quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Supertaça perdida...

Sporting 7 - 2 Benfica

Até ao momento da expulsão do Jacaré fomos superiores, e o 1-2 até era 'curto', mas depois cometemos demasiados erros, com o Ronca em 'evidência'!

O Benfica que poderá vir a ser este Benfica – Detalhes da Equipa B com Veríssimo


"“A nossa ambição tem de ser jogo após jogo, queremos ter uma equipa muito competitiva. Individualmente temos jogadores com muita qualidade, dizemos isso aos atletas, mas temos de ter mentalidade vencedora, que nos tem caracterizado. Temos de ser muito competitivos em todos os momentos do jogo. Também temos de ser bons sem bola, nos momentos de transição defensiva, a defender. Temos de ser competentes e esse é o desafio. O percurso não vai ser fácil, sabemos, mas estou muito confiante e acredito muito nos jogadores”
Nélson Veríssimo, no lançamento da época 21/22 da Equipa B

O treinador Nélson Veríssimo vai assumir a equipa principal do SL Benfica depois da saída de Jorge Jesus, deixando o cargo da equipa B onde vinha a realizar um trabalho sustentado: à data da sua saída o Benfica B liderava confortavelmente a Liga 2 – um feito sempre de assinalar quando se compete neste contexto com uma equipa tão jovem – e mais importante do que isso e o principal objetivo de uma equipa B, potenciando jogadores que estavam às portas da equipa principal (casos mais flagrantes os de Paulo Bernardo e Tomás Araújo). Nesse sentido, fomos observar um pouco do jogar desta equipa, na perspectiva da possibilidade de Veríssimo transportar à equipa A algumas destas dinâmicas (sempre com a ressalva que a equipa B do SL Benfica representa ainda o último passo da área de especialização do Benfica Campus e que portanto carrega um modelo de jogo extensível às equipas imediatamente abaixo – Juniores e Sub-23, por exemplo – e que numa equipa A o rumo pode sempre ser outro).


- Momento Ofensivo – a estrutura em organização ofensiva assenta num 1-4-3-3 com saída em construção em 2+1 com os centrais próximos permitindo que os laterais também se coloquem baixos num sistema que prevê dupla largura (tanto os extremos como os laterais abrem no corredor em simultâneo), permitindo que os extremos prendam a marcação no corredor deixando os laterais normalmente livres para receber. No centro, o meio-campo coloca-se em 1+2 e na frente há variedade dos movimentos do ponta (muito completo) que alterna o movimento de apoio frontal para tocar de frente no 3º homem dos interiores que depois aceleram ou ele próprio ativa-se em situações de ataque à profundidade (contramovimentos em que vem pedir e ataca a frente do defesa).
- Momento Defensivo – duas possibilidades: uma postura de organização defensiva mais agressiva em 1-4-3-3 mas com inversão da frente e sendo os extremos a saltar nos centrais e o ponta a fechar corredor central juntamente com os interiores que pegam nas referências adversárias, com os laterais a terem indicação para saltarem mais acima no corredor; alternativa mais expectante em 1-4-1-4-1 com o ponta a condicionar os centrais, os interiores a pegarem por dentro e sendo desta vez os extremos a saltarem no corredor, mantendo a linha defensiva de 4 intacta, com o 6 em cobertura aos movimentos de pressão dos interiores.
Para além destes aspetos temos também de ressalvar a maturidade competitiva que uma equipa tão jovem tem revelado nos vários momentos do jogo, com a concentração e volição mantida em todos os momentos – veja-se o exemplo desta transição defensiva já em período de descontos: "

Fatal como o destino


"O divórcio é uma probabilidade quando um dos lados o pretende e torna-se uma fatalidade quando ambos o preferem. O Benfica já não desejava Jesus e Jesus já não era feliz no Benfica. E até para a numerosa família, a encarnada, o casamento era causa perdida, que não se percebiam traços de união, de facto. Aqui chegados, Rui Costa entregou a decisão ao destino: se o treinador saísse vivo de visitas consecutivas ao Dragão poderia levar a tarefa (e o contrato) até ao fim. Ao fim da época – assinale-se – e nunca para lá dele. Jorge Jesus já tinha percebido igualmente que a rutura aconteceria, talvez mais cedo do que mais tarde. Também por isso alimentou a novela Flamengo, porque os clássicos no Porto podiam mesmo antecipar o prazo de tolerância. Além de que não haverá nada mais tentador para quem está infeliz do que voltar aonde se foi feliz a sério. Ninguém quis dar o primeiro passo e por isso acabaram juntos a dar o último. Com honra, até ver, e assinale-se isso, mas sem glória, o que era fatal como o destino.
O problema que agora rebenta nas mãos do novo presidente encarnado tem dois momentos decisivos e uma questão estrutural futebolística. O primeiro momento remonta ao regresso de Jorge Jesus à Luz, num ato de eleitoralismo de Luís Filipe Vieira – que para aguentar como presidente a qualquer custo gastou uns inauditos 100 milhões em contratações – mas que dividia profundamente os benfiquistas. O segundo ocorreu na decisão de manter o técnico após uma época de fracasso total e a despeito do investimento realizado: falhanço na ida à Champions, zero títulos, apenas terceiro na Liga e futebol abaixo de sofrível. A opção foi, então, a da avestruz, com a cabeça enfiada na areia e responsabilização do que era externo, a Covid de agora e os árbitros de sempre. Ou seja, ia insistir-se em repetir a receita. Parece que Einstein nunca terá pronunciado a frase mais isso não lhe retira oportunidade: o cúmulo da insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes.
E assim foi. Mais uma época antecipada pela pré-eliminatória na Liga dos Campeões, mais um arranque forte suportado em índices físicos precocemente adquiridos a alimentar a ilusão, mais um abanão futebolístico e emocional logo à primeira derrota - com o Portimonense como na época anterior com o Boavista – e sempre um futebol inconstante, sem que se percebesse um rumo tático coerente. Descontada a entrada meritória na fase de grupos da Champions, foi quase só mais do mesmo, mesmo num plantel mais amplo e mais jogadores de perfil atlético. Suspeito, ninguém mo disse, que há-de ter sido a única fragilidade descoberta internamente, a de que faltava músculo. E assim se acrescentaram quilos e centímetros, ou então homens de “intensidade e rapidez”: Lázaro, Gil Dias, Radonjic, Meité, Yaremchuk, mais a aposta em Morato e o resgate de Gedson, ao mesmo tempo que jogadores de talento foram despachados ou desvalorizados: Waldschmidt, Pedrinho, Pizzi, Taarabt. Falhou o diagnóstico e, como sempre quando assim é, a terapêutica também.
A equipa viveu numa esquizofrenia tática. Os jogadores que mais criam jogo, desde logo João Mário (como Taarabt) e Weigl mas também Grimaldo, não encontravam quem lhes desse sequência às ideias, ao mesmo tempo que a falta de robustez defensiva continuava a expô-los em excesso numa equipa obcecada em aceleração e, também por isso, incapaz de evitar perdas de bola sucessivas. Contra adversários que assumem risco mas que não exibem grande segurança defensiva – Barcelona, Braga, Marítimo – viu-se o melhor Benfica, num jogo vertiginoso em que Rafa e Darwin se tornam particularmente eficazes. Nos outros jogos ou pouco se viu, contra equipas menores, ou foi o descalabro, como frente a Bayern, Sporting e FC Porto. A equipa foi sempre elementar em termos de processo ofensivo, dependente de iniciativas individuais, e sem que Jorge Jesus conseguisse sequer dotá-la da segurança defensiva que era uma das suas imagens de marca. Agarrado a um reforço inexplicável de marcações individuais, deixou de defender bem com poucos para passar a defender mal com muitos. E assim foi, de ilusão e desilusão até à derrota final, a da Taça, no Dragão. O último jogo de Jesus como treinador do Benfica foi ilustrativo de como a equipa nem era eficaz com bola nem competente com ela. E percebe-se agora, em definitivo, que os jogadores há muito tinham deixado de acreditar no caminho proposto. Ou seja, o destino estava traçado, muito antes de os dirigentes do Flamengo terem chegado a Lisboa, sem embargo de tudo o que aconteceu a seguir."

Benfica e Jesus: o movimento de capitães fartou-se do estado a que se chegara



"Opinião - Infelizmente para os da Luz, a única coisa que pareceu normal foi a derrota no Dragão

Jesus saiu e não volta mais. É o fim de uma ideia. A de Jesus e o Benfica. Essa ideia, aliás, já tinha tido uma vida vivida: uma paixão em 2009/10, os problemas matrimoniais seguintes, a felicidade de um bicampeonato, depois um divórcio que envolveu tribunais e uma cerimónia fúnebre. Até que Vieira a ressuscitou para um resultado desastroso: o maior investimento de todos terminou em zero troféus, num futebol que raras vezes entusiasmou e ainda colocou todas as dúvidas onde elas não deviam existir: no que iria suceder à formação.
O regresso de Jorge Jesus nunca foi consensual no Benfica. Não o foi na estrutura, muito menos entre adeptos. Pressionado no plano desportivo, cercado no judicial, Vieira achou que Jesus e um forte investimento eram garantia de que as vozes discordantes iriam emudecer.
Com desconfiança da bancada, Jesus iria ser julgado pelos resultados. Até que deixou de ser julgado por eles. Numa primeira fase, o currículo de JJ deu-lhe crédito. Apesar de discordantes, essas vozes do protesto ainda assim esperavam resultados. Afinal, tinham contratado um treinador que tinha posto a jogar bem as equipas por onde passara e pelas quais, nalgumas delas, a maioria, conquistou títulos importantes. O problema, portanto, era de feitio e não técnico. Numa coisa era certa: o Benfica inteiro sabia quem recontratara.
Desde esse primeiro dia do regresso, da promessa de um futebol arrasador até à vitória sobre o Dínamo Kiev, houve toda uma era do futebol português que terminou. A de Jesus.
E ela, essa era, merece um parágrafo.
Jorge Jesus foi a figura mais marcante do campeonato português da última década. O seu 4x4x2 de 2009/10 influenciou uma série de treinadores, as derrotas nos anos seguintes para o FC Porto foram também elas marcantes e deixaram-no no centro de todas as atenções. Um centro em que ele continuou ao vencer mais dois campeonatos pelo Benfica. Até que saiu. Para o Sporting. Em conflito com a Luz. Nos leões viveu um dos episódios mais tristes do futebol português. As derrotas foram igualmente marcantes. Portanto, Jesus era figura central, fosse qual fosse o resultado. Mesmo lá fora, Jesus esteve sempre presente cá dentro. Como um «fantasma» de Rui Vitória e depois de Bruno Lage, como o próprio Lage bem sabe. Pelo meio, ganhou uma independência financeira que influenciou, também ela, o último ano e meio.
Jesus deixou de ser julgado pelos resultados após o Benfica, 1-Sporting, 3. Nesse dia, simbólico pela mudança em curso no futebol português [caso não tenha reparado, há uma crescente era Amorim em campo e, admite-se, talvez fora dele], o treinador passou a ser avaliado pelos comportamentos. Atos e comunicações iriam ser analisadas ao detalhe. O jogo com o Dínamo Kiev foi o sinal mais claro que Jesus era um fator de distúrbio. Desunia a bancada do banco do treinador e ameaçava chegar ao camarote presidencial. A única união que se viu foi entre adeptos e jogadores. Nesse dia, devia ter sido claro para todos o desfecho que hoje se anunciou. Mas nem com uma assobiadela unânime na Luz treinador e direção perceberam o que foi audível: não havia condições para Jorge Jesus cumprir contrato. Mais cedo ou mais tarde, Jesus sairia.
Foi mais tarde, portanto, mas foi. Não pelos resultados, mas pelos atos e comportamentos. A independência financeira deu a Jesus ainda mais liberdade [o mais é porque ela acrescenta à personalidade de JJ] para agir como quiser, inclusive para receber dirigentes de um clube que o quer(ia) contratar a dois dias de jogar no Dragão: até agora, o lado mais surreal dos últimos dias. Até porque, todos ouvimos, João de Deus disse que a direção benfiquista autorizou. Em suma, a direção do Benfica deixou Jesus fazer o que queria; e se não deixou, ou nem sabia, Jesus fez o que queria na mesma. Teve, ou deram-lhe, liberdade para isso. E aqui, alguém tem de ser «chamado à pedra».
Infelizmente para o Benfica, a única coisa que pareceu normal foi a derrota no Dragão. Pois chegámos ao ponto de esta terça-feira madrugar com um alegado movimento de capitães, um motim de quem chegou a um limite. A ideia que passou foi esta: foram os jogadores que, perante tudo, aceitaram o conflito. Essa perceção nunca pode ser boa para a liderança. Em última análise nem benéfica é para os próprios futebolistas. Portanto, aqui chegados, há algumas conclusões a tirar.
A primeira está no início deste texto: a ideia Jesus e Benfica acabou. Talvez tenha acabado a de Jesus e o Sporting e a de Jesus e o FC Porto.
Quanto a Rui Costa: também não sai bem da fotografia. A direção do Benfica preferiu jogar nos bastidores em vez ser firme e clara nas decisões. Mas tem uma oportunidade de, a partir de agora, construir o paradigma futebolístico que quiser. E ser, obviamente, julgado por ele."

Um homem dividido entre dois clubes acaba sempre sozinho


"Jesus acabou por perder o seu namoro português, o Benfica, e ficou a ver o Flamengo a entregar-se nos braços de outro.

A telenovela de Jorge Jesus e o Benfica teve, como seria de esperar, um final triste. Ambas as partes perderam e ninguém saiu bem no retrato. Mas comecemos pelo regresso de Jesus ao Benfica, depois de ter sido campeão no Brasil pelo Flamengo. O confiançudo treinador anunciou, à chegada, que o Benfica iria arrasar a concorrência e que jogaria o triplo do que jogara no ano anterior com outro treinador. A verdade foi bem diferente e Jesus começou a culpar os jogadores, a covid, os árbitros e a estrutura do clube. Perante este cenário, já no corrente ano, o antigo clube de Jesus, o Flamengo, começou a namorar o técnico, prometendo-lhe o céu. Mas Jesus estava casado com o Benfica e ficou dividido. A antiga mulher continuava a acenar-lhe e o homem cada vez mais se enterrava no casamento em Portugal. Até que, quando tudo já corria mal, a antiga mulher fez-lhe um ultimato e Jesus ficou sem saber o que fazer, optando por ficar quieto. Farto de esperar, o Flamengo decidiu escolher outro treinador, também português, que quis o divórcio à força com a seleção polaca, envolvida no playoff de apuramento para o Mundial. Quando esta bronca rebentou, Paulo Sousa, o novo marido do Flamengo, foi acusado de tudo e mais alguma coisa, mas manteve-se impávido e sereno. Sousa tem um currículo como treinador idêntico ao de um Don Juan que promete muito mas concretiza pouco. Isto é: não ganhou nada em lado nenhum. No meio disto tudo, Jesus acabou por perder o seu namoro português, o Benfica, e ficou a ver o Flamengo a entregar-se nos braços de outro. Pobre sorte a do homem que ficou dividido, um clássico que muitos já viveram.
(...)"

Os 11 capítulos da segunda vida de Jesus no Benfica


"Dos vaticínios de uma equipa a jogar a triplicar e do all in que correu mal logo no arranque da primeira época, às culpas depositadas na covid-19 e aos desequilíbrios na formação do plantel para lá da qualidade individual, a segunda passagem de Jorge Jesus no Benfica fica marcada por zero títulos conquistados e uma parca herança deixada. Para explicar este ano e meio de JJ no clube da Luz, dividimo-lo em 11 pontos

“VAMOS JOGAR O TRIPLO”
Era mais uma queda para profecias bombásticas, cheia de bola de cristal na voz, mais uma dada por Jorge Jesus. De fato, camisa branca e gravata encarnada, respeitou o seu próprio apanágio e deu um farto soundbite para marcar o seu regresso ao Benfica. Estávamos a 3 de agosto de 2020: “Não digo que o Benfica tenha de jogar o dobro, porque se não jogar o dobro, a gente volta a não ganhar. Temos todas as condições para fazer uma equipa muito forte (...) e não vamos jogar o dobro, vamos jogar o triplo”. Sendo premeditado ou saindo-lhe de espontâneo improviso — já no verão de 2009, na primeira apresentação no clube, dissera que a equipa ia “jogar o dobro” —, a garantia era um bumerangue lançado sem data fixada para regressar. Ainda não havia um treino feito com a equipa e Jesus já cobrava a todos, treinador e jogadores, uma expectativa de rendimento.

OS €100 MILHÕES DE INVESTIMENTO
Quem assina papelada, dá ordem de pagamentos e acorda valores em negócios de transferências era (ainda) Luís Filipe Vieira e não JJ, mas, dizendo o treinador, na apresentação, que tudo estava a postos para formar uma equipa “muito forte” e vendo, depois, o Benfica contratar jogadores como Darwin Núñez (€24 milhões), Éverton Cebolinha (€20 milhões), Pedrinho (€18 milhões), Nico Otamendi (€15 milhões), Luca Waldschmidt (€15 milhões), Gilberto (€3 milhões) e Lucas Veríssimo (€6,5 milhões, em janeiro) até perfazer uns exatos 105 milhões de euros, o peso das expectativas alcançou toneladas não palpáveis. Acrescentando às palavras do treinador um esbanjar de dinheiro no mercado como jamais se vira num clube em Portugal, o Benfica, equipa e instituição, ficavam quase obrigadas a conquistar títulos. A pressão auto-imposta pelo all in com que abordou a temporada engordava ainda mais.

A NÃO ENTRADA NA LIGA DOS CAMPEÕES
Toda a garimpa das palavras e dos atos precipitar-se-ia, sempre, sobre o primeiro jogo oficial de uma época tresloucada pelos efeitos de uma pandemia nos calendários do futebol. O Benfica arrancou a época 2020/21 logo com uma 3.ª pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões a um só encontro, quis o sorteio que fosse em Salónica, na Grécia, onde a equipa perdeu (2-1) com o PAOK treinado por Abel Ferreira. Todo o contexto desse resultado abanou logo as fundações de uma temporada, caindo o clube no fundo do caldeirão que o próprio encheu de risco com os dois pontos anteriores: ser derrotado por um clube com menos meios, menos qualidade individual dos jogadores e treinado por outro português. Em coisa de mês e meio, um dos objetivos da época é falhado e a consequência mais visível de ficar sem os cerca de €34 milhões da eventual entrada na Champions viria 12 dias depois, com a venda de Rúben Dias ao Manchester City e a chegada de Nicolás Otamendi.

A CULPA DEPOSITADA NA COVID-19
Virado o ano, o bicho que estava e está no meio de nós entrou, em força, no Benfica. Em janeiro deste ano, o clube teve 17 pessoas infetadas entre jogadores e staff técnico; só de futebolistas, chegaram a ser 10 indisponíveis em simultâneo. Nos dois primeiros meses de 2021, o Benfica fez nove jogos e ganhou apenas dois, perdendo um e empatando seis e, quando essa série estava a findar, Jorge Jesus decidiu sacudir os ombros. “Temos sido alvo de críticas injustas”, disse, a 24 de fevereiro. “Como treinador do Benfica serei sempre o responsável pelos bons e maus resultados quando tiver responsabilidade. Podem perguntar: mas és o treinador e não tens nada a ver com a crise? Não, eu não treinava a equipa. Eles estavam doentes”, argumentou o treinador, quando estava no 4.º lugar do campeonato, a 15 pontos da liderança do Sporting e a ler notícias sobre uma eventual saída do clube.
Sendo certo que a ausência de jogadores condiciona o que pode jogar uma equipa, o Benfica, nesta fase, evidenciava uma desinspiração coletiva com bola (movimentos visivelmente trabalhados, futebolistas a mexerem-se consoante um padrão treinado) frente a adversários que se fechavam mais perto da própria área, cuja dependência em rasgos individuais nem sempre resolvia. Entre outros problemas. “Não vou sair por pé nenhum, pois não me sinto responsável por esta crise do Benfica, nem eu, nem os jogadores, nem a estrutura, nem o presidente. Esta crise não tem nada a ver comigo, eu não treinava os jogadores e também não tem nada a ver com eles”, reforçou, então, o treinador. O Benfica terminaria o campeonato na 3.ª posição.

OS TRÊS CENTRAIS E OS ZERO TÍTULOS
Entremeada na fase dos maus resultados e dos casos de jogadores infetados, Jorge Jesus recebeu Lucas Veríssimo a 9 de fevereiro e o defesa central que tinha fisgado desde os tempos no Brasil fê-lo alterar, de vez, o sistema tático da equipa. Os três centrais a que recorrera, já antes, para replicar a organização com bola do Sporting e fazer os jogadores encaixarem nos adversários pelas referências posicionais (derrota por 1-0, a 1 de fevereiro), foi adotado com constância a partir da eliminatória da Liga Europa perdida com o Arsenal. O central destro brasileiro juntou-se a Otamendi e a Vertonghen, a equipa estabilizou nos momentos defensivos e cresceu na estrutura assente nos três defesas. Nos 14 jogos feitos a partir de março, o Benfica só não ganhou dois (derrota com o Gil Vicente e empate com o FC Porto), vencendo perto do fim o Sporting quando o rival já garantira a conquista do título nacional. No início de maio, Jorge Jesus já dizia que “sem os casos [de arbitragem]" não tinha dúvidas de que o "Benfica teria sido campeão”, mas, semanas depois, perde a final da Taça de Portugal com Sp. Braga, confirmando o desmoronar da cordilheira de expectativas — acaba a época de regresso ao clube sem títulos conquistados.

O DESAPROVEITAMENTO DE JOGADORES
Uma equipa jogará melhor quanto mais condições houver, dentro dela, para que cada futebolista consiga mostrar as características mais fortes que têm. Colocá-los em campo a fazerem coisas que, já antes de serem contratados, não eram as suas valias, ou vê-los a jogarem em posições nas quais o rendimento não é o melhor minará, sempre, aproveitamento que se possa retirar deles. Com dois jogadores que, conjuntamente, custaram €38 milhões, isso foi visível. Tanto no Grémio como na seleção brasileira, Éverton era um extremo com os pés colados à linha lateral, de onde partia e prosperava quando tinha metros para correr embalado com a bola, de frente para os adversários e a baliza; no Benfica, quase sempre foi visto mais pelo centro do campo, a pedir passes entre linhas e ter de receber a bola de costas, com menos tempo e espaço para decidir.
O rendimento de Cebolinha não se tem equiparado ao que mostrou pelo Brasil e o mesmo aconteceu com Pedrinho, outro tipo de atacante — mais de jogadas e tabelas curtas, a ‘precisar’ que outros se aproximem e joguem com ele para sobressair — que não teve pegada na equipa e criticou o trato que Jorge Jesus tem, no treino, com os jogadores. Luca Waldschmidt seria outro caso, mas o próprio alemão admitiria o que muito pesa e tantas vezes não se sabe quando se avalia a prestação dos futebolistas. “Não foi nada fácil em Portugal. O calendário parecia o do futebol inglês, nem no inverno tivemos uma pausa”, reconheceu.

A ESCOLHA DOS JOGADORES E DO PLANTEL
Olhando à cabeça e sem trazer à baila formas de jogar, o plantel do Benfica esta época é, provavelmente, o melhor de Portugal. Durante algumas semanas, Jesus ainda fez da equipa um pequeno albergue de experimentalismo nas três posições da frente (entre Seferovic, Darwin, Rafa, Everton e Pizzi) até as dinâmicas com bola começarem a fazer sobressair o melhor da vertigem que, salvas as suas diferenças, Rafa e Darwin partilham: com espaço para correrem, são letais a atacarem as costas dos defesas e a baliza. E, assentada a equipa a jogar com três atrás para ser rápida e vertical a usar a bola, a falta de coerência nas opções no plantel para sustentar este estilo de jogo foram-se evidenciando. Porque, além de Rafa e Darwin, o Benfica tinha outros atacantes para garantirem essa forma de atacar; a lesão de Lucas Veríssimo expôs a dependência numa imunidade do brasileiro às lesões, pois Morato é canhoto, Ferro nunca foi confiado, Tomás Araújo não foi aposta e André Almeida é um lateral desabituado ao que implica ser defesa numa linha de três. Depois, com o Benfica a ser cada vez mais uma equipa de esticões na frente e ataques rápidos, João Mário e Weigl foram sendo expostos apesar de todas as valias que têm, como parelha, a gerir a bola, os ritmos e as viagens dos passes — são jogadores de calma e posse, não de vertigem.

À SEGUNDA, A ENTRADA DIRETA NA CHAMPIONS
O verão aqueceu conturbadamente com a saída de Luís Filipe Vieira, forçada pelo processo judicial no qual está indiciado por suspeitas de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Rui Costa assumiu a presidência do Benfica, em julho, antes de vencer as eleições para a exercer, em outubro, quando a equipa já tinha algo valioso. Ultrapassando o Spartak de Moscovo e o PSV de Eindhoven, o clube qualificou-se para a fase de grupos da Liga dos Campeões e garantiu os respetivos €37 milhões de recompensa. No final do derradeiro encontro, Rui Costa foi ao balneário e, abraçado a Jorge Jesus, disse: “Estou extraordinariamente orgulhoso. O que vocês fizeram, guardem para o resto das vossas vidas. Vejam o jogo, o que fizeram é histórico”.

AS MENSAGENS DIFUSAS NA FASE DE GRUPOS
A fava calhada ao Benfica foi uma convivência com Bayern de Munique, Barcelona e Dínamo de Kiev, coisa que parecia um imbróglio e se revelou uma oportunidade para oxigenar a equipa com confiança quando a equipa catalã visitou o Estádio da Luz, no final de setembro. A vitória por 3-0 contra o moribundo Barça, que não deixa de ser o Barça, expôs as fortalezas do Benfica em ataque rápido, explorando o que Darwin e Rafa carregam no corpo com metros quando têm relva para sprintarem e a equipa decide/consegue aproximar-se da baliza dos outros de forma vertiginosa. Com a equipa a atacar, foi daí que se viu o melhor do Benfica com bola até ao fim dos seus dias com Jorge Jesus que, após a tal vitória histórica contra o Barcelona, soltou um pedaço da sua personalidade: “História, para mim, não é, não ganhei nada. Históricas são aquelas que permitem que as equipas onde eu trabalho ganhem títulos”.
Mais tarde, porém, quando o adversário já era o Bayern, o treinador optou por polvilhar as suas intervenções em conferências de imprensa (pré e pós-jogos contra os alemães) com coisas do seu pensamento que não sorriem para a confiança dos jogadores, nem quiçá o agrado dos adeptos — como o “não vai ser um jogo de 0-0, tenho quase a certeza que o Bayern faz golos” ou o “sabemos que não é este jogo que nos vai dar o apuramento”.

QUANDO EU QUERO, PARA ONDE EU QUISER, COM QUEM EU QUISER
Em novembro, na véspera de cumprir os 600 jogos feitos na primeira divisão do futebol português, Jesus disse: “Agora sou eu a escolher os clubes que quero treinar, não são os clubes que me escolhem (...) Portugal não é o meu único mercado”. A entrevista dada ao jornal “A Bola”, na qual também deixou que “não [é] um bom orador, mas um catedrático do futebol”, pareceu ser uma mensagem não dita, mas camuflada subliminarmente, de que Jesus, pelo menos, acreditava estar dependente mais dele do que de quaisquer outras rodas de vontade quando fosse preciso decidir o fazer à carreira. Quase um mês depois, na véspera de o Benfica jogar com o FC Porto no Estádio do Dragão, o treinador concordou em reunir-se com diretores do Flamengo que estavam em Portugal, publicamente, à procura de um próximo técnico do clube que decidiram ter de ser português. O encontro soube-se pela comunicação social e, por estar suspenso pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, teve de ser o adjunto João de Deus a confirmar o rendez-vous para, só depois, o Benfica se pronunciar oficialmente em comunicado, para desmentir o noticiado por um canal de televisão. Isto são factos. Não se sabe se apenas a eles se devem o berbicacho que se noticiou ter acontecido com Pizzi entre portas e as desavenças com outros jogadores da equipa, e se foram as únicas coisas a precipitarem a saída de técnico, mas quem cortejou a hipótese de ter outro posto de trabalho pós-Benfica, tão perto de uma partida decisiva da época, foi Jorge Jesus.

AS DERROTAS COM OS RIVAIS 
É algo redutor, de confrontos diretos não se faz, nem se resume, a capacidade de um treinador, mas avaliar a prestação contra adversários, em teoria, nos mesmos degraus de competitividade ajuda a situar onde está uma equipa. Em ano e meio de segunda vida no Benfica, o treinador apenas venceu um de sete jogos feitos contra os rivais diretos. A única vitória foi contra o Sporting, no final do campeonato passado, quando o título já estava com os leões — vitória por 4-3, na Luz, na provável melhor partida da anterior edição da prova. De resto, o Benfica foi derrotado (1-0) pelo Sporting e pelo FC Porto (2-0) na Supertaça, antes de dois empates contra os dragões. Esta temporada, perder em casa (1-3) contra a superioridade coletiva de um Sporting a jogar sem Palhinha e Coates, sendo depois batido (3-0) por uma avalanche de pressão, duelos perdidos e buracos abertos por todo o campo para o FC Porto, na Taça de Portugal, confirmou mais ainda a inferioridade que Jorge Jesus não logrou resolver quando coincidia em campo com as equipas trabalhadas pela coerência de Rúben Amorim e de Sérgio Conceição.
Nas 49 jornadas do campeonato que disputou durante esta época e meia, Jorge Jesus colocou o Benfica no 1.º lugar apenas em nove: três na época passada e seis já esta temporada."

Diogo Pombo, in Tribuna Expresso

Jorge Jesus não merecia ser despedido (mas merecia-o na semana passada)


"Jorge Jesus deixou de ser o treinador do Benfica. Numa conferência de imprensa que fez lembrar o género de conversa que os progenitores em vias de se divorciar têm com os filhos, Rui Costa e Jorge Jesus anunciaram o fim da relação entre o clube e o técnico, entre lamentos do que podiam ter vivido juntos. Foi uma separação aparentemente amigável que os sócios — como fazem, por vezes, os filhos — já pediam há algum tempo. No entanto, não foram os lenços agitados dos adeptos do Benfica a precipitar a saída de Jesus, mas mais provavelmente as toalhas atiradas ao chão pelos jogadores. Jorge Jesus encontrava-se na mesma situação de um frequentador de ginásio que usa desodorizante Axe: ninguém podia com ele no balneário.
Jorge Jesus, só no último mês, poderia ter saído do Benfica por várias razões. Contudo, o que motivou a saída do técnico não foi o facto de perder de forma claríssima o derby com o Sporting numa época em que não pode falhar; não foi o facto de se ter reunido com dirigentes do Flamengo antes de um confronto decisivo com o outro rival; não foi o facto de ter sido novamente encostado pelo Porto. Não. Foi despedido porque um jogador com peso no plantel mostrou descontentamento com a exibição do Benfica e as opções do treinador. De todas, a razão menos grave.
Naturalmente, as situações acastelaram-se. Mas termos chegado a este ponto em que tem de ser o balneário a correr com o treinador diz-nos muito sobre a atual gestão do Benfica. Não foram os maus resultados ou sequer os dates com o Flamengo que tornaram claro para a direcção do Benfica que Jorge Jesus já não servia os interesses do Benfica, mas uma querela interna que, num cenário mais estável, seria resolvida entre portas. O treinador vindouro terá um desafio agridoce: por um lado, fica com a ideia de que pode falhar os objectivos a que se propõe sem ser corrido; por outro, sabe que não pode embirrar com determinados elementos do balneário sob pena de ser alvo de um coup d'etat. Isto é o género de imbróglio em que um clube se mete quando o projecto desportivo de uma direcção é sempre o de salvar a pele.
O balanço deste ano e meio é claramente negativo, mas é muito injusto dizer que a segunda era de Jorge Jesus no Benfica não foi marcada por boas exibições e resultados. Até se jogava bem à bola, especialmente em jornadas que antecederam eleições para Presidente do Benfica."

Derrota na Feira...

Feirense 2 - 1 Benfica


Domínio, não traduzido em golos... Contra uma equipa competitiva, que luta pela promoção, sem o Tomás e o Bernardo, voltámos a ser superiores (na minha opinião), mas pouco objectivos nos últimos 15 metros... O Umato hoje esteve mal...!!!

Com as alterações na equipa técnica, esperemos que a equipa B ao sofra pontualmente com isso... até porque com o Veríssimo na equipa A, creio que todos os jogadores da B, vêem a chegada à equipa principal com uma real possibilidade!!!