quinta-feira, 9 de março de 2023

A saga do apito


"Li na imprensa na última semana: "Ordenados da gestão do F. C. Porto são o triplo das SAD do Benfica e Sporting juntas!" É enternecedor o "amor" desta gente ao futebol. Fico sensibilizado.

O dinheiro que este pessoal saca à custa dos que andam ao pontapé na bola, tem quase as mesmas dimensões da ignorância dos árbitros portugueses. A saga do apito continua! Tudo em grande. Estou quase tentado a escrever à FIFA, explicando-lhes, com factos provados e imagens, os escândalos nos nossos campos de futebol. Eles já devem ter conhecimento de tudo, ou quase tudo. Por alguma razão os nossos árbitros não são convidados para arbitrar mundiais. Senhor Fernando Soares Gomes da Silva: Se convida um treinador estrangeiro para a nossa seleção, também pode convidar árbitros estrangeiros. Isto está uma pouca vergonha. E atenção, os árbitros e "vares" estrangeiros, chegam ao aeroporto e ninguém os vais buscar. Incomunicáveis. Táxi directo para o hotel. Nomes só conhecidos quando entrarem em campo. Assim evitaremos malas carregadas com aquele papel com que se compram os melões. Árbitros portugueses, todos na jarra. Já!
Quero agradecer ao Paulinho não termos perdido dois pontos em Portimão. Que sorte, o Amorim ter-te colocado em jogo a minutos do fim. Devo ser o único adepto do Sporting, a considerar-te um grande jogador (além de adepto, só tenho 70 anos de sócio, coisa pouca!). Pude ver, no teu rosto, a máscara da revolta. És grande. Deixa-os falar.
A seleção portuguesa, feminina, de futebol! Que maravilha. Com as mulheres não se vê más arbitragens. Porquê? Não partem canelas umas às outras. Porquê? Não têm "Pepes"! Não fazem "teatro" quando são derrubadas. Porquê? Porque são maravilhosas. Em todo o sentido!

Positivo: Paulinho. Que jogador. Titular. Sempre! As nossas queridas jogadoras da seleção nacional. Um tratado de futebol e uma consciência desportiva que me emociona.

Negativo: Árbitros portugueses. Escolham outra profissão. Fora do campeonato, já! "Vares incluídos. Rua com eles! A construção tem falta de mão de obra."

Efab⚽lação (18) Em cima do muro


"Se o Benfica tivesse tido sucesso desportivo no final do século passado, João Vale e Azevedo ainda seria presidente. E, depois dele, também Luís Filipe Vieira se teria mantido imperturbável no comando se não tivesse calculado mal a época do pentacampeonato falhado - e Rui Costa, seu fiel escudeiro, ainda hoje estaria mudo e quedo.
A irracionalidade do futebol, que muitos insistem em chamar de “indústria” e outros de “negócio”, confina à conquista do título em cada época o resultado positivo de uma gestão, que tudo permite aos detentores do poder, à revelia das boas práticas administrativas, desde o silenciamento da razoabilidade a que se assiste no Benfica até à infame colecta de prémios de desempenho com que se vêm locupletando os dirigentes do FC Porto.
Se a equipa de futebol ganhar, vale tudo. Roger Schmidt e Sérgio Conceição deviam ser designados como verdadeiros CEO, pois é das decisões diárias deles que depende a estabilidade e a prosperidade dos dirigentes parasitas. Rui Costa aprendeu durante décadas esta arte de permanecer presidente até à eternidade: acertar no treinador, uma espécie de roleta russa da sobrevivência que até Vale e Azevedo esteve perto de atingir com a “bala dourada” de José Mourinho, e ficar sempre em cima do muro perante temas fracturantes que possam “perturbar” o balneário - o célebre axioma futebolístico “em equipa que ganha não se mexe”.
No Benfica, graças a Roger Schmidt, deixou de haver auditoria, estatutos, oposição, para dar lugar a festa permanente, expectativa crescente e orgulho incontinente. “Todos unidos” - é o longo abraço familiar que inclui suspeitos e, até, condenados que lesaram, em primeira instância, o próprio clube. A família, inebriada pelo sucesso, perdoa quem a rouba indecentemente porque os “verdadeiros benfiquistas” são os que não se preocupam com nada mais do que as “reservas” do Marquês de Pombal.
Mas não há bela sem senão: aproxima-se uma tomada de decisão que não lhe permite permanecer em cima do muro, a famigerada centralização dos direitos televisivos, por força de lei, que mais não é do que um ataque corporativo, quase uma declaração de guerra.
E, agora, Rui Costa? Ou isola o Benfica e satisfaz o desejo dos associados, ou satisfaz os parceiros e a opinião publicada e se isola num poder fragilizado, ficando ainda mais à mercê dos resultados desportivos."

Hoje não me apetece jogar


"Este domingo de manhã cruzei-me, num semáforo de Lisboa, com um colega do meu grupo, desportista e jogador de fim-de-semana inveterado que só não é presença mais habitual por força de uma profissão com horários rotativos. Ultrapassada a surpresa e os carinhosos insultos da praxe, perguntei-lhe se podíamos contar com ele na próxima quinta-feira.
- Eh pá... não me apetece - respondeu.
Fiquei boquiaberto, admito. Pensei, inclusive, que não tivesse percebido bem, de tal forma que disparei, um pouco fora de tom, uma série de perguntas em catadupa antes que abrisse o sinal.
- Mas não estás bem? Passa-se alguma coisa? Estás doente?
- Não, nada disso - respondeu, já com o pé na embraiagem e sem qualquer dor, lamento ou cansaço aparente. - Não me apetece, só isso. Talvez na próxima semana.
Deixei-o ir, apesar da existência de outro semáforo um pouco mais à frente, onde poderíamos ter continuado a conversa, e permaneci ali parado durante alguns segundos - o tempo suficiente para ouvir uma sinfonia de buzinadelas e viajar no tempo, primeiro ao encontro de alguns amigos que, com os anos, também eles perderam a vontade de jogar, depois até 1853, rumo às páginas de Bartleby, O Escrivão.
Estou seguro de que os amantes de literatura conhecem e já citaram inúmeras vezes este personagem criado por Herman Melville, ainda assim, vou correr o risco de resumir. Conta a história de um advogado que contratou um novo escrivão de forma a influenciar positivamente os seus outros dois empregados, o excêntrico Turkey e o explosivo Nippers. Durante um curto período, Bartleby, dedicado e competente, parecia ter sido a escolha certa, capaz de responder a todos os pedidos, tanto de dia como de noite. Até que, ao terceiro dia, e sem qualquer justificação, se recusou a realizar uma tarefa, com um lacónico «preferia não o fazer». Expressão que passou a repetir vezes sem conta daí em diante, sem nunca se explicar ou exaltar.
Todos nós já fomos ou nos sentimos Bartleby, mesmo quando fazemos o que gostamos. Dias há em que me apetece tudo menos abrir um documento Word, hoje por exemplo, em que era capaz de elencar um sem número de actividades nas quais preferia estar debruçado, desde logo não fazer nada. Estou irritado, apesar de não parecer, mas, se não terminar o texto, irrito-me ainda mais. E falho um compromisso. Confesso, inclusive, que fico sempre com vontade de insultar (dar uma bolada, vá) quem saca daquelas frases de algibeira «quem corre por gosto não cansa» ou «escolhe uma profissão que gostes e nunca terás de trabalhar um dia na tua vida», esta última, atribuída a Confúcio, pensador e filósofo chinês que, dizem as más-línguas, nunca trabalhou.
Um cansaço ao qual não serão imunes os atletas de alta competição. Desconfio que, tal como a um jornalista ou a um escritor às vezes apeteça tudo menos escrever, dias haja em que um jogador de futebol profissional deseje tudo menos treinar e jogar - ainda que, tanto a leitores como adeptos, isto possa soar a heresia.
Trabalhar é duro, ganhe-se muito ou pouco, seja a nossa profissão o paraíso ou um inferno. O treino cansa. A repetição cansa. A rotina cansa. A perfeição cansa. A imperfeição cansa. O sucesso cansa. A falta de reconhecimento também. É natural e até saudável que, de quando em vez, o balão rebente ou esvazie. A ausência de vontade de trabalhar deveria ser um direito, tal como o direito ao trabalho. Consagrar na lei a possibilidade de, pelo menos uma, duas, três vezes por mês ou por ano, não sei, podermos dizer «não me apetece», «preferia não o fazer» ou meter uma baixa por «motivos de Bartleby».
Percebo tudo, menos que um jogador de fim-de-semana não tenha vontade de jogar à bola. Isso nunca percebi. Mas, estou certo, de que mais cedo ou mais tarde o meu dia há-de chegar."

Adel: outro nível !!!

Passagem carimbada com distinção


"O Benfica está, pela segunda temporada consecutiva, nos quartos de final da Liga dos Campeões. É um feito inédito no atual modelo da Liga dos Campeões. O apuramento, assente em duas excelentes exibições frente ao Club Brugge, é o tema em destaque na News Benfica.

1
Exibição memorável e goleada (5-1) confirmaram o apuramento, disputado com o Brugge, para os quartos de final da Liga dos Campeões. Os belgas foram, na fase de grupos, a terceira equipa menos batida, mas ontem, na Luz, mostraram-se incapazes de suster o festival de futebol ofensivo patenteado pela nossa equipa, o que só releva a competência demonstrada pela nossa equipa.
Na opinião de Roger Schmidt, "a equipa esteve fantástica e contou com o apoio dos adeptos desde o início". A chave para o triunfo esteve na abordagem à partida: "Jogámos para decidir o jogo, não para defender o 0-2 da 1.ª mão, e mostrámos que queríamos jogar um futebol ofensivo e marcar golos."
O nosso treinador evidencia que "merecemos estar nos quartos de final, estamos entre os oito melhores clubes da Europa, os adeptos estão alegres e orgulhosos da equipa" e afirma que "foi um dia excelente para o Benfica".
Veja a conferência de Imprensa de Roger Schmidt após o jogo, aqui.

2
Rafa, autor do golo inaugural e considerado o melhor em campo pela UEFA, refere que "toda a equipa está a trabalhar para o mesmo". "Só temos um objetivo, que é vencer todos os jogos", frisa. Gonçalo Ramos voltou a bisar, mas destaca o coletivo: "É sempre bom marcar, um ponta de lança vive disso, mas mais importante é termos vencido e jogado bem." Bah enaltece a exibição e o apoio vindo das bancadas: "Praticámos um futebol fantástico com um ambiente sensacional no Estádio." E João Neves confidencia o que sente por representar o clube que o formou: "Jogar a Liga dos Campeões torna o jogo mais especial, mas especial é mesmo jogar com o símbolo do Benfica ao peito."

3
Florentino também teceu declarações após a partida e, à semelhança dos colegas, já redireciona o foco para o próximo embate com o Marítimo. "Temos um jogo muito importante pela frente e queremos os três pontos."

4
A nossa equipa de hóquei em patins recebe, amanhã, no Pavilhão Fidelidade, a Oliveirense na 4.ª jornada da fase de grupos da WSE Champions League. Um triunfo benfiquista garante o apuramento para a final eight.
O técnico Nuno Resende ambiciona chegar longe na prova e reconhece o valor do adversário: "É um novo jogo, não há certezas e queremos muito carimbar a passagem à final eight. Temos de estar ao melhor nível."
Pablo Álvarez alinha pelo mesmo diapasão: "Vai ser um grande jogo. Já sabemos que não vai ser fácil, eles têm grandes jogadores. Temos de estar muito concentrados desde o início. É um jogo que serve também para mostrarmos que seguimos fortes e unidos."
A partida está agendada para as 21h00.
Ontem houve desafio dos Sub-23 de futebol. A visita ao Estoril Praia saldou-se por um empate a duas bolas.

5
Dia 19 de março há treinos de captação no Estádio da Luz para as equipas femininas do futebol de formação. Saiba mais informações, aqui."

2022/23 Champions!


"Benfica na qualificação, fase de grupos e oitavos-de-final da Liga dos Campeões 2022/23:
12 jogos. ✅
10 vitórias. ✅
2 empates (PSG). ✅
Sem árbitros portugueses condicionados pelos tais "elementos de uma determinada claque muito conhecida" e sem um FC Porto levado ao colo todas as jornadas, o Benfica nesta altura já levaria cerca de 15 pontos de avanço no campeonato português, tal como o Nápoles leva em Itália.
Continuar o nosso caminho. 🔴⚪️
𝗨𝗡𝗜𝗗𝗢𝗦 𝗘 𝗙𝗢𝗖𝗔𝗗𝗢𝗦, 𝗔𝗟𝗛𝗘𝗜𝗢𝗦 𝗔𝗢 𝗥𝗨𝗜́𝗗𝗢 𝗘𝗫𝗧𝗘𝗥𝗡𝗢!"

Cadomblé do Vata


"1. Começar isto com todo o fair play e enviar um abraço solidário para o nigeriano Onyedika... ao serviço do Midtjylland foi abalroado pelo SLB na pré eliminatória da Champions com somatório de 7x2; no Club Brugge salta dos oitavos na Luz com 7x1 no bornal.
2. A UEFA percebe de futebol "com'ó caralho"... Ramos marca 2 golos e faz uma assistência; MVP do jogo é Rafa.
3. Ser adepto de clube de meio da tabela financeira europeia é lixado... no espaço de segundos passa-se da euforia "ca'ganda golo do Ramos" para a depressão "pronto, no Verão vão levá-lo".
4. A qualidade do futebol praticado pelo Sport Lisboa e Benfica vê-se nos pormenores... até o golo anulado é superlativo.
5. Esborrachado que está o Bayern da Bélgica a Nação Gloriosa sente-se pronta para encarar olhos nos olhos o Bayern da Alemanha... ou como se diria na gíria portuguesa, o B SAD München."

O velho sonho europeu do Benfica vive nos disparos de Gonçalo Ramos, nas fintas de Rafa e nas pantufas de João Mário


"Numa grande noite de três dos seus principais jogadores, a equipa de Roger Schmidt goleou (5-1) o Club Brugge, confirmando o 2-0 da primeira mão e garantindo presença nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. É a primeira vez na era Champions que as águias estão duas épocas consecutivas entre as oito melhores equipas da competição

As últimas décadas do futebol europeu acentuaram desigualdades, com o formato da Liga dos Campeões a favorecer a concentração de dinheiro e poder numa elite de clubes de um grupo restrito de ligas. Num processo dificilmente reversível, as glórias internacionais de outros tempos tornaram-se lenda do passado em Lisboa, Amsterdão, Belgrado ou Glasgow, capitais do futebol condenadas a verem outras cidades repetirem-se nos palcos mais desejados.
À medida que as finais da Champions iam, invariavelmente, tendo Madrid ou Barcelona, Londres ou Liverpool, Turim ou Munique como protagonistas, as noites europeias adquiriram, para as zonas onde outrora se saborearam grandes conquistas, um certo toque nostálgico, um piscar de olho aos tempos em que a ambição não tinha teto imposto pela estruturação do futebol internacional. Mas, às vezes, pode haver serões em que a saudade se torna desejo concreto, hipótese realizável, meta a perseguir.
Roger Schmidt já avisou que “nada é impossível”. E é normal que quem já venceu a Juventus e empatou duas vezes com o PSG pense assim. Nos oitavos-de-final, o Club Brugge foi mero figurante numa campanha que está a devolver a esperança europeia à Luz.
O 5-1 da segunda mão confirma o 2-0 do encontro na Bélgica, numa eliminatória saldada por números de goleada e que, para muitos adeptos do Benfica, terá sido passada mais a pensar em possíveis rivais da fase seguinte do que nas dificuldades que a frágil equipa de Scott Parker poderia causar. Pela primeira vez na era Champions, as águias estão em duas épocas seguidas nos quartos-de-final, uma injeção de moral — e de dinheiro — para um bicampeão europeu, uma potência do período da mais democrática Taça dos Clubes Campeões Europeus.
A noite de festa em Lisboa teve protagonistas semelhantes a boa parte da época: Gonçalo Ramos foi finalizador implacável, com dois golos plenos de instinto; Rafa flutuou por todo o campo, fintando, desequilibrando, apontando o 1-0; João Mário fez uso do seu futebol rendilhado, sempre pronto para as tabelas e frio nos penáltis, chegando aos seis golos na competição, quantidade só superada por astros como Mbappé (sete) e Salah (oito).
Se para o Benfica o perigo da noite poderia residir num certo adormecimento — pelo resultado da primeira mão ou pelo momento difícil do adversário —, os primeiros momentos do duelo evidenciaram que a equipa da casa não se conformaria com a vantagem obtida na Bélgica. Aos 71 segundos, após excelente envolvimento entre Gonçalo Ramos, Rafa e Bah, o dinamarquês cruzou para uma finalização artística de João Mário, num remate de calcanhar. O golo foi anulado por fora-de-jogo de Ramos.
Os visitantes, com três centrais e uma linha defensiva subida, tentaram uma abordagem que alterasse as coisas num momento difícil para o conjunto da Flandres Ocidental, em oitavo na liga belga e só com dois triunfos nos 14 embates anteriores à deslocação à Luz. No entanto, o Benfica aproveitou esse adiantamento para se aproximar com muito perigo de Mignolet. Aos 16’, Florentino, servido por João Mário, atirou ao lado, e aos 20’ o novo médio goleador viu o 1-0 ser evitado, em cima da linha, por Meijer. A pior notícia para os locais no primeiro tempo foi mesmo o amarelo visto por Otamendi, que tira o argentino da primeira mão dos quartos-de-final.
A postura subida dos belgas acabaria por ter um papel importante no lance que desbloqueou o embate. Aos 38', Rafa tocou para João Mário estando ainda a uns 80 metros da baliza adversária. O especialista em penáltis lançou Gonçalo Ramos, que correu durante quase meio-campo. Levantou a cabeça e viu Rafa, disparado, vindo de lá de longe. O supersónico que ganhou pausa a definir recebeu a assistência do ponta-de-lança, contornou Nielsen e, de trivela, fez o 1-0, num lance tricotado por três protagonistas da noite.
Logo a seguir, Gonçalo Ramos recebeu a bola na área, tirou dois adversários da frente e rematou para o 2-0, um golo com marca registada de especialistas na finalização. O Benfica ia para o intervalo tornando o chuvoso dia de Lisboa numa festa antecipada, prolongando o clima que se tem vivido no clube durante praticamente toda a temporada.
A segunda parte foi a história de uma equipa com níveis de motivação no máximo, em que a felicidade de jogar num coletivo de talento potenciado ao máximo parece esconder o cansaço — o onze mantém-se praticamente o mesmo desde o verão —, e outra deprimida, em crise, com um treinador com os minutos contados. Mesmo com a eliminatória decidida, Grimaldo ou Rafa, nomes de estatuto consolidado na Luz, não pararam de sprintar, talvez embalados pelo velho sonho europeu que, naquela festa de golos, parecia de volta.
Aos 57', uma jogada em que tudo foi feito segundo as regras — o passe de primeira de Chiquinho, a temporização de Aursnes, a assistência de Grimaldo — culminou no 3-0 de Gonçalo Ramos, outro lance de instinto do português. São já 23 tiros do pistoleiro pelo Benfica em 2022/23.
Faltava o golo de penálti de João Mário, o convidado que não tem faltado na Liga dos Campeões da equipa de Roger Schmidt. O 4-0 do português foi o quinto golo de castigo máximo do médio na presente edição da prova, um novo recorde na história da competição.
O 5-0 chegaria em novo lance de alto requinte técnico, expresso pelo calcanhar de Ramos para Rafa, a combinação deste com Neves e a finalização de Neres. O Brugge ainda reduziria, num belo remate de Meijer.
O Estádio da Luz despediu-se da equipa com esperança posta na próxima eliminatória. Desde 1989/90, época da última final da Taça dos Clubes Campeões Europeus perdida, que o Benfica não está nas meias-finais da principal prova continental. Depois veio a Champions, o acentuar das desigualdades, a limitação da ambição. Mas, talvez, em 2023 o velho sonho possa renascer nas asas de Ramos, Rafa ou João Mário. Mesmo que não seja concretizado, poder sonhar nestes tempos desiguais já e uma conquista."

Pelo segundo ano seguido, o Benfica vai receber um recorde de prémios de jogo da UEFA: €71,7 milhões


"Uma época depois, o Benfica está nos quartos de final da Liga dos Campeões outra vez, feito inédito no atual formato da prova. E já certo que a atual aventura europeia vai render o maior valor de sempre ao clube em prémios da UEFA

São 184 páginas de um volumoso Relatório e Contas da SAD do Benfica que, em formato digital, se põe a jeito de ser pesquisado pelas magias da tecnologia e por um simples Control + F que torna esta caça num ato de rapidez. Na vigésima quarta folha está a frase que toca no ponto que seduz os cuidadores das finanças dos clubes e passa diante dos olhos de adeptos nos títulos noticiosos, provavelmente sem a mesma atenção prestada: “Em termos operacionais (...) verificou-se uma melhoria face ao período homólogo. Esta variação está essencialmente relacionada com: (i) o desempenho desportivo na Liga dos Campeões”.
A prestação na rainha das provas do futebol europeia constar logo como primeiro motivo no documento relativo a 2021/22 não é surpresa, antes confirmação, mais uma, da dependência dos cofres em euros vindos da UEFA. Na época passada, o Benfica recebeu €65,4 milhões em prémios da entidade, um recorde para o clube após alcançar os quartos de final da Champions onde acabou de regressar: com um 0-2 em Brugge e um 5-1 em Lisboa, a equipa volta a ser uma das oito melhores da competição. E ao elogiável espalhafato desportivo virá mais um máximo histórico nos zeros à direita.
Com a passagem aos ‘quartos’, o Benfica garantiu que baterá os rendimentos da última temporada. Vai receber cerca de €71,7 milhões e aumentar o recheio uefeiro nos seus resultados operacionais, que traduzido para o campo deverá possibilitar ao clube manter o investimento na sua equipa principal. A este número se chega pelo somatório dos €38,4 milhões recebidos só pela entrada na fase de grupos, os €13,1 milhões das quatro vitórias (€2,8 milhões cada uma) e do par de empates (€930 mil à cabeça), os €9,6 milhões pela chegada aos oitavos de final e os €10,6 milhões da qualificação para os ‘quartos’.
E receberá, pelo menos, esses €71,7 milhões.
Porque nas magicações de euros da UEFA, além do que é tabelado no início de cada época, entram as variáveis que são calculadas no desfecho das competições. Os clubes ainda recebem uns milhões conforme a sua classificação no coeficiente da entidade - onde o Benfica é o atual 15.º classificado entre 100 equipas - e também uma verba vinda do market pool. O que é isto? “Um valor proporcional de cada mercado televisivo representado pelos clubes que participam na fase de grupos”, explica a UEFA. No fundo, as equipas vindas dos países onde a fatia das receitas televisivas é maior receberão mais dinheiro. Às portuguesas não tocará muito, mas ainda representa um acréscimo de receita.
Nas últimas 10 épocas, só por duas o Benfica superara a barreira dos €50 milhões - em 2021/22, quando amealhou €65,4 milhões pela aventura até aos ‘quartos’ da Liga dos Campeões, e em 2018/19, fruto de uma queda na fase de grupos da prova seguida de uma ida à fase das oito melhores equipas da Liga Europa. Porventura estranho, por se tratar da segunda prova da UEFA onde os ganhos mirram sem cerimónias, mas uma leitura do Relatório e Contas da SAD desse exercício dá os porquês: “De referir que na presente época, entrou em vigor o novo ciclo de distribuição de verbas por parte de UEFA, que implicou um aumento considerável dos valores a que o Benfica teve acesso.”
Se faltassem justificações, basta recordar o que sucedeu, antes dessa atualização, nas duas temporadas consecutivas (2012/13 e 2013/14) em que o Benfica só parou na final da Liga Europa: nunca ultrapassou sequer os €25 milhões em prémios.

Os Prémios da UEFA Recebidos Pelo Benfica Nas Últimas 10 Épocas:
2021/22: €65,4 milhões (‘quartos’ da Champions)
2020/21: €10,1 milhões (eliminado na 3.ª pré-eliminatória da Champions e 16 avos da Liga Europa)
2019/20: €48,5 milhões (fase de grupos da Champions e 16 avos da Liga Europa)
2018/19: €56,7 milhões (fase de grupos da Champions e ‘quartos’ da Liga Europa)
2017/18: €17,8 milhões (fase de grupos da Champions)
2016/17: €31,5 milhões (‘oitavos’ da Champions)
2015/16: €35 milhões (‘quartos’ da Champions)
2014/15: €14,5 milhões (fase de grupos da Champions)
2013/14: €22,4 milhões (fase de grupos da Champions e 2.º lugar na Liga Europa)
2012/13: €21,7 milhões (fase de grupos da Champions e 2.º lugar na Liga Europa)"

SL Benfica 5-1 Club Brugge KV: De porta em porta até encontrar os quartos


"A Crónica: Um Club Que Não Ruge Às Águias Que (En)Cantam

Noite de Liga dos Campeões. O Estádio da Luz não é o único sítio cheio por força do SL Benfica – Club Brugge KV. Debaixo dos toldos das roulottes, acumulam-se adeptos ao ponto do próximo que chegar não ter espaço e se ter que contentar com beber cerveja à chuva. Os adeptos belgas misturam-se com os portugueses. Alternam entre os casacos pretos North Face e Fred Perry com os capuzes na cabeça. Passa um marcado por um alto vermelho que lateja em tons de roxo. Mazelas de uma noite de confrontos com adeptos encarnados.
À parte disso, as marcas que físicas mais frequentes são rugas e cabelos brancos. Foram anos à espera que o clube chegasse aos oitavos de final da Liga dos Campeões e fizeram-no pela primeira vez esta época. Mesmo com a derrota por 2-0, a esperança de avançar para os quartos valeu o esforço da viagem. Era um ambiente que se tornava familiar quando viam pelos cachecóis que estavam ali pelo mesmo. Com a mão que não era precisa para segurar o copo de plástico acenavam uns aos outros. Com o mesmo gesto, disseram adeus à Liga dos Campeões. O Benfica impôs nova derrota ao Brugge, desta vez por 5-1, num agregado de 7-1 na eliminatória.
Chiquinho regressou às opções de Roger Schmidt com Aursnes a descair para o corredor. Por seu lado, treinador do Clube Brugge, Scott Parker, promoveu o regresso de Roman Yaremchuk à Luz, incluindo avançado ucraniano, ex-Benfica, no onze inicial.
Tal como os efeitos de luzes que antecedeu o jogo, o Benfica também deu espetáculo. Logo no segundo minuto de jogo, João Mário marcou de calcanhar, mas um fora de jogo de Gonçalo Ramos no início do lance levou a que o golo fosse anulado. O ambiente no estádio era tal que mal se ouviu o apito do árbitro a anular o lance. No entanto, os encarnados continuavam a encantar. Rafa abria caminho para o golo com os túneis que ia fazendo aos adversários.
Até Florentino apareceu lá na frente, mas percebeu-se logo que aquelas não são zonas que costume pisar, pois errou escandalosamente o alvo. Eram condições perfeitas para inaugurar o marcador, mas não tão boas como as que João Mário viveu, onde só um corte de Meijer em cima da linha impediu as águias de chegarem à vantagem. Ao mesmo tempo, Noa Lang e Otamendi iam tendo um duelo renhido, certamente ainda com a partida do Mundial, em que os Países Baixos foram eliminados pela Argentina, na memória.
O ritmo baixou e o Club Brugge equilibrou o encontro, o Benfica teve dificuldades em lidar com Buchanan que fazia de médio interior no 4-3-3, mesmo que, à partida, fosse um jogador mais de corredor. Também Noa Lang ia causando problemas. A pressão alta dos belgas era feita de maneira acertada, mas deixava uma camisola encarnada livre sobre a esquerda: Aursnes. Ainda assim, o Benfica não conseguia encontrar o norueguês.
A equipa de Roger Schmidt que na fase inicial do jogo progredira no terreno em ataque continuado passou a apostar num estilo mais vertical. E assim chegou ao golo. Gonçalo Ramos escapou na esquerda e teve discernimento para demonstrar que abrandar também é uma arte. O avançado levantou a cabeça e descobriu Rafa na área que, de uma maneira pouco ortodoxa, finalizou.
Não foi preciso inventar muito para o Benfica alargar a vantagem. De novo, Gonçalo Ramos fugiu no flanco canhoto só que, em vez de passar, fintou toda a gente que lhe apareceu à frente e rematou forte para o dois zero, já em tempo de descontos da primeira parte.
Com a eliminatória no bolso, o Benfica voltou a tomar as rédeas do encontro. Aursnes, que parecia ter errado na decisão ao não rematar à baliza, desmarcou Grimaldo na esquerda. Dos pés do espanhol saiu o passe para Gonçalo Ramos bater de novo Mignolet.
O controlo que o Benfica tinha permitiu a Roger Schmidt lançar jogadores a partir do banco e todos eles acrescentaram. Gilberto ganhou a grande penalidade que João Mário converteu. João Neves assistiu David Neres para o quinto.
Só o método que Meijer usou para reduzir para o Club Brugge podia importunar a estabilidade encarnada. De pé esquerdo, o lateral neerlandês encontrou o ângulo da baliza de Odysseas e, diga-se, fez o golo mais bonito da noite.
Pelo segundo ano consecutivo, o Benfica apura-se para os oitavos de final da Liga dos Campeões, uma campanha que começa a fazer lembrar a do Ajax em 2018/19 quando os neerlandeses chegaram às meias-finais da liga milionária para surpresa de todos. Para já, os encarnados estão solidamente nos quartos.

A Figura
Gonçalo Ramos Com dois golos e uma assistência fica difícil não destacar o avançado do Benfica. Ainda assim, de salientar o que Rafa fez dentro das quatro linhas, realizando claramente o melhor jogo desde que regressou de lesão. No entanto, o ponta de lança foi decisivo para selar a passagem à próxima fase da Liga dos Campeões.

O Fora de Jogo
Clinton Mata Mesmo com a ajuda de Sowah a defender o corredor direito, teve muitas dificuldades em lidar com Grimaldo e a companhia encarnada que, com menos frequência do que o espanhol, mas com igual perigo, por ali foi aparecendo. O trabalho defensivo era tanto que depois não queria mais do que ver-se livre dela.

BnR na Conferência de Imprensa
SL Benfica
O Bola na Rede foi impedido de fazer questões ao treinador do Benfica, Roger Schmidt.

Club Brugge
Bola na Rede: Apesar de tudo, esta foi a primeira vez que o Club Brugge esteve nos quartos de final da Liga dos Campeões. O que é que levam desta experiência para o futuro?
Scott Parker: Foi muito importante para a equipa estar nesta fase da competição. A equipa tem que estar muito orgulhosa do que alcançou esta temporada, mas acabou por ser curto para nos qualificarmos para os oitavos de final. A equipa tem que estar orgulhosa."