"Luciano sofreu em busca da alegria de quem vive um sonho
A carreia de futebolista é idealizada pela grande maioria das pessoas como uma vida plena de felicidade, desde a realização de um sonho que muitos almejam até ao facto de se tornar o ídolo de milhares, recebendo o carinho das bancadas a cada jogador. Mas a realidade nem sempre faz jus ao aonho!
A probabilidade indica que apenas 1% dos 'sonhadores' se torna jogador de futebol. Luciano foi um dos que pertenceram a essa ínfima probabilidade. Em 1963, ingressou no Benfica, proveniente do Olhanense. Em 5 de Setembro desse ano, na festa de homenagem de José Águas, o jogador realizou a sua primeira partida de águia ao peito frente ao FC Porto. O defesa entrou no segundo tempo, e, talvez ainda atónito pelo que estava a viver, uma desatenção sua deu início ao lance que permitiu aos portistas chegarem ao empate a uma bola. O jogador reagiu de imediato, fazendo a assistência para Torres restabelecer a vantagem por 2-1. Com uma exibição que mereceu elogios por parte da imprensa, 'revelando uma elasticidade posicional e técnica', contribuiu para a vitória por 3-2.
Luciano garantiu um lugar no onze, sendo um dos elementos mais utilizados na campanha em que os encarnados se sagraram campeões nacionais, ao participar em 20 jornadas. Numa temporada de êxitos, venceu, ainda, a Taça de Portugal. Mas, no futebol, o que é certo hoje, amanhã deixa de o ser. A titularidade nunca está garantida, e os jogadores sabem disso, 'é difícil ascender a essa posição, e é fácil a sua substituição'. A luta é diária!
Nas três temporadas seguintes, o defesa viveu uma situação oposta à vida de futebolista que se imagina, 'descrente, desanimado, o azar personificado, perseguido por lesões implacáveis, mas tentando reagir sempre, numa carreira de sacrífico constante, de infelicidade permanente'. Com poucos jogos realizados, a sua renovação de contrato esteve tremida.
Benfica e jogador chegaram a acordo, e, na temporada 1966/67, o treinador 'Riera contara com ele para a equipa de todos os domingos, e, Luciano parecia outro'. Mas as suas exibições foram decrescendo de qualidade, 'lá dentro jogava com aquilo que a alguns parecia timidez. Era o receio pavoroso de mais dores, mais noites de insónias, mais sofrimento, mais lágrimas'. O jogador acabou por perder o lugar.
Mas o pior estava para acontecer. Em 5 de Dezembro de 1966, Luciano faleceu, eletrocutado quando tomava banho de imersão. O futebol ficou mais pobre, pois, apesar de os craques darem brilho ao jogo, a modalidade é feito de 'Lucianos', que se esforçam e sofrem por amor ao futebol, sem que muitas vezes consigam alcançar a glória que tanto anseiam.
Saiba mais sobre o percurso de Luciano ao serviço do Benfica na área 22 - De Águia ao Peito do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica