sábado, 20 de maio de 2023

Nas Meias-finais...

Benfica 5 - 3 Lombos

Mais um festival de desperdício (alguns dos falhanços foram mesmo 'épicos'!!!), numa partida onde o adversário marcou praticamente nas duas primeiras oportunidades, com a vitória a surgir nos últimos segundos do prolongamento, evitando assim os penalty's e garantindo ao segundo jogo a qualificação para as Meias...

Jogo marcado, mais um vez, pelo comportamento provocatório desde do 1.º minuto do banco do Lombos, constantemente a protestar, com todos os elementos em pé, sempre a mandar bocas, sempre a simular, seja faltas ou lesões... e depois, no final quando o Chishkala os mandou calar, ficaram muito ofendidos!!! E como não podia deixar de ser, os apitadeiros que durante o jogo, foram cúmplices com o comportamento do banco do Lombos, tiveram que mostrar Vermelho direto ao Bruno Coelho!!!

Derrota...

Benfica 0 - 1 Farense


Derrota na última jogada do encontro, numa partida pobre, com o Farense a entrar com vontade, mas depois a baixar as linhas, julgando que o empate já não era mau para a subida de divisão, e com o Benfica a demonstrar mais uma vez, a total incapacidade de criar jogo ofensivo apoiado!

Muito Benfica para apoiar


"Sexta e sábado preenchidos com jogos das nossas equipas e outros assuntos da atualidade benfiquista são os temas desta edição da News Benfica.

1
As nossas equipas de basquetebol e hóquei em patins começam, sábado, na Luz, a disputa das meias-finais dos play-offs dos respetivos campeonatos.
No hóquei em patins o adversário é o FC Porto e o jogo está agendado para as 15h00. No basquetebol, frente à Ovarense, a partida tem início às 19h30.
Confira as antevisões de Nuno Resende e Roberto di Benedetto, do hóquei em patins, e de Ivan Almeida, do basquetebol.
Quem já está na final do Campeonato são as eneacampeãs de hóquei em patins, que ontem ganharam ao Stuart Massamá, por 9-2. O outro finalista é o Turquel.

2
Hoje, às 18h00, a nossa equipa B tem desafio com o Farense no Benfica Campus. No futsal, jogo 2 na Luz a contar para os quartos de final dos play-offs frente ao Quinta dos Lombos (20h00).
E há vários jogos para seguirmos e apoiarmos as nossas equipas amanhã.
Às 11h00, recebemos o FC Porto nos Sub-19. E, às 15h00, é a vez de os Sub-15 serem anfitriões do Belenenses. Às 17h00, somos visitados pelo Santa Luzia em futsal no feminino.
Nota ainda para o jogo, às 17h00, no Campo Miguel Nobre Ferreira, onde defrontamos o Direito nas meias-finais do Campeonato Nacional de râguebi, um patamar da prova a que já não chegávamos há muitos anos.
Veja a entrevista da BTV a Rodrigo Alves, coordenador da secção.

3
André Lopes, voleibolista vencedor de 7 Campeonatos, 9 Taças de Portugal e 6 Supertaças pelo Benfica e que recentemente anunciou o final da sua extraordinária carreira, é o escolhido para a estreia de "Zona Mística", uma nova rubrica multiplataforma.

Salvio visitou o Estádio da Luz e esteve à conversa com a BTV. "Equipa do Benfica já demonstrou a grandeza e o nível que tem", afirma.

5
Ana Beatriz Jardim, uma das obreiras do tetra no polo aquático no feminino, é a protagonista da semana. Uma entrevista para ver ou ler nos meios do Clube.

6
José Henrique está de parabéns pelos 80 anos de vida, completados ontem. Veja as melhores imagens do dia passado pela glória do Benfica entre a família benfiquista.

7
No âmbito da Noite Europeia dos Museus (dia 20), não perca a oportunidade de visitar o Museu Benfica – Cosme Damião num horário diferente e com atividades exclusivas (18h00 às 24h00). A entrada é gratuita. Também é possível visitar o Estádio da Luz das 18h00 às 22h00 sob um preçário especial. Saiba mais, aqui."

Wes 'Tri' Anderson!!!

Rumo ao 38


"Quando, no final do jogo e da vitória em Portimão, Roger Schmidt dizia que se sentia 0% campeão, estava a ser pragmático e a seguir a velha máxima do futebol segundo a qual nada está terminado enquanto não estiver, matematicamente, resolvido.

Faz sentido. No entanto, os que, como eu, tiveram a felicidade de assistir a uma magnífica exibição, num ambiente de vibrante benfiquismo como aquele que vivemos na bancada nascente do Municipal de Portimão, saíram do Algarve com a sensação clara que, já em Alvalade no próximo domingo, ou no último jogo em casa, estamos na reta final para o 38.º e que o Benfica não deixará fugir este título.
Para isso, muito contribuiu, para além da vitória, a exibição convincente da equipa, a goleada por 5-1 e a demonstração que a equipa recuperou claramente da quebra que teve e está a finalizar a época, pujante. A explicação está, em larga medida, nas soluções de refrescamento que o técnico alemão encontrou, com David Neres e, sobretudo, João Neves, o miúdo do Algarve, que voltou a ser o melhor em campo, em destaque. Fantástica a preponderância da formação e do Seixal nesta equipa, com Gonçalo Ramos (mais um algarvio) a regressar aos golos (e que grande golo), a que se somam Florentino, Guedes, António Silva e Morato.
Quando se referia que o Benfica vacilava enquanto o rival não tremia nunca, não é o que se tem visto. O Benfica voltou a estar afirmativo enquanto o Porto, que lá vai ganhando, terá mesmo segurado o segundo lugar, mas termina os jogos numa absoluta tremedeira.

A subir
O Benfica a golear, João Neves o melhor em campo e o goleador Musa.

A descer
As ofensas, os gestos e o clima de intimidação, no Dragão."

Alejandro, o Criativo


"O adeus de Grimaldo à Liga Portuguesa está ao virar da esquina e com ele irá parte da riqueza de uma prova carente, que é como quem diz: fica ainda mais pobre a nossa Liga. Durante esta passagem, o lateral-esquerdo do Sport Lisboa e Benfica cruzou-se com Rui Vitória, Bruno Lage, Nélson Veríssimo, Jorge Jesus e Roger Schmidt, tendo assumido sempre papel de protagonista, fosse por convicção, fosse por falta de opções.
Mesmo quando os trabalhos colectivos não se revelaram atractivos, era mais difícil ficar a imaginar o que é que podia inventar Grimaldo do que assistir, em directo, às suas pinceladas no quadro de um futebol desgarrado. Sim, houve épocas em que acendíamos a televisão para ver jogos do Benfica só pelo fascínio viciante de testemunhar como é que o talento de Grimaldo ia, outra vez, iluminar equipas sem ideias. Era raro defraudar expectativas, porque, embora os contextos adversos lhe destapassem as fragilidades defensivas individuais, as suas acções individuais encobriram fragilidades ofensivas colectivas. As mesmas mãos que gastaram o giz a escrever que Grimaldo não sabia defender nunca se lembraram de completar a frase que acrescentasse que desbloqueou em muitos jogos dentro de equipas que não sabiam atacar.
A sua relação com a bola, com o jogo e com os colegas promovem o argumento de que um lateral moderno não tem obrigatoriamente de ser mais forte a defender do que a atacar. Poderá, claro, ser mais equilibrado do que Grimaldo, cuja auto-suficiência em momento defensivo chegou a ficar aquém do recomendável para a posição. Contudo, não coloco de lado algum desleixo do jogador nessas circunstâncias, ora por estar saturado de ficar exposto, ora por não ter encontrado quem se preocupasse em melhorá-lo ou em “disfarçá-lo”. Hoje, com Roger Schmidt, Grimaldo sente-se mais protegido pela equipa, o que também o levou a caprichar em situações de 1x1, no suporte defensivo e até na impetuosidade colocada nos duelos, ou seja, no que toca a essa debilidade, deixo a natural margem de erro vinculada ao conforto que se atinge quando as dinâmicas colectivas funcionam mais ou menos em prol das características individuais.
É fácil entender que a inteligência que Grimaldo coloca em campo descarta a hipótese de ser um jogador que se deixa convencer por qualquer mensagem, tornando-se desafiante treiná-lo. Nunca, independentemente do treinador, o número 3 do Benfica abdicou daquilo que o define. Aliás, arrisco-me a dizer que a escolha pelo Bayer Leverkusen passou, entre outras coisas, pela percepção do valor que Xabi Alonso dá ao seu perfil, mantendo a esperança lógica de que, ao vincular-se a um técnico com o potencial de Xabi, poderá levá-lo até onde Xabi for capaz de chegar. Talvez a experiência de Grimaldo lhe diga que estará mais próximo do sucesso quanto mais próximo estiver de quem o valoriza - a meu ver, não está enganado.
Tem sido difícil habituar-me à ideia de um Benfica sem Grimaldo, de um campeonato português sem Grimaldo. Perder Grimaldo é como perder um dos bancos de jardim que escolhemos para namorar o futebol de que mais gostamos, assente na graciosidade da execução, no primor técnico, na criatividade, no engano que se aceita, na simplicidade e eficácia das tabelas, na inspiração de quem melhora quem está à sua volta, no talento, que continua a ser o mais importante de todos os predicados.
Se um dia tivesse sido médio, a porta pela qual está a sair seria maior. Em Portugal, Grimaldo viveu à frente de uma geração que olha para os laterais como quem olha para os cavalos de corrida: quanto mais correrem, melhor. Felizmente, tivemos a sorte de contar com um camisola 10 a partir da lateral. Grimaldo foi a nossa pequena revolução."

MP e AT quererão entrar em campo?


"Não se entende como em semana de dérbi visitaram a casa de 4 potenciais titulares do Benfica. E só os nossos tiveram a honra de receber as "brigadas" em casa. Imaginem vocês como ficavam se fossem visitados por equipas do MP + AT? Tranquilos? Será que tudo isto, que tem anos, não poderia esperar mais uma ou duas semanas?"

Cegos, Surdos e Mudos...


"O adiamento da idade de reforma da arbitragem para os 50 anos é a medida que faltava, para perpetuar estes escândalos semanais, que fazem com que o FC Porto - há muito falido - ainda consiga respirar e (por incrível que pareça) continue a lutar por títulos em Portugal.
A imprensa nacional não divulgou, no próprio dia - como fez com Sporting e Benfica -, que a SAD do FC Porto era arguida no "Processo Penalti". O árbitro não mencionou no relatório os incidentes que envolveram dirigentes e treinadores, no final do jogo com o Casa Pia.
Isto não são coincidências. Isto é um PADRÃO...
Como é que é possível que Manuel Oliveira e a sua equipa de arbitragem não tenham visto tudo o que se passou no relvado do Dragão? O que o leva a omitir situações tão claras e óbvias, à vista de Portugal inteiro, transmitidas em horário nobre e em direto?
Será MEDO de represálias? Será falta de HONESTIDADE? Será CLUBITE?
Não se iludam, na próxima época só vai piorar!

#41anosdisto"

Essa magia única de um boi a olhar para um palácio


"Ficava na Rua do Ouro (pois claro!) e era a mais fascinante montra que existia em Lisboa para garotos da minha idade. Para lá da vidraça da Biaggio Flora, entre miniaturas de automóveis da Corgi Toys, da Dinky Toys ou da Solido, ziguezagueavam os comboios eléctricos da Märklín.

Eu não passava de um garoto mesmo muito garoto e, de repente parecia um boi, um daqueles bois que olham para palácios, ou pelo menos há quem diga que sim já que eu nunca vi tal coisa, nem sequer na Índia onde bois e palácios bondam por toda a parte. Não era absolutamente apanhado de surpresa, a verdade é essa. Vinha de eléctrico desde Campo de Ourique, no 28, onde passava os fins-de-semana em casa dos meus avós, no nº 10 2º andar da Rua Francisco Metrass, e deambulava pela Baixa com aqueles à vontades muito à vontadinhas muito próprios da miudagem da minha geração. Sabia o meu destino porque o meu destino era o fascínio maravilhoso de ficar com os olhos presos a uma montra. Mas pelo caminho, mal entrava na Rua do Ouro, pelo lado norte, gastava uma boa dose de energia bovina na Loja Dentinho, que era especialista em miniaturas de automóveis. Às vezes começava o percurso um bocado mais atrás, na Pinóquio, dos Restauradores, ou na Quermesse de Paris, que ficava assim numa espécie de um beco junto ao Hotel Avenida Palace. Mas o palácio dos palácios, aquele que me embasbacava ao ponto de ficar com água na boca e com um fio de baba a escorrer-me pelas beiças era a Biaggio Flora. Chiça! Deixem-me que vos diga: a Biaggio Flora merecia um ponto de exclamação. Biaggio Flora! Prontinho, aí está ele. Espreitava cada canto da montra com o máximo de atenção: ora às miniaturas de automóveis, ora às miniaturas de soldados das mais diversas épocas, ora às caixas de navios e aviões para montar, ora às miniaturas de animais selvagens, mas sobretudo ao comboio eléctrico que rodava teimosamente nos carris através de umas casas e entrando num túnel para surgir apetitosamente do outro lado, movimento contínuo que me punha as órbitas a rodar com ele. Lá está: era eu feito boi.
Num dos meus aniversários, não posso dizer ao certo qual, o meu avô Acácio cumpriu-me um sonho e ofereceu-me um comboio eléctrico. Uma caixa grande, rectangular, só com a base: um transformador que regulava a velocidade, uma locomotiva das antigas do velho Oeste, duas carruagens - uma de transporte de passageiros e outra de carregar carvão -, linhas suficientes para fazer um 0 bastante razoável e até uma passagem de nível que, como todas as passagens de nível, levantava e baixava uma barreira à passagem da composição. Nos anos seguintes fui comprando caixas avulso para que o 0 deixasse de ser apenas um 0 e tivesse curvas e contra curvas e não tardou a que as linhas já obrigassem a que eu ocupasse o chão do meu quarto por inteiro e à tarefa sempre aborrecida de desmontar tudo quando chegava a hora do comboio recolher à caixa. O meu sonho era grande e impossível: ter um igual ao que podia ver, aparvalhado, não na montra da Biaggio Flora mas sim lá dentro, numa sala que ficava nas traseiras da sala principal, volteando por entre uma paisagem meio-alpina, com casas, carros, pessoas, um monte alto e verde, árvores e uma estação requintada que até metia um senhor a ler o jornal. Piramidal! E, atenção, requinte dos requintes: a marca soava como nenhuma outra - Märklín. Deixemo-nos de histórias: o supra-sumo dos comboios eléctricos, acima da Bachmann, da Ethaern, ou da Kato, por exemplo, que apresentavam modelos de inequívoca qualidade. Mas Märklín era Märklín e ponto final. E foi com um orgulho impante que me vi proprietário de um comboio eléctrico Märklín. O resto era conversa.
A Märklín nasceu no ano de 1859, em Göppingen, no Baden -Württenberg por via da imaginação de um mamífero chamado Theodor Friedrich Wilheim Märklín. Era um loja de brinquedos como tantas outras, especializada sobretudo em casas para bonecas, fabricando todos os pormenores necessários para tornar habitável, confortável ou até luxuosa a habitação preferida das meninas para as suas protegidas, até que Theodor se lembrou de lançar os comboios eléctricos em 1891. E, assim sendo, se até então era a marca preferida das rapariguinhas alemãs, passou a ser procurada igualmente por rapazes. E oferecia, além de um enorme sortido de objectos que serviam para tornar cada vez mais autênticas as linhas de caminho-de-ferro em miniatura, várias escalas de ia da famosa H0 à pequenina Z.
De um dia para o outro, Theodor espalhou por todas as crianças que podiam ter acesso a um comboio eléctrico - e é preciso dizer que era um brinquedo caro, sendo também caros os acessórios que se compravam avulso - um divertimento incomum. Os grandes fanáticos montam verdadeiras feiras internacionais nas quais apresentam os seus modelos e as paisagens que escolhem e fabricam por onde eles serpenteiam com uma firmeza considerável. Apesar de diversas dificuldades económicas que atravessou, a Märklin continuou nas mãos da família durante várias décadas até ser comprada pelo grupo inglês Kingsbridge Capital em 2006 por cerca de 38 milhões de euros. Mas o nome dos pequenos comboios resiste a tudo, até ao tempo. Já não os vejo rodar na montra nem na sala interior da Biaggio Flora - o comerciante italiano que se estabeleceu em Lisboa e continua a ter descendentes que se dedicam a vários tipos de negócios - e a última vez que me recordo de ver rodar sobre as linhas que eram atravessadas a meio por um fio condutor eléctrico que entrava em contacto com a locomotiva através de uma saliência que esta tinha por baixo ainda os meus filhos eram crianças e eu, volta e meia, montava o circuito para os divertir. Mas, para compensar, vi filmes extraordinários que me foram postos frente aos olhos pelo meu bom amigo Israel que tem o vício dos comboiozinhos e monta paisagens de me voltar a deixar como um boi: isto é, embasbacado frente a um palácio. Mesmo que nunca tenha assistido a uma cena do género. Estarei mais atento aos palácios e aos pascácios que os observam. Pode ser que no meio deles encontre um boi…

Carros de corrida
Na grande sala da entrada da Biaggio Flora havia uma pista de carrinhos de corrida que podíamos experimentar. Cada um pegava numa manete e controlava a velocidade com o polegar indo mais a fundo ou menos porque as curvas eram suficientemente apertadas para atirarem com um veículo para fora da pista e obrigar assim a uma derrota com o seu quê de humilhante. Outro brinquedo que não era para qualquer um por causa do preço mas que tinha em comum com os comboios eléctricos a existência de uma série de acrescentos avulso de forma a tornar as competições mais interessantes e mais autênticas. Havia à disposição dos apaixonados diversas marcas de automóveis, desde os de verdadeiras corridas de pista, como Fórmula 1 ou Indianápolis, aos de rallies, como havia igualmente pedaços de pista que ajudavam a cada um a construir o circuito que lhe desse na gana, mais curvas ou menos curvas. Acrescentava-se também o panorama em redor. As boxes com os seus mecânicos, o homem da bandeirola de xadrez, árvores, casas e bancadas onde se sentava o público embevecido. Houve uma altura que, para quem não podia dar-se ao luxo, o melhor lugar para se fazer uma corrida numa pista e carrinhos de pista era a Feira Popular, onde existiu uma que parecia à prova de tudo e mais alguma coisa, principalmente à forma descuidada como os clientes a usavam. Também durante um tempo foi possível entrar em prova no Jardim Cinema, na Av. Pedro Álvares Cabral, enquanto outros se dedicavam ao bilhar ou ao snooker.
Sem querer voltar à metáfora do boi e do palácio, o que podia ser mais atractivo para os miúdos da minha idade do que carros em miniatura? Confesso que ainda hoje conservo o fascínio e colecciono os que via estacionados ou a percorrer estradas nos anos-60 (os automóveis passaram a ser quase todos iguais a partir dos anos-80), desde o Renault Dauphine ao Anglia Frascinante, desde o Citroën Boca-de-Sapo ao Austin Oxford, desde o Volkswagen da polícia alemã que tinha um botão em cima para virar as rodas ao Hillman que abria o vidro de trás, já para não falar do encantador jipe do Daktari, com riscas de zebra, do Lincoln presidencial que levava uma pilha e, com ela, punha uma televisão a passar imagens no banco traseiro e do infalível Aston Martin do James Bond com o seu botão para ejectar o bonequinho que ia ao volante. Como apreciador mesmo muito antigo, as minhas preferências iam para os Corgi Toys, de longe os mais perfeitos em todos os pormenores, até no tirar e pôr pneuzinhos de borracha. Foi também um alemão a fundar a marca, embora em Inglaterra: pouco antes da II Grande Guerra Phillip Ullmann, que escolhera a cidade de Northampton para viver, criou a Metoy (Metal Toy) e cedo teve a sociedade do seu compatriota Arthur Katz. Durante seis anos, e a despeito de todas as dificuldades com que tiveram de lidar, Phillip e Arthur trataram de fabricar modelos cada vez mais aperfeiçoados. A fábrica já dava trabalho a 600 criativos quando a dupla resolveu transferi-la para perto de Swansea, no País de Gales. E por causa daqueles cãezitos de perna curta (e bastante irritantes, já agora) naturais de Gales, os Corgi, alteraram-lhe o nome. Em 1956, a Corgi cometeu a proeza de pôr no mercado miniaturas de todos os automóveis familiares fabricados na Grã-Bretanha, desde o Ford Consul ao Austin Cambridge e desde o Vauxhall Velox ao Hillman Husky, acrescentando-lhes dois desportivos, o Triumph TR2 e o Austin-Healey 100.
A Corgi não demorou a ter concorrência tal a popularidade das miniaturas feitas à base de zinco. A Dinky Toys apareceu em 1934 pela mão de Frank Hornby, o homem que estivera na base da criação de um dos mais entusiasmantes brinquedos do início do século passado, o Meccano, peças de metal que se uniam umas às outras por porcas e parafusos e permitiam a construção de tudo e mais um par de botas, desde motos e carros a casas e aviões. O entusiasmante no Meccano - recordo-me de haver um no sótão da Casa das Conchas, a casa dos meus avós no Olival, perto de Ourém - era a variedade imensa de peças e a forma como se encaixavam de uma forma muito mais flexível do que acontecia com o Lego, por exemplo. Dinky já é, por outro lado, um nome com a sua dose de historietas, sendo que o baptismo mais provável tenha surgido da boca de uma das filhas de Frank quando viu um modelo Meccano pela primeira vez: «dinky», soltou. Uma expressão escocesa que se poderia traduzir por ‘porreiro’.
Se as miniaturas de automóveis feitas em Inglaterra são claramente as que mais se aproximam do original, há que dizer que os franceses da Solido começaram com o negócio antes dos seus vizinhos do lado de lá da Mancha. Um fulano com um nome arrevesado, Ferdinand de Vazeilles, avançou com a sua fábrica em Nanterre, nos arredores de Paris, em 1930. Mas um pormenor fundamental marcou o nascimento da Solido: Ferdinand não começou por copiar modelos já existentes e lançou, em três anos, três carros diferentes, simplesmente Solido Major, Solido Junior e Solido Baby. Só mais tarde abriria uma linha a que deu o nome de L’Age d’Or reproduzindo todos os automóveis mais famosos numa escala de 1:35. Embora sendo considerada de um realismo único em relação aos pormenores - o que se compreende porque tentou abarcar desde logo modelos de escalas maiores - a Solido, tal como aconteceu com os italianos da Polistil e da Bburago, foi acusada de não reproduzir as cores originais das marcas, preferindo tons mais neutros. Já a Matchbox, que surgiu apenas nos anos-50, entrou à bruta na competição ao fabricar o carro em que a rainha Isabel II surgiu durante a sua coroação, com o modelo a vender mais de um milhão de cópias. A ideia básica de mercado era construírem modelos que coubessem dentro de pequenas caixas, e daí o nome. Mas ao contrário da Solido ou da Corgi Toys, o desenho dos brinquedos era em bruto, havendo até uma colecção que se resumia à carcaça do automóvel em questão, sem destaque das portas ou dos faróis e sem vidros nas janelas.

De 1960 em diante
Quase todas as marcas que mencionei anteriormente referiam-se a brinquedos surgidos ou logo no início do século 1900 ou dentro dos vinte anos posteriores. A I e a II Grande Guerra passaram, deixaram a sua marca e o tempo fez com que deixasse de ser quase uma blasfémia voltar a brincar às guerras tal como acontecera com os históricos soldadinhos de chumbo. A Airfix apareceu não apenas com soldados em miniatura, de plástico, preparados para serem pintados pelos miúdos que os compravam, mas também com aquilo que se chamou o plastimodelismo, ou seja modelos em plástico, como se está mesmo a ver, vendidos às peças em caixas com as instruções para montar tanques, navios, caças e bombardeiros de guerra. Também houve uma fase na qual os antigos galeões e caravelas estiveram na moda. No fundo as crianças eram obrigadas a trabalhar (se me permitem o termo) até poderem brincar definitivamente com os seus exércitos completos e devidamente coloridos. Por outro lado, surgiu o fenómeno do herói solitário, o Action Man. Apesar de ter começado a ser comercializado no Reino Unido a partir de 1966, a personagem era protagonista de uma série americana chamada G.I. Joe. O Action Man terá sido o mais parecido que se inventou para pôr os rapazes a brincar com bonecas sem beliscar a sua masculinidade. Tal como as Barbies (a Barbie nasceu em 1959) traziam fardas ou disfarces e eram vestidos e despidos ao sabor do freguês, havendo por isso fatos avulsos que podiam mandar o Action-Man para a guerra, para apagar fogos como bombeiros, para jogar futebol (embora nesse campo o Subbuteo tenha sido imbatível) ou para conduzir automóveis de corrida. Longe vão os tempos em que os brinquedos puxavam a miudagem para a brincadeira colectiva. Muito antes de ter acesso a um Subbuteo e nos intervalos nos jogos do berlinde (sempre de olhos nos pilha-galinhas que tinham abafadores), do peão ou do mundo (à custa de um canivete ia-se cortando um círculo aos pedaços, roubando a maior parte possível aos adversários, o que fazia dele um jogo de estratégia avant la lettre), fazíamos carrinhos de rolamentos e corridas guiadas à força da corda e de joelhos e cotovelos esfolados. Muito antes sequer de ter acesso a um Futebol de Mesa (versão moderna do futebol de botão), colávamos a cara dos jogadores dos cromos na parte de dentro das caricas de Canada Dry, de Buçaquina ou de Laranjina C, construíamos equipas que se batiam por uma bolinha dura de miolo de pão. E antes disso, uma simples tábua em rectângulo, com cinco pregos por equipa e tapada a toda a volta menos nas aberturas que serviam de balizas valia pelejas duras - cada um se defendia e atacava com um lápis. Não. Não éramos bois a olhar para palácios. Mas puxávamos pela imaginação. E, para satisfação absoluta, aos fins de semana metia-me no eléctrico e ia de Campo de Ourique à Baixa para ficar de boca aberta como um pacóvio a olhar para os comboios eléctricos da Märklín."

Não gosto do Cristiano Ronaldo


"Tinha prometido a mim próprio evitar nos meus escritos qualquer tipo de abordagem das acontecências do futebol atual. Isto, menos por receio de qualquer feed-back negativo, mais por uma espécie de higiene mental que me permita dormir sem fibrilações auriculares e taquicardias paroxísticas. Já é tempo de dar alguma calma a este miocárdio ligeiramente escaganifobético.
Para já uma petição de princípio para evitar qualquer equívoco – não tenho o menor apreço pelo cidadão chamado Cristiano Ronaldo e a partir desta apreciação subjetiva sobre o sujeito não encontro espaço para ir de encontro ao que ele representa em termos de performance futebolística.
A minha desapreciação da personalidade do cidadão escondido atrás das iniciais CR começou de forma definitiva no dia em que o ouvi tratar o presidente da república por você. Lamentável tal falta de educação e sentido dos limites na relação com as principais figuras do Estado. Na receção à seleção nacional no palácio de S. Bento não estava o cidadão Cavaco Silva, mas nada mais nada menos que o Presidente da República eleito pela maioria dos portugueses. Era forçoso que lhe tivesse sido ensinado em jovem o sentido de decoro.
A culpa não é só do CR. Alguém o transformou num menino-mimado – dirigentes dos clubes, mass media, família, adeptos transformaram a vontade de vencer de um jovem chegado da Madeira num indivíduo presunçoso com um ego do tamanho da dívida externa portuguesa. Alguns jornalistas gostam de glosar a vinda do CR para o continente para jogar a bola no Sporting comparando-a à saga da Linda de Suza arrastando a famigerada mala de cartão pelos caminhos da emigração. Não foi nada parecido com isso.
CR foi sempre um jovem superprotegido pela consciência do valor futebolístico que potencialmente apresentava. Contudo, desde que veio jogar para Lisboa ninguém se preocupou em dizer-lhe que a cultura e o respeito humano não são incompatíveis com a arte de jogar à bola. Só se preocuparem em potenciar-lhe o músculo esquelético esquecendo-se de o munir com uma série de valores entre os quais podemos salientar – humildade, respeito pelo outro, convivialidade saudável, consciência do seu valor e dos respetivos limites. Insuflaram-lhe o ego como o apodo do melhor do sistema solar e arredores e ele transformou-se numa vedeta presumida que se dá ao luxo de empurrar o treinador da seleção nacional aquando do jogo com a França que nos deu o título europeu com ele no banco.
A falta de respeito para com o Fernando Santos deu uma imagem de que o treinador seria ele. A forma como sempre se referiu ao treinador é prova da sua falta de educação, mas nesse particular o Fernando Santos também tem culpas no cartório pois sempre incensou o CR de uma forma algo menorizadora para os outros jogadores que com a arte e argúcia que os caracteriza lá iam suprindo as falhas e a incapacidade física do CR. Em muitos jogos a seleção jogou melhor sem ele. Quando Fernando Santos teve a coragem de o meter no banco caiu o Carmo e a Trindade e o pai passou a tirano.
Só num país de parolos, numa terreola de parolos, é que é normal dar o nome a um aeroporto de um jogador da bola. Aeroporto John Kennedy, aeroporto Charles De Gaulle, aeroporto Sá Carneiro, aeroporto Humberto Delgado e agora o aeroporto do jogador da bola. Que tal o nome de Quim Barreiros à pista de aviação de Vila Praia de Âncora. Ou há moralidade ou comem todos. Seria muito mais curial dar ao aeroporto da Madeira o nome do folião rubicundo que governou a ilha à custa dos cubanos do “contenente”, pois, pelo menos, fez obra sem saber dar um chuto na bola.
Embora, atualmente me desinteresse das acontecências futebolísticas caseiras e internacionais (já dei para o santo futebol 20 anos da minha vida), ele entra-me nas meninges através do telemóvel com notícias frescas todas as manhãs. Notícias curtas e sem tratamento aprofundado pelo que podem ser meros “sound bites” desconexos. Ao passar o dedo sobre o ecrã apareceram várias notícias: “Cristiano Ronaldo acusado de liderar a rebelião contra Rudi Garcia”; “Ten Hag era protegido de Ronaldo”; “Respira-se um ar fresco na seleção com a entrada do novo treinador”. Como meus senhores? A lógica hierárquica do futebol invertida pela vaidade presunçosa de um jogador? Que diretores permitem tal estado de coisas? Como podem os adeptos fanatizados ser insensíveis à alteração das regras de funcionamento de uma equipa de futebol? Por estarem fanatizados? Por irem atrás do fogo fátuo liberto do halo mediático dos craques?
Nunca por nunca eu como treinador principal de uma equipa de futebol aceitaria qualquer tipo de subordinação aos estados de alma de um jogador por muito importante que ele fosse para a equipa.
Um dos mais importantes cimentos estruturantes do futebol é o respeito hierárquico e a disciplina o que implica que ninguém é superior aos interesses do clube. O futebol é suficientemente grande para comportar os egos imensos das primas donas. Que estes egos sejam expresos livremente até ao limite a partir do qual a própria saúde da equipa e a dignidade do clube são afetadas."