Memórias...!!!

Fernando Chalana: «um adeus sentido»


"Em 14 de Setembro de 1986, após mais um treino no Estádio das Antas, havia um recado por parte do Sr. Soares, referindo que os Drs Espregueira Mendes e Domingos Gomes me aguardavam no Hospital Santa Maria. Para lá me dirigi, entrando no quarto nº 44 e de imediato me vejo perante a equipa médica e qual o espanto, defronte a mim, oriundo do Bordéus, o génio Fernando Chalana. Mesmo antes de poder cumprimentar os presentes, o Dr Espregueira nos coloca um desafio: Chalana vai ser operado. Vamos pô-lo a jogar?...
Operado no dia imediato a uma grave fibrose muscular no grande glúteo, com várias derivações, permaneceu internado até 23 de setembro, iniciando a recuperação a 7 de Outubro.
Como estava instalado numa suite do então Hotel Sheraton (hoje Porto Palácio), iniciamos o plano de recuperação (após terminados os treinos no Estádio das Antas), na piscina e ginásio dessa instalação hoteleira, fundamentalmente com exercitação subaquática, mobilização articular e aumento gradual de resistência física, vendo aumentados os índices de fadiga detetados.
Ao notar uma constante presença de jornalistas, não apenas nacionais, mas oriundos de Espanha, França e Itália, resolvemos isolar o atleta dessa constante pressão, selecionando um local de estágio bem distante (Motel Santana – Vila do Conde), preparando aí um ginásio e demais condições adaptativas para um trabalho de sequente exigência atlética e funcional.
Iniciamos entretanto nova valência de recuperação, dirigindo-se o atleta para o Estádio da Maia, onde o significativo apoio por parte do Autarca Prof Doutor Vieira de Carvalho, foi determinante para em tranquilidade, todos os dias entre as 12.15, (após eu ter cumprido as minhas funções de metodologia de treino e recuperação nas Antas), e as 14.15 dar seguimento ao plano de treino devidamente programado, após as reuniões com a estrutura médica de apoio, inserindo de forma evolutiva as várias componentes de ordem físico atlética e técnica.
No final de cada dia me dirigia para Vila do Conde, onde nos espaços referidos da instalação hoteleira ou no areal das Caxinas e parques próximos, defendíamos com valentia e espírito de conquista os objetivos previamente definidos.
Periodicamente eram efetuados testes quer no campo, quer na unidade de Exercício Físico da secção do Hospital de S.João, orientada pelo Dr Domingos Gomes, auxiliado pelos Dr Basil Ribeiro e Drª Carla Rego, que se resumiam a Testes Antropométricos, Cárdio Funcionais (provas de esforço) e que na sua globalidade nos permitiam planificar de forma mais eficiente os ajustamentos na recuperação.
Após esta sequente metodologia, Fernando Chalana foi sujeito a uma integração sucessiva, tendo para o efeito a presença em treino de atletas do campeonato nacional de juniores na necessária e progressiva inserção técnica e competitiva, terminando esta fase com a realização de um treino em todo o terreno (conjunto), com uma equipa de 2ª Divisão, no momento F.C.P.Ferreira, clube da minha terra.
Todos os dados estavam lançados para então enquadrar o atleta numa estrutura altamente competitiva. Assim foi que, com grande emoção o vi entrar no Estádio das Antas, apurando na parte final da recuperação todas as especificidades do seu talento, tendo por companheiros de treino os bicampeões nacionais de 1984/85 e 1985/86.
No dia 30 de Dezembro de 1986 foi-lhe atribuída alta pelo Dr Espregueira Mendes, concluindo-se deste modo todo o processo de recuperação.
Em 2 de Janeiro de 1987 regressou a Bordéus, sendo acompanhado de um dossier de 85 páginas e uma cassete de vídeo de 1h e 20 m, registando toda a evolução da recuperação desde a intervenção cirúrgica.
No decorrer de todo o processo, foram inúmeros os estados de espectativa anunciados, algum desespero, inquietude e por vezes até algum desânimo, mas sempre uma luz de esperança nos conduziu à certeza do combate a quem, e eram muitas as vozes, que “abusivamente” e por desconhecimento (ou não), afirmavam que Chalana estaria morto para o Futebol.
Equipa médica de excelência e amigos criados pelo desejo de sempre apoiar. Recordo o Ricardo, um dos proprietários do restaurante Dom Ramon que nos acompanhava em treino. Chalana tinha o compromisso de todos os dias lá fazer as suas refeições. Tantas vezes convidado para com eles jantar, um dia fiz-me aparecido fora de tempo para verificar o cumprimento ou não da dieta estabelecida e, meus amigos, estava ali uma mesa de príncipe. Recordo que era linguado grelhado com legumes, etc … e ao peixinho só lhe faltava falar!... Pudera, quem o estava a servir era mais do que o proprietário, mas o amigo que com ele corria, suava e vestia a pele duma afetuosa cumplicidade!...
Também de forma frequente o nosso Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa me interrogava sobre a evolução de Fernando Chalana, sentindo-lhe o sorriso de felicidade por ver que o empenhamento do F.C.Porto, por seu intermédio e através da nossa estrutura médico cirúrgica, dava respostas a quem outrora o havia abandonado. Vejam o relato duma entrevista de Fernando Chalana ao jornalista Carlos Machado do Jornal “O Jogo”: “ quando mais eu precisava de apoios, eles faltaram … havia um determinado clube de Lisboa que pediu a outro para eu ir lá fazer a recuperação e isso foi-me negado … mas o próprio presidente Pinto da Costa, sabendo da minha infelicidade, me aconselhou a vir ao Porto para ser observado e se necessário operado pelo Dr Espregueira Mendes. O Presidente do F.C.Porto abriu-me o coração. Os Drs Espregueira Mendes e Domingos Gomes, abriram-me as portas e o Prof. José Neto … (está escrito o seu teor, mas guardo nas marcas do silêncio, humedecido pela grata forma de o expressar o que lá está referido) e terminou … por isso levarei sempre o F.C.Porto no meu coração.”
Falta referir que em 3 de Fevereiro de 87, o nosso clube recebeu o Bordéus no Estádio das Antas. Fernando Chalana fez todo o jogo. Tenho o registo da sua performance: 45 passes positivos e 1 negativo; 14 desarmes; 15 apoios ao ataque e 12 apoios na defesa; 8.5 Km de corrida e 4 remates à baliza e 1 pontapé de canto.
Ainda a anotar que no final do jogo me ofertou em suor, sorrisos e abraços, o meu prémio de jogo: a sua camisola!...
Mas … no final dessa época, o resultado de uma rotura no reto femoral da coxa esquerda, existente há 6 anos e mal curada, deixou várias sequelas e após um aturado tempo de exames e observações, saiu um verdito resultando numa nova intervenção cirúrgica para debelar esse tecido já fibroso, o que aconteceu em Maio de 87. Como nota de interesse a ser constado, nada tendo a ver com a outra lesão totalmente debelada, pois foram 8 meses passados em competição continuada e com sucesso conseguido.
Até que estávamos em 27 de Maio de 1987, um dia histórico na glória do meu F.C.Porto. Tudo preparado para me deslocar a Viena no dia do jogo às 07 horas, pois era necessário ficar alguém da estrutura técnica a orientar o processo de apoio e recuperação aos lesionados que haviam sido operados, caso do Lima Pereira e Fernando Gomes e treinar os não convocados: Amaral, Laureta, Vermelhinho, Eurico, Semedo, Bandeirinha, Paulo Ricardo e Jorge Plácido.
Algo aconteceu que me varreu a alma de dor …quando a agência me informa que esse voo foi desativado, tendo os passageiros aceitado viajar no dia anterior à mesma hora, o que implicou a impossibilidade de me deslocar, pois o plano de Artur Jorge que tinha para comigo, teria de ser cumprido com rigor e ao pormenor.
Na véspera da final de Viena e após o treino, comecei por andar meio perdido!... Vou apenas recordar publicamente que na noite de 26 tive um grande sonho …desses sonhos que até parecem absoluta realidade. Eu conto sem problemas: estava a assistir à missa em Paços de Ferreira celebrada pelo Padre Carlos e no momento do ofertório, um grupo de acólitos transportavam em fila as uvas, o pão, o vinho e os cestos com outras ofertas e ao aproximarem-se do altar, ouvi o coro cantar em altas vozes: PORTO …PORTO … PORTO que és a nossa glória … dá-nos neste dia mais uma alegria, mais uma vitória!... Acordei num repente e jamais preguei olho!...até parece que se estava a anunciar o futuro Campeão Europeu!... Levantei-me manhãzinha muito cedo e desloquei-me para o café Velasquez e Estádio das Antas. Andei numa roda viva… as pessoas questionavam-me: por aqui professor ?... Logo é que vai ser !.... Onde vai ver a final ?... Entretanto o saudoso bom amigo jornalista da nossa “Bola” Sr. Álvaro Braga liga-me, pois gostaria de ver o jogo comigo e entrevistar-me à medida que o mesmo se desenrolasse. Olhem, com calma desloquei-me em recolhimento à Igreja das Antas, sinceramente não me saía da cabeça o sonho de uma tal vitória anunciada!... Visitei O Fernando Gomes e Lima Pereira, passei os olhos pelo mar e … decidi ir ver o jogo no quarto 44 do Hospital S.ta Maria, onde Fernando Chalana recuperava da tal intervenção cirúrgica já referida. Aparece o Filipovic e o Sr Ávaro Braga e os três assistimos via R.T.P. a uma das maiores glórias desportivas do meu F. C. Porto, sagrando-nos como todos sabem CAMPEÕES EUROPEUS!...
A entrevista saiu à letra com as emoções que fui sentindo no decorrer do jogo e também com o sabor das lágrimas de tanta emoção, saboreada à distância. Recordo que mal terminou o jogo, no quarto do hospital concentrou-se uma multidão de doentes pré ou pós operados … eram muletas pelo ar … uns amparados pelos outros… gemidos de dor misturados por tanta alegria e ali bem pertinho, aquele abração bem sentido por outro “deus caído”, o génio Fernando Chalana num quarto de hospital a saborear a beleza duma conquista heroica europeia.
Aguardei até às tantas da madrugada pelos Campeões no Estádio, descansei 2 horitas na marquesa e às 9 da manhã do dia 28, estava no meu posto em pleno relvado a fazer cumprir o plano de treino traçado. Havia ainda um jogo de campeonato a realizar. Esse aconteceu no domingo imediato em que vencemos o Desportivo de Elvas por 6 – 0, com a reentrada em grande do Jaime Pacheco após a excelência duma recuperação aos ligamentos cruzados, 4 meses e 22 dias após a intervenção cirúrgica.
Fernando Chalana ainda me acompanhou de férias no Algarve, juntamente com Gomes e Lima Pereira, treinando bi diariamente e reiniciando a época de forma absolutamente recuperados. O caso dos meus jogadores do F.C. Porto, a tempo de ainda serem campeões do mundo em Tóquio, vencendo a 13 de Dezembro/87 o Peñarol e em 13 de Janeiro/88 a Super Taça Europeia, contra o Ajax.
Fernando Chalana, tendo terminado o contato com Bordéus, entretanto regressou ao seu clube de origem S.L.Benfica, a tempo de fazer uma brilhante época, inclusivamente chamado por Juca à Seleção Nacional a 12 de Outubro/88 num jogo realizado no Estádio de Gotemburgo, com a seleção da Suécia, jogando 78 minutos com a competência e genialidade de quem jamais se poderá esquecer.
Para quem dizia em 14 de Setembro de 1986 que Fernando Chalana estava acabado para o Futebol … ficou com a consciência “enraivecida”!... Estávamos perante o renascer do génio!...
Guardo de Fernando Chalana uma terna e continuada estima e ainda 4 camisolas: uma do Bordéus no reaparecimento após lesão. Outra da Seleção Nacional e mais duas do Benfica, representando uma delas o seu regresso ao clube do seu coração e outra que surge após um jogo com o S. C. Braga, fazia eu parte da equipa técnica liderada por Vítor Manuel na época 1989/90. Até conto mais esta história: estagiávamos no Hotel Alfa para o jogo com o S.L.Benfica. Ao início da noite liguei, como muitas vezes o fazia para o Álvaro Magalhães (outro dos jogadores do clube da Luz que me foi confiado pelos médicos para a sua recuperação a uma grave lesão muscular, com recidivas permanentes e que ficou ao nível máximo das suas competências, como foi referido por vários órgãos de comunicação social e pelo próprio … mas isto talvez um dia mereça ter referência especial) e também o questionei como progredia o nosso Chalana. Professor - referiu-me o Álvaro – olhe que ele hoje desapareceu no final do treino e ainda sem ter visto a convocatória. Ele foi convocado para jogar contra vocês!... Claro, liguei de imediato para o meu amigo, estando ele a caminho de Beja, pois preparava-se para mais uma jornada, sendo esta de Columbofilia! … Lá retrocedeu Fernando Chalana e no dia imediato fez mais um jogão contra a minha equipa. Recordo que perdemos 1 – 0. Sabem quem marcou o golo? FERNANDO CHALANA. Mas no final, não perdi tudo – ganhei mais uma alegria de ver um génio renascido e a tal camisola com o suor ensopado e que se encontra junto de tantas outras, revertendo de saudade esta cultura do tempo que jamais se apagará!...
Hoje ouvi a notícia da sua morte e chorei!... eu sabia do seu estado de saúde, pois por vezes quando lhe ligava quase só me sorria … mas pelo menos ouvia a sua voz terna e simples dum génio jogador associada à delicadeza dum homem bom!...
Permanecerá vivo na minha memória, que cultivarei com gratidão pela relação duma dedicada estima durante esses tempos muito difíceis, perante um atleta de eleição mundial, mas acolitado duma generosidade e humildade exemplar. Vou sentir saudades … muitas saudades!..."

Fernando Chalana

O pequeno genial viveu. O pequeno genial viverá


""O Chalana morreu" e nós os simples mortais, despertámos estremunhados com uma frase que nos dá um murro nas entranhas.
Como bem escreveu o Vitor Belanciano, que aliás nunca soube escrever mal, se Chalana será para milhões sinónimo de Benfica, para nós o Fernando era Barreiro dos pés - e que pés - à cabeça.
Se a genialidade e a simplicidade de Chalana são merecedoras de todas as palavras, ao mesmo tempo, não precisam para ser reconhecidas de uma letra que seja.
Nos últimos anos lutou contra um destino muito exigente, mas esteve sempre ladeado de amor e apoio. Testemunhei-o muitas vezes e, ainda recentemente, quando participei no seu aniversário no Museu Cosme Damião.
Sorrindo, soprou as velas. Simulou a passada curta de quem bate um livre imaginário. Olhou o infinito e voltou a sorrir-nos. Tenho a certeza que aquela bola entrou.
Fernando Albino Sousa Chalana, nasceu no Barreiro em 10 de Fevereiro de 1959, fez atletismo na CUF, onde foi recusado como futebolista. Pegou numa bola no Futebol Clube Barreirense e levou-nos com ela a dar a volta ao mundo.
O pequeno genial viveu. O pequeno genial viverá."

Morreu Fernando Chalana


"Fernando Chalana, o nosso Pequeno Genial, faleceu, aos 63 anos, na madrugada desta quarta-feira, 10 de agosto.
Um dos grandes e eternos nomes da Mística do Sport Lisboa e Benfica, ingressou no Clube aos 15 anos e representou-o, primeiro como jogador, durante 13 épocas (1974-1984 e 1987-1990), e depois, durante largos anos, como elemento técnico ligado ao futebol.
Natural do Barreiro, onde nasceu no dia 10 de fevereiro de 1959, Fernando Chalana vestiu oficialmente o Manto Sagrado pela primeira vez no dia 7 de março de 1976, com apenas 17 anos e 25 dias. Até àquela data, nunca ninguém tão jovem havia atuado na 1.ª Divisão portuguesa.
Neste momento de luto, a bandeira do Sport Lisboa e Benfica está a meia-haste no Estádio da Luz e no Benfica Campus."

Morreu Fernando Chalana, o pequeno genial que era destro e parecia canhoto


"É uma das glórias do futebol português. Fernando Chalana tinha 63 anos e a notícia foi dada pelo Benfica, que representou durante 13 épocas e pelo qual foi, na altura, o mais jovem de sempre a estrear-se. Fez 311 jogos e conquistou seis títulos de campeão nacional pelo clube da Luz e brilhou pela seleção nacional no Europeu de 1984, em França, onde o farto bigode lhe cunhou a alcunha de "Chalanix"

Revienga, essa palavra tão comummente aplicada ao futebol, terá umas quantas costelas da sua génese cravada em Fernando Albino de Sousa Chalana e no respetivo contorcionismo que provocava em corpos alheios, nos de quem ousasse enfrentá-lo para o despojar de uma bola de futebol. Durante anos, esculpiu-se como um enganador por excelência, fingindo que ia cruzar, rematar ou arrancar com um pé para de repente trocar a bola para o outro pé, afinal os homens são bípedes e haverá ainda quem questione qual era o instrumento predileto do jogador.
A arte do engano, porventura fosse essa a profissão de Chalana, nascido no Barreiro para o mundo que arredondou à sua vontade quando atravessou o Tejo para despontar com estrondo no Benfica. Tinha 17 anos e 25 dias quando se estreou no antigo Estádio da Luz, foi o mais caçula a fazê-lo até então e cedo justificou o prematuro feito pela forma como iludia os adversários a julgarem ser possível adivinhar as suas intenções. A ingenuidade, por vezes, joga futebol.
A simplicidade também e a forma como Chalana ludibriava quem vestia outras camisolas vinha carregada com o fascínio dos gestos singelos: fingia que ia para um lado, denunciava-o sem pudores, e parava o movimento quando o adversário se comprometia com essa ilusão, envolvendo-o numa dança solitária com vista privilegiada para o ver a escapulir-se para onde havia espaço livre. Sem bicicletas sobre a bola, espalhafatos e artifícios desnecessários.
A primeira de 13 épocas a peritar-se na sua arte do engano foi em 1975, apareceu em dois jogos com Mário Wilson e, na seguinte, já fez da equipa principal do Benfica a sua residência permanente com as 33 partidas em que marcou 11 golos, a maior produção que conseguiu numa temporada da sua carreira. O treinador era John Mortimore, que o português responsabilizou por incutir-lhe o "só ver baliza" e jogar sempre para a frente.
Tinha apenas 18 anos e foi campeão nacional, a idade deveria ser tão-só um número para Chalana e os primórdios no Barreirense logo o habituaram a desfocar as datas de nascimento. "Quando lá cheguei pensei que ia treinar com os outros da minha idade, mas comecei logo a treinar com os seniores. Aos 14 anos treinava e jogava (nos particulares) junto a jogadores muito mais velhos", contou, anos atrás, em entrevista ao Sindicato de Jogadores. Desde sempre que Fernando Chalana tratou de enganar homens.

Parecia ser um canhoto com jeito para ser destro ou um destro que tratava por tu o seu pé esquerdo, ele jogava com essa dúvida, é do piorio para quem defende enfrentar um pinga-amor por sair com as fintas para qualquer um dos lados e Chalana aproveitou-se da dúvida. "As pessoas pensam que sou canhoto, mas sou destro. As pessoas é que diziam e continuam a dizer que eu tinha um magnífico pé esquerdo, mas não sou esquerdino, nunca fui. Eu sou destro, talvez também por isso enganava muitos adversários", explicou quem marcou todos os penáltis da carreira com o pé direito. As aparências são as maiores ilusoras.
Com a camisola sempre sem tino e estendida por fora dos calções que, nos seus tempos, eram curtos e o faziam parecer um futebolista a jogar de saiote, os anos alongaram-lhe os cabelos e pontuaram-lhe um bigode na base do longo nariz. Quando Chalana levou o engenho das fintas ao Europeu de 1984, em França, para sentar estrangeiros amiúde, os gauleses que muito a custa eliminaram Portugal, nas meias-finais, chamaram-lhe "Chalanix". Os dois golos que fizeram Jordão erguer o seu braço triunfante enquanto elevava os joelhos, a calcar degraus imaginários na celebração, vieram de cruzamentos do 4 de Portugal que já tinha sido o 7, o 8 ou o 10 no Benfica.
Qualquer número seria curto para o descrever ou fazer jus. Em 1984, boquiaberta tanta gente com a ginga levada pelo português ao Campeonato da Europa, apareceram os 300 mil contos do Bordéus para o levar do Benfica. À época, o equivalente a €7,3 milhões atuais (de acordo com a Pordata) eram um balúrdio e serviram para o clube terminar a construção do Terceiro Anel do antigo Estádio da Luz. O então presidente, Fernando Pires, justificaria mais tarde ao "Record" que Chalana "já andava lesionado há algum tempo" e aceitou vendê-lo porque "jogou todo injetado" pela seleção na epopeia em França. Seria por lá que o corpo começaria a derrotar o talento. 
As mazelas nos joelhos frenaram, à bruta, a genialidade de quem ficou limitado a 26 jogos feitos em três épocas no Bordéus, onde coincidiu com Jean Tigana e Alain Giresse, dois super jogadores que ladeavam Michel Platini na seleção gaulesa que impediu Portugal de alcançar a final do Europeu. Ao todo, Chalana fez apenas 27 jogos pela seleção.
Regressou ao Benfica em 1987 e ainda venceu um campeonato e uma Supertaça de Portugal, já cadente e com a genialidade presa às amarras corporais. Nunca deixaria de ser o "Pequeno Genial", alcunha inventada pelo jornalista José Neves de Sousa que apenas faltou oficializar-se no seu bilhete de identidade, tão usual que virou falar de Fernando Chalana usando a descrição que lhe era mais fiel. "Teve a amabilidade de me chamar assim, pôs esse nome na pri­meira página de um jornal e ficou para sempre", reagiria o antigo jogador, contido nas palavras e introvertido de personalidade, como muitos o retratam.

O estore da sua carreira começou a fechar-se fora do Benfica, embora sempre nas redondezas de Lisboa. Fez uma temporada no Belenenses e cumpriria a última no Estrada da Amadora, em 1991/92, com 33 anos e na segunda divisão, contexto pouco condizente com o jogador que Fernando Chalana era. O futebol é um lugar estranho, onde as artimanhas das lesões chocalham as fundações de quem joga.
Sem chuteiras nos pés e rendido ao corpo chegaria o divórcio da mulher, Anabela. Viu os jornais abusarem na tinta para remoerem a sua vida pessoal e multiplicarem as parangonas enquanto o caso, escreveu-se à época, lhe esvaziava a conta bancária. Tinha o gosto pela columbofilia e ocupava-se com dezenas de pombos que tinha na sua casa, em Cascais. "Não é por acaso que, quando deixamos definitivamente o estrelato para entrarmos num mundo comum à maioria dos vivos, esses 'amigos' desaparecem como por magia. Até parece, por vezes, que contraímos uma doença contagiosa", lamento, em 1994, ao jornal "A Capital".
Fernando Chalana retornou ao Benfica a meio da década de 90. Aproximaram-no da miudagem a crescer rumo aos tempos da Internet e imediatismo das redes sociais, quiçá sem memórias de o verem a destroçar esperanças adversárias. Assumiu cargos no futebol de formação do clube e, em 2002, virou treinador-adjunto (por duas vezes) da equipa principal, na sombra de José Antonio Camacho. Chegou a orientar a equipa no interlúdio de o espanhol ir embora e outro nome chegar, experiência que o marcou para se dedicar, sem pudores, à formação, como recordou ao Expresso em 2011: "Foi terrível. Não quero treinar o Benfica, quero ensinar".
Deu incalculáveis lições de futebol e da vida a quem foi beijado pela sorte de o conseguir ver jogar."

Chalana


"A Nação Benfiquista está de luto, morreu Fernando Chalana, um dos melhores jogadores da imensa e gloriosa história do Sport Lisboa e Benfica.

1
Chalana foi ídolo maior de várias gerações. Um génio do futebol, ímpar, predestinado, imprevisível e sobredotado, venerado por legiões de admiradores, um príncipe do futebol. O Benfica sempre teve grandes jogadores e Chalana foi, para muitos, aquele que mais se distinguiu além de Eusébio.

2
Os dribles desconcertantes, os golos decisivos, as assistências açucaradas, a inteligência e intuição em campo e a velocidade estonteante fizeram de Chalana um extraordinário jogador. Chalana foi daqueles, raros, que justificavam, por si só, uma ida ao estádio e que com um simples lance poderiam despertar, nos jovens adeptos, a paixão vitalícia pelo futebol.

3
Tinha 17 anos e 25 dias quando, lançado por Mário Wilson em 1976, se estreou pela equipa de honra do Benfica, sendo então o segundo mais novo de sempre a alinhar em competições oficiais (secundando Guilherme Espírito Santo) e a tempo de se sagrar campeão nacional. Na época seguinte, Mortimore rapidamente lhe concedeu a titularidade, tornando-se o então miúdo Chalana em figura de proa de mais um tricampeonato do Benfica.

4
O Pequeno Genial, alcunha feliz da autoria do jornalista José Neves de Sousa, saiu do Benfica em 1984, após exibições inesquecíveis ao serviço de Portugal no Campeonato da Europa, em França.
O montante da venda ao Bordéus, à época considerado exorbitante, serviu para pagar as obras do fecho do terceiro anel do antigo Estádio da Luz.
Voltou passados três anos, entretanto acometido por várias lesões e já sem o fulgor de outrora, mas com a genialidade intacta.
Representou a equipa principal do Benfica durante 12 épocas, ajudando o Clube a vencer seis Campeonatos Nacionais, duas Taças de Portugal, duas Supertaças e três Taças de Honra, além de ter participado no percurso para três finais europeias. Disputou 410 jogos (324 oficiais) e marcou 64 golos (51 oficiais). E sobretudo maravilhou e fez sonhar todos os que tiveram o privilégio de o ver em campo com a camisola do Benfica ou de Portugal.

5
A ligação ao Benfica não se esgotou nos relvados. Foi treinador nas camadas jovens, contribuindo para o título nos Juniores em 2000, o qual já conquistara como jogador por duas vezes, em 1975 e 1976. Desempenhou ainda o cargo de treinador-adjunto da primeira equipa, chegando a ser treinador principal interino em três breves períodos.

6
Ao longo do dia, a emissão da BTV tem sido dedicada ao triste desaparecimento de Fernando Chalana, sucedendo-se os depoimentos de colegas e amigos elogiando o extraordinário jogador e o homem bom que infelizmente nos deixou hoje.
Rui Costa, confesso admirador profundo de Chalana, lamentou o falecimento de uma das maiores figuras da história do Benfica: "Partiu o nosso génio, um dos maiores e eternos símbolos do Clube."
Obrigado, Fernando Chalana!"

Meias-finais da Supertaça!!!

Benfica 3 - 0 Braga
Pauleta, Cloé, Cintra


Formato inovador, com uma Supertaça com meias-finais, algo que até pode ajudar o Benfica, a ganhar ritmo, para o fundamental play-off da Champions que se aproxima!!!

Muitas ausências: Amado, Jéssica, Kika, Nycole... Juntando a outras surpresas no banco: Sílvia, Lúcia... E uma tática, muito complicada de 'perceber' (343), até pelas jogadoras!!!

É verdade que vencemos, mas jogámos provavelmente com o Braga mais fraco dos últimos anos, e fizemos um jogo mau! Só de bola parada, no 2.º tempo, desbloqueámos a partida, isto depois do Braga ter tido muito espaço para os contra-ataques, com o Benfica a não ter ninguém nas Laterais!

A jogar assim, duvido muito de uma qualificação para a fase de grupos da Champions!

Chalana, sem palavras


"Fernando Chalana foi mais do que Rock n' Roll, foi mais do que um camisola 10, foi mais do que um bigode, foi mais do que um Pequeno Genial, foi mais do que Chalanix. Fernando Chalana foi mais do que uma repetição, uma figura de estilo ou a receita de uma poção de invencibilidade. O futebol faz-se de jogadores que colecionam números, recordes e troféus, já as bancadas vivem dos homens que nos marcam do aquecimento à finta derradeira. Não há clubismos ou comparações possíveis quando falamos de homens que calçam as chuteiras de deuses. Esqueçam o Olimpo do futebol, Chalana não precisa de jogar mais nenhum jogo para ser um Homem com 10 maiúsculo.
Fernando Chalana foi gigante porque viveu para lá das reviengas e dos golos, para lá das repetições na televisão ao domingo ou dos vídeos de YouTube, para lá da prateleira cheia de troféus ou do sucesso internacional. Fernando Chalana foi enorme porque foi humano. Verdadeiramente genuíno. Singularmente único. Fernando Chalana era um artífice das emoções junto à relva, um escultor de futuro na formação de homens que também jogavam futebol, um inventor de memórias inesquecíveis.
Fernando Chalana é bola em estado puro. E no mundo dos deuses da bola não há ponto final nem pretérito perfeito.
Obrigado, Chalana."

Génio...


"Adeus "Pequeno Genial". Uma Glória para milhares, mas um ídolo para milhões. Descansa em paz Chalanix ✨
Sou da tua geração, cresci a ver-te fintar, correr e marcar. Hoje um pedaço de mim parte contigo."

Chalanix


"Porque os génios não morrem. Para sempre Chalanix do Bigodix. O maior ambidestro do futebol Glorioso apenas se assumiu agora como ambiexistente. Falecido, mas sempre vivo."

Obrigado...


"Mais que um jogador e mais que um homem, Chalana foi, é e sempre será um símbolo para todos os benfiquistas. Deu a sua vida a esta instituição, nunca se servindo dela, mas servindo-a, de corpo e alma. Foram mais de 40 anos de águia ao peito.
Chalana é Benfica e Benfica é Chalana. Obrigado."

Respeito...


"Hoje partiu talvez a segunda figura mais consensual do futebol português, logo depois de Eusébio.
A partida do Pequeno Genial não foi indiferente a ninguém que, realmente goste de futebol.
Baixaram-se as "armas", levantaram-se as bandeiras brancas e enalteceu-se o génio do craque "Chalanix".

Chalana nasceu a 10 de fevereiro. Envergava o 10 na camisola. Num jogo em sua homenagem, o Benfica ganha 10-0, com o último golo a ser marcado pelo camisola 10 da altura, o Jonas. Morre na madrugada de 10 de agosto.
Serás sempre um dos nossos. Descansa em paz."

Benfica...

Vladan Kovacevic | A solução esperada?


"Gostarias De Ver Vladan Kovacevic Na Luz?

Muitos adeptos do SL Benfica, entre os quais eu inclusive, têm insistido que a equipa agora orientada por Roger Schmidt necessita de um guarda-redes com outro perfil: um guarda-redes que tenha capacidade e competências a sair dos postes, que saiba jogar com os pés e que saiba controlar a profundidade, visto que Odysseas Vlachodimos nunca deu garantias nesses aspectos do jogo. +
Pois recentemente, a imprensa desportiva nacional noticiou o interesse do Sport Lisboa em Vladan Kovacevic, guarda-redes bósnio de 24 anos que milita na equipa polaca do RKS Rakow e e tem sete intercionalizações sub-21 pelo seu país.
Vladan Kovacevic fez a sua formação no FK Sarajevo. Depois de um empréstimo ao Mrkonjic na época 17/18, o guarda-redes bósnio afirmou-se no clube da capital, no qual disputou um total de 60 jogos. No Verão de 2021, Vladan Kovacevic seria vendido aos polacos do RKS Rakow a troco de 300 mil euros.
Ao serviço do RKS Rakow, Vladan Kovacevic realizou uma época de grande nível ajudando o clube polaco a sagrar-se vice-campeão nacional, tendo a segunda defesa menos batida da liga, ficando situado a cinco pontos do campeão Lech Poznan.
Para além disso, o bósnio Kovacevic ainda foi considerado o melhor guarda-redes do campeonato da Polónia, o que fez com que ganhasse o interesse de clubes como o Glasgow Rangers, e com que o seu valor de mercado disparasse, estando actualmente avaliado em três milhões de euros, um valor 10 vezes superior ao que o Rakow pagou pelos seus serviços.
De momento, a questão que se coloca em muitos adeptos encarnados é a seguinte: será que Vladan Kovacevic é o guarda-redes de que a equipa do SL Benfica precisa?
Por enquanto, é difícil responder a esta questão. Para além do guarda-redes bósnio ser praticamente um desconhecido para a grande maioria dos adeptos encarnados, creio que Vladan Kovacevic neste momento, é ainda um projeto de guarda-redes, que necessita de competir a um nível mais elevado para comprovar o seu valor.
Segundo o meu ponto de vista, tendo em conta a necessidade de contratar um guarda-redes com as características que mencionei acima, creio que o interesse no bósnio resultada de alguma indicação dada por Roger Schmidt e/ou por alguém da sua equipa técnica, visto que se trata de um “desconhecido” que pertence a um mercado o Benfica nunca teve o hábito de explorar.
Confirmando-se esta contratação, o risco financeiro da mesma poderá ser curto, visto que se trata de um bargain vindo de um mercado periférico do futebol europeu, mas em termos desportivos implicará um risco maior, tendo em conta que se irá colmatar uma lacuna do plantel com um guarda-redes sem experiência ao mais alto nível e que não deverá dar garantias a curto prazo.
No entanto, caso esta aposta venha a dar certo, Vladan Kovacevic tornar-se-á num jogador recrutado a baixo custo que o SL Benfica potenciou e valorizou numa peça essencial da equipa orientada por Roger Schmidt."

The return of the King


"Uma lesão não impediu Eusébio de ser o 'Rei' frente ao Nuremberga, na Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1961/62

Na sua época de estreia de 'águia ao peito', Eusébio testemunhou o Benfica a sagrar-se campeão europeu, sem ter tido a possibilidade de jogar nessa prova. Quando a sua transferência ficou legalizada, já era tarde de mais, pois esta 'não veio permitir a inclusão de Eusébio no lote dos finalistas pois, como é determinação da U.E.F.A., o jogador teria que estar qualificado pelo clube na Federação Portuguesa três meses antes da realização do encontro'.
O avançado teve, finalmente, a sua oportunidade de se estrear na Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1961/62, frente ao Áustria de Viena. A sua participação foi crescendo e marcou o seu primeiro golo na competição no Estádio da Luz, no jogo da 2.ª mão. Contudo, o seu percurso foi interrompido quando teve de ser submetido a uma operação ao menisco do joelho esquerdo, a 19 de Dezembro de 1961.
Esta lesão teve início num jogo em Lourenço Marques, com Eusébio ainda a envergar as cores do 'Sporting local'. Em Portugal, durante um treino na época em que ia 'sonhando com o dia em que pudesse ver a minha situação legalizada', sentiu a mesma dor no joelho esquerdo, que voltaria a assombrá-lo em jogos posteriores, inclusive, contra os austríacos. Graças aos tratamentos que recebia, a dor passava, até que se concluiu que a sua condição só seria resolvida com uma intervenção cirúrgica.
Cansado de estar acamado, Eusébio afirmava: 'Quero ar puro, quero liberdade e, sobretudo, poder voltar ao futebol. Já tenho saudades, muitas saudades...'. O jogador regressou aos relvados a 11 de Fevereiro de 1962, falhando o jogo da 1.ª mão em Nuremberga. Passados 11 dias, perante os alemães, o avançado teve uma prestação magistral, contribuindo com um bis para histórica vitória por 6-0. Não passou despercebida ao periódico Franfurt Abendpost, que afirmou que 'Eusébio, de 19 anos, foi rei. Fez um jogo brilhante, ultra-moderno e perfeito. Foi a «estrela» do «onze»'!
Enquanto esteve internado o jogador partilhou: 'Confesso que tive medo. Sempre se tratava da minha primeira operação, que espero seja a última...'. Infelizmente, o seu desejo não viria a concretizar-se, tendo sido operado aos joelhos um total de sete vezes. Contudo, o 'Pantera Negra' não deixou que estas adversidades o impedissem de se tornar num ídolo mundial, sendo um exemplo de perseverança e de suspenção para os seus contemporâneos e gerações futuras.
Saiba mais sobre a vida e carreira desportiva do 'King' na área 24 - O 'Pantera Negra' e Outras Lendas do Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

FC Midtjylland 1-3 SL Benfica: Valeu pela obra de arte


"A Crónica: Águias Seguem Em Frente E Encontram O Dínamo De Kiev No Play-Off

Sem poder contar com David Neres, que nem sequer viajou para a Dinamarca, Roger Schmidt apostou em Chiquinho como substituto direto do extremo brasileiro no onze inicial do SL Benfica para o jogo de hoje frente ao Midtjylland, relativo à segunda mão da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões.
O treinador alemão, não procedeu a mais nenhuma alteração na equipa, e ao contrário do que aconteceu na primeira mão, o Benfica não teve uma entrada forte e dominante. Talvez os 4-1 desse jogo e o facto de o treinador alemão não ter rodado a equipa em nenhum dos três jogos oficiais, tenham ajudado a esse facto.
Mas em matéria de resultado, pouco mudou, já que depois de aos 18 minutos Gonçalo Ramos ter falhado um golo de cabeça, aos 23, o Benfica abre mesmo o marcador. Enzo Fernández, o homem do momento, aparece no lado direito do ataque das águias, e servido por Ramos – com um bom centro sobre a esquerda – aponta o primeiro golo.
Aos 30 minutos, uma grande jogada ao primeiro toque, desde a área encarnada até à área da equipa dinamarquesa, com João Mário a ver o seu passe atrasado, que tinha como destino a pequena área, ser desviado para canto.
Mas o Midtjylland nunca atirou a toalha ao chão, e teve dois lances de perigo, separados por apenas um minuto. No primeiro, uma sucessão de ressaltos levou a que Odysseas tivesse de se aplicar e defender para canto, e pouco depois, uma jogada perigosa da equipa dinamarquesa do lado esquerdo da defesa encarnada em que também resultou em canto.
Com o Benfica sempre a tentar implementar um ritmo lento ao jogo desde o início, Rafa perde a bola aos 40 minutos e dá origem a um contra-ataque perigoso, vendo-se obrigado a perseguir o dono da bola e a recorrer ao carrinho para travar a sua corrida. Viu assim o cartão amarelo.
Ao intervalo, e depois de uma primeira parte em que o Benfica controlou as ações, Schmidt realizou duas alterações. Saíram os amarelados Rafa e Gonçalo Ramos e entraram para os seus lugares, Yaremchuk e Henrique Araújo.
O Midtjylland entrou muito mais pressionante e com mais bola nos primeiros dez minutos da segunda parte. A exemplo disso, uma bela jogada aos 51 minutos que culminou em canto. A equipa do Benfica a aparecer mais desgastada nesta altura, ficando a sensação de que Schmidt poderia ter refrescado mais a equipa.
O segundo golo surgiu naturalmente aos 56 minutos de jogo. Canto marcado à maneira curta por João Mário, tabelinha com Grimaldo e centro do internacional português para o cabeceamento de Henrique Araújo, com a bola a entrar no canto inferior direito da baliza de Ólafsson. Mesmo fazendo uma exibição uns furos abaixo do normal, a equipa encarnada a conseguir ampliar o resultado global para 1-6.
Os dinamarqueses aproveitaram a exposição a nível defensivo que o Benfica proporcionava, e reduziu o resultado no marcador. Centro de Paulinho, cabeceamento de Kaba com a bola a bater na trave e a sobrar para Sisto que disparou forte para o fundo das redes encarnadas.
Aos 88 minutos, aconteceu o grande momento do jogo. As águias saem a jogar a partir de trás, de forma exímia a partir do guarda-redes, com a bola chegar a Yaremchuk, que deixa para Diogo Gonçalves, e este num remate fora da área em arco a fazer a bola entrar junto ao ângulo superior esquerdo da baliza de Olafsson. Um golaço.

A Figura
Enzo FernándezA marcar pelo terceiro jogo consecutivo, Enzo mostrou mais uma vez que veio para ser dono do meio campo do Benfica. Viu também Florentino fazer uma exibição igualmente segura ao seu lado, com a dupla a formar uma autêntica parede. O argentino é o pivot que o Benfica necessitava, hoje fez mais de 100 passes com 91% de eficácia.

O Fora de Jogo
ChiquinhoÉ certo que a tarefa de substituir David Neres não é nada fácil, e arrisco-me a dizer que no plantel encarnado seria difícil escolher alguém para o lugar do brasileiro.
Ainda assim, penso que Schmidt falhou na sua escolha, até porque vejo em Diogo Gonçalves uma opção bem mais válida, se o objetivo era jogar da mesma forma que em outros jogos. Chiquinho não conseguiu seguir os passos do colega que ficou em Lisboa, e muitas vezes se viu atrapalhado com o que tinha de fazer em campo.

Análise Tática – FC Midtylland
Jogou num 3-4-3, desta vez, fazendo descer Paulinho e Andersson para fazer defesa a cinco, na esperança de parar o ataque demolidor da equipa encarnada. Como o Benfica esteve refém do explosivo David Neres, essa tarefa ficou facilitada.

11 Inicial e Pontuações
Ólaffson (5)
Dalsgaard (6)
Juninho (6)
Thychosen (6)
Andersson (6)
Onyedika (6)
Evander (6)
Paulinho (7)
Dreyer (7)
Kaba (6)
Sisto (7)
Subs Utilizados
Sorensen (6)
Syhr (SN)
Isaksen (6)
Chilufya (6)
Brumado (6)

Análise Tática – SL Benfica
O 4-4-2 transforma-se em 4-3-3 assim que o apito inicial soa, com João Mário a jogar muito avançado no terreno, juntando-se a Rafa e Gonçalo Ramos. Hoje sem David Neres, o SL Benfica teve em Chiquinho o responsável por colocar a bola em Gonçalo Ramos, uma aposta que não resultou. Quanto ao meio campo, não houve surpresas, Enzo e Florentino mandaram na zona central do terreno.

11 Inicial e Pontuações
Vlachodimos (7)~
Gilberto (7)
Otamendi (6)
Morato (7)
Grimaldo (7)
Chiquinho (5)
Enzo (8)
Florentino (7)
João Mário (7)
Rafa (6)
Gonçalo Ramos (7)
Subs Utilizados
Gonçalves (7)
Diego Moreira (-)
Bah (6)
Henrique Araújo (7)
Yaremchuk (7)"

Cadomblé do Vata


"1. Benfica 7 - 2 Equipa do Evander... dupla felicidade para Mike Tyson.
2. Depois de um 4-1 e de um 4-0, hoje foi 3-1... ainda só vamos em 3 jogos e já se nota quebra de rendimento na equipa.
3. Florentino a assumir claramente o papel de farol do meio campo... porque rouba bolas, dá linhas de passe e tem o topo da cabeça amarelo.
4. A substituição do Chiquinho pelo Diogo Gonçalves teve ali um belo travo a nostalgia... julgo que desde que em 1983 Eriksson tirou Veloso e meteu João Alves na segunda mão da final da Taça UEFA contra o Anderlecht, que num jogo europeu, não havia no SL Benfica uma substituição entre dois jogadores de bigode.
5. Enzo Fernandez: 3 jogos, 3 golos... e ainda dizem que a Dinamarca (ahahaha badum tss)."

Enzo Fernández e o hygge à Benfica


"O argentino é, por estes dias, sinónimo do bem-estar do Benfica de Roger Schmidt, que foi à Dinamarca vencer o Midtjylland por 3-1 e garantir um lugar no play-off de acesso à fase de grupos da Champions. Foi Enzo que abriu o marcador num jogo em que os encarnados tiveram, aqui e ali, algumas desatenções, sem nunca perder o controlo do filme, gerindo na parte final

Vivemos numa era de tamanho desenfreio que o simples ato de beber um chocolate quente na paz do senhor junto a uma bonita lareira tem um nome próprio. A essa sensação de bem-estar os dinamarqueses que, diz-se, são o povo mais feliz do mundo, chamam hygge, termo que, como qualquer palavra nórdica, vende móveis e livros e ainda nos faz sentir aquele aconchego na alma.
A viagem a Randers e não a Herning - o estádio do Midtjylland recebe por estes dias o Mundial equestre - não sugeria transtornos existenciais ao Benfica de Roger Schmidt, que por Lisboa, cidade que terá na sua versão de hygge um copo de branco fresco à beira-mar, venceu os dinamarqueses por 4-1, naquela vertigem teutónica que tem sido sinal da cruz dos encarnados esta época.
Schmidt, previsivelmente, apostou no onze que mais lhe tem caído no goto, com Chiquinho a fazer as vezes do lesionado Neres - estava aqui a oportunidade de, num jogo sem pressão, tranquilo e agradável, carregadinho de hygge, o Benfica versão 2022/23 cimentar dinâmicas e movimentos. E apesar da vitória por 3-1, que colocou na pedra um triunfo no agregado por claros 7-2 e a passagem ao derradeiro play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, Schmidt terá as suas razões para coçar o queixo. Não que o Benfica tenha incumprido na promessa do treinador de continuar a ser uma equipa virada para o ataque, mas de tempos a tempos, terá relaxado talvez em demasia, frente a um Midtjylland de qualidade infinitamente inferior.
Essa intensidade em modo de gestão permitiu aos dinamarqueses tentar umas gracinhas aqui e ali, aproveitando algumas perdas de bola e desatenções da defesa do Benfica. Um dos lances mais perigosos do Midtjylland nasceu de um mau passe de Otamendi bem perto da área, com o brasileiro Paulinho a aproveitar para cavalgar até à baliza. Vlachodimos, bem, afastou. Já perto do intervalo, foi o guardião grego novamente a salvar depois de uma jogada confusa na área que ninguém conseguiu limpar. Na 2.ª parte, aos 63’, houve mesmo golo: Sory Kaba estava na mais tranquila solidão na grande área do Benfica e cabeceou à barra, com Sisto a marcar na recarga, num daqueles remates sôfregos e urgentes, como se fosse o último remate da vida do internacional dinamarquês que na Luz achou interessante fazer uma panenkada quando a sua equipa perdia por 4-0. Lá moral tem ele.
Não sei se tal conceito existe, mas estes foram os períodos de, digamos, demasiado hygge do Benfica, que tem gente com talento suficiente para não sofrer golos contra estes esforçados nórdicos. Nada absolutamente problemático porque por essa altura já o Benfica tinha matado uma eliminatória que vinha quase fechada de Lisboa, com um golo do homem que tem personificado o hygge encarnado desta época: um Enzo Fernández que não só se manobra elegantemente na linha de meio-campo como vai lá à frente para fazer mover as redes da baliza - já são três golos em três jogos oficiais esta época deste argentino que é, por ora, a bússola que faz mover o jogo do Benfica. Aos 23’, está nele a origem da jogada e também é dele o faro para ir à área buscar o passe perfeito de Gonçalo Ramos.
A partir daí o Benfica parecia ir a todo o vapor rumo a uma vitória fácil, a impor velocidade e combinações rápidas, a marca de Schmidt, mas a exibição fez-se de momentos de controlo vs. desatenções desnecessárias. O treinador do Benfica lançou Yaremchuk e Henrique Araújo ao intervalo e foi da cabeça do madeirense que surgiu mais um golo, aos 56’. Mesmo com o Midtjylland a reduzir sete minutos depois, a vitória nunca esteve em causa, faltou apenas a afinação e mais constância na vertigem, numa 2.ª parte mais de gestão e rodagem que de fogo de artifício, fora o grande momento cortesia de Diogo Gonçalves, que marcou o golo da noite a dois minutos do fim: vindo da esquerda, fletiu para o meio, ninguém fez caso e o remate surgiu dali mesmo, ainda fora da área, cruzado em direção à baliza da equipa da casa.
Segue-se agora o playoff de acesso à fase de grupos para que o hino da Champions seja uma realidade nesta Luz onde Enzo alumia o caminho. Com a tranquilidade de quem ao final do dia relaxa no sofá com uma musiquinha, no bem-estar de quem sabe que é feliz a tratar da bola."