica para rumar ao Real Madrid FC e dar um passo de gigante na sua carreira, Angel Di María está de regresso aos encarnados. A apresentação do extremo de 35 anos foi feita junto do Estádio da Luz, perante uma multidão de adeptos que ansiava há muito por este momento, tal como ele, pois sempre teve um enorme carinho pelo clube, e em alguns momentos da carreira manifestou o desejo em voltar a vestir o manto sagrado. Desejo cumprido.
Muita coisa aconteceu na vida de Di María após sair de Portugal para mostrar todo o seu talento. Jogou sempre em alguns dos melhores clubes europeus e ganhou títulos atrás de títulos, com a cereja em cima do bolo a ser a conquista do Mundial pela seleção da Argentina no final do ano passado. Com 35 anos já não é o jovem endiabrado que fazia parecer os defesas a atuar em câmara lenta, mas a classe está toda lá e, acima de tudo, há uma coisa que agora vai ter no SL Benfica e antes não tinha. Experiência. Muita experiência e maturidade que pode transmitir aos mais novos do plantel.
Di María ingressou no SL Benfica na época 2007/2008, mas foi com a chegada de Jorge Jesus ao comando técnico dos encarnados em 2009, que explodiu em definitivo. Marcou, assistiu, foi campeão nacional e fez exibições de encher o olho, ao ponto do Real Madrid FC não ter resistido ao tango que o jogador argentino “dançou” nos estádios portugueses, levando-o de imediato para o Santiago Bernabéu. O resto é história. Nas três temporadas de águia ao peito, marcou 15 golos, alguns deles impossíveis de serem esquecidos. Confira em baixo os três melhores golos de “El Fideo” na sua primeira passagem por Lisboa.


3. SL Benfica 4-1 SC Olhanense – 2008/2009 – Jogava-se a fase de grupos da Taça da Liga e o SL Benfica recebia o SC Olhanense. Um encontro que ficou marcado por um convidado muito especial no Estádio da Luz.
Diego Armando Maradona, Deus na Argentina, assistiu na tribuna à vitória dos encarnados por 4-1, mas estava longe de imaginar que iria presenciar um momento muito especial. Aos 64 minutos e com a partida praticamente resolvida, o treinador Quique Flores decide fazer entrar Di María.
O extremo argentino sabia que estava a ser observado por “El Pibe”, e talvez por isso se tenha inspirado nele no golo que marcou já mesmo a terminar o jogo, ao tirar um adversário do caminho e a picar a bola com toda a classe por cima do guarda-redes Bruno Veríssimo. Um momento que Maradona aplaudiu e que Di María certamente jamais esquecerá.


2. SL Benfica 3-2 FC Paços de Ferreira – 2008/2009 – SL Benfica e FC Paços de Ferreira encontraram-se na 18.ª jornada do Campeonato Nacional. Vitória dos encarnados num jogo em que os pacenses ainda chegaram a sonhar com o empate no último quarto de hora.
Com o resultado em 2-1 a quatro minutos do fim, as águias beneficiaram de um lançamento lateral na meia direita. David Luiz fez o arremesso na direcção de Di María e este, com a bola ainda a saltar à sua frente, desferiu um potente remate de fora da área, que só acabou no fundo da baliza. Um grande golo que terminou com as esperanças dos castores em pontuar na Luz.


1. SL Benfica 2-1 AEK FC – 2009/2010 – A primeira edição do Prémio Puskas, troféu que distingue o melhor golo do ano, foi em 2009, mais precisamente no dia 21 de Dezembro. Quatro dias antes, Di María marcou aquele que facilmente poderia estar entre os candidatos ao prémio, e muito provavelmente até vencer.
Tudo aconteceu na última jornada da fase de grupos da Liga Europa, no desafio com os gregos do AEK FC. O jogador argentino bisou na partida, mas foi o segundo tento a entrar para a galeria dos melhores da história do SL Benfica. Sempre em corrida, tirou um adversário da frente com um túnel delicioso, e à saída do guarda-redes, rematou de letra para levar à loucura os milhares de adeptos presentes no Estádio da Luz.
Um golo inesquecível de um jogador fantástico que agora regressa aquela que foi sempre a sua primeira casa."

À atenção dos treinadores, jogadores e adeptos do Tramagal Sport União


"Desmond Morris deu-me uma pista para a minha ‘teoria da conspiração’. Os treinadores de futebol, quiseram valorizar o seu trabalho, fazendo dos jogadores uma espécie de ‘matraquilhos’...

Quando, há muitos anos, procurei relançar o atletismo em Tramagal, ganhei fama de não gostar de futebol. Agora, 65 anos passados, nas comemorações do centenário doTramagal Sport União (TSU), prometi explicar porque gosto de futebol, do futebol da minha meninice, do futebol que as equipas do Sporting jogavam nos anos 40 e 50 do século passado com a tática do WM em que ainda jogaram os 5 violinos e de quem eu talvez seja o último espetador vivo.
No início, ou reinício do jogo, cinco dos jogadores de cada equipa eram atacantes: três mais avançados, (o extremo direito, o avançado-centro e o extremo esquerdo) e dois mais recuados, ladeando o avançado-centro (o interior direito e o interior esquerdo), que ajudavam a construir jogadas de ataque e, caso necessário, ajudavam os defensores a roubar a bola aos adversários.
Os outros cinco eram defensores, dois médios e três defesas, que procuravam evitar que fossem sofridos golos na sua baliza, ‘marcando’ individualmente, por perto, os jogadores adversários que entravam no seu meio-campo.
Graficamente, os jogadores estavam, no início e reinícios do jogo, nos vértices e nas extremidades de um W e de um M, daí o nome WM desta tática. Atualmente seria o 3x2x2x3.
Era considerada muito importante a qualidade dos jogadores do ‘quadrado mágico’, formado pelos interiores e médios.
Há um princípio fundamental, nesta maneira de jogar.
Só ganha um jogo a equipa que marcar mais golos, por isso:
1. Devem ser treinadas jogadas de ataque que levem a bola o mais rapidamente possível para perto da baliza adversária.
No Futebol Moderno (FM) a preocupação dominante é manter a posse de bola, até que surja uma ‘linha de passe’ que permita uma jogada de ataque. Para quem não acredita em milagres, o melhor será marcar o adversário perto dele para evitar passes para o lado ou para trás, que só fazem perder tempo.
2. A assistência ao jogador mais bem colocado para tentar o golo deve ser feita da frente para trás, porque facilita a receção da bola e o remate vitorioso.
É o erro mais frequente no FM. Só a fuga pelos lados e o centro atrasado para o rematador, permite a este ver, ao mesmo tempo, a bola, a baliza e o adversário que o pode estorvar. Também diminui o risco de se incorrer em fora-de-jogo.
3. Quando houver necessidade de uma equipa marcar golos rapidamente, as jogadas de ataque devem começar no seu campo, para evitar a aglomeração de muitos jogadores em frente da baliza adversária.
4. O remate à baliza deve ser treinado intensamente, por todos os jogadores, com a bola parada, em corrida, de diversas distâncias, com os pés e com a cabeça.
Hoje não há rematadores como havia nos anos 30, 40 e 50. Não é só saudosismo, veja-se, em cada jogo, o número total de remates, o número de remates enquadrados com a baliza e os falhanços incríveis dos avançados. Mas para os treinadores e comentadores parece que só os ‘frangos’ dos guarda-redes são importantes.
5. Os cantos devem ser treinados e marcados de diversas maneiras mas sempre com a intenção de colocar a bola fora do alcance do guarda-redes.
No FM, a regra geral é o canto ser marcado mais ou menos paralelo à linha de fundo, para convidar a um remate de cabeça. Permite, no entanto, demasiadas vezes a interceção do guarda-redes.
Pode perguntar-se: Se o FM tem estes vícios todos, porque é que as táticas conhecidas por 343, 442, 433, 4321, etc... são adotadas em todo o mundo e ensinadas a todos os jovens jogadores?
Desmond Morris deu-me uma pista para a minha ‘teoria da conspiração’. Os treinadores de futebol, quiseram valorizar o seu trabalho, fazendo dos jogadores uma espécie de ‘matraquilhos’, sujeitando-os a instruções que lhes permitissem, a eles treinadores, passarem a ideia que eram eles que ganhavam jogos e campeonatos, sendo por isso merecedores de ganhar famas e proveitos, como os jogadores ganham!
Pela Verdade, A bem da Nação e do Tramagal Sport União, Unidos Venceremos!"

Bem-vindos ao EK194, o voo que vai arquivar a utopia


"Dizia-me um amigo outro dia que foi a um concerto e que à frente dele estava um homem com o telefone sintonizado no Portugal-Ucrânia, o tal que movimentou mais de 20 mil pessoas para o Estádio do Bessa. Não me lembro qual era a banda sonora, mas presumo que o recital de Jéssica Silva tenha sido agradável até num pequeno ecrã.
Parecia, mais do que o derradeiro teste para o primeiro Campeonato do Mundo da história portuguesa, uma celebração do futebol jogado por mulheres no nosso país. As bancadas, repletas de famílias e canalha, estavam vestidas de pessoas despidas de preconceitos, havia bandeiras, cantorias, gritos, miúdas e miúdos cheios de encantos pelas jogadoras. O selecionador Francisco Neto, inovando no desenho tático, até passou a mensagem de que aquele era realmente um particular útil para adicionar outras camadas à maquinaria lusitana – já o tinha prometido numa entrevista à Tribuna Expresso –, mas o que elas transmitem é maior do que o que têm de fazer.
“Dá-me mais gozo ver um jogo delas do que a maioria dos jogos dos homens”, disse-me outro amigo nesse outro dia. Longe de ser um mago da tática e das ideologias futeboleiras, o Duarte comentava que via nelas a vontade e o prazer de jogar. No fundo, arrisco eu, o que aproxima o povo. Depois, continuou a beber cerveja. Que certeiro. Vejo o mesmo, é como se a sombria versão do profissionalismo ainda não tivesse devorado o que é amador (ou a verdade). Jogam como nós, os que só gostamos de jogar, jogariam. Kika, que nem pisou o lado certo do relvado nessa noite, é tudo o que uma criança ou um adulto com boa memória da infância pode desejar ser. Jéssica Silva, livre como o vento, é um acordo de paz diário com a modalidade. Andreia Norton concorda com as travessuras e assina umas quantas da sua autoria. E nesse tipo de poesia há sempre o anjo silencioso: Andreia Jacinto, obviamente. Artistas.
Gente como Ana Borges, Carole Costa e Dolores Silva representam a serenidade e a responsabilidade. No campo e, seguramente, fora dele. Viveram outros tempos do futebol feminino em Portugal, jogaram com outras mais velhas que lhes contaram como era antigamente. Conheceram a terra que cuspia pó debaixo dos dentes das chuteiras. Sabem de cor como escorre o desdém e a ignorância de tantos. Ouviram relatos daquele hiato de 10 anos em que a seleção, como se fosse um capricho dos cartolas, foi cancelada. Tiraram-lhes o futebol, aquele futebol, por isso qualquer comparação é inútil ou desonesta. Agora que estão a viver o que lhes foi sonegado e é devido, falta também encherem o peito de ar e exigirem muito ou tudo. A gratidão não tem lugar, nada têm de agradecer por serem boas no que fazem. É uma profissão e o que conquistarem hoje, no campeonato das dignidades e dos direitos, será o chão que vão pisar as Julietas, as Marias Teresas, as Isabelas, as Madalenas e as Ineses de amanhã.
Depois de uma visita ao Palácio de Belém e de mais um treino, as futebolistas da seleção nacional vão entrar no avião que as vai levar para o outro lado do mundo. Vão viver o que muitas delas nem sonharam. Não era sequer ficção científica há uns tempos, era ainda menos improvável do que o que pertence à impossibilidade, era um filho esquecido de uma utopia. Lá vão elas no EK194 e nós, esperançosos como a imaginação de uma criança, vamos com elas."

Sísifo no Desporto Português – III. O eufemismo dos melhores resultados de sempre



"O Programa de Preparação Olímpica está a despender recursos que fazem falta ao desporto de base que deve alimentar o alto rendimento.

Depois das três medalhas nos Jogos Olímpicos (JO) de Atenas (2004), de duas medalhas nos JO de Pequim (2008), de uma medalha de prata nos JO de Londres (2012), de uma medalha de bronze nos JO do Rio (2016) e de três medalhas nos JO de Tóquio (2021) o que, mais uma vez, se esperava da inteligência desportiva nacional era uma avaliação ampla, profunda e independente do Programa de Preparação Olímpica (PPO) no quadro do desenvolvimento do desporto português. Todavia, a dita inteligência, depois de cada Ciclo Olímpico (CO), limitou-se a atirar com mais burocracia e dinheiro para cima dos problemas na esperança de esquecer o passado e imprimir a máxima velocidade à organização do futuro. Ora, como refere Kundera, quando as coisas acontecem depressa demais ninguém pode ter a certeza de nada nem de coisa nenhuma. Porque, se a lentidão é diretamente proporcional à memória, a velocidade é diretamente proporcional ao esquecimento. Por isso, quando Constantino o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), ainda sob os efeitos do “jet lag”, disse que nos JO de Tóquio (2021), foram obtidos os “melhores resultados de sempre” (Tribuna Expresso, 2021-08-08) ficamos na dúvida se ele se esqueceu do passado porque vai muito depressa ou vai muito depressa para se esquecer do passado.
Um dos maiores dramas do desporto nacional, que se reflete em todos os desportos de A a Z passando pelo F de futebol, é a incapacidade congénita de as suas lideranças refletirem sobre o passado, avaliarem o presente e prospetivarem o futuro. Consequentemente, a solução para todo e qualquer problema tem sido atirar-lhe cada vez com mais burocracia e mais dinheiro para cima na esperança da sua resolução por obra e graça dos deuses do Olimpo. E, assim, desde finais dos anos noventa, para além da prática desportiva de base, numa estuporada visão elitista das políticas públicas, ter diminuído, pelo menos, um ponto percentual, a participação de Portugal nos JO, numa opção quantitativa, demagógica e popularucha, nunca passou da miséria e vil incompetência dos últimos lugares do ranking dos países.
O desporto nacional está a ser consumido pela velocidade dos acontecimentos e de tal maneira que, hoje, já ninguém quer saber para onde o estão a conduzir uma vez que todos querem chegar o mais depressa possível nem que seja a lado nenhum, como são “os melhores resultados de sempre”. E a metáfora passou a fazer parte da novilíngua desportiva num país que tem as mais baixas taxas de prática desportiva da União Europeia (UE) pelo que os seus dirigentes, perante a abolia das estruturas político-administrativas, dedicam-se ao negócio de importação de atletas de África, da América Latina ou do Oriente a fim de, sem qualquer pudor, suprirem as necessidades das equipas desportivas que representam Portugal nos eventos desportivos internacionais.
O CO de Tóquio (2020) decorreu sob o mantra da continuidade de um processo que tem vindo sistematicamente a falhar. E, mais uma vez, foram selecionados 92 atletas a fim de competirem em 17 desportos. A Missão Olímpica, foi chefiada não por um dirigente desportivo, mas por um funcionário do COP. Tal facto, contra a tradição que vinha dos JO de Estocolmo (1912), se, por um lado, significou, para quem o quis entender, um atestado de incapacidade à generalidade dos dirigentes desportivos, por outro lado, perdeu-se uma avaliação independente, eventualmente a única, assinada por um dirigente desportivo, como foram os casos de Mário Santos relativamente aos JO de Londres (2012) e de José Garcia relativamente aos JO do Rio (2016).
Em Tóquio conquistaram-se três medalhas: Patrícia Mamona, Prata/Triplo salto; Fernando Pimenta, Bronze/Canoagem; e Jorge Fonseca, Bronze/Judo. Não se considera a medalha do português Pablo Pichardo na medida em que se trata de um produto do desporto cubano. Ana Oliveira, funcionária superior do SL Benfica (A Bola, 2021-08-14), explicou: “Quando metemos os papéis, o Pedro tinha o direito de asilo político, como qualquer pessoa nas circunstâncias dele. Mas atendendo ao valor desportivo dele e ao interesse nacional que o COP invocou na carta que o José Manuel Constantino nos deu, não foi necessário ir por aí, pelo asilo…”. Portanto a naturalização de Pichardo foi por motivos desportivos. E porquê?
Porque, certamente, a naturalização através de um pedido de asilo político demoraria mais tempo e seria difícil de provar uma vez que, segundo a comunicação social, a decisão de Pichardo nada teve de político, fincando-se somente a dever a um conflito de ordem técnico-organizacional com a Federação Cubana de Atletismo. Mas, para o Presidente do COP, a situação era dramática. Depois do “flop” do Rio (2016), perante o insucesso previsível em Tóquio (2020), a naturalização de Pichardo (e de outros atletas estrangeiros) surgia como uma dádiva dos deuses do Olimpo. E Pichardo era especial, uma vez que chegava a Portugal praticamente já com a medalha olímpica ao peito. Obteve a nacionalidade portuguesa em dezembro de 2017, no entanto, a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) só lhe reconheceu a nacionalidade portuguesa a 1 de agosto de 2019, quer dizer, a um ano da data programada para o início dos JO de Tóquio (2020).
As judocas Bárbara Timo e Rochele Nunes, duas atletas brasileiras de alto nível, também conseguiram a nacionalidade portuguesa em cima da hora (GloboEsporte.com 14/01/2019). Ambas conquistaram um 9º lugar em Tóquio, contribuindo para aumentar o número de atletas classificados até ao 16º lugar. Outra atleta que veio ajudar a mitigar a posição do Presidente do COP foi Auriol Dongmo (Atletismo/peso). Nascida nos Camarões em 1990, quando chegou a Portugal já trazia um currículo desportivo de significativo valor uma vez que, entre outros eventos, já tinha representado os Camarões no Campeonato Mundial de Atletismo (2015) e nos JO do Rio (2016). Auriol obteve a nacionalidade portuguesa em outubro de 2019, que lhe foi reconhecida pela IAAF a 26 de julho de 2020, isto é, em vésperas da data prevista para o JO de Tóquio (2020). Por isso, os cinco pontos e o respetivo diploma que a atleta conquistou em Tóquio (2021), em boa verdade, pertencem aos Camarões. Hoje, não restam dúvidas de que Pichardo, Auriol, Bárbara e Rochele são portugueses. Por isso, não se trata de saber se os atletas nasceram em Portugal ou se, sendo refugiados ou imigrantes, são, por cá, bem recebidos. Trata-se de saber se as naturalizações não passam de um expediente para superar políticas públicas medíocres e dirigentes fracassados. Porque, quando a formação desportiva é realizada em Portugal como aconteceu, por exemplo, com Francis Obikwelu ou Nelson Évora até é um orgulho para o desporto português. Pelo contrário, nos JO de Tóquio (2021) obtiveram-se resultados de significativo valor que não faziam parte do desporto português.
Quando Henrique Monteiro (Expresso, 2021-08-13) escreveu “o homem embrulha-se na bandeira nacional, canta ‘A Portuguesa’, ganha ouro nas Olimpíadas em nome de Portugal, tem cá a família, é do clube de seis milhões (diz o Benfica) de portugueses e ainda há quem não o considere português” limita-se a virar o problema do avesso. Parafraseando Saramago quando disse qualquer coisa como o prémio é de todos, mas o dinheiro é meu, é necessário que também se diga que Pichardo, Auriol, Bárbara e Rochele são portugueses, mas os resultados que conseguiram nos JO de Tóquio (2021) pertencem ao desporto dos seus países de origem.
Entretanto, o Presidente do COP, numa conferência de imprensa de balanço dos Jogos de Tóquio (2021), em causa própria, permitiu-se afirmar: “Todas as metas foram superadas. (…) É um facto que os resultados alcançados são os melhores de uma representação nacional” (Público, 2021-08-08). E os portugueses, através da comunicação social que embandeirou em arco, foram sujeitos a uma “lavagem cerebral” a fim de serem convencidos de que se tinham conseguido “os melhores resultados de sempre” nuns JO. Todavia, em termos absolutos e sem demais explicações, afirmar que em Tóquio (2021) foram conseguidos os melhores resultados de sempre só serve para “entreter a burguesia”.
Se em termos comparativos olharmos para os resultados dos JO de Tóquio (2021), se do ponto de vista nacional ficaram longe de terem sido os melhores de sempre, do ponto de vista internacional ficaram bem atrás de países com condições sociais, económicas e desportivas bem piores do que as portuguesas.

1 – Numa relação entre o número de desportos e o de medalhas a melhor performance aconteceu em Montreal (1976) onde foi conseguida um rácio de três desportos por medalha. Em Tóquio, o rácio foi de 5,6 desportos por medalha:
- Montreal (1976): 6 desportos / 2 medalhas = 3 desportos por medalha;
- Los Angeles (1984): 11 desportos / 3 medalhas = 3,6 desportos por medalha;
- Atenas (2004): 15 desportos / 3 medalhas = 5 desportos por medalha;
- Pequim (2008): 16 desportos / 2 medalhas = 8 desportos por medalha;
- Tóquio (2021): 17 desportos / 3 medalhas = 5,6 desportos por medalha.
Não foi por se aumentar o número de desportos de 6 para 17 que se conseguiu um correspondente aumento de medalhas. Aumentar o número de desportos, sem uma justificação estratégica bem firme no quadro do desenvolvimento do desporto nacional, para além de ser um desperdício de recursos, como acontece com as participações portuguesas nos JO de Inverno ou, agora, nos Jogos Europeus (2023), significa uma absurda decisão em matéria de políticas públicas para o desporto. A pior relação entre o número de desportos por medalha aconteceu nos JO do Rio (2016) e nos JO de Tóquio (2021). Portugal leva aos JO equipas, pelo menos, três vezes maiores do que aquelas que devia levar.

2 – Quanto ao número de atletas por medalha o rácio de cada edição dos JO no período que decorre de 1976 a 2021 sofreu um aumento de 9,5 atletas por medalha para 26 atletas por medalha. Especificando temos:
- Montreal (1976): 19 atletas, 2 medalhas (0,2,0): 9,5 atletas por medalha;
- Los Angeles (1984): 39 atletas, 3 medalhas (1,0,2): 12,6 atletas por medalha;
- Atenas (2004): 81 atletas, 3 medalhas (0,2,1): 27 atletas por medalha;
- Pequim (2008): 77 atletas, 2 medalhas (1,1,0): 38,5 atletas por medalha.
Note-se que o quarto lugar no desporto da vela de Gustavo Lima (laser) em Pequim (2008) é idêntico ao 3º lugar de Jorge Fonseca no Judo em Tóquio. Sem menosprezo para com os atletas uma medalha de bronze no judo, contrariamente à generalidade dos desportos, pode significar um quarto lugar na medida em que no judo se apuram dois terceiros lugares não havendo, por isso, em termos formais, um quarto lugar. Nestas circunstâncias, Pequim (2008) supera Tóquio (2021) devido à medalha de ouro de Nelson Évora. Acresce que o rácio de Pequim (2008) passa a ser de 25,6 atletas por medalha;
- Tóquio (2021): 92 atletas 3 medalhas: (0,1,2): 30,6 atletas por medalha.
Portanto, Tóquio não supera Montreal (1976), Los Angeles (1984), Atenas (2004) e, nas circunstâncias descritas, Pequim (2008). Não vale a pena formar grandes equipas nacionais na esperança de ganhar mais medalhas. Ganhar uma medalha nos JO com uma equipa olímpica de mais de noventa atletas e outros tantos técnicos, administrativos e dirigentes, para além de incompetência revela falta de pudor. Desde logo porque a máxima olímpica é Mais Rápido, Mais Alto, Mais Forte, não é mais lento, mais baixo, mais fraco. E, por isso, insistimos, Portugal leva aos JO equipas, pelo menos, três vezes maiores do que aquelas que devia levar.

3 – O número de atletas classificados até à 8ª posição (do 1º ao 8º) e até à 16ª (do 1º ao 16º) de Sydney (2000) a Tóquio (2020) foi a seguinte:
- Sydney (2000): 61 atletas, 8 (13%) até ao 8º lugar e 21 (34,4%) até ao 16º;
- Atenas (2004): 81 atletas, 10 (12%) até ao 8º lugar e 14 (17%) até ao 16º;
- Pequim (2008): 77 atletas, 6 (8%) até ao 8º lugar e 9 (12%) até ao 16º;
- Londres (2012): 77 atletas, 9 (12%) até ao 8º lugar e 20 (26%) até ao 16º;
- Rio (2016): 92 atletas, 9 (10%) até ao 8ª lugar e 18 (20%) até ao 16º;
- Tóquio (2020): 92 atletas, 13 (14%) até ao 8º lugar e 31(32,6%) até ao 16º.
Pelas razões já esclarecidas, relativamente a Tóquio (2021), até ao oitavo lugar foram expurgados os resultados de Pablo Pichardo (atletismo) e Auriol Dongmo (atletismo). E até ao 16º lugar foram expurgados os resultados de Pablo Pichardo (atletismo), Auriol Dongmo (atletismo), Bárbara Timo (judo), Rochele Nunes (judo), Luciana Diniz (equestre) e Antoine Launay (Canoagem). Nesta conformidade, o número de atletas classificados até à 8ª posição em Tóquio (2021) é um ponto percentual superior ao de Sydney (2000). Mas, até ao 16º lugar, enquanto Sydney (2000) consegue colocar 34,4% dos atletas, Tóquio (2021) fica nos 32,6%. Acresce que, o surpreendente e extraordinário 5º lugar de Yolanda Hopkins Sequeira (surf), nada tem a ver com o PPO ou com o processo de desenvolvimento do desporto nacional, antes pelo contrário. Fica-se, sobretudo, a dever às especificidades do desporto do surf, às virtualidades da atleta, ao empenho da federação, à competência do treinador e ao envolvimento da família. Nestas circunstâncias, é possível especular que os resultados até ao oitavo lugar Tóquio (2021) não superaram os de Sydney (2000). Quanto ao futuro, sem grandes expectativas, veremos quais as eventuais repercussões que o resultado da Yolanda terá no surf nacional. Relativamente ao número de atletas classificados até à 16ª posição, Tóquio (2021) também não consegue superar o resultado de Sydney (2000), mesmo com mais 31 atletas e mais do dobro do dinheiro.

4 – Relativamente ao somatório dos pontos dos atletas classificados até ao 8º lugar os 44 pontos de Tóquio (2021) com 92 atletas não superam os 44 pontos de Atenas (2004) conseguidos com 61 atletas.
- Atenas (2004): 44 pontos para 81 atletas: 0,5 pontos por atleta;
- Pequim (2008): 28 pontos para 77 atletas: 0,3 pontos por atleta;
- Londres (2012): 28 pontos para 77 atletas: 0,3 pontos por atleta;
- Rio (2016): 40 pontos para 92 atletas: 0,4 pontos por atleta;
- Tóquio (2021): 44 pontos para 92 atletas: 0,4 pontos por atleta.
Não vale a pena, no “espírito do lá vamos cantando e rindo”, continuar-se a apostar na quantidade das equipas nacionais em prejuízo da sua qualidade. Porque, para além de se estarem a proporcionar férias desportivas à conta dos contribuintes, o dinheiro disponível do OE para o desporto acaba por não chegar a quem mais necessita. Com políticas concertadas com os vários sectores económicos e sociais que alarguem a base de prática e de recrutamento, para além de se cumprir um princípio de justiça social num país que tem 4 milhões de cidadãos em risco de pobreza, conseguiam-se muito melhores atletas e muito melhores resultados. Por isso, voltamos a insistir, Portugal leva aos JO equipas, pelo menos, três vezes maiores do que aquelas que devia levar.

5 – O custo das medalhas de cada uma das edições dos JO foi o seguinte:
- Sydney (2000): 8,9 M€ para 2 medalhas = 4,45 M€ por medalha;
- Atenas (2004): 10,9 M€ para 3 medalhas = 3,6 M€ por medalha;
- Pequim (2008): 14 M€ para 2 medalhas = 8 M€ por medalha;
- Londres (2012): 15,1 M€ para 1 medalha = 15,1 M€ por medalha;
- Rio (2016): 16 M€ para 1 medalha = 16 M€ por medalha;
- Tóquio (2020): 18,5 M€ para 3 medalhas = 6,1 M€ por medalha.
Num período praticamente sem inflação as três medalhas conseguidas nos JO de Tóquio (2021) custaram quase o dobro das três medalhas dos JO de Atenas (2004). O PPO está a despender recursos que fazem falta ao desporto de base que deve alimentar o alto rendimento de onde se conclui que Portugal, na demagogia do “lá vamos cantando e rindo”, leva aos JO equipas, pelo menos, três vezes maiores do que aquelas que devia levar.

6 – Se a comparação entre as últimas seis edições dos JO deixa os responsáveis numa situação bem desconfortável, se observarmos a posição de Portugal no quadro dos países da UE percebe-se, ainda melhor, a mediocridade do PPO que, pelos recursos que consome, a burocracia que produz e os fracos resultados que alcança, acaba por prejudicar o natural desenvolvimento do desporto nacional.

7 – Se considerarmos a relação número de atletas por medalhas numa comparação entre vários países da UE a situação é a seguinte:
- Áustria: 75 atletas para 7 medalhas – 10,71 atletas por medalha;
- Bélgica: 121 atletas para 7 medalhas – 17,2 atletas por medalha;
- Bulgária: 42 atletas para 6 medalhas – 7 atletas por medalha;
- Chéquia: 115 atletas para 13 medalhas – 10,5 atletas por medalha;
- Dinamarca: 108 atletas para 11 medalhas – 9,81 atletas por medalha;
- Eslovénia: 51 atletas para 5 medalhas – 10,6 atletas por medalha;
- Finlândia: 30 atletas para 2 medalhas – 15 atletas por medalha;
- Grécia: 83 atletas para 4 medalhas – 20,75 atletas por medalha;
- Hungria: 166 atletas para 20 medalhas – 8,3 atletas por medalha;
- Países Baixos: 278 atletas para 36 medalhas – 7,72 atletas por medalha;
- Portugal: 92 atletas para 3 medalhas – 31 atletas por medalha;
- Roménia: 101 atletas para 4 medalhas – 25,25 atletas por medalha;
- Suécia: 134 atletas para 9 medalhas – 14,88 atletas por medalha.
A situação portuguesa com 31 atletas por medalha é, simplesmente, absurda se comparada, por exemplo, com a da Hungria com 7,72 atletas por medalha ou da Bulgária 7 atletas por medalha. Acresce que, enquanto a Hungria, em Tóquio (2021), fez 235 pontos até ao oitavo (1,39 pontos por atleta), Portugal, que leva aos JO equipas, pelo menos, três vezes maiores do que aquelas que devia levar, fez 40 pontos até à 8ª posição o que significa 0,43 pontos por atleta.

8 – Quando os dirigentes políticos e desportivos dizem pretender melhorar ou aumentar o nível desportivo do país, uma vez que este conceito parte de uma relação eurítmica entre a prática desportiva de base e o alto rendimento, torna-se necessário apurar a prática de base do desporto nacional. Segundo o Eurobarometer (2022) a situação portuguesa é, simplesmente, catastrófica: (1º) 73% dos portugueses com mais de quinze anos de idade diz não praticar qualquer atividade física ou desportiva. Trata-se de um aumento de 9 pontos percentuais relativamente aos dados do Eurobarometer (2014). É o pior resultado entre os vinte e sete países da UE; (2º) Só 22% dos portugueses dizem ter uma prática de atividade física e desportiva “regular” ou “com alguma regularidade” o que representa uma quebra percentual de 4 pontos relativamente aos dados do Eurobarometer (2018) e 11 pontos relativamente ao Eurobarometer (2010).

9 – Portugal, a Roménia e a Polónia foram os únicos países que, de 2010 a 2022, involuíram no que diz respeito à prática de atividade física e desportiva:
- Bulgária evoluiu de 13% para 21%;
- Chéquia evoluiu de 28% para 44%;
- Eslováquia evoluiu de 30% para 35%;
- Grécia evoluiu de 18% para 25%;
- Hungria evoluiu de 23% para 26%;
- Itália evoluiu de 29% para 34%;
- Letónia evoluiu de 27% para 39%;
- Polónia involuiu de 25% para 23%;
- Portugal involuiu de 33% para 22%;
- Roménia involuiu de 21% para 20%.
Se, de Sydney (2000) a Tóquio (2021), a afetação de recursos públicos para o PPO aumentou mais do dobro, em contrapartida, o número de medalhas em cada edição dos JO nunca ultrapassou as de Los Angeles (1984) ou de Atenas (2004). E como os recursos do Orçamento de Estado para o desporto eram, são e serão sempre limitados, a prática desportiva de base, nos últimos dez anos, decaiu 11 pontos percentuais, estando, atualmente, ao nível dos anos noventa. Quer dizer, o PPO, devido à obsessão por medalhas olímpicas não sustentadas numa prática desportiva de base estabilizada, pelo menos, acima dos 35% da população, desencadeou um círculo vicioso: como, por um lado, se despendem, inutilmente, num PPO recursos escassos, por outro lado, faltam recursos à prática desportiva de base através do apoio aos pequenos e médios clubes enquanto entidades que sustentam o desporto nacional. Em consequência, à falta de prática desportiva de base, as nomenclaturas começaram a recorrer à contratação e naturalização de atletas estrangeiros a fim de integrarem as seleções nacionais.

Entretanto, sem que se conheça uma qualquer avaliação competente e independente, o pedregulho que é o PPO já está a rolar montanha acima em direção aos JO de Paris (2024). Teve um ponto alto no passado mês de outubro (2022) quando, numa cerimónia pública realizada no Estádio Nacional, num dos habituais rituais de iniciação ao culto de uma certa masculinidade tóxica a que a tutela é regularmente sujeita, para além dos habituais discursos cor-de-rosa, foram anunciados os objetivos e os recursos a disponibilizar pelo Estado para o PPO (Paris 2024). E Ana Catarina Mendes, a Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares do XXIII Governo que também tutela o desporto, tal qual “Alice no País das Maravilhas”, ignorando os olímpicos desaires do passado e uma das mais medíocres taxas de prática desportiva entre os países da UE, informou que o Governo, sob a Síndrome do Concorde, digo eu, procedeu a um reforço financeiro da preparação olímpica de quase 9% relativamente à verba do Ciclo Olímpico anterior. E ficámos a saber que, numa linha de medíocre continuidade, o PPO para Paris (2024), a um custo de 22 M€, aponta para os seguintes objetivos: levar à volta de 90 atletas aos JO para competirem em 17 ou 18 desportos e em mais de 60 eventos a fim de se ganharem 4 medalhas, 15 classificações até ao 8º lugar e 36 resultados entre os 16 primeiros. E um órgão de comunicação social, completamente a leste da realidade, informava em grandes parangonas “Portugal ambicioso aponta ao mínimo de quatro medalhas Olímpicas” (DN, 2023-10-14).
Na lógica do “lá vamos cantando e rindo”, para além do número de presenças e de modalidades determinadas sem qualquer intenção estratégica de longo prazo, ao estilo do “seja o que os deuses quiserem”, o número de quatro medalhas revela o mais completo fracasso do PPO que, em 2005, previu para os JO de Pequim (2008) a conquista de cinco medalhas. Acresce que, determinar objetivos sem que se especifiquem os desportos, respetivos eventos, bem como os atletas potencialmente candidatos, para além de ser um exercício de inutilidade, trata-se de uma vitória do populismo da propaganda balofa sobre a racionalidade do planeamento a que deve obedecer uma política desportiva com um forte sentido social e económico.
O que, em matéria de desenvolvimento do desporto nacional, está a acontecer entra no domínio de uma autêntica tragicomédia grega. O Programa do XXIII Governo (PS) (2022-03-30 a…) na decorrência do XXII Governo (PS) (2019-10-26 a 2022-03-30) estabeleceu para o desporto nacional dois grandes objetivos estratégicos: (1º) afirmar Portugal no contexto desportivo internacional, melhorando os Programas de Preparação Olímpica e Paralímpica, com base na sua avaliação; (2º) colocar o país no lote das quinze nações europeias com cidadãos fisicamente mais ativos, na próxima década.
Tendo em atenção os referidos objetivos, perante os mais do que medíocres dados apresentados pelo Eurobarometer (2022) que, entre os países da UE coloca Portugal no último lugar destacado do ranking de negação da prática desportiva, o presidente do COP, como se não tivesse nada a ver com o assunto, apressou-se a dizer: “passado praticamente um terço do tempo previsto, os resultados são os que se acabam de conhecer: a situação não apenas não melhorou, como piorou”. E perguntou: como recuperar o que já se perdeu e atingir o objectivo proposto? (Público, 2022-09-26).
Constantino não é, certamente, a pessoa mais indicada para, como se nada tivesse a ver com o assunto, desenvolver tal discurso, porque: (1º) desde o ano 2000, ocupou cerca de quinze anos posições de chefia em várias organizações da superestrutura, tanto associativa quanto político-administrativa do desporto nacional; (2º) chefia o COP há mais de dez anos; (3º) quando, em janeiro de 2013, anunciou que ia concorrer à presidência do COP, entre outros objetivos, afirmou pretender “ajudar a elevar o nível desportivo do país” (Público, 2013-01-04). Posteriormente, a 8 de fevereiro de 2013, na apresentação da sua candidatura, o 3º eixo dos seis do seu programa de ação era, precisamente, a “elevação do nível desportivo do país”.
De acordo com os trabalhos desenvolvidos no âmbito do Conselho da Europa, o conceito de nível desportivo, questão que desenvolveremos num dos próximos textos, trata-se de um indicador de ordem qualitativa que, a partir da relação eurítmica entre os praticantes de base e os de elite, numa escala percentual, determina a distância da situação desportiva real de um país ou uma região à respetiva situação desportiva ideal.
Ora, o que se verificou foi: (1º) a contínua derrapagem do programa do PPO que, assinado por Constantino e Vicente Moura em janeiro de 2005 (DR IIª S, nº70, 2005-04-11), em seis edições dos JO não conseguiu ultrapassar as três medalhas dos JO de Los Angeles 1984; (2º) de 2010 a 2022 deu-se uma quebra de 11 pontos percentuais no número de praticantes de base. Por isso, Constantino, para além dos membros do Governo que, regra geral, aterram no desporto de para-quedas, não pode pretender pôr-se fora da equação, desde logo porque é um dos mais ilustres responsáveis pela situação atual do desporto nacional.
E, vinte anos depois, podemos dizer que foram premonitórias as palavras do Ministro José Lello quando, em 2001, avisou os dirigentes desportivos, entre outros o próprio Constantino, que era Presidente da Confederação do Desporto de Portugal, que o país caminhava para ter cada vez mais “desportistas de bancada e de sofá” (A Bola, 2001-06-23). Em consequência, o nível desportivo nacional, por mais dinheiro que durantes os últimos anos tenham “torrado” numa preparação olímpica a funcionar em circuito fechado, piorou ao ponto de apresentar um dos piores valores entre os países da UE. E mesmo que o ridículo número de 4 medalhas programadas para os JO de Paris (2024) seja atingido ou até aumentado para cinco, seis, sete ou mais, no estado do panorama desportivo atual Portugal não deixará de estar ao nível de países como, entre outros, a Coreia do Norte, a Bulgária, a Bielorrússia ou o Azerbaijão, que ganham medalhas olímpicas sem terem uma prática desportiva de base correspondente e própria dos países desenvolvidos.
O ciclo dos JO de Paris (2024) já está perdido pelo que o que se recomenda a este ou outro qualquer governo é que ultrapasse a Síndrome do Concorde e mande fazer uma avaliação independente, em extensão e profundidade, do ensino ao alto rendimento e ao profissionalismo a fim de, com a brevidade possível, estar na posse de um documento que sugira a(s) solução (ões) alternativa (s) a fim de ultrapassar o estado de indigência em que o desporto nacional se encontra. Caso contrário, o Ciclo dos JO de Los Angeles (2028), entre o miserabilismo de três ou quatro medalhas e a mediocridade de uma prática desportiva de base abaixo do 20%, também acabará por se perder."

E o amanhã perdeu o til


"O Salgaocar, única equipa de Goa que foi campeã da Índia, acaba de receber o duro golpe de não ter lugar na I Divisão

Se apanharmos a estrada que sai do largo da Igreja da Mãe de Deus, em Saligão, e caminhamos para oeste, atravessamos a taluka de Dongorpur, onde fica o maior templo hindu de Goa, o Shri Santadurga, e mais coqueiro menos coqueiro, mais cajueiro menos cajueiro, estamos em Calangute ou Baga, as praias onde ainda sobram alguns hippies dos anos-70, já muito escafiados mas sempre prontos a pegarem num alicate e num fio de arame e moldarem uma bicicleta ou um elefante para venderem aos turistas.
O hindu não tem til. E o concani, que é a língua de Goa, também não. Um problema para quem lidou, através do português com tantos ditongos. Saligão às vezes perde o i e fica só Salgão. Salgão perde o til a toda a hora e fica Salgao, tal como Margão fica Magdaon. A terra serviu para dar o nome a uma das famílias mais poderosas e mais antigas do território. E o expoente familiar máximo foi Vasudev Mahadeva Salgaocar, nascido em 1916 e falecido em 1984, um homem de negócios à antiga que fundou e foi presidente da V. M. Salgaocar Group of Companies que se dedicou à exploração, sobretudo, de minas de ferro e de carvão.
Vasudev gostava de futebol e decidiu que a sua empresa iria ter um clube de futebol tal como acontecia com a Companhia União Fabril, no Barreiro, junto a Lisboa, capital do Império. Escolheu Vasco da Gama para sede. Vasco da Gama é uma espécie de Cascais de Panjim. Está instalada no sul do estuário do Zuari, na província (ou taluka) de Mormugão, o grande porto da velha colónia. Ninguém em Goa diz Vasco da Gama. Dizem Vasco de Gama. Mas também ninguém diz «Vou ali a Vasco de Gama». Simplificam: «Vou ali a Vasco».
Há duas maneiras de encarar a passagem da Índia Portuguesa para as mãos da União Indiana. Os portugueses chamaram-lhe Invasão. Os indianos chamam-lhe Libertação. Não há meio termo. O Clube Desportivo Salgaocar, mais tarde renomeado Salgaocar Futebol Clube nasceu antes da Invasão ou da Libertação, escolham de que lado é que querem ficar, já não dou um tostão furado para esse peditório, com o nome de Vimson Club (contracção de V. M. Salgaocar & Sons).
Tinha como objectivo apostar na juventude e construir uma equipa de rapazes com ganas de ganharem taças e títulos. Tendo surgido à sombra do clássico Vasco da Gama, o mais prestigiado clube goês, conseguiu cair com rapidez no goto dos adeptos e, em 1962, já depois da Libertação ou da Invasão, foi convidado para ir até Nova Delhi participar num torneio a nível nacional, a Durand Cup, a competição mais antiga de toda a Ásia e a quinta competição mais antiga do mundo. Oh, sim! Era de estalo!, como diria o Alencar do divino Eça.
Jawaharlal Nehru, o pandita, primeiro-ministro indiano, fez questão de receber os jogadores do Salgaocar em sua própria casa. E, vamos e venhamos, o convite não foi inocente. Na sua cabeça labiríntica, Nehru sabia que estava a cravar umas bandarilhas no lombo de todos aqueles que estavam ligados ao Vasco da Gama, clube preferido da comunidade portuguesa.
Tornando-se igualmente um membro da I-League, o topo do futebol indiano, competição que recebe os campeões regionais que se batem pelo título de campeão nacional, o Salgaocar passou a ser um forte representante do futebol goês. E, em casa, dava cartas: 21 vezes campeão de Goa, 4 Federations Cup (corresponde assim por alto à Taça da Índia já que se disputa por eliminatórias), 3 Durand Cups, 3 Rovers Cups (uma taça que põe em confronto clubes da Índia mais ocidental), uma National Football League (1998-99) e uma das suas sucessoras, a I-League (2010-11), enfunando o peito de orgulho por ser o único goês campeão a nível nacional.
Curiosa esta roda de alcatruzes da nora que nos faz estar vivos num dia e mortos no dia seguinte. Logo após ter conquistado a I-League, atingindo o seu nirvana desportivo, o Salgaocar começou a somar maus resultados a resultados ainda piores. Ainda foi a tempo de bater o Pune FC na final da Durand Cup (1-0) de 2014 mas a sua chama perdera-se entretanto com a mesma facilidade com que Salgão perdera o til.
No passado dia 28 de Junho, uma nuvem de tristeza abateu-se sobre os seus dirigentes, jogadores e adeptos. Pela primeira vez não foram capazes de cumprir os requisitos necessários para se inscreveram na I-League. Não há grandes nomes no futebol indiano. Se os houve, Menino Figueiredo, Juje Siddi, Franky Barreto,Robert Fernandes, Brahmanand Shankwalkar e Bruno Coutinho foram alguns deles. Jogando com a camisola verde do Sagaocar e chegando à selecção nacional da Índia.
Quando o sol se põe nas praias de Goa, as águias pesqueiras vêm sobrevoar a rebentação das ondas assustando as gaivotas. Às vezes sobra tempo para olhar para o horizonte e perceber que amanhã também perdeu o til."

Pré época – 3.ª Parte (conclusão)


"Equipas em estágio em vários continentes; a problemática dos fusos horários; jogos e treino em altitude; resultados obtidos e possíveis consequências para o rendimento no futuro imediato.
Como conclusão dos artigos anteriores referentes à PRÉ - ÉPOCA anoto o facto de existirem várias equipas a optar por estágios em vários continentes ou locais muito díspares; a problemática dos fusos horários; jogos e treinos em altitude; resultados obtidos e possíveis consequências para o rendimento no futuro imediato, será assunto a ser, (embora de forma sucinta), evidenciado neste artigo de opinião.
Os clubes que à partida optam por efetuar alguns períodos de preparação fora do ambiente natural de trabalho, para além do aspeto económico, podem advir de outras componentes positivas a considerar, nomeadamente o reforço de uma missão coletiva, encorpando por vezes desafios ou atividades que não se confinam aos aspetos do treino propriamente dito, como a utilização de percursos e jogos energéticos, onde o combate para a expressão máxima de conduta pode exigir no empenhamento para a cooperação, espírito de grupo, capacidade de interajuda resultando quantas vezes no reforço do grupo onde a identidade coletiva se vê amplamente reforçada.
É evidente que as condicionantes referidas nos artigos anteriores jamais poderão ser descuradas, nomeadamente o compromisso na participação de cada atleta no modelo de jogo, planificando e operacionalizando a dinâmica do treino por comportamentos ajustados às competências de cada qual.
As competições a ser realizadas, na minha perspetivava, devem ser de grau de dificuldade crescente, ajudando a construir um resultado positivo, gerando como consequência uma elevada qualificação dos índices de confiança e mesmo a criação de uma onda apoteótica em que a forma de vencer se vê positivamente partilhada. Essa causalidade do resultados em êxito, poderá originar por outro lado uma tomada de consciência mais operativa no sentido de otimizar o alcance do sucesso no futuro imediato, funcionando como fio condutor de ambição motivacional que poderá influenciar a performance no arranque da época, propriamente dita, pois sabemos que o comportamento dos jogadores após os êxitos conseguidos, são distintamente diferentes após as frustrações obtidas.
Não esquecer, contudo, que esse eixo mediador da consciência onde se operam os êxitos em jogos numa pré-época, devem merecer uma notória referência avaliativa, cuja validade apenas será expressa na confirmação desses mesmos êxitos nas competições oficiais que se lhe seguem. Quero com isto dizer, que um “embandeirar em arco” em jogos numa pré - época com vitórias substancialmente conseguidas também pode funcionar como “uma faca com dois legumes” (como dizia com certa graça o meu bom amigo, ex jogador e treinador/líder de sucesso, Jaime Pacheco), caso não se veja incorporada a matriz da humildade por onde passam todos aqueles que fazem das causas do sucesso uma oportunidade para ouvir e corrigir, transpirando rigor no uso da disciplina e aproveitando toda a sua energia ao serviço da equipa, como um todo.
Outro assunto de importância a referenciar, será a seleção dos locais de estágio. Verifica-se que por vezes certas equipas realizam estágios em locais com altas temperaturas e onde o grau de humidade se torna quase insuportável, provocando uma maior quantidade de suor na tentativa do arrefecimento orgânico, já que a circulação sanguínea e respiração pode subir até 20% de fluxo cardíaco (cerca de 4 vezes mais em situações normais), a média de perda de peso que no decorrer de um jogo ronda os 4% do peso total do futebolista , pode atingir os 8 a 10% e o aumento dos lactatos para 2 vezes mais do que em situações normais, necessariamente fazendo anteceder os efeitos da fadiga. Descurando-se os aspetos de uma aclimatação prévia, ou a ausência de possíveis alterações nos métodos de treino, que deve ser devidamente reestruturado, sem um descanso operacionalmente eficaz e a capacidade nutricional necessariamente assimilada, poderão ocasionar-se alguns sintomas induzidos pela fadiga, como dissemos derivada das alterações bioenergéticas e poderemos estar perante um ou outra síndrome com o aparecimento de lesões de ordem músculo esquelético e funcional.
Associadas às condições atmosféricas, ainda se verifica (para além das vantagens estrategicamente consolidadas no potencial do marketing que o clube capitaliza de forma substancialmente qualificada), verificamos o caso de equipas que efetuam treinos e jogos em altitude. Sabe-se neste capítulo que as condições de trabalho em altitude, onde devido a uma diminuição de pressão e densidade atmosférica e correspondente diminuição da capacidade de concentração de oxigénio no sangue, faz desencadear uma incapacidade relativa de fornecimento aos tecidos, provocando um aumento de frequência cardíaca e profundas alterações de pressão arterial e consequente grau de dificuldade na execução plena que as condicionantes do treino exige. Em termos gerais, em altitude de forma pronunciada (a partir dos 850m), a força da gravidade diminui, a capacidade de utilização de oxigénio (esta fonte de energia está muito diluída), obriga o atleta a aumentar de forma notória o seu ciclo respiratório para o esforço a prestar, sendo os processos de recuperação muito mais lentos, logo, vendo-se antecipado os processos que conduzem à fadiga. Por outro lado, também se obtêm algumas vantagens no que se refere à assimilação de movimentos que requerem um alto grau de coordenação, permitindo inclusive ver-se aumentadas as possibilidades de aquisição dos níveis de força e velocidade e algumas boas adaptações no que concerne aos exercícios sob o domínio da resistência. Em termos gerais podemos inclusivamente dizer que a capacidade bioenergética, pelo aumento de fixação de hemoglobina no sangue, permite maior adaptação do sistema aeróbico do fornecimento de energia. Inclusivamente até há quem use o treino em altitude para melhoria da capacidade de resistência, pois o consumo máximo de oxigénio pode ver-se aumentado entre 10 a 22%. Claro que isso implicaria estar 12 a 18 dias de treino em altitude com valores situados entre 2000 e 2400 metros …claramente impossível no futebol, dada a necessidade de repetir estes ciclos de treino várias vezes no decorrer da época, além do que os processos de readaptação para a obtenção da performance a este nível se tornam gradualmente lentos.
Ainda neste âmbito, gostaria de referir que o treino em altitude, sendo importante para desportos que impliquem o uso da capacidade de resistência, traz mais prejuízos do que benefícios nos desportos onde a predominância do sistema anaeróbico é mais solicitado, como é o caso do Futebol. Nesse sentido, o melhor será treinar ao nível do mar e simular o descanso (dormir) em altitude. Outro dos recursos que poderá ser utilizado, será o uso de câmaras hiperbáricas para o efeito pretendido, no entanto o seu alto valor comercial, por vezes é um fator impeditivo.
Por último, uma referência a equipas que realizam a periodização e planificação dos treinos numa pré-época em locais distantes e que obrigam a uma adaptação dos ciclos circadianos que a travessia dos diversos fusos horários (jet lag), fazem implicar. Sabe-se que, no que respeita à adaptação do organismo do atleta em relação ao fuso horário, importa anotar uma dissuasão dos ritmos diários das funções psicofisiológicas correspondentes a 1 dia por cada fuso. A título de informação complementar neste âmbito, importa referir que o desenvolvimento de adaptação é variado e determinado pelas capacidades individuais de cada atleta. Há autores que definem como regra, que a hora de dormir e acordar normaliza de 1 a 5 dias, a enquadrar a atividade intelectual e psicomotora, e 7 a 10 dias uma excelente resposta a demais capacidades, nomeadamente ao nível da resistência. Mas é claro que existem metodologias de treino, quer para prevenir, quer para tratar os efeitos ou sintomas deste síndrome de mudança de vários fuso horários, quer antes do voo (ajustando a hora de acordar), durante o voo (hidratando e efetuando exercitação isométrica seguida de alongamentos) e após a chegada com cargas de treino de fraca intensidade, questões que hoje felizmente são superiormente resolvidas e administradas por equipas técnicas compostas de metodólogos e fisiologistas de elevada competência.
Não gostaria de fulanizar esta questão nas equipas que partem para a época que se vai iniciar. Parece-me contudo, importante referir que partem em grande vantagem as equipas que realizam uma primeira fase no exterior em locais já conhecidos (por resultados positivos experienciados) e de ambiência reforçada pelas condições criadas e por mim referidas, regressando ao fim dum tempo de ausência curto no sentido de realização de avaliações preliminares, tendo a oportunidade de conviver com as famílias, vendo solidificados os laços de afeto fundamentais que o eixo familiar pode e deve congregar, arrancando para uma ultima fase da pré – época com aceleração dos processos de exigência competitiva e cujos resultados podem oferecer autenticidade pela competência com que se viram outorgados. Mas … estamos a falar de Futebol e por vezes podem acontecer coisas admiráveis e imprevisíveis que um qualquer processo científico ainda não tem uma devida explicação.
A capacidade humana para se superar é fenomenal. Por vezes existem momentos nas equipas que encontram na adversidade um autêntico estímulo, fazendo desencadear uma força mobilizadora onde se desperta um enorme empenho coletivo … ali mesmo, contrariando as leis da natureza, passa a habitar o sucesso."