quarta-feira, 20 de julho de 2022
Grimaldo, Trincão e os levezinhos do Porto
"Vejo Grimaldo jogar e não entendo como tantos o desvalorizam. Acumula épocas inteiras em rendimento elevado, atestadas em presenças consecutivas acima dos 40 jogos por ano e, para os que ligam mais às estatísticas, com número de assistências, mas também de golos (fruto da qualidade na bola parada), invulgarmente raros num lateral. Então para quem aprecia mais que números, a variedade de soluções que oferece em momento ofensivo, desequilibrando por fora ou construindo por dentro, consagram-no como um dos principais organizadores do jogo encarnado nos últimos anos, ao ponto de me questionar como nunca foi sequer equacionado como médio interior. Explicação óbvia: não o valorizam mais porque não é robusto, mesmo se outros mais atléticos na aparência dificilmente garantem tanta fiabilidade. Ideia feita: defende mal, como se alguém com tanta qualidade ofensiva devesse ser julgado pelos momentos em que é o coletivo que deve proteger sem bola quem tanto lhe acrescenta com ela, em particular numa equipa grande. Impressão minha: Roger Schmidt já percebeu que ou lhe dão alguém de topo ou o lugar é dele e não do reforço Ristic. Opinião convicta: o Benfica bem pode procurar que não arranja melhor, muito menos pelos sete milhões de que se fala para a venda.
Vejo Trincão de regresso ao futebol português e aplaudo a escolha leonina. Privado do seu melhor jogador da época passada, o delicioso Pablo Sarabia, os leões rebuscaram de novo o futebol português, interna e externamente, para disponibilizar opções de qualidade naqueles dois lugares decisivos para o sistema de Rúben Amorim: os dos homens que gravitam na órbita do ponta de lança. Mantém-se Pote, a prometer voltar aos melhores dias pelo que se viu diante do Villarreal, aguarda-se a explosão definitiva de Marcus Edwards, mas, para além das alternativas Nuno Santos e Tabata, acrescentam-se dois nomes muito bem apanhados, Rochinha e Trincão, num claro acréscimo de qualidade onde ela é mais necessária, na zona de criação rumo à definição. Rochinha terá de esgravatar para encontrar o seu espaço, à partida como destro alternativo a Pote. Já Trincão pode rivalizar com Marcus, mas também ser compatível com ele, e espero que seja, pois pelo menos desde o Brasil de 70 que sabemos que se há craques a sério o único desafio justo é conseguir juntá-los. Talvez por isso Amorim ensaie agora uma estrutura alternativa, para finalmente abdicar de uma unidade defensiva e poder ter uma peça extra no processo de ataque.
Ao contrário, saem do Porto Vitinha e Fábio Vieira e nem adianta dizer que partem precocemente, já que a partir de certo nível o dinheiro fala e 75 milhões em receita (dos dois somados e no imediato) é sempre um grande negócio, sobretudo para quem só tem de descontar os custos da formação. Agora que o FC Porto perde duas unidades já muito importantes não há como iludir, que não é fácil encontrar sequer parecido. Vitinha tornou-se indiscutível, acrescentou critério com bola, pegou na batuta e definiu ritmos. Fábio Vieira foi ganhando espaço agarrado a uma criatividade rara, esbracejando para encontrar vaga em terrenos que eram ou de Otávio ou da profícua dupla Taremi-Evanilson, e a verdade é que logrou brilhar. Vitinha, o maestro, cresceu com a equipa mas sobretudo a equipa cresceu com ele. Fábio, o solista, brilhou sempre que lhe permitiram o destaque da titularidade. Curioso como tantos, há menos de um ano apenas, mal percebiam a qualidade que ali estava. O Wolverhampton não percebeu, por exemplo, e recuou em dar 20 milhões por um homem que agora valeu o dobro. Outros jogadores, bem mais celebrados, nunca chegarão nem perto de PSG ou Arsenal. É onde já estão os levezinhos do Dragão, mais uns a provar que o talento não se mede com balança e fita métrica.
rendimento elevado, atestadas em presenças consecutivas acima dos 40 jogos por ano e, para os que ligam mais às estatísticas, com número de assistências, mas também de golos (fruto da qualidade na bola parada), invulgarmente raros num lateral. Então para quem."
A paixão pelas montanhas da Águia de Toledo
"Bahamontes foi o primeiro espanhol a vencer a Volta a França e ainda é considerado o maior trepador de sempre
Alejandro comeu fome.------- Como escreveu sobre ele José Carlos Carabias: «Bahamontes representa un viaje al centro de la vida, al pasado de un país, a la guerra, el hambre y el deporte que se practicaba por rabia y honor». O desporto de Alejandro Martín Bahamontes foi o ciclismo. Chamavam-lhe a Águia de Toledo. Quando era muito miúdo, todos o tratavam por Martín em Santo Domingo-Caudilla, onde nasceu no dia 9 de Julho de 1928.
Depois, a mãe, Victoria, no dia do seu batismo, mudou de ideias em relação ao nome. O Alejandro caiu e ficou Federico, por causa do tio, o patriarca da família. O pai, Julián Martín, fora herói da Guerra de Cuba, demasiado velho para ser recrutado para a Guerra Civil Espanhola que não tardou a rebentar. Alejandro, agora Federico, não gostava de armas nem de guerra. Engajado pelas forças nacionalistas de Toledo, onde estudava num colégio de freiras, conseguiu escapulir-se.
Tornou-se um desertor. Mas manteve-se vivo. Foge para Madrid com a família. É a vez de Julián ser alistado à força pelo Exército Republicano como Cabo de Intendência. Federico vive escondido entre mulheres: a mãe, as tias e as irmãs habitam uma cave reles na calle General Molla. Quando a guerra acaba, regressam a Toledo com tudo o que têm albardado a uma mula. Serão camponeses numa herdade de nome Loches.
Nos campos de Castilla-la-Mancha os garotos que atacam as oliveiras à força de varas fazendo tombar as azeitonas em lençóis largos de serapilheira são conhecidos como mochuelos. O trabalho é duro e de sol a sol. Fede faz de tudo: quando termina a apanha da azeitona, carrega com sacos de cereais às costas na Quinta de Mirabel; no Cerro de Los Palos é aprendiz de carpinteiro pela manhã e guardador de vacas pela tarde; no pouco tempo que tem livre, junta pedras e areia para reconstruir a casa dos pais junto ao Convento de San Pablo; comprou a sua primeira bicicleta por 30 duros.
«A maior das minhas mestras foi a fome!». Em Menasalbas, em 1947, participou numa prova de ciclismo: ficou em segundo. Um ano depois correu a Toledo-Puente del Guadarrama-Cabañas de la Sagra-Toledo. Era Julho e Castela fervia de calor e os horizontes bailavam em frente dos olhos dos homens como nos livros de Cervantes. Ganhou.
«Levántate y mira la montaña
De donde viene el viento, el sol y el agua
Tú que manejas el curso de los ríos
Tú que sembraste el vuelo de tu alma», cantou trinta e alguns anos mais tarde Victor Jara, o poeta preso, torturado e assassinado pelos lacaios de Pinochet que atiraram o seu cadáver estropiado para uma sarjeta de uma favela de Santiago. Bahamontes mirava a montanha. A montanha era o lugar onde a Águia de Toledo sentia que precisava de pousar.
Na sua primeira Volta à França, em 1954, conseguiu vestir a camisola do Prémio da Montanha mesmo apesar de ter desfeito os raios da roda traseira da bicicleta no Col de la Romeyère. Parou na beira da estrada a comer um gelado enquanto esperava por ajuda. Deixou que o olhar se prologasse a todo o comprimento dos vales e voltasse a subir ao topo. Sentia-se em casa.
Federico tornou-se um bom amigo do seu adversário italiano, Fausto Coppi. Certa vez convidou-o para ir caçar com galgos num terreno perto de Talavera de la Reyna. Fausto aproveitou o momento para lhe dizer: «Fede, pensas demais nas etapas de montanha, desgastas-te muito com elas. Concentra-te na corrida em geral. A montanha virá por acréscimo». Estávamos em 1959. Nesse ano, Federico Martín Bahamontes passava a ser o primeiro corredor espanhol a vencer o Tour.
Bahamontes é, ainda hoje, provavelmente o maior trepador da história da Volta à França. Ganhou essa modalidade oficial nas provas de 1954, 1958, 1959, 1962, 1963 e 1964, o ano em que pôs um ponto final na carreira depois de voado sobre o Tourmalet. Em 2013, quando se comemorou o Centenário do Tour, foi-lhe atribuída a distinção por votação de todos os jornalistas do L’Équipe. Abriu um loja de bicicletas em Toledo e continuou a receber cartas e cartas enviadas pelos seus aficionados de toda a Europa.
Às vezes chegavam com apenas uma indicação: «F. Bahamontes. España». Outras limitavam-se a vir com o desenho de uma águia pedalando uma bicicleta. Não havia funcionário da Sociedad Estatal Correos y Telégrafos que não soubesse ou não saiba quem é o grande Bahamontes. Aos 94 anos, continuamente impelido a ir ao encontro das montanhas cujas estradas dominava como nenhum outro nem antes nem depois dele, Bahamontes continua a pensar se terá sido a convicção da mãe de lhe mudar o nome de Alejandro para Federico que lhe abriu as portadas do sucesso. Mas, afinal, que importância tem um nome? A menos que ele seja Bahamontes."
Ser atleta e ser mãe
"A maternidade significa várias coisas e, no mundo da alta competição, maioritariamente masculino ao nível das decisões, podemos talvez dizer que a maternidade “é uma chatice
Quem gosta de atletismo sabe quem ela é. Allyson Felix ganhou tudo o que havia para ganhar, nas pistas, e ainda deu uma chapada pública à Nike. Ou melhor: reconverteu a política salarial e contratual da empresa, face à maternidade e pós-parto.
Ela despediu-se na segunda-feira das competições, depois de ganhar mais uma medalha de bronze. Eu, que sou lamechas, verti umas lágrimas.
Allyson Felix arrecadou 27 medalhas olímpicas e de campeonatos mundiais de atletismo. Para que fique claro, 20 destas medalhas são de ouro. Correu 100, 200 e 400 metros rasos. Não há qualquer outro atleta – seja de que género for – que tenha conquistado tantas medalhas olímpicas. Allyson tem dez. A especialidade dela? Correr os 200 metros rasos e fazê-lo em 21 segundos e 81 décimas. A proeza concretizou-a em 2007, na cidade japonesa de Osaka, no Campeonato do Mundo. Em 2012, não contente, bateu-se a ela própria: fez a mesma prova em 21 segundos e 69 décimas.
É uma velocista incrível, que deixa a carreira aos 36 anos de idade. Talvez sinta o sabor amargo de ter conquistado o bronze, em vez da prata ou do ouro, na prova de segunda-feira. As vencedoras têm menos dez anos de idade. E a idade, no desporto, conta muito.
O que também conta é a maternidade. E conta para as atletas mulheres de uma maneira feia, discriminatória, injusta. Allyson não foi excepção. Patrocinada pela Nike, anunciou a sua gravidez e, digamos, o caldo entornou-se. O confronto tornou-se público, e várias atletas denunciaram os preconceitos e práticas discriminatórias da marca. Podemos dizer que ganharam a guerra, porque a Nike vergou, e anunciou que manteria contratos e patrocínios sem qualquer redução, às atletas mulheres que pretendem ser mães. A Allyson tinham proposto uma redução de 70% no contrato. Não foi uma guerra fácil, mas venceu-se.
A maternidade significa várias coisas e, no mundo da alta competição, maioritariamente masculino ao nível das decisões, podemos talvez dizer que a maternidade “é uma chatice”. Não são os nove meses de gravidez, é também o pós-parto, a recuperação. É preciso muita autoconfiança, muito trabalho. Se a Nike, em 2019, tinha dúvidas, Allyson mostrou-lhes que é possível ser tudo: mãe e atleta. Teve uma filha prematura e, 13 meses depois, estava de volta. Entretanto, vai ter a sua marca de sapatilhas, o que, aqui entre nós, me parece uma chapadinha de luva branca com pinta."
40 milhões!
"40 milhões de euros. Quarenta milhões de euros. Vamos repetir: 40 milhões de euros. Quarenta milhões de euros.
Ninguém investiga a ligação Jorge Mendes-Calor da Noite? Ana Gomes, onde andas? Comunicação Social Portuguesa, onde andas? Ah, já sabemos:
-Schmidt irritado com João Mário porque se casou no dia da apresentação.
-Benfica irritado com Schmidt porque chegou tarde.
-Direcção está dividida por causa da contratação do Enzo porque alguns não gostam que se gaste tanto dinheiro num jogador que só poderia vir daqui a meio ano (foderam-se que já ca está...embrulhem!).
-Javi Garcia vai ganhar um dinheirão e nem curso de treinador tem.
-Rui Costa irritado com Schmidt por ter falado bem de Horta.
-Etc
-Etc
-Etc
-Etc
Tem que sair mais um camião de areia para os analfabetos dos adeptos do Calor da Noite para continuarem a pensar que a Comunicaçon Social é toda dos lampions!
Força, J Marques!"