sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Homenagem a Chalana


"Fernando Chalana foi, por mérito próprio, imensamente celebrado em vida. Agora que nos deixou, é já com imensa saudade que nos recordamos deste enorme símbolo do Benfica e o homenageamos por tudo o que deu ao Clube e ao futebol.

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Foi nos relvados, em particular no do antigo Estádio da Luz, que o inigualável talento de Chalana mais se expressou e maravilhou os adeptos e onde o pacato Fernando se metamorfoseava no indomável Chalana, para gáudio dos Benfiquistas e um misto de admiração e resignação de adversários. É precisamente no relvado do nosso Estádio que todos teremos a oportunidade do último adeus ao nosso Chalana.
Sexta-feira, 12 de agosto, pelas 15h30, tem início, no Estádio da Luz, uma cerimónia de profundo benfiquismo e de homenagem a Fernando Chalana. A nação benfiquista está convidada para prestar tributo a quem tanto nos fez vibrar nos relvados e se consagrou como uma das maiores figuras do Clube e do futebol português.

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As exéquias têm início hoje, às 19h00, na Basílica da Estrela, em Lisboa. O velório prolonga-se até às 22h00 e continua amanhã, a partir das 10h00. Às 14h15 será realizada uma missa, seguida do cortejo fúnebre, até ao Estádio da Luz, onde as bancadas estarão abertas para uma sentida homenagem de agradecimento a Fernando Chalana. A cremação, no Cemitério do Alto de São João, será às 17h30. Esta cerimónia é restrita à família, pelo que se pede encarecidamente o respeito pela privacidade nesta hora de dor.

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A Direção do Sport Lisboa e Benfica decidiu que não haverá camisola número 10 no plantel da equipa principal de futebol nesta temporada, numa evocação da memória do inesquecível e inimitável Fernando Chalana.

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O legado de Chalana não será esquecido. Leia aqui alguns dos muitos depoimentos de amigos e antigos colegas.

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A nossa equipa feminina de futebol venceu ontem, no Benfica Campus, a sua congénere do Braga, por 3-0, nas meias-finais da Supertaça. A final, frente ao Sporting, está agendada para 26 de agosto, em Leiria.
Os Sub-19 entraram a ganhar na Série Sul do Campeonato Nacional. Veja o resumo do triunfo, por 6-2, frente ao Nacional.
Em ambos os jogos foi respeitado um minuto de silêncio em memória de Fernando Chalana."

Chalana, o meu herói homem-aranha


"Salvo algumas vezes em que acompanhei em criança o meu pai e amigos ao antigo Estádio da Luz, o início da minha romaria habitual à Catedral fez-se por mim, adolescente, juntamente com outros que tinham semelhante chamamento.
Entretanto, ainda miúdo e sendo atleta do Belenenses, fui sozinho ver alguns jogos. Recordo que apanhava dois autocarros (obrigada mãe pelos módulos) para chegar ao Restelo e da sensação de "crescido" ao mostrar o meu cartão de atleta ao porteiro e ter assim entrada livre no Estádio. Era apenas uma criança, mas sentia-me tão atleta como aqueles jogadores de futebol crescidos.
Visto à distância de mais de três décadas, tal situação hoje em dia poderia quase ser motivo de queixa à comissão de protecção de crianças e jovens…
Assim, ao contrário da maioria dos benfiquistas, a primeira vez que vi Chalana jogar ao vivo foi no Estádio do Restelo, em 1988.
Recordo que me movia uma enorme curiosidade alimentada desde sempre pelo melhor amigo do meu pai, o Fernando Gouveia, que falava do Chalana com um brilho e encanto que não se explicam. Um benfiquista daqueles que só tendo conhecido e que acompanha cedo demais o Benfica do 4.º anel.
Para mim, quando o Fernando falava do Chalana, tinha a certeza de que o Pequeno Genial era diferente dos demais. Como se fosse um príncipe de uma história de encantar, tal e qual as suas palavras ou mesmo um herói sem capa e espada, antes envergando um manto sagrado.
Naquela tarde, quando avistei o Chalana de perto, bem no meio da bancada dos sócios do Belenenses, confesso que o achei pequeno e sem grande "pinta de jogador de bola". Seria exagero do Fernando? Existiria ali uma eventual hipérbole de irmandade de "Fernandos de bigodes exuberantes"?
Comecei a perceber que algo era diferente quando no meio da bancada azul-celeste, ouvi como Chalana era respeitado e acarinhado pelo público adversário. Tirando os palavrões que faziam estremecer qualquer petiz, o "sacana" do Chalana era especial até para os adversários, e isto já sem o fulgor prévio à partida para França alguns anos antes.
Quis o destino que o Benfica vencesse com um golo precisamente do Chalana, culminando uma primeira parte de grande nível. E quis felizmente também o destino que os sócios do Belenenses não tivessem levado demasiado a mal o meu festejo exuberante com o golo do Chalas, de penalti. Afinal, era só um puto atrevido, sozinho aos saltos no sítio errado.
Dali em diante, sabemos que o herói estava já numa fase descendente da carreira, diminuído fisicamente, e acabou até por ir jogar precisamente para o Belenenses, onde tive o privilégio de o ver mais algumas vezes. Nada que lhe retirasse a aura de herói.
Chalana tornou-se parte do meu imaginário, sendo para mim o homem-aranha do futebol. Isto porque sempre vi desde miúdo o homem-aranha como um "super-herói" mas sem poderes divinos e sendo acima de tudo uma pessoa "normal", com erros e dificuldades dos demais humanos, e em que apesar dos problemas, o foco estava em ajudar os outros.
Chalana era e será sempre simplesmente "um dos nossos". Uma pessoa "normal", do Barreiro, mas com um talento puro para fintar e jogar futebol, de onde retirava um prazer ímpar, qual miúdo na rua, transmitindo uma paixão genuína, daquelas que fizeram crescer e alimentar incontáveis paixões pelo Benfica e pelo futebol, elevando aquele "ser normal" à categoria dos eleitos.
A notícia da morte do meu herói de manto sagrado, embora não inesperada, doeu fortemente. Tive até dificuldade em explicar a algumas pessoas a tristeza associada a esta perda. Disse-lhes simplesmente que foi como perder alguém da família, daquela próxima. É simplesmente da nossa família, daqueles apaixonados pelo futebol e pelo Benfica. Quem sente, simplesmente percebe.
Nestes últimos tempos, fui-me mentalizando para a sua partida, por saber o difícil estado de saúde em que se encontrava, com uma doença que teimou em placá-lo de atingir uma velhice merecida. Logo a ele, que julgávamos quase não ser possível pará-lo...
A bem da verdade, importa realçar que o Benfica, através do anterior presidente, diligenciou para que dentro do possível, nada faltasse ao Pequeno Genial. Um gesto mais que justo e que enobrece os ideais do Sport Lisboa e Benfica.
E, acrescente-se, alguns dos seus antigos companheiros de equipa, foram presença próxima de Chalana e família nestes momentos difíceis. Porque aquela mística que um deles gosta de falar não se esgota nas palavras, nem quatro linhas ou tão pouco com o final da carreira…
Estou certo de que o Benfica tudo fará para eternizar a glória deste herói, aproveitando para deixar algumas ideias para poderem ser consideradas como formas de homenagear Chalana:
· No próximo jogo da equipa de futebol (em Leiria), todos os jogadores entrarem com "Chalana" na camisola, para além das faixas negras (o número 10 para todos não é possível);
· No próximo jogo da equipa de futebol (em Leiria), entrar toda a equipa com "bigodes à Chalana" antes de o jogo começar;
· No próximo jogo da equipa de futebol em casa, distribuir bigodes nas portas de entrada para todo o público (homens, mulheres e crianças) usar em homenagem a Chalana (que momento único será mais de 50.000 pessoas de bigode a encher o Estádio);
· Dar o nome de Chalana ao Estádio do Seixal; · Retirar para sempre a camisola 10 da equipa principal; · Em cada minuto 10 dos jogos em casa, passar uma jogada de Chalana;
Faltam sempre palavras para explicar o efeito que os heróis têm para nós. Para mim, Chalana será super-herói dos relvados, o meu homem-aranha das quatro linhas, equipado com um manto sagrado e um eterno 10 nas costas.
Que descanse em paz do alto do 4.º anel, certo de que será o herói eterno da paixão benfiquista e "das pessoas normais"."

Vamos encher as bancadas da Luz


"O velório está a decorrer na Basílica da Estrela, das 19h00 às 22h00, e o funeral será na amanhã.
A missa será na Basílica da Estrela, às 15h00, e em seguida o cortejo fúnebre passa pelo Estádio da Luz antes de seguir para o Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
Até sempre, Chalanix✨"

Chalana


"O Lavradio, terra outrora rodeada de vinhedos e salinas, fértil, generosa, é uma pequena vila que poderá facilmente ser confundida com um dormitório suburbano sem história, qualidade metafísica ou aquilo a que chamamos a alma dos lugares, uma ressonância. Nasci e cresci perto do Lavradio mas só frequentei a vila já na minha adolescência quando foi inaugurado, perto dos terrenos industriais, o hipermercado Feira Nova e as suas quatro salas de cinema. Em finais de Julho, terei ido às festas em honra de Santa Margarida, no período de apatia estival em que procurávamos fora do bairro a animação, as aventuras e os amores que ali escasseavam. Em menos de nada, gastávamos as poucas moedas em fichas de carrinhos de choque, observávamos as miúdas, falhávamos manobras e regressávamos a pé para casa, atravessando temerários a linha de comboio, de volta ao nosso ermo, à espera que aquele Verão acabasse. Em tempo de aulas, íamos com frequência ao pontão do parque, bebíamos vermute morno em copos vazios de iogurte, contávamos piadas, arriscávamos filosofias, ríamo-nos dos nossos insucessos, olhávamos em silêncio os sapais, respirávamos a dolência que deles emanava. Numa dessas tardes, levámos uma bola de futebol. Com a minha inépcia habitual, atirei-a para a água. O Guedes nem pensou: descalçou os ténis, despiu as calças, a camisola e, num mergulho perfeito, desapareceu nas águas turvas. Durante alguns segundos ficámos a olhar para o rio, à espera de um sinal. Já nos preparávamos para pedir ajuda quando, perto da bola que se afastava, emergiu formidável o Guedes, dorso portentoso de Neptuno, sorriso de criança grande, bola à frente do nariz como uma foca do jardim zoológico. Apesar destes contactos esporádicos, o Lavradio era para nós uma terra sem significado. Um dos meus amigos, mago do futebol de salão e mentiroso condecorado, disse-nos uma vez que tinha recebido das mãos do Chalana o prémio de melhor jogador num torneio. «Tangas.»
10 de Fevereiro de 1959 foi Terça-Feira Gorda. O país ouvia incrédulo o estrondo do Carnaval do Estoril, com a cintilante presença do «grande» Maurice Chevalier e as criações do conceituado Pierre Balmain e os seus manequins. Outras celebridades passearam pela Linha dos aristocratas internacionais, dos monarcas exilados, do dinheiro antigo. Os jornais anunciavam para breve a actuação de Luis Mariano, vedeta internacional da canção, em concerto no cinema Império, na altura casa de ídolos de carne e osso e celulóide, onde até Sua Excelência o Embaixador de Espanha e Excelentíssima Esposa se deslocariam. Prometiam-se também espectáculos de alto gabarito no Coliseu com os Flying Palacios, irmãos mexicanos considerados os «mais impressionantes voadores do mundo», e Atilina, «extraordinária funâmbula». Nessa terça-feira de excessos em que as misérias faziam questão de exibir os dentes estragados, Sporting e Barreirense encontraram-se num jogo solidário a favor da família do malogrado árbitro Aureliano Fernandes. Em Setúbal, com o estádio dos Arcos lotado, a equipa da margem sul venceu as reservas leoninas com golos de Lino e Oñoro, exemplares da já então decantada «escola do Barreiro». Enquanto os foliões se divertiam com as cegadas nas ruas operárias, os bêbados pousavam as cabeças contundidas nas mesas das tabernas e nascia no Barreiro a que viria a ser a estrela mais brilhante dessa galáxia suburbana.
Quando Fernando Chalana ainda era criança, a família mudou-se do Barreiro para o Lavradio. A distância é curta, mas convém não menosprezar a força das mitologias identitárias das pequenas comunidades. Anos mais tarde, ao falarem-lhe do célebre «grupo do Barreiro», Chalana haveria de contrapor de imediato: «Só eu é que era do Barreiro, os outros eram da Moita, de Sarilhos, de Santo António.» Naquelas ruas, então de terra batida, e nos baldios em redor, os miúdos jogavam à bola até anoitecer ou até que a Guarda viesse e os obrigasse a recolher. Fernando nunca largava a bola. Na escola nem era dos piores. Só se recorda de ter levado reguadas uma vez. E por causa de um gato. Encontrou-o perto do Beco D. António. Dizem que os gatos são senhores do seu nariz, que não se dão, mas ele achou o bicho desamparado, perdido, detectou entre os dois uma afinidade delicada. As reguadas doeram-lhe mais porque foram inglórias: o gato fugiu. Nessa tarde, depois da escola, ainda o procurou pelas ruas do Lavradio, na D. Pedro II, na Almirante Reis, bichaninho, bichaninho. Nada. Nunca mais o viu.
Torpor de fim de tarde. A angústia de se saber que está na hora de ir para casa quando ainda se quer tentar a última finta, outro golo, naquela rua em que só há um candeeiro e mal dá para ver a bola. «Já são horas, Fernando. Olha que vem aí o feijão-verde». Ele não ouve. Continua. Já não há mais ninguém. Só ele e a bola, cúmplices, a luz débil do candeeiro, um homem que, antes de entrar em casa, bate com as botas no tapete, assobia, um cão, o cheiro a lodo, o enxofre das fábricas, finta um adversário que não está lá, e depois outro, atira para uma baliza que são duas pedras desiguais no chão, e será sempre assim, mesmo anos mais tarde, naquele fim de tarde mediterrânico, em Marselha, uma maré de calor e saudade sobe do porto e vence as bancadas, silencia as vozes, apaga os adversários, está outra vez sozinho, com a bola, nas ruas do Lavradio, noutro crepúsculo que é sempre o mesmo, num estádio que é sempre uma estreita faixa de pó numa vila operária, sob os holofotes que iluminam tão pouco como aquele candeeiro mortiço da sua infância. Os adversários não estão lá. Ele, na verdade, também não está lá. Está sempre noutro lugar, mais à frente, mais longe.
A mãe dizia-lhe: «Estuda, Fernando, ou ainda vais prá guerra.» Ele encolhia os ombros: «Não se preocupe, um dia vou para o Benfica ou para o Sporting e não me deixam ir para a guerra.» Dizia-o com a certeza matemática das coisas evidentes, sem arrogância, como se conferisse os centavos do troco ou fizesse uma conta de somar na ardósia. Estava tão certo de que aconteceria assim que nem a dor de ter sido recusado pela CUF o desanimou. «Políticas. Ficavam os filhos dos importantes da Companhia.» Todo o génio precisa da afronta de uma rejeição, de um obstáculo menor que, mais do que exaltação, sirva para denunciar a miopia da mediocridade perante o talento puro. Mas era uma rejeição dolorosa. Nas tardes de domingo, o padrinho levara-o pela mão ao Alfredo da Silva, onde via os jogos da CUF no peão, maravilhado, a mastigar tremoços ou amendoins, imaginando-se um dia a vestir aquela camisola verde, a ouvir o seu nome cantado pelo povo. Ali. E agora escorraçavam-no, a ele, que já estava habituado à admiração alheia, ao espanto que intuía nas bancadas exíguas dos campos de futebol de salão – quem o via jogar não se esquecia daquele miúdo: «Alto lá! No campo do 31 de Janeiro, dos Celtas, era cada finta, os outros bem lhe davam sarrafada, mas ele fazia assim e assim e deixava-os pregados ao chão, o pessoal nem acreditava, parecia de borracha.» Afinal, não prestava, não servia. Talvez essa rejeição original tenha deixado no coração do miúdo uma cratera que nem todo o reconhecimento que os adeptos lhe haveriam de tributar, nem todos os epítetos inventados pela imprensa, nem o seu nome gritado por milhares de vozes, semana após semana, poderiam preencher. Queria ser desejado, que implorassem. Nunca mais queria ouvir «não serve.» Nunca mais queria ser rejeitado.
O Barreirense, a equipa que no dia em que Chalana nasceu tinha derrotado o Sporting, não o rejeitou. E após meia-dúzia de jogos com a camisola alvi-rubra já toda a gente falava do «miúdo do Barreiro». Coluna, o monstro sagrado, o glorioso capitão, céptico das promessas que todos os meses se anunciavam, foi vê-lo a jogar para confirmar se o que se dizia tinha fundamento. Precisou de poucos minutos. O Benfica pagou 750 contos ao Barreirense por um juvenil. O pai de Chalana recebeu vinte. Queixou-se. «Isto não é assim». O dinheiro a complicar o que é simples. Em Março de 76, com dezassete anos, estreou-se na equipa principal. O mais novo de sempre. Jogo contra o Farense. 3-0. Golos de Nené e de Jordão. Os dois assobiados pelo público, para se ter ideia do que era o tribunal da Luz e as suas exigências romanas, imperiais. Ao intervalo, Toni ficou no balneário. Mário Wilson, ar de sábio oriental, comandante dos mares, disse ao miúdo que ia entrar. Já não ouviu mais nada. Nenhuma indicação, nenhum incentivo, nenhum conselho. Águia ao peito, chuteiras na relva, sol envergonhado de um Inverno quase no fim. No Diário de Lisboa, Neves de Sousa escreveu que «o miúdo (muito dinheiro no bolso já aos 17 anos…) cumpriu e esteve como peixe na água». Nessa tarde, os juízes insaciáveis da arena da Luz aprenderam a cantar o nome do miúdo. Dia perfeito, peixe na água. Antes das sombras.
Meia-hora para o jogo começar. Enquanto os outros aquecem, ele permanece junto da baliza do topo sul. Estatura baixa, olhar vazio. Quem da bancada central o vê a passear por ali como se estivesse a medir a relva, a confirmar se está bem tratada, pode pensar que é o tratador. Não tem a aura do génio. Calado. Metido para dentro, solidão de monge, saudades da bola, saudades do jogo começar, vontade de dizer tudo naqueles trinta metros onde vive e sonha e fala, onde expulsa a golpes de engenho o silêncio que não cabe dentro de si, a mágoa inefável de não ser tudo. Tem dezassete anos. Acredita que terá sempre dezassete anos e continuará a deixar os adversários caídos, a levar a bola no pé, cruzamento, parábola perfeita, golo, glória, é tão simples a vida, bola novamente no pé, domesticada, mansa, enfeitiçada, cruzamento, golo, glória, o mesmo refrão repetido ao sol de um domingo eterno, o murmúrio geral que antecipa com prazer, com erotismo, o momento em que a bola lhe chega aos pés e se rende, esse segundo, essa fracção de tempo é o momento por que há muito esperam, o momento que aguardam há séculos, em que tudo se interrompe e a felicidade ainda é possível. Adultos suspensos nesse lapso de infância e fantasia para onde o pé dele os arrasta levantam-se, excitados, eufóricos, crianças prontas a acreditar que nunca ninguém morrerá e ainda é domingo. Sim, antes das sombras.
Tanto tempo para ganhar coragem, para se decidir a falar com o presidente, o senhor presidente, e agora, afundado na poltrona de pele à porta do gabinete presidencial, na sede da Jardim Regedor, onde anos antes assinara o primeiro contrato com o Benfica, só tem vontade de dormir, de desaparecer, que a hora do próximo jogo chegue depressa. Ficava feliz com o apoio dos adeptos. Aqui, voltava a ser mendigo, a pedinchar migalhas de afecto e de dinheiro, voltava a ser o miúdo rejeitado pelos senhores da CUF. Ainda agora, a pé dos Restauradores, as pessoas saudavam-no, «és o maior», «és o Chalana», «olhó Chalana». À volta dele diziam-lhe que o clube tinha de lhe pagar mais, «mais, têm de te pagar mais, tu és o Chalana, foda-se», e é verdade, ele é o Chalana, o único, e têm de lhe pagar mais porque há propostas do Sporting, do Boavista, do Marítimo, do Braga, todos lhe oferecem mais, o presidente não está a ver bem as coisas, tem de lhe aumentar o ordenado, é isso, mas sobrevém o desânimo, uma lassidão irresistível ao pensar nas palavras que terá de dizer, no tom assertivo, até arrogante, «Eu sou o Chalana». Suspira. Perde o alento. Então o presidente manda-o entrar. Foi uma espera táctica, sabe que já lhe esfrangalhou os nervos, é homem batido nos negócios, faz-se acompanhar por um tipo qualquer, decorativo, figura de segunda ordem na hierarquia do clube, um advogado, só para intimidar. Ele estava à espera que a conversa com o presidente fosse a sós, assim ainda é mais difícil, pedir dinheiro à frente de um gajo qualquer. Vem de mãos nos bolsos, «Então, Fernando, queres falar comigo?», ele gostava que o outro saísse, mas sabe que não vai pedir, então imagina que o outro não está ali, fecha os olhos e faz de conta que aquela figura é um animal embalsamado, um vulto, e começa a cantilena decorada, tem propostas, são todas melhores que as do Benfica, muito dinheiro mesmo e, com todo o respeito, o Presidente sabe que a carreira de um jogador é... «Fernando, cinquenta contos, não te posso dar mais do que isso, cinquenta contos, se não quiseres, a porta por onde entraste é a mesma por onde podes sair», mãos nos bolsos, enterradas até ao fundo, caralho, sente uma dor no pescoço, ao longo da coluna, é da tensão, está pedra, ele que é pássaro – «peixe na água, escreveu o Neves de Sousa, peixe na água» – agora é pedra. O presidente põe o ar sério de adulto a repreender um garoto, o rosto hierático do poder. E o Fernando, pobre, percebe que ali dentro ninguém lhe pode valer, aqui no escritório não és o Chalana, és um maltrapilho, um falso ídolo com os teus truques de feira. Aqui ajoelhas-te, deves obediência ao Deus Dinheiro, aqui ninguém irá gritar pelo teu nome, aqui ninguém sabe o herói que tu és, aqui o teu talento vale cinquenta contos, cinquenta contos, «é pegar ou largar, Fernando». Sai, desce as escadas, só respira quando chega à rua, aliviado, cinquenta contos, que se foda: «Chalana, és o maior!»
Não me esqueço daquela tarde em que me esforcei para acompanhar a passada do meu avô. Tinha seis anos. Era Verão. Portugal estava nas meias-finais do Campeonato da Europa. Um grupo improvável, fracturado, com a originalidade de quatro treinadores, arriscava-se a ir pela primeira vez à final de uma grande competição. Tinham lá chegado graças a um desses ardis de futebol de rua. No jogo decisivo para o apuramento, no Estádio Nacional, precisávamos de ganhar à poderosa equipa da URSS. Entre os nossos, estava um relutante Chalana, que só jogou depois de dois funcionários da federação o terem ido buscar. Amuava. Fora e dentro de campo. «O Pacheco só passava a bola para a direita.» A ética do trabalho a ignorar o brilho do génio. Os carregadores de piano têm estas manias. Chalana alheou-se. Queria lá saber. Camisola para fora dos calções, desalinhado, infantil. Era no tempo em que a disciplina táctica ainda não era uma religião, sobrava espaço para foragidos e indisciplinados. Farto de estar afastado da bola – a única coisa que lhe interessava em todo aquele negócio – Chalana esqueceu as birras e os amuos e recuou até ao meio-campo para raptar a sabina, acelerou, passou por um soviético, depois por outro e o terceiro, que já ficava para trás, esticou a perna e, no limite da grande área, tocou em Chalana que mergulhou com toda a arte e engenho que separam os artistas dos pontapeadores de bola. Priii! Penálti! Golo! Portugal ganhou e apurou-se para o Euro-84. Estavam apenas a 90 minutos da glória de uma final. O meu avô não queria perder esse momento histórico. Voava. Não me lembro de ver o jogo, mas, na ressaca da derrota, o meu avô disse-me que não havia outro como o Chalana: dois cruzamentos dele para dois golos do Jordão. Nunca mais esqueci a imagem, a pensar na simetria perfeita do extremo que cruza e do avançado que finaliza e de saber que a beleza maior estava no gesto daquele que oferece o golo, que oferece o ser amado para o golpe de misericórdia. Há mais alegria em dar do que em receber, disse o sábio.
Em Bordéus acolheram-no como a estrela que era, o Chalanix que deixara um «rasto de oiro» nos relvados franceses. Curiosamente, vinha na esteira da radiosa Anabela, monumento de platina, como se fosse ela a luz e Chalana, de brinquinho na orelha, o insecto condenado a perseguir a claridade, o brilho. «Diziam que ela é que mandava, mas quem mandava era eu, eu é que sempre mandei», dirá ele depois, num protesto tardio, inútil, quando Anabela não for mais do que uma memória extravagante, uma curiosidade fantasmagórica, como o são todas as famas breves. Vieram então as lesões, uma atrás de outra, sem explicação, sem sentido e aos olhos da pátria de Chauvin o empossado herói começava a parecer-se com a caricatura acabada e definitiva dos seus compatriotas emigrantes, as concierges e os homens dos chantiers, baixote, bigodudo, preguiçoso, sentado no banco, deitado na marquesa, propenso a azares e a saudades. Pela primeira vez longe de casa, longe a sério, sem poder respirar nos relvados, olhava para as ruas e as placas, os toldos e os cartazes, as pontes sobre o Garona e as brasseries procurando ver nesse conjunto de peças estrangeiras um lugar acolhedor, um simulacro de lar. Mas não dava. Queria voltar para Portugal, para o Benfica, que era tudo, e o presidente, sempre os presidentes, a ameaçá-lo: «tem de ser profissional, tem um contrato para cumprir». Exilado, estranho a si mesmo, a entregar-se a medicinas alternativas, aos mais reputados parapsicólogos da Aquitânia, a bruxas domiciliares que purificavam a casa com defumações de incenso e que, à saída, confessavam que nunca tinham visto nada assim, e Anabela de um lado para o outro, neurótica, cigarro na boca, a dizer que aquela merda era só inveja, puta que os pariu a todos, e o Fernando só encontrou refúgio nos pombos, calma, sossego, a dar-lhes ração com pó de levedura de cerveja, esquecido das agruras, o apito na boca, priii…priii…anda! Anda! A felicidade possível entre tratamentos, o desejo de voltar para casa, para o Benfica, que era tudo e onde ele era tudo, os adeptos a gritar pelo nome dele. Até que num dia inevitável aconteceu e Chalana regressou a casa. Como um pombo.
Tenho bem presente na memória o dia em que Chalana voltou a pisar o relvado do Estádio da Luz com a camisola do Benfica. O presidente vendera-o para fechar o Terceiro Anel. E fechou. Magia por conchas, alma por pedra, como só os grandes homens de negócios sabem fazer. E a 17 de outubro de 1987, o filho pródigo veio para que o Terceiro Anel, fechado, o aplaudisse. Ouvi o relato desse jogo, vi as imagens na televisão, estranhei o ar de Lázaro ressuscitado, aturdido, numa festa de cinzas, engolido por uma tristeza de circo desmontado, na solidão do grande anfiteatro, maior do que nunca, e o artista já sem o fogo do génio, flying Palacio sem asas, Atilina, funâmbula embriagada. Ao aplaudirem aquele homem, a quem o treinador deixou «brincar oito minutinhos com a esferinha», os adeptos estavam a fazer o luto de um tempo que findara no dia em que, por 350 mil contos, o venderam ao Bordéus. Aplaudiram de desencanto, saudades. Aclamaram o rapaz de dezassete anos que um dia os espantara, «pensava que ia ter dezassete anos para sempre», aplaudiram-no sentados no cimento frio das bancadas, lá do alto, da maravilha erguida pela engenharia que os bulldozers haveriam de derrubar anos depois, reduzindo a escombros o santuário, aplaudiram a memória que guardavam dos dezassete anos daquele remendo que agora regressava para uma extinção furtiva. Os últimos anos foram anos sem história. Clandestinos. Em Maio de 1990 Chalana fez a última aparição no seu estádio e Neves de Sousa escreveu-lhe o mais belo e inconsciente requiem. Quem o ler agora, sente em cada palavra o tom de despedida, como se estivesse a ser narrado o derradeiro e esforçado voo de uma ave moribunda que cremos imortal: «um óptimo renascimento de Fernando Chalana, o meu pequeno genial que, mal entrou a render Fonseca, espécie de faz-tudo obrigatório, colocado pelo mestre sueco em triplas funções (médio, extremo e adjunto de ponta de lança) subiu até à cúpula do tribunal do Terceiro Anel.» Chalana, já não tens dezassete anos.
Quando tudo acabou, esteve quatro anos sem ir a um estádio.
«Prriii...prriii...Anda! Anda!» Apito ao pescoço, fato-macaco da Fisipe, olhos no céu a ver o desenho do voo dos pássaros, não se perdem, sabem sempre onde estão, só regressam quando o dono tira a bandeira. Tomam banho no depósito cheio de água, «ficam aí a chafurdar», voltam para o pombal. Antigamente tinha-os em cacifos individuais, mas isso dava muito trabalho e ele está cansado, falta-lhe a paciência. Agora é voar aos poleiros. Só os reprodutores, ali em baixo, estão em cacifos. Aquele está velho, tem dezassete anos, repete, dezassete anos, ele próprio pensou que teria dezassete anos para sempre, que enquanto jogasse teria dezassete anos e as tardes de domingo seriam todas dele. O pombo, de envergadura impressionante, pomposo, chegou a ganhar uma anilha de ouro. Sorri. O tempo passa. Ontem foi dia de competição. Hoje têm direito a chá e mel. No defeso, quando é época da mudança da pena, dá-lhes óleo de fígado de bacalhau. São finos, os bichos, «e inteligentes comó raio», reconhecem toda a gente. Vale a pena? Vale. Muito. Há quem leve isto da competição a peito, zangas, ameaças, malta que deixa de se falar. Ele gosta do convívio, sim, quando se sentam aqui no pombal, nos concursos, a tarde toda nos petiscos com a malta, na paródia, à espera que cheguem os primeiros pombos largados em Espanha de madrugada. Mas do que gosta mesmo é de ver estes bichos. É capaz de ficar a olhar para eles durante horas, pacificado, quase feliz. O sossego, o entendimento sereno, a harmonia. Nas piores alturas da vida, nos anos em Bordéus e logo depois de ter deixado o futebol, quando nem sequer tinha dinheiro para pagar água e luz, quando os amigos de ocasião desapareceram porque o Chalana já não era o Chalana, tudo o que tinha era os pombos, bálsamo espiritual. O fascínio pela inteligência dos animais, largados a centenas de quilómetros de casa e, ao fim da tarde, regressados ao pombal, a certeza de que, ao vê-los chegar, a terra ainda é um lugar para os homens. Haverá nisto uma mensagem poderosa, uma ligação. Não consegue explicar. Quando o indagam sobre essa mania dos pombos, só pode responder o mesmo de quando lhe perguntavam, à procura do segredo dos seus truques, ansiosos por reduzir a factos mensuráveis as coisas impossíveis que fazia em campo, de onde vinham aquelas fintas: «Não sei.»
Não há mais nada, só pombos e silêncio, acabou tudo, a gente no estádio a gritar por ele, o Benfica e o casamento, os jornalistas e os fotógrafos, os treinos e as bruxas, os autógrafos e as entrevistas. Os miúdos já não sabem quem foi o Chalana, sabem quem é aquele tipo de bigode patusco, cara cómica de boneco animado, mas não sabem quem foi o Chalana. Já ninguém se lembra daquela tarde, em Aveiro, em que foi de um lado ao outro do campo, bola colada ao pé, slalom de serpente, e marcou golo. Hão-de falar-lhe sempre do Europeu, mas é como se ninguém tivesse visto aquele golo, o melhor da carreira. Agora tudo isso acabou. Resta-lhe a lealdade dos bichos, «nunca me viraram as costas». Assobia, baixa a bandeira e eles voltam. É bom não ter de falar para que o percebam, «não sei», queria ser pássaro, e foi muitas vezes, não ter de explicar, ser apenas, voar, como é que ele faz aquelas coisas, «não sei», que necessidade há de explicar tudo, um cavalo a galope no campo, um pássaro que regressa? Basta dizer que é belo e acontece. Simples. Como peixe na água.
Na década de 60, quando o Chalana era um miúdo, a realidade não era muito diferente da que Caetano Beirão da Veiga descrevera trinta anos antes: «O Barreiro já é outro pelo aspecto, pelo movimento, pelas vibrações das ruas, pelo ritmo nervoso dos que trabalham, pelas altas chaminés que fumegam dia e noite, pelo odor horrível das emanações químicas que se espargem no ar, pelas aspirações sociais impetuosas de centenas de operários que se concentram neste colosso industrial permanentemente arfando.» Hoje, deste colosso, tal como do original que era maravilha do mundo, pouco mais resta do que a memória e a carcaça de mamute mecânico. Domingo de manhã, estaciono o carro e percorro as ruas na companhia do meu filho. Tiramos fotografias. Procuro a corrente invisível que me ligue à infância daquele homem. O meu filho repara no silêncio: «Não se ouve nada.» A pressa e a agitação cessaram. Sente-se a estranha quietude dos lugares amaldiçoados, a desolação do ferro, a ausência de vida humana para lá dos muros. As escassas unidades ainda em laboração lançam para o ar fios tímidos de fumo que fazem sorrir quem ainda se lembra das golfadas arrogantes e mortais expelidas pelas chaminés de outros tempos. Lembram o único dente na boca de um ancião, o que lhe empresta um involuntário efeito cómico e que o impede de aceder à dignidade do abandono completo. Hoje, neste lugar, restam as cinzas de uma fogueira que arrefece. Passamos ao largo de campos de futebol de cinco, abandonados, decrépitos. Vazios ao domingo de manhã. Um está em obras, andaimes desmontados no meio-campo, latas de tinta junto ao poste de uma das balizas. Ainda há esperança. Será que o Chalana jogou aqui? É possível. O campo foi inaugurado em 1970. Sim, é possível. Mas não consigo explicar ao meu filho o fascínio de pisar estes terrenos sagrados e esquecidos, os despojos de uma civilização arruinada. Talvez um dia ele perceba o privilégio de, numa manhã cinzenta de domingo, termos passeado os dois por aqui, rente aos campos desertos da vila do Lavradio, onde há muitos anos começou a jogar aquele miúdo, o Chalana, extraordinário funâmbulo da bola.
(Publicado originalmente na revista 2, do Público, a 23 de março de 2014)"

Às cavalitas do meu pai para ver o Chalana


"É fácil memorizar a data: 23 de junho de 1984. Noite de São João, eu às cavalitas do meu pai, os dois no Jardim de Basílio Teles, mesmo em frente à Câmara Municipal de Matosinhos. Lá ao longe, tapada por dezenas de cabeças gigantones, uma pequena televisão a cores. Tenho quase a certeza que sim, a cores.
Na inocência dos seis anos, os azuis eram os maus de França, os vermelhos eram os bons de Portugal. Conheci-te aí, meu caro Fernando Chalana, dentro daquele minúsculo aparelho que nos trazia imagens de uma Marselha que me parecia de outra galáxia.
Vi-te fintar, enganar os maus sem teres de tocar a bola, simular que ias para o teu pé esquerdo e acabavas tudo no pé direito. Sim, enganaste tudo e todos. Chamavam-te esquerdino, quando tu eras, afinal, aquilo que te apetecia ser. Esquerdino, dextro, o Pequeno Genial.
A imagem - a cores, tenho a certeza - não me sai da cabeça. Os pequenos calções verdes escondidos pela camisola vermelha que te parecia XXL, o bigode que te cobria a boca e fazia pandã com a fartíssima cabeleira, uma personagem certamente desenhada a partir dos livros de Uderzo e Goscinny. Mas real, profundamente real e popular.
Pegaste em Portugal ao colo, foste o melhor no pós-Eusébio e no pré-Futre, foste um gigante, Chalanix!
Ajudaste o Benfica a acabar o Terceiro Anel com a tua venda ao Bordéus, e no Bordéus começaste os dias de sofrimento. E sofremos todos contigo, com o teu inevitável declínio. A praga das lesões não te deixou voltar a ser feliz, nem com a seleção, nem no Benfica, nem no Belenenses, muito menos no Estrela da Amadora.
Reencontrei-te em 2008. Vestiste a farda de bombeiro e tentaste ajudar o teu Benfica, num final de época penoso. Estava a metros de ti, quando deste a cara por uma eliminação na casa do modesto Getafe, para a Liga Europa. Como é que um gigante explica uma derrota assim?
Vamos ter saudades do teu olhar Bom, das tuas palavras serenas. Não sei para onde partiste, mas só pode ser um sítio maravilhoso, colorido, como a imagem daquela pequena televisão que um dia me mostrou quem era o Chalana. Às cavalitas do meu pai."

Chalana, a ambidestria de uma estátua


"O inspirador Pequeno Genial morreu

Morreu Fernando Chalana. Nascido a 10, ido a 10.
Não se enganem. O Benfica perdeu uma das maiores referências da sua História. O futebol português um dos mais geniais e influenciadores jogadores que já teve. Pequeno de tamanho, gigantesco no talento, inspirador de multidões.
Na história da Luz, Chalana «só perde» para Eusébio. Caminha ao lado de Coluna e Simões. Não porque ganhou uma Taça dos Campeões Europeus ou uma dezena de campeonatos nacionais. A imortalidade não se mede em troféus. Chalana anda lado a lado com os monstros encarnados pelo que inspirou, pelo suspiro de admiração que provoca na memória de quem viu.
Por ser a imaginação, o improviso, por fazer sentir. A incógnita da vida transformada em futebol. Porque com Chalana nunca se sabia para que lado se ia. Nem com que pé se chutava.
Chalana viveu sempre na ambidestria. A dos pés, mais a do campo e a da vida. Foi um génio nos relvados e um homem normal fora dele. Errou por causa de outros. Iludiu-se. Caiu. E levantou-se, pelo Benfica. 
O Terceiro Anel, mítica bancada da Antiga Luz, era praticamente toda dele. Era mesmo. Porque foi com a saída de Chalana para França que o Benfica concluiu a obra. Num olhar romântico, a Luz foi pequena para ele. Mas quando Chalana voltou, nenhum outro jogador pós-60 merecera as maiores enchentes da História.
É verdade que o futebol de Chalana não foi o mesmo. Porque Fernando, o homem normal, caíra; e o corpo de Chalana, o génio, começava a dar-lhe demasiado trabalho com lesões.
Chalana o jogador inspirou Paulo Futre. Um miúdo sportinguista que tinha um ídolo no Benfica. Quantos futebolistas em Portugal tiveram esse superpoder? O corpo de Chalana morreu, mas a sua ideia, o génio inspirador prevalece não só nos maiores futebolistas do país como no adepto anónimo. Enquanto houver um adepto que se lembre, Chalana viverá.
Depois, o Benfica. Chalana serviu o clube com jogadas, enfrentou o desafio de treinar a equipa principal e emprestou humanismo. Assim se percebem as palavras de Bernardo Silva ou os relatos de quem trabalhou com ele no Benfica Campus.
Talvez seja no Seixal que Chalana mereça ser eternizado, talvez em estátua. Para quê? Para que jogador que ali entre pergunte quem é. E perceba que Chalana representa o talento; a oportunidade de se estrear pela equipa aos 17 anos; também os perigos que o futebol encerra e, sobretudo que a grandeza se atinge não só por títulos, não pelo dinheiro seguramente, mas por aquilo que se desperta na memória sentimental dos outros, com jogadas no relvado e atos fora dele.
Por tudo isso, eu que sou a favor do silêncio absoluto naquele minuto antes dos jogos, acho que Chalana deve ser despedido com a maior ovação possível, num último reconhecimento ao génio, esperando que ele oiça lá na lamparina para onde voltou."

«Meu pai sportinguista tinha Chalana como maior ídolo»


"Há ídolos que não têm somente uma única cor. São unânimes. Transcendem qualquer rivalidade. Ultrapassam fronteiras. Pertencem a tudo e a todos. Fernando Chalana é um deles.
Entre títulos, gols, assistências, dribles, aplausos e alegria de sobra nos pés, há uma frase simbólica que resume na perfeição a dimensão de um indiscutível da história do futebol português.
«Meu pai sportinguista tinha Chalana como maior ídolo», revelou-me um amigo benfiquista, poucos minutos depois da confirmação do adeus de Pequeno Genial. Uma homenagem única, das maiores inimagináveis conquistas.
Não tive o prazer de vê-lo jogar. Brilhar. Triunfar. Inspirar. Desfilar aquele invejável bigode preto. Felizmente, histórias e lembranças não faltam. São eternas. Contadas entre lágrimas e sorrisos neste marcante dia 10 de agosto de 2022.
Como brasileiro radicado em Portugal, arrisco comparar Fernando Chalana com o saudoso Mané Garrincha. A arte da bola na sua verdadeira essência. Podem agora tabelar e chatear os adversários em outro plano."

Adeus, Chalana | Génios como tu são entidades transgeracionais


"O Antigo Craque Encarnado Faleceu Aos 63 Anos De Idade

Atormentado nos últimos dias pelo inferno da doença, Fernando Chalana diz adeus definitivamente ao mundo que sempre o viu como expropriador dos sofrimentos mundanos, o entertainer por excelência e o ídolo que inspira toda uma geração de miúdos – que infelizmente não foi a minha, e por isso nunca poderei com rectidão transmitir a totalidade do que foi Chalana.
Mas há um outro lado, que ao mesmo tempo o torna tão próximo como inantingível: a tradição oral permite-nos imaginar a preponderância do seu futebol no imaginário colectivo, além do caos da sua vida pessoal sempre atribulada, factos que se desvaneceram com o tempo e se tornam, agora, como tarefa de Sísifo – quanta mais informação se procura, parece que mais se esconde…
A força dos números ajuda desde logo a perceber a sua importância como símbolo benfiquista pós-Eusébio. O contexto da sua criação é guião hollywoodesco, o humilde que se torna grande por meio das acções intuitivas, nunca premeditadas – e que mesmo grande se mantém simples figura, pouco apto e pouco interessado na permanente exposição mediática.
Essa simplicidade, que o tempo só ajudou a destacar, foi o que fez dele sempre figura grata nas bancadas da Luz, que o ajudou a manter uma imagem positiva no seio da massa adepta, do real povo benfiquista. Apesar de todos os escândalos com Anabela, das lesões, das expressões disparatadas gritadas para a imprensa.


Aos 14 anos, presta provas na CUF – que já era altura devida, depois de ser o rei de todas as peladinhas dos descampados. Foi recusado, que a equipa de futebol da empresa era um antro de cunhas: passou a rua, foi ao Barreirense treinar e ficou.
Juca, grande figura sportinguista e treinador campeão mais novo de sempre até Villas Boas, puxa-o para os séniores e dá-lhe imediatamente minutos – o impacto foi tal que demorou… seis jogos até o Benfica dar 750 contos pela carta de desobrigação.
O clube vendedor fechou-se em copas, bem caladinho, e só comunicou a jogador e progenitor quando o dinheiro já estava bem guardado nos cofres. Chalana pai, resoluto, exigiu outro tratamento. Os responsáveis, condescendentemente, estenderam a mão com… 20 contos.
«Foi deplorável o que fizeram no Barreirense. Negociaram o meu filho sem que eu e a mãe soubéssemos. Um dia, apareceu cá em casa um senhor que vinha buscar o Fernando para o Benfica, pois já se tinha efectuado a transferência. Ia ganhar quatro contos por mês! Mais tarde vim a saber que os directores do Barreirense haviam recebido cerca de 750 contos e então quis saber como era. Perante a nossa mágoa, o Benfica deu-nos 25 contos. Foi, então, que os senhores do Barreirense quiseram dar-nos 20 contos, depois de abusivamente receberem 750! Como homem honesto e trabalhador, não ia vender-me por 20 contos e não aceitei coisa alguma. Não precisava de esmolas. Ainda tinha braços para trabalhar e para que nada faltasse ao meu filho.»
Estreou-se em Março de 1976, com 17 anos e 25 dias (um recorde ultrapassado por… Marco Caneira, em 1996, que se estreou no dia do aniversário). Substitui Toni ao intervalo e entusiasma desde logo a massa adepta. Mário Wilson deu-lhe o baptismo, Mortimore apoiou-se no seu talento para ir buscar, num sprint épico, o campeonato á cova dos leões, que começaram bem e acabaram a nove pontos (quando a vitória valia 2…).
Estávamos em 1976-77. Até 1984 construiu uma lenda e tornou-se figura de culto no futebol português, quer fosse pelo que fazia no Benfica quer pela Selecção.
A completa explosão internacional no Euro 84 abre-lhe as portas da Ligue 1 e do Bordéus, a equipa que emprestava á França campeã europeia um sem número de craques – Giresse, Tigana, Tusseau ou Lacombe. Chalana seria a estrela da companhia no assalto ao êxito.
Mesmo a um nível aquém do que poderia fazer e que nunca atingiu desde aí, Chalana levou os Girondinos ás meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus (onde perderam 3-2 no agregado contra a Juventus de Platini): nessa caminhada há o desempate por penalties com o Dnipro, um daqueles momentos que traçam os limites entre bons jogadores e os verdadeiros artistas da bola. Chalana, apesar de quase sempre confrontado com muitas e exaustivas contrariedades, era homem que se diferenciava nos momentos de maior pressão.


Aimé Jacquet era o seu treinador, o mesmo general dos Le Bleus campeões mundiais de 1998 – famosa ficou a sua insistência em Guivarc’h, em detrimento de Henry ou Trezeguet – e talvez por aí se explique um pouco do insucesso de Fernando em terras gaulesas.
Isso, a inveja de alguns colegas, as lesões, o circo mediático que Anabela – sua esposa – nunca teve lucidez ou boa vontade para controlar e as consequentes saudades de casa provocaram o regresso á Luz, derrotado, em 1987. Reestreou-se em Outubro desse ano, depois dum período de recuperação física e anímica.
Diz quem viu que a Luz veio abaixo, puro extâse – depois de muito se assobiar Pacheco, ainda menino, que sem ter culpa nenhuma acabou por se tornar um estorvo ao ser titular naquele dia.
Mas não era o mesmo Chalana. O atleta que até 1984 parecia sobrenatural era agora apenas bom jogador – impensável avaliação para quem o tinha visto no auge e admirado o seu génio quando nenhuma bola do mundo era incontrolável para aquele meio palmo de gente. Continuavam a surgir momentos que outros nunca imaginariam sequer executar, mas de forma muito menos frequente.
Sven Goran Eriksson volta em 1989 com a missão de devolver o Benfica á Taça dos Campeões Europeus. Conseguiu-o, levando a equipa á final de Viena em 90, mas foi ele quem teve a coragem de afirmar que Chalana não era mais insubstituível. Se Toni no ano anterior tentara tudo para recuperar o craque amigo, foi Sven quem transmitiu: não dava mais para atleta de alto nível.
Rotação, talvez. Nessa época de 1989-90, 27 jogos. 12 a titular, 15 como suplente utilizado. Precipitou-se o fim, talvez de maneira demasiado abrupta. Chalana guardou rancor, claro está. «Pior do que as lesões que sofri, foi ter encontrado Eriksson no Benfica, ele sim é que me deu a machadada final. O sueco talvez tenha sido a maior lesão da minha vida!» vociferou á A Bola na altura. Final triste.
Passaria por Belenenses e Estrela da Amadora. Em 1992 era jogador livre e pronto a retirar-se. Em 1994, na miséria depois de um rol de más escolhas, é ajudado pelo Benfica, que o faz entrar pela porta das camadas jovens e dá-lhe cargos como treinador de formação.
Em 1999 é campeão nacional de Juniores, em 2002 estava na equipa técnica de Jesualdo Ferreira quando este é despedido depois de ser eliminado pelo Gondomar (II divisão B) da Taça de Portugal, em plena Luz. Chalana assume o jogo seguinte, é ele quem reinventa Miguel – que de extremo inconsequente passou a um dos melhores laterais da Europa – e acolhe Camacho para a recuperação do Benfica moderno.


Como quase durante toda a vida, foi sempre Chalana dos primeiros prontos a servir o Benfica, nas piores circunstâncias possíveis, sem medo de repercussões na sua imagem. Pura dedicação e a simplicidade dum homem heróico. Pega na equipa em 2007-08 depois de, ironicamente, Camacho sair. É ele quem aguenta o barco naquele final de época penoso, com a derrota por 5-3 em Alvalade pelo meio. Quando todos se afastaram, foi Chalana quem deu a cara.
Agastado com a ingratidão mas de consciência tranquila, voltou ás camadas jovens para inspirar jogadores e treinadores. Rui Vitória, Bruno Lage e Renato Paiva foram os mais contundentes nas demonstrações públicas de carinho para com a lenda – de forma consistente. Era Bruno Lage que estava no banco quando, na comemoração do aniversário de Chalana a 10 de Fevereiro de 2019, ordenou a equipa a impôr-se com um 10-0, exigindo que o último golo fosse do 10 Jonas.
Um daqueles fenómenos numerológicos que se repetiu a 10 de Agosto de 2022, quando Fernando se despediu de nós. Outro detalhe: Jordão, seu grande amigo dentro de fora dos relvados – fizeram formação juntos no Benfica -, nascera a 9 de Agosto.
E talvez sejamos obrigados a não ser insensíveis em relação ao destino e notar a tristeza com que Bernardo Silva se despediu do velho mestre, crucial na sua ascensão enquanto futebolista e o único que, a determinada altura, viu no médio as qualidades que por hoje o tornam num dos melhores do planeta.
«Quando tinha 16 anos, numa fase difícil, fez-me acreditar quando nem eu acreditava. Nos estágios, batia à porta do meu quarto para me dizer que eu ia ser um grande jogador e ia ter muito sucesso»
Chalana chamava-lhe Messizinho e via nele o único á sua semelhança, o único que se entregava completamente á arte da técnica e do raciocínio para ultrapassar as debilidades físicas. O SL Benfica já informou que retira a camisola ‘10’ pelo menos durante 2022-23.
Fica uma sugestão a aproveitar a deixa deliciosa do tal destino: a ‘10’ só poderá voltar a ser utilizada se estiver nas costas de Bernardo Silva. Haverá homenagem que mais faça sorrir o Pequeno Genial, lá do alto do Quarto Anel?"

Propósito...


"Ah e tal só por maldade alguém pode dizer que foi de propósito. Só alguém que nunca andou lá, diria isso... 😏

P.S: de referir que para a comunicação social da nossa praça, este lance já caiu no esquecimento porque (e não se pense que foi de forma inocente), um cartão vermelho exibido a um adversário do SL Benfica serviu para abafar e ocupar espaço em vários programas desportivos ou espécie de desportivos."

Suprema hipocrisia


"Depois da Liga Portugal ter tido a modéstia de apoiar uma campanha contra o ódio nas redes sociais, apraz-nos a nós também lançar, em nome de todos os adeptos de bem do futebol, uma campanha contra a 𝗦𝗨𝗣𝗥𝗘𝗠𝗔 𝗛𝗜𝗣𝗢𝗖𝗥𝗜𝗦𝗜𝗔 dos orgãos que regem o desporto português.
Onde andavam todas estas organizações e sindicatos quando membros dos Super Dragões ameaçavam árbitros e as suas famílias através das redes sociais, acesso a contactos pessoais ou nas próprias moradias e locais de trabalho (como, por exemplo, o talho de Manuel Mota)?
Onde andavam quando jornalistas eram ameaçados por adeptos e agentes profissionais do futebol?
Onde andavam quando a idoneidade e profissionalismo de árbitros era posta em causa por treinadores de futebol, como Sérgio Conceição múltiplas vezes o fez (ainda na jornada passada tivemos esse exemplo)?
Onde estavam quando Luís Gonçalves, diretor para o futebol do FC Porto, ameaçou o operador de câmara de ABola TV, de dedo em riste, na Luz? Luís Gonçalves chegou mesmo a tocar na cara do operador de câmara, para espanto de todos os jornalistas presentes. E enquanto ameaçava o profissional da comunicação social, um dos elementos da segurança do FC Porto colocou-se à frente da câmara, para que este não captasse imagens. Onde estava a indignação?
Onde andavam quando Pedro Pinho tentou agredir jornalistas que tentavam captar imagens do FC Porto?
Tudo isto não passa de pura e 𝗦𝗨𝗣𝗥𝗘𝗠𝗔 𝗛𝗜𝗣𝗢𝗖𝗥𝗜𝗦𝗜𝗔. Nada vai mudar, basta o FC Porto perder pontos para que as ameaças apareçam em força e toda a gente assobie para o lado.
A Liga está de mãos dadas com o Sistema e o Sistema de mãos dadas com a Liga.
#40anosdisto"

Boa primeira impressão


"Não existem duas oportunidades para causar uma boa primeira impressão. A frase pode ser aplicada ao início de época do Benfica. Embora, em bom rigor, o bom início de época do Benfica e a entrada forte no campeonato, com a goleada por 4-0 ao Arouca, mais não fizesse que confirmar a pré-época 100% vitoriosa e a goleada no primeiro jogo da terceira pré-eliminatória da Champions.

Algumas aves agoirentas, em programas da especialidade, iam insistindo na ideia de que o futebol ofensivo de Schmidt e C.ª soçobraria, quando fosse confrontado com o futebol defensivo das equipas portuguesas e as suas muralhas intransponíveis. Mas, para já, podem meter as violas no saco. Jogo após jogo a águia vai calando as aves agoirentas.
É evidente que não é mais do que um bom começo e agora vai começar a especulação sobre o que acontecerá a este Benfica atacante e pressionante perante adversários mais apetrechados. O que é certo é que a equipa interiorizou em pouco tempo um modelo de jogo pressionante, tem reforços de valor como Neres e Enzo Fernandez, ou o regressado Florentino, João Mário e Rafa jogam com um entrosamento e uma alegria que não víamos há muito, pelos lados da Luz.
O Benfica de Schmidt tem a posse de bola mais elevada da jornada (73%) e é a equipa que sofre menos remates à sua baliza
 Este Benfica e a entrada forte dos rivais deixam antever uma liga emocionante e disputada.

A subir
Roger Schmidt e o Benfica de ataque na Champions e na Liga. Os medalhados Fernando Pimenta e Pablo Pichardo.

A descer
O mau início do Manchester United marcado, para mais, pelo "caso" Ronaldo."

Desenrola, bate, joga no Enzo Fernández


"Três jogos oficiais, três gols. Enzo Fernández chegou "ontem", mas parece que joga no Benfica há três ou quatro anos. Já pode se dar ao luxo de usar o banheiro de porta aberta. Está em casa.
Caiu como uma luva no time (em construção e crescimento) de Roger Schmidt. Entrou de caras no onze, num sinal claro de convicção do treinador e também da estrutura, e casou rapidamente com Florentino. É o rosto de uma equipe intensiva e ofensiva.
O desempenho do argentino na primeira e curta experiência do outro lado do Oceano Atlântico surpreende apenas os desavisados e/ou amargos por natureza. É quando a futurologia no futebol raramente pede licença e dá lugar à ciência exata. Vale dizer então: eu avisei.
Nunca enganou. As atuações de alto nível no River Plate de Marcelo Gallardo eram sinais mais do que suficientes de uma grande oportunidade de negócio - esportiva e financeira. Levou a melhor quem foi mais rápido e inteligente.
De imediato ou em janeiro, antes ou depois da Libertadores, por 20 M€ ou 10+8 M€, tanto faz. Enzo era nitidamente um tiro certo."