sábado, 10 de dezembro de 2022
Fim de semana de emoções fortes
"Esta edição da News Benfica é dedicada à agenda desportiva do fim de semana e aos jogos realizados ontem. Dérbi no andebol, clássico no basquetebol e o particular com o Sevilha em futebol são os maiores atrativos.
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A nossa equipa de futebol regressa aos jogos, no Algarve, frente ao Sevilha (domingo às 17h00), um particular com vista à preparação para a retoma das competições. O próximo desafio em competições oficiais está agendado para dia 17 (visita ao Moreirense para a Taça da Liga). Neste encontro com o Sevilha, Roger Schmidt ainda não conta com os seis mundialistas, dos quais cinco, ao serviço de Portugal e Argentina, ainda estão em prova.
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Amanhã há dérbi com o Sporting, na Luz, em andebol. O capitão de equipa, Paulo Moreno, fez a antevisão e apelou à presença dos Benfiquistas: "É na nossa casa e queremos ganhar com um grande ambiente. Que nos venham apoiar e empurrem para a vitória. Se os adeptos criarem um ambiente como nós, Benfiquistas, sabemos fazer, de certeza que vamos estar mais próximos da vitória."
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O sorteio da Taça de Portugal de basquetebol ditou um clássico para os oitavos de final e é no domingo, às 17h00, na Luz, que Benfica e FC Porto voltam a medir forças nesta temporada. Recordamos que, na partida anterior, para o Campeonato, vencemos 105-112 após prolongamento, pelo que se perspetiva um jogo equilibrado e em que o apoio dos Benfiquistas é fundamental para chegarmos ao triunfo. Não falte!
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Ontem houve vários jogos. Em hóquei em patins visitámos o Riba d'Ave e vencemos por 3-6; no futsal recebemos o Ferreira do Zêzere e ganhámos por 5-4. Em ambas mantivemos a liderança dos respetivos Campeonatos. A equipa feminina de basquetebol sofreu a primeira derrota da temporada. Foi na Bélgica, frente ao Belfius Namur Capitale, por 72-56, mas o apuramento para os 16 avos de final da FIBA EuroCup Women já estava garantido. Em voleibol, nos homens batemos o Viana por 3-0 e nas mulheres superiorizámo-nos ao Clube K (3-2).
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Além dos acima referidos, há mais jogos para apoiarmos o nosso Benfica neste fim de semana. Destacamos aqueles em que somos visitados.
A equipa feminina de futebol recebe o Valadares Gaia no Benfica Campus, domingo às 16h00. E são várias as partidas na Luz. No voleibol tem início a 2.ª fase do Campeonato, em que na primeira jornada defrontamos o Castêlo Da Maia (sábado, às 18h00). No andebol feminino há duplo confronto: sábado com o Colégio de Gaia (19h30) e domingo com o ZRK Borac (15h30). No básquete feminino recebemos o CP Natação, domingo às 11h00.
Para saber os locais e horários de todos os jogos, clique aqui.
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A Fundação Benfica e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa celebraram um protocolo de colaboração que pressupõe a continuidade da parceria estabelecida em múltiplos projetos sociais. Saiba mais no artigo publicado no Site Oficial.
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Para ver e rever na BTV. Estreou ontem o novo programa "A Carrinha do Bento". A glória Carlos Manuel, acompanhado pelo jornalista João Martins, percorrem o País numa viagem pela mística e história do Glorioso. Veja o teaser, aqui."
Benfica lamenta intransigência do Sporting
"O Sport Lisboa e Benfica lamenta que o Sporting se tenha mostrado, hoje, mais uma vez, irredutível quanto a uma mudança de horário do dérbi de andebol marcado para amanhã, às 15h00, no Pavilhão n.º 2 do Estádio da Luz.
Apesar de todas as tentativas realizadas desde o início da semana, o Sporting mostrou-se repetidamente intransigente quanto a qualquer alteração, apesar de, à mesma hora, a seleção portuguesa disputar o acesso às meias-finais do Campeonato do Mundo de futebol.
O Sport Lisboa e Benfica entende que esta sobreposição em nada defende a modalidade, num dérbi que se espera emocionante. E se o objetivo do Sporting era encontrar um pavilhão vazio, será certamente surpreendido pela massiva presença dos adeptos do nosso Clube, a quem deixamos o apelo para uma adesão e um apoio emocionantes, como sempre acontece."
Catarses 2️⃣5️⃣ Sebastião e os Reis de Marrocos
"Acreditar que D. Sebastião podia assomar ao alto da Serra dos Candeeiros, impante e Vitorioso no seu garanhão branco, era um dos devaneios da minha infância, inspirado pelos cânones negacionistas do regime, naquelas manhãs de geada, neblina e poças de água, a caminho da escola primária.
Muitos anos depois, o futebol e a profissão possibilitaram-me trabalhar intensivamente em Marrocos durante mais de um ano. Uma oportunidade única de conhecer a História, pelo lado do inimigo. Foi há 20 anos, mas lembro-me exactamente onde estava e com quem, os meus amigos Youssef e M’ahmed, ao serão em Agadir, quando tomei consciência da narrativa absurda que nos foi ensinada sobre esse episódio trágico e marcante para Portugal e para o Mundo.
Eles chamavam-lhe a “Batalha dos Três Reis” e demoraram algum tempo a perceber o que queria dizer o meu “Alcácer Quibir” que, na verdade, era o original Ksar el-Kebir, que devíamos ter traduzido literalmente por “Grande Castelo”, ali perto do Wadi al-Makhazin, um vale à prova de invasores, onde tudo se passou - para que o trauma da derrota não fosse tão grande e perene.
E que, embora armados com artilharia pesada, os portugueses aliados às tropas mouras do Sultão caído em desgraça, Abdallah Al-Mutawakil, não chegavam a metade dos mais de 50.000 soldados do terceiro Rei, o Sultão Abd al-Malik.
Foi pela voz dos amigos marroquinos que finalmente matei o Sebastião da minha genética cultural, por solidariedade alheia, ao tomar consciência que também os dois Reis muçulmanos desavindos tinham morrido na carnificina desse 4 de Agosto de 1578, da qual ninguém saiu ileso.
Mais de 400 anos depois, incluindo banhos e passeios prazenteiros nas praias onde Sebastião e as suas tropas em fuga se afogaram dramaticamente, conheci um país extraordinário.
Do azul da costa mediterrânea de Tânger ao branco dos picos nevados do Atlas, passando pelas tinturarias de Fez, pelo ocre de Marraquexe ou pelos cenários épicos de Ouarzazate, a porta do Sahara, do nascer do sol ao som dos minaretes a chamar para o primeiro “Salah” e do frenesim das manhãs no meio do trânsito dos burros de carga nas medinas sobrelotadas das cidades imperiais, à sensualidade das dançarinas do ventre nas noites dos riades, e absorvendo, sempre que pude, a inspiração contemplativa do silêncio do palmeiral de La Mamounia, o palácio que preserva intacta a suite de Churchill com a mesma abertura multicultural com que se lê um jornal europeu e se come ‘croissants’ pela manhã em Casablanca.
Adoro Marrocos e sei que os marroquinos adoram Portugal e os portugueses - não entendo como não existe uma ponte política, social e económica, sem barreiras nem portagens, entre as duas margens deste rio salgado que nos separa.
Adoro futebol e aprendi que nenhum povo gosta mais de futebol do que o marroquino, pelo que também fui derrotado junto com as “tropas” do Rei Mohammed VI na batalha de Zurique em que o conluio da FIFA atribuiu o Mundial de 2010 à África do Sul.
Hoje voltamos a encontrar-nos num mar de areia, árido e truculento, precisando de deixar em casa a arrogância sobranceira dos eternos Sebastiões que habitam em nós.
Como diz o fidalgo da FEMACOSA, a selecção de Marrocos é fortíssima, determinada e organizada como o exército de Al-Malik, que atacava pelos flancos com uma cavalaria de puros-sangues, os Hakimi e os Ziyech pela direita, os Mazzraoui e os Boufal pela esquerda, para ganhar o domínio do centro da batalha. E com a firmeza dos Bono, a combatividade dos Amrabat e a inclemência dos En-Nesyri desbaratava a admirada táctica do quadrado, espécie de tiki-taka dos torneios ibéricos, engendrada por Mister Álvares Pereira, 200 anos antes.
“O Desejado" cavalgou ao encontro de uma morte inglória, treslouco pelo cristianismo assanhado e miragens de glória a clamar “Sebastião, Sebastião, Sebastião”. Não nos inebriemos se, às tantas, ouvirmos a multidão de árabes e berberes no estádio do Catar também chamar o capitão-mor das tropas lusas, “Cristiano, Cristiano, Cristiano”.
Será apenas um enganador salamaleque colectivo, o canto das sereias do deserto.
Fazem-no com a sabedoria negocial com que nos impingem marroquinaria nos “souks” da praça Jemaa el-Fna, dos encantadores de serpentes, pelo triplo do valor real. Ou com a desfaçatez com que em 1986 endrominaram o ingénuo Bom Gigante, José Torres, atormentado pelas patetices de Saltillo, tal como o selecionador tem andado assoberbado pelas tolices de Doha.
Se de Alcácer Quibir saiu um novo Sultão, Aḥmad al-Manṣūr (Aḥmad, o Vitorioso), que se cumpra o destino, meio messiânico, meio sebastiânico, de sair da batalha de Al-Thumama, contra todo o mundo árabe reunido em apoio de Marrocos, um novo Rei, Amado Portugal, o Vitorioso.
Oxalá!"
Catarses 2️⃣4️⃣ Oração pelo Cristio-ronaldismo
"Ricardo Reis, o clássico “criativo” de influência brasileira e um dos craques principais do vasto plantel à disposição do seleccionador Fernando Pessoa, atacou o pecado da soberba na ode “Quero ignorado, e calmo”, uma oração à humilde gratidão, muito atual e reflexiva:
“Aos que a riqueza toca, o ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja, embacia-se a vida.”
“Aos que a felicidade, é sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera, tudo que vem é grato.”
A gratidão (e a falta dela) provocou nos últimos dias um autêntico cisma na vasta legião de seguidores desta nova igreja do Cristio-ronaldismo que vinha medrando há anos em franjas da sociedade portuguesa, primeiro como família, em seguida como claque devota, depois como seita incondicional e, finalmente, como religião de fanáticos exaltados e absolutamente intolerantes aos espíritos críticos.
Não é a primeira vez que esta conexão espiritual com o futebol se desenvolve em formato religioso. Com Pelé e os campeonatos do mundo nasceu o conceito “Deus é brasileiro”, embora perdendo de goleada para a eficácia do candomblé com seus orixás e pais de santo.
E, mais tarde, a Igreja Maradoniana, fundada em 1998 na cidade argentina de Rosário, com todos os seus preceitos em 10 Mandamentos e obediência ao divinal tetragrama D10S (Dios), que confunde o D de Diego com o seu número, e que conta os anos como a.D. e d.D, antes e depois do nascimento d’Ele:
“Diego nosso, que estás no céu, santificado seja o teu pé esquerdo…”
Por cá, é frequente ouvir que a marca CR7 é maior que Portugal, pela força dos seus triliões de seguidores, e arrisco-me a afirmar que terá mais fiéis do que muitas religiões milenares, arrastando multidões de crentes que nunca tinham sentido necessidade de empunhar a palavra e sair à liça em defesa do seu profeta.
Idolatrava-se este novo cruzado por ser pacífico e magnânimo, tomando conta do mundo pela graça do seu toque de bola e pelos golos milagrosos que fazia à vista de todos, segundo os três mandamentos dos deuses do Olimpo, “mais rápido, mais alto, mais forte”.
Mas agora, nada se diz que não descambe em discussão inclemente e agressiva contra os cépticos, os ingratos, os injustos, os hipócritas, os invejosos, os mal-agradecidos, os traidores, os jagunços, os arrombados, os babacas, “essa gentalha”, para citar alguns dos epítetos com que vi e ouvi serem catalogados os que ousaram manifestar-se a favor das mudanças do seleccionador e contra o vedetismo exacerbado de um extraordinário jogador de futebol em evidente ‘off side’.
O cisma separa os indefectíveis, para quem é inadmissível questionar a infalibilidade dogmática da divindade, dos hereges protestantes que deixaram de reconhecer a autoridade técnica, táctica e física do líder espiritual, pelo menos no âmbito da selecção.
Esta vigilante e estulta “polícia da ronalidade” começa o enunciado das suas contra-ordenações por “não percebo de futebol, mas…”, convicta de que os que se colocaram do lado do “Nós” são perigosas ameaças para “Ele”.
Os blasfemos foram ameaçados de excomunhão, pelos sacerdotes e pelas vestais saídas a terreiro em desagravo do “supremo monstro sagrado esculachado pela mula (Fernando Santos)”, como eloquentemente definiu um “pastor” brasileiro do ramo universal deste reino, numa corrente de libertação no YouTube, enquanto bramava contra os golos de Gonçalo Ramos.
”Preferia Ronaldo a titular do que a vitória contra a Suíça”, afirmou urbi et orbi, na mesma linha num púlpito aberto a cabotinos, outro desses diáconos sem remédio, mortificando-se com o cilício televisivo - o cinto de arame que tritura o corpo e não o silício orgânico que combate o envelhecimento -, como penitência alheia pela longa lista de pecados e omissões averbados nos últimos tempos ao deus-homem nos terreiros do Catar.
Caríssimos irmãos, oremos, então, pelas palavras do poeta para que a compreensão acenda a luz nessas vidas embaciadas pela fama e assoberbadas pela riqueza.
Oremos pelo verbo do evangelista do Português para que a humildade ilumine e gratifique estes tempos de trevas.
“Quero ignorado, e calmo (Cristiano)
Por ignorado, e próprio (Ronaldo)
Por calmo, (o Futebol) encher meus dias
De não querer mais (os Golos) dele(s)”
Que me perdoe, o Supremo Ricardo Reis, autor de “Segue o teu destino”, por esta derradeira infâmia satânica contra a ode e a língua, religiosamente a pátria de todos “Nós”:
“Os deuses são deuses
Porque não se pensam”"
Um transtorno de 90 minutos
"Há muito que digo, por graça, que os adeptos da seleção – sobretudo os que afirmam que nem gostam propriamente de futebol, apenas destes momentos de fervor patriótico – são como condutores de domingo. Surgem de tempos a tempos, sem dominar bem a tarefa e ignorando até algumas regras básicas, mas são muitos, pelo que rapidamente provocam engarrafamentos desnecessários, com protestos mal informados como consequência.
Claro que têm todo o direito a participar da festa e até é nestes momentos que se ganham mais uns quantos adeptos definitivos, mas a maioria circulante provoca sempre ruído, muito dele inútil.
Acompanho Europeus e Mundiais há décadas e já me habituei ao trânsito. Vai em crescendo, a partir das manifestações iniciais de dúvida: se este caminho é melhor que aquele, se quem nos guia é fulano ou sicrano. Sempre em busca da solução fácil, do fator x que tudo explica e autoriza. E passa-se depressa da crítica gratuita à mitificação do herói. E vice-versa.
Em Portugal, então, é numa vertigem que se avança do «não jogamos nada» ao «vamos ser campeões do mundo». Voltou a acontecer na última semana. O treinador é à vez bestial e besta, como sempre, e glorificam-se ou atacam-se jogadores em função da tonalidade clubística que carregam desde a formação. Nem a pátria em chuteiras nos livra disso.
Os que cá andam por sistema, como eu, gostam de ter razão, que as exibições e resultados lhes confirmem os vaticínios. Mas é bem menos por isso que me agrada que esteja a correr bem desta vez, do que por se provar que afinal é possível ver Portugal jogar como equipa grande, colocando em campo, ao mesmo tempo, os maiores talentos que tem. É o gozo que dá. E há muito que ver Portugal jogar não dava tanto, na incomparável qualidade de Bernardo Silva, na capacidade de Bruno Fernandes para resolver qualquer jogo, na afirmação exuberante do génio de João Félix, na confirmação de Otávio como craque completo.
E tantos mais, que a partir do banco podem acrescentar na zona criativa, do meio-campo para a frente, onde verdadeiramente se determina se uma equipa é apenas boa ou tem qualidade extra. Claro que se perder com Marrocos, ou no jogo a seguir, ou até na final como nunca jogámos, lá se dirá que faltou quem defendesse naquele meio-campo, ausente de jogadores mais rápidos ou robustos. Fernando Santos será então acusado, desta vez, de excesso de ousadia. Não deixa de ser irónico.
Escreveu há um par de dias Juan Manuel Lillo, ex-assistente de Guardiola e um dos que melhor refletem sobre futebol, já a propósito deste Mundial: «às vezes penso que os 90 minutos são quase um transtorno para algumas pessoas, que só querem mesmo ou elogiar os vencedores ou dizer o piorio (talk shit, no original) de quem perde.»
Se Portugal acabar a celebrar - só aconteceu uma vez! – seremos todos parte daquele povo fantástico, conquistador e raro. Caso contrário, os culpados serão os de sempre, com o treinador à cabeça, sobretudo por não ter colocado Ronaldo mais tempo. E até o futebol, ele próprio, será de novo verberado por ter importância a mais num país como o nosso. Será quando acordaremos de novo para a realidade, ainda de guerra e inflação, como numa qualquer segunda-feira em que voltam a andar na estrada os do costume, obrigados ao percurso atribulado para o trabalho ou levar os filhos à escola em hora de ponta.
Os domingueiros da bola, com posts mais ou menos populistas, hão de voltar numa próxima oportunidade. Porque, até lá, cada sequência de 90 minutos é uma canseira para eles."
Não é futebol, é política e da boa!
"É sempre da boa, o que me recorda episódio do Brasil da ditadura militar, durante o Mundial de 1970. Era importante para o regime que o Escrete, com Pelé à cabeça, conquistasse o Tricampeonato. Para a oposição comunista, na clandestinidade, era importante que o México 70 corresse muito mal aos canarinhos. Conta um desses clandestinos, que assistiu ao jogo da final num apartamento de São Paulo, queria que perdessem e quando o Brasil marcou foi para a janela, deu três tiros para o ar e gritou em lágrimas "puta que pariu, como é bom ser brasileiro!"
O Portugal-Marrocos de amanhã, descascado à margem das mialgias e dos 4x3x3 mais os alas, em tudo espelha a importância política do futebol para ambos os regimes. Ou porque será que o Presidente Marcelo se mantém em campanha sem hipótese de um terceiro mandato? E tudo e tudo e tudo, que todos/as estamos sintonizados/as domingo à noite com o que vale a pena ver da encenação, primeiro com os comentários de Marques Mendes e depois com o ritmo e a poesia de RAP, Ricardo Araújo Pereira. Ou seja, já só vemos o compacto da semana, o melhorzinho, apresentado pelos maiorzinhos!
Os Leões do Atlas, a Selecção Marroquina de Futebol, também tem peso semelhante, duplo, talvez triplo até em Marrocos. Porquê?
Porque as vitórias desta equipa, todas elas e nós temos o exemplo do México 86, aliás uma referência na memória colectiva de todos/as súbditos/as esses 3-1 de Guadalajara! Dizia, porque as vitórias desta equipa, todas elas, são fruto de um trabalho colectivo maroco-marocain! Quero dizer, os resultados de uma equipa são sempre fruto do colectivo, mas no caso marroquino escala para múltiplas dimensões. Há a dimensão da perspectiva da equipa mais pobre face aos milionários galácticos que vão defrontar, cuja referência bíblica David e Golias tem lastro no Islão. Ganhar, começando com prolegómenos de base na força divina, "Morra Sansão e todos os que aqui estão!" Um primeiro sintoma de Comunidade inabalável, até porque está tudo a passar na TV.
Depois há a perspectiva da bipolaridade, com amazighs a evidenciarem a berberidade de Marrocos com base na berberidade da Selecção e os árabes a fazerem o mesmo, mas no seu sentido, evidenciando o facto de nunca nenhuma equipa árabe ter chegado tão longe num Mundial. Os amazighs levantam a bandeira de África e de ser a única equipa em representação do continente nesta fase final da competição. Outra responsabilidade, afinal os leões estão todos em África! Todos ganham, porque é tão bom ser-se brasileiro como tão bom ser-se marroquino!
O ponto alto das comemorações da noite de terça-feira, foi O Unificador superlativo, o Monarca quando saiu à rua para comemorar com o seu povo. As redes sociais invadem-se de pequenos vídeos de diferentes ângulos desse momento e passasse a comemorar logo a próxima vitória, que já não se aguenta com tanta alegria!
"Futebol é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer!"
O "desatino desta dor" na vitória face à Espanha, é o agridoce da vingança do ex-colonizado sobre o principal parceiro comercial. Já o jogo com Portugal terá no cenário uma batalha naval entre bons piratas, velhos amigos, que verão comemoração na Baia de Salé, onda uma Aisha Qandisha está sempre à espreita!"
Ronaldo não pode sair pela porta pequena. Só depende dele
"Ronaldo não precisava de jogar os 90 minutos de todos os jogos, não precisava de “exigir” que todos jogassem para si, até para bater mais recordes. Apenas precisava de mostrar uma disponibilidade total para a equipa, estando dentro ou fora do campo.
O que se está a passar com Cristiano Ronaldo é lamentável e o jogador deve estar a ser muito mal aconselhado, pois só isso justifica que tenha escolhido um caminho que tem a porta da saída no abismo. O homem que deve ser dos mais conhecidos do mundo, que foi considerado o melhor jogador do planeta por cinco vezes, que ganhou títulos atrás de títulos, marcou golos de todas as maneiras e feitios, sujeita-se a sair pela porta pequena, quando este Mundial podia ser o da consagração da sua brilhante carreira - Cristiano ficará na montra ao lado de Pelé, Maradona, Messi, Di Stefano ou Eusébio, embora o craque madeirense tenha muito mais títulos e campeonatos mundiais do que o Pantera Negra.
Ronaldo não precisava de jogar os 90 minutos de todos os jogos, não precisava de “exigir” que todos jogassem para si, até para bater mais recordes. Apenas precisava de mostrar uma disponibilidade total para a equipa, estando dentro ou fora do campo. Os comentários de familiares, que não são da sua responsabilidade, como é óbvio, revelam bem o que pensa Ronaldo: ainda se acha o melhor do mundo e quer ser tratado como tal. Acontece que a seleção portuguesa tem jogadores geniais que estão no auge da sua carreira, ao contrário do capitão, que vê o fim aproximar-se, nem que seja na Arábia Saudita. Por mais dura que seja a realidade, Mbappé, por exemplo, está a quilómetros de Ronaldo como este estava a quilómetros dos jogadores que vinham atrás de si, excetuando Messi, quando estava no auge.
O jornal espanhol a A Marca dava ontem conta que chegou a hora de Bruno Fernandes e Bernardo Silva ditarem as suas leis e não querem mais sujeitar-se às obsessões de Ronaldo. A forma como estes dois festejaram os golos de Gonçalo Ramos foi reveladora do que pensam que é o melhor para a seleção - Bruno Fernandes até fez a brincadeira de “roubar” o prémio de melhor jogador ao avançado centro. E como a equipa subiu com Ronaldo no banco...
Já Ronaldo abandonou o campo sozinho, não festejou efusivamente todos os golos e tem no rosto toda a amargura do final de carreira - e até pode jogar mais dois ou três anos e fazer brilharetes. Mas o único jogador sem clube que está no Mundial pode e deve perceber que o passado brilhante não pode ser manchado com birrinhas e ordinarices. Que aproveite o que falta do Mundial para conseguir levantar a única taça que lhe falta: a de campeão do mundo. Isso sim, será uma bela despedida e uma justa homenagem a tudo o que fez em campo."
Anti anti-Cristiano Ronaldo
"O Portugal-Suíça provou que é possível continuar a gostar da Seleção Nacional, de futebol e não menosprezar Ronaldo. Nem mesmo este. E se Portugal ganhar, com Ronaldo suplente, que seja.
É possível glorificar o papel de Ronaldo no futebol português e na mesma frase criticar os seus últimos meses.
E se, por mera casualidade e sem qualquer dose de anti-patriotismo ou anti-ronaldismo, muitos daqueles que criticam o Cristiano Ronaldo que está no Catar o façam só baseados no desempenho que ele tem apresentado no Mundial"2022? Considerando, ainda, que dificilmente poderia fazer melhor depois de uma pré-época inexistente e meses de conflito no Manchester United.
Talvez seja possível não virar as costas ao melhor jogador português de todos os tempos e considerar veemente que esse mesmo craque desatou - e nem se percebe bem porquê - a rematar sempre ao lado. Especialmente fora do campo e, soube-se ao minuto 66 do Portugal-Coreia do Sul, igualmente dentro.
Porventura, é possível não minimizar o papel de Ronaldo para o futebol português e na mesma frase acrescentar que aquilo que ele disse dirigido a Fernando Santos foi, no mínimo, reles. O mesmíssimo treinador que menos - porventura, nunca - questionou a grandeza de Ronaldo fora e dentro das quatro linhas.
Posto isto, não é preciso ter o doutoramento em futebol que João Félix exige a quem fala sobre a Seleção, para concluir que nem a "especificidade" de Marrocos pode levar o selecionador a trocar Gonçalo Ramos por Ronaldo. Fazendo com que o autor de um incrível hat-trick regresse ao lugar que muitos acham reservado a 25 jogadores - agora 23 - da Seleção Nacional: a sombra de Ronaldo.
O Portugal-Suíça provou que é possível continuar a gostar da Seleção Nacional, de futebol e não menosprezar Ronaldo. Nem mesmo este. E se Portugal ganhar, com Ronaldo suplente, que seja. Prefiro isso a 500 milhões de seguidores no Instagram ou a um programa de humor na SIC."
Porque Ronaldo é Ronaldo?
"É egoísta? É. Mas se não fosse não teria chegado onde chegou. E isso está a findar, como tudo.
Ao longo das últimas semanas, muitos se têm questionado a respeito das atitudes de Cristiano Ronaldo. Ora invetiva o treinador que o substitui, ora não comemora junto dos colegas as façanhas da equipa e recolhe ao balneário isolado, anda sozinho, carrancudo, de rosto fechado. Parece contrariado e infeliz, as coisas não lhe correm - não é de agora - como correram durante largos anos em que pulverizou muitos recordes do mundo do pontapé na bola. Porém, este lado lunar não é mais nem menos do que a outra face de Cristiano Ronaldo: um jogador perfeccionista, devoto em ser o melhor e sempre o melhor, que aprimorou todas as dimensões do seu jogo, e desse modo, ergueu-se ao panteão dos maiores aríetes. Um jogador que rejeita não ser o melhor, o centro das atenções, a figura que todos os olhares atrai e que leva o espetador a pagar bilhete para o ver. É egoísta? É. Mas se não fosse não teria chegado onde chegou. E isso está a findar, como tudo. Isso não nos torna menos gratos ou menos seus admiradores, leva-nos apenas a colocar a seleção onde deve estar, acima de tudo.
No fim de contas, é a personalidade invulgar de CR7, a sua extraordinária persistência, a convicção com que se bate por cada objetivo que aos olhos dos demais parecem inatingíveis, que o levam a exibir este retrato mais sombrio, no momento descendente da sua carreira. Ronaldo quer ser sinónimo de história. Por isso, luta por mais um golo, uma assistência, com o fito de ver o seu nome cravado à imortalidade. E isso é notável, mas pode ser muito frustrante.
Ronaldo ainda pode ajudar. Ronaldo pode liderar. A equipa precisa dele, como em 2016, fora de campo, mas omnipresente."