"Existe um velho ditado que diz que é difícil chegar ao topo, mas é muito mais difícil manter-se lá em cima. A equipa de basquetebol do SL Benfica, depois de ter conquistado os seus primeiros troféus da sua história na época passada, nesta temporada, conseguiu tornar-se na primeira equipa da história do basquetebol a conquistar os quatro troféus nacionais numa só época.
Mais do que o projeto implementado, que permitiu juntar a esta equipa algumas das melhores jogadoras nacionais e jogadoras estrangeiras de qualidade, implementou-se também uma cultura e uma mentalidade de vitória muito forte nesta equipa, que permitiu superar-se nos momentos decisivos da época. No entanto, nem sempre foi assim ao longo da curta história desta secção após a sua recriação.
Depois de terem subido de divisão duas épocas consecutivas, alcançando a primeira divisão em 2014, a equipa de basquetebol feminino do Benfica esteve teve várias épocas em que o objetivo se resumia a uma chegada aos play-offs. Apesar da equipa ter tido algumas jogadoras de qualidade nesse período, o projeto não mostrava a estabilidade necessária para fazer do Benfica uma equipa capaz de lutar por troféus.
Os primeiros ventos de mudança surgiram na temporada 2019/2020, época na qual seria contratada a base internacional portuguesa Joana Soeiro, que se tornaria num dos pilares da equipa que viria a formar uma hegemonia no basquetebol nacional.
Nessa temporada, o Benfica conquistou o Torneio Vítor Hugo, sendo que aquando do cancelamento da época causado pela pandemia estavam em quinto lugar no campeonato. Mas o melhor ainda estaria por vir.
No Verão de 2020, no meio da incerteza causada pela pandemia, o basquetebol feminino do Benfica começaria realmente a apostar forte com o objetivo de conquistar troféus. Eugénio Rodrigues sucedeu a Isabel Ribeiro dos Santos no comando técnico da equipa. Com o devido respeito por todas as outras pessoas que trabalham nesta secção, a contratação de Eugénio rodrigues foi o principal game changer na gestão desta equipa.
Junto com ele, chegariam algumas jogadores que se tornariam peças importantes que ajudaram esta equipa a começar a fazer história, como as internacionais portuguesas Carolina Gonçalves e Laura Ferreira, e as norte-americanas Japonica James e Altia Anderson, que juntamente com jogadoras como Joana Soeiro, Mariana Carvalho, Marta Martins e Mariana Silva, formariam a espinha dorsal da equipa que conquistaria a Dobradinha e seria autora da sua própria história.
No entanto, esta secção viria a mostrar que a sua ambição não ficava por aqui e que pretendia fazer perdurar o domínio a nível nacional, construindo um plantel ainda mais forte e profundo que o da última temporada e a equipa encarnada conseguiu fazer mais história, conquistando um total de seis troféus consecutivos, não dando hipóteses à concorrência.
Para esta temporada, algumas jogadoras entraram e saíram (casos das norte-americanas e de Mariana Carvalho), mas as caras novas que fizeram parte da equipa nesta temporada, deram um contributo importante para o Poker de troféus conquistados.
Entre essas caras novas, começo por falar da norte-americana Taylor Peacocke. Surpreendentemente, esta jogadora teria a sua primeira experiência num contexto sénior aos 27 anos. Depois de se ter formado na WWU Women’s Basketball, Taylor Peacocke ficaria alguns anos sem competir, tendo pelo meio enfrentado uma batalha contra o cancro.
Depois de recuperada, o Benfica deu-lhe a possibilidade de fazer aquilo que mais ama e a verdade é que apesar dos anos sem competir levantarem alguns pontos de interrogação em relação ao que poderia dar à equipa, a base norte-americana realizou uma época em crescendo.
Tornou-se numa peça importante da equipa, sobretudo no capítulo ofensivo, registando médias de 10,8 pontos, 4,5 ressaltos e 44% de eficácia nos lançamentos de dois pontos, 34% de eficácia nos triplos e 89% de eficácia em lances livres (segundo melhor registo do campeonato neste capítulo). Uma campeã no Benfica e na vida.
A base Ana Carolina Rodrigues foi mais um reforço para o backcourt. A base internacional portuguesa já tinha trabalhado com Eugénio Rodrigues no Olivais no FC e foi uma jogadora que à medida que a época foi avançando, foi tendo um papel cada vez mais proponderante na rotação, mostrando-se como uma jogadora que se transcende nos grandes jogos. Contabilizando apenas os jogos do play-off, Ana Carolina Rodrigues teve uma média de 10,4 pontos, o que diz bem da forma e da importância da jogadora no momento decisivo da época.
O reforço mais sonante seria Raphaella Monteiro da Silva. Quem acompanhava o campeonato, já tinha plena noção da craque que esta jogadora é. A extremo internacional brasileira veio para o Benfica depois de ter brilhado na União Sportiva e na Quinta dos Lombos e que causou impacto imediato na equipa orientada por Eugénio Rodrigues.
Raphaella Silva mostrou o que vale desde o primeiro ao último jogo. Uma jogadora multifacetada, com uma grande capacidade atlética e capaz de fazer de tudo na quadra, sendo uma jogadora fundamental nos dois lados do campo. Para além do poker de troféus, Rapha também conseguiu fazer o poker de distinções individuais: MVP da Supertaça, MVP da final da Taça de Portugal, MVP da final da Taça da Federação e MVP das finais do play-off.
Já na segunda metade da temporada, chegaria a outra jogadora que desempenhou um papel importante. A argentina Candela Gentinetta reforçou a equipa em Janeiro para substituir a mexicana Myriam Ackermann; e a poste de 21 anos viria a dar o boost no jogo interior que faltava à equipa, sendo uma jogadora bastante influente na luta nas tabelas e que é um poço de energia, personificando a típica raça latino-americana. Terminou a época com médias de 10 pontos e 7,9 ressaltos, 51% de eficácia no lançamento de dois pontos e teve ainda a terceira melhor média de ressaltos ofensivos do campeonato (3,4).
Em relação às jogadoras que transitam da época anterior, a capitã Joana Soeiro voltou a ser a playmaker da equipa. Mesmo tendo tido um pouco menos de protagonismo que na época passada, Joana Soeiro teve a terceira melhor média de assistências do campeonato (5,1) e mais importante que isso, mostrou o que é ser uma capitã e uma líder dentro e fora da quadra.
A jovem Marta Martins foi novamente uma jogadora importante na equipa. Mesmo tendo perdido algum espaço na rotação na recta final da época, a jovem formada no Benfica mostrou ser uma jogadora de grande utilidade e sempre pronta a dar o seu contributo à equipa, fazendo uso da sua qualidade de passe e demonstrando uma evolução notável no lançamento de três pontos, tendo sido a jogadora do campeonato com maior eficácia nos triplos (45%).
Laura Ferreira é a “craque silenciosa” da equipa. Numa equipa com várias jogadoras capazes de assumir o jogo, a extremo internacional portuguesa é daquelas jogadoras que não precisa de ter muita bola para brilhar. Sendo uma defensora de excelência, era ela quem costumava marcar as jogadoras mais perigosas da equipa adversária, demonstrando ser incansável nessa tarefa, sendo também capaz de cumprir com o seu papel no ataque. Como disse aqui há um ano, Laura Ferreira é aquela jogadora cuja influência na equipa não se espelha nas suas estatísticas.
Depois de ter brilhado na final do play-off da época passada, Mariana Silva fixou-se como opção na posição 5, onde demonstraria uma evolução assinalável. Para além de tirar partido da sua exímia capacidade de lançamento de curta e média distância, a internacional portuguesa também mostrou evolução no trabalho no “garrafão”, mostrando ser uma jogadora mais útil e mais capaz na luta nas tabelas.
Para além destas, também havia as jogadoras menos utilizadas, mas que a espaços, tiveram os seus momentos para darem o seu contributo à equipa e que mais importante que isso, tiveram um papel essencial no balneário e na agregação do grupo de trabalho. São os casos de Carolina Gonçalves, Cynthia Dias, Ana Barreto, Maria Lopes e Carolina Aguiar.
Ao todo, foram 36 vitórias em 38 jogos e todo este sucesso é fruto de uma equipa que concilia qualidade de jogo com atitude competitiva e vontade de vencer e de uma estrutura e equipa técnica competente, dedicada e ambiciosa.
Por detrás desta hegemonia, está a entrega e a qualidade das jogadoras que mostraram o seu valor dentro da quadra; e da competência do treinador Eugénio Rodrigues, da Team Manager Maria Pardelhas e de todos os elementos de uma secção, que tiveram uma quota-parte de responsabilidade no sucesso desta equipa.
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