segunda-feira, 5 de julho de 2021
A equipa do povo
"Não se queixe o povo de Fernando Santos, se o selecionador colocou em campo a equipa que o povo reclamava. Foi com Renato Sanches e Palhinha em campo que Portugal perdeu. Como poderia ter ganho aquele jogo, é certo, até porque rondou mais vezes a baliza contrária. Sejamos justos: não foi pelo novo meio-campo, totalmente novo em relação ao primeiro jogo, que Portugal perdeu. Acontece é que também não foi com ele que conseguiu ganhar, ao contrário do que tantos sugeriam. Um sintoma não é uma doença, como um remendo não produz um pneu novo. O problema da seleção não foi a colagem das novas soluções, foi não haver descolagem das anteriores. Fernando Santos tem qualidade e experiência para inverter o rumo e forçar o futebol que o talento português reclama. Sou o primeiro a dizer que só merece sair da Seleção pela porta grande, mas terá de ser ele o primeiro a convencer-se de que essa saída feliz não acontece apenas com a repetição de um troféu, sempre improvável (tanto que só uma vez o lográmos). Ganhar no futebol também pode ser, como em 84, 2000 ou 2004, a imagem de uma emoção que fica e de uma geração que não se sacrifica.
Insistirei sempre que o futebol é um jogo coletivo e que o físico é só uma dimensão do jogo, mesmo se cada vez mais sobrevalorizada. O jogo da França com a Suíça foi modelar a esse nível: poucas seleções haverá atleticamente mais fortes que a França (toda a defesa, Kanté, Pogba, Benzema, Mbappé, até Sissoko entrou) e provavelmente nenhum jogador suíço seria titular na equipa gaulesa. Nem sequer Xhaka, esse médio imenso que é melhor que muito médio intenso, homem com start and stop incorporado - e que falta faz o stop a tantos médios, o momento de pausar para melhor pensar -, mas que aguentou 120 minutos de correrias frente a Kanté e Pogba. Xhaka, que parece jogar sem nunca curvar as costas, foi o metrónomo que nunca falhou o ritmo e aquele passe para o golo decisivo de Gavranovic foi música, literalmente. Podia valer toda uma aula num curso de futebol, se os cursos de futebol valorizarem isso.
A Espanha reparte com a Itália o título de seleção que melhor joga neste Europeu. Foram melhores que as outras duas grandes favoritas graças a um par de qualidades fundamentais: coerência e criatividade. A Alemanha foi coerente, mas pouco criativa nas alternativas à estrutura base, enquanto a França criava pelo talento individual mas teve pouca coerência enquanto conjunto, como se percebeu nas alterações improvisadas diante a Suíça. Desde o início que a Itália me parece a equipa mais completa, a que melhor liga os momentos ofensivo e defensivo, segura e sedutora ao mesmo tempo, mas por esta ordem. A Espanha inverte essa ordem, porventura ainda mais ousada, de risco, mas de coerência verdadeira, porque coloca em campo talentos com linguagem idêntica, que é diferente e vai muito além de uma compatibilidade entre jogadores de perfis diversos. Instrumentos de percussão podem juntar-se sopros e cordas numa orquestra, não se podem é confundir com bombos de romaria. E agradeço a Luis Enrique que me deixe ver juntos, no mesmo meio-campo, Busquets e Pedri, o mestre da gestão do espaço e o novo génio que o inventa. Quantos considerariam ser impossível o equilíbrio numa equipa com dois jogadores assim? E, no entanto, sucede.
Aliás, quando se fala de equipas equilibradas, imagino logo um relvado inclinado para trás. Equilíbrio no futebol tornou-se uma palavra desequilibrada, sinónima de conservadorismo ou pragmatismo, formas mais simpáticas de definir um jogar defensivo. Uma equipa equilibrada não pode ser esmerada quando não tem a bola mas parca na intenção coletiva com ela. Antes terá de procurar a mesma eficácia para a frente e para trás, que não há baloiço que funcione só num sentido. Se isso acontecer, há duas hipóteses apenas: ou está avariado ou não é um baloiço."
Uma parceria vencedora
"Os nossos objetivos coadunam-se: queremos promover o desporto, e tudo o que de bom dele advém, e afirmar as cores nacionais além-fronteiras.
Dentro de dias, os nossos embaixadores marcarão presença num palco mundial que presenteará anos e anos de treino, dedicação e perseverança. Os Jogos Olímpicos 2020 são peculiares e inolvidáveis. São mais uma prova árdua que se junta aos vários desafios que os atletas olímpicos enfrentam numa base diária. Uma demonstração estrénua de vontade. Com esse sentimento, com essa perseverança, todos os dias, faça chuva ou faça sol, os nossos embaixadores dão o melhor de si para serem melhores amanhã. Aí reside o progresso, que, por si só, é incólume ao falhanço e define a vitória e o sucesso.
A genuinidade do desporto é apaixonante, contagiante, capaz de espoletar vários sentimentos e unir milhões de pessoas. Esta dopamina tem de ser alimentada e, por isso, fizemos questão de, em abril, em conjunto com o Comité Olímpico de Portugal, desenvolver a App Equipa Portugal, para que os Portugueses possam, com a mesma devoção que os nossos heróis, transmitir uma energia revigorada, que certamente contagiará e marcará a diferença, e apoiar ao mesmo tempo os mais de meio milhão de atletas federados.
Em 2016, quando nasceu a relação com o Comité Olímpico de Portugal, não alvoreceu apenas um acordo comercial. Principiou-se um vínculo, duradouro, que espelha o nosso compromisso com as diferentes modalidades desportivas e a comunhão de valores.
Dedicação, superação e resiliência. Dois substantivos e um nome que dizem muito da relação com o Comité Olímpico de Portugal. Estas capacidades, partilhadas pelo desporto, estão na génese da nossa parceria, do nosso apoio aos atletas olímpicos, e, consequentemente, a Portugal.
As idiossincrasias e a reminiscência portuguesa obrigam-me a falar da época dos Descobrimentos, a fazer uma analogia em que possa falar da audácia e da capacidade de liderança. Todas as grandes travessias têm um capitão, alguém capaz de colocar todas as pessoas a bordo e trilhar uma rota vencedor. José Manuel Constantino, Presidente do Comité Olímpico de Portugal, tem sido essa figura no desporto nacional.
Agradecimento e apreço. São estes os sentimentos – que sei que são recíprocos – que melhor definem esta relação. Os nossos objetivos coadunam-se: queremos promover o desporto, e tudo o que de bom dele advém, e afirmar as cores nacionais além-fronteiras. Continuaremos, certamente, em conjunto, a indagar novas formas de apoio, no presente e no futuro.
O Comité Olímpico de Portugal, todos os atletas portugueses, têm deste lado a energia de um verdadeiro parceiro, com um combustível infindo, que levará toda a Equipa Portugal para Tóquio."
Toquio #20 | Antoine Launay
"No vigésimo episódio do programa #Atétokyo conversamos com Antoine Launay, atleta português que irá representar Portugal nos próximos jogos olímpicos na modalidade de Canoagem Slalom.
Esperemos que gostem, a porta de embarque está aberta!
Quem é o Antoine Manuel Sylvain Quintal Launay?
Sou um homem de 28 anos (feitos a 28 de junho). Filho de mãe madeirense e pai normando, sou um dos melhores atletas de Canoagem Slalom.
Como surgiu a Canoagem na tua vida?
A canoagem entrou na minha vida em 1999, quando estava de férias nas montanhas com a minha família. Tínhamos uns caiaques disponíveis no parque de campismo Lac de Serre-Ponçon, nos Alpes franceses, experimentei e adorei. Depois, quando voltei para casa, inscrevi-me num clube.
O que passa pela tua cabeça quando estás a pagaiar? O que é que te faz gostar tanto da Canoagem mais propriamente do Slalom?
Depende muito de onde eu remo. Por vezes é quase uma meditação, é tão calmo quando remo em lagos ou rios muito serenos, por exemplo. Outras vezes é a competição, é a adrenalina das ondas grandes. Nestes casos, a atenção tem de ser enorme para ficar acima da água e ter cuidado com o trajeto para ser rápido. O que eu prefiro são as águas bravas, mesmo gostando muito das duas práticas.
Quando é que começaste a levar mais a sério a Canoagem? Os teus pais nunca tiveram a vontade de te colocar noutra modalidade ou atividade?
Comecei a treinar muito em 2007, com 3 a 4 treinos por semana.
Já pratiquei muitos outros desportos e ainda hoje o faço. Comecei por andar de bicicleta, depois rugby, muito esqui e snowboard. Ainda hoje pratico corrida, musculação, natação e surf.
Tendo tu nascido em França, como se dá a tua ligação a Portugal? Explica-nos todo o processo de naturalização.
Nasci em França, em 1993, perto de Angoulême, com pais de duas nacionalidades diferentes. A minha mãe nasceu na ilha da Madeira e o meu pai na Normadie (Norte de França). Portanto, desde que nasci, sou 50% francês e 50% português.A única coisa que não sou metade-metade é na língua... porque sempre vivi em França. E com uma família numerosa (5 filhos) é muito difícil viajar, ainda mais para a Madeira, onde estão as minhas origens. Ou seja, na minha infância vim pouco a Portugal, apenas duas vezes.
Antoine, explica a quem está mais longe das lides da Canoagem como irá ser a tua prova nos Jogos Olímpicos? Como se processa? Eliminatórias/Final? Quantas embarcações estão apuradas?
É um percurso de águas brancas de cerca de 250 metros em linha reta, e irá realizar-se em Tóquio. Serão cerca de 25 portões para atravessar. Seis para subir em relação à corrente (assinalados a vermelho e branco) e os demais para descer (assinalados a verde e branco). Somos, por volta, de 25 no início, todos de nacionalidades diferentes porque há apenas um selecionado por país. Após duas rondas de qualificação obrigatórias (28 de julho), apenas 20 passam às semifinais. A semifinal acontecerá no dia 30 de julho, num novo percurso projetado, mas ainda com cerca de 25 portões, com seis pela frente. Após a meia final, apenas dez passam à última ronda. Na final, o pódio espera o grande vencedor. Um toque no portão representa 2 segundos de penalidade e uma porta perdida ou não cruzada inteiramente com a cabeça são 50 segundos de penalidade.
Como é o teu dia a dia? Sentes falta de alguma coisa que não podes fazer por ser atleta de alta competição? Quantos treinos/horas de treino fazem por semana? Qual é o teu local de treino?
Realmente, não tenho um dia normal, diria mais, não tenho semanas iguais, ora de maiores cargas, ora de maior clamor. Eu treino quase diariamente, duas a quatro vezes ao dia. Habitualmente são duas vezes de caiaque mais duas de outra atividade (ginásio, natação, corrida) além de outra preparação variada (física, mental, concentração, relaxamento).
O que mais sinto falta é de ficar com minha namorada, pois estou sempre longe de casa.
Na verdade, não tenho locais fixos de treino porque a Canoagem Slalom é muito particular e cada percurso tem a sua singularidade. Então tenho de treinar onde irão decorrer as competições seguintes, ou seja, estou sempre em movimento. Além disso, em Portugal não temos facilidade de treino em águas brancas, por isso estou muito raramente cá. Mais uma razão pela qual não estou a progredir com a aprendizagem do Português.
Qual é o maior defeito e virtude do Antoine Launay? Que característica tua gostavas que um jovem que fosse agora para a Canoagem tivesse?
O meu grande defeito é a irregularidade. Algumas coisas eu faço bem e, às vezes, muito bem mesmo, mas noutras vezes fico aquém. A minha maior qualidade? Eu diria que é a minha perseverança.
Uma qualidade importante para um jovem caiaque é a adaptabilidade. Ainda mais no mundo atual, com este vírus e esta pandemia. Mas já antes, um caiaque é alguém que se adapta ao movimento da água, que brinca com ela, que nunca a contraria porque a água e a natureza são sempre mais fortes do que nós.
Qual foi o teu primeiro troféu na modalidade? Elege um top 5 das melhores provas na tua carreira até ao momento? Como decorreu o teu apuramento para estes Jogos Olímpicos?
O primeiro troféu? Eu ainda era muito jovem, devia ter cinco anos, era o mais novo a pedalar 25 quilómetros num percurso, e foi com meu pai.
Os meus cinco melhores resultados são 7.º no Campeonato do Mundo, em 2019; 10.º no circuito da Copa do Mundo, também em 2019; 13.º no Campeonato Europeu, em 2021; tricampeão de Portugal; e bicampeão de França.
És atleta do Darque Kayak Clube de Viana do Castelo. Em que medida é que o teu clube te apoia? Tens algum tipo de patrocinador que te ajude? Trabalhas a questão mental/psicológica com algum psicólogo?
O meu clube acompanha-me diariamente com mensagens, com muitos apoios em logística e organização. É o clube mais formidável possível quando volto ao país. Sou muito bem recebido e as instalações são as melhores que já vi. A única desvantagem é a falta de curso com corredeiras. Espero que se venha a tornar o melhor clube da Europa, a par com o de Praga, sendo que faz muito frio e chuva em Praga.
Tenho apenas um patrocinador, é própria cidade de Viana do Castelo. Tenho muito orgulho em representar esta cidade e Portugal além-fronteiras. É fácil divulgar uma cidade tão bonita. Todos aqueles a quem recomendei a cidade assumem que lhes dei bons conselhos. Há mesmo uma família francesa, minha conhecida, que se mudou para Viana durante o confinamento. Agora, vou tentar fazer brilhar Viana do Castelo em Tóquio.
Sempre tive apoio de um psicólogo e, ainda hoje, é essencial e muito importante no meu equilíbrio, para que possa viver ao máximo com o desgaste que tenho.
Tens algum ídolo ou referência no Desporto ou na tua modalidade/especialidade?
Gosto muito do Usain Bolt, do seu lado showman.
No meu desporto, sempre tive muita admiração pelo Tony Estanguet pelo seu planeamento, o que é impressionante.
Em março de 2020, fomos atingidos pela pandemia da COVID19. Mais tarde, percebeu-se que os Jogos Olímpicos não iriam acontecer em 2020. O que sentiste? O teu planeamento foi por água abaixo? Apesar disso, tens alguma história engraçada no confinamento?
Momento terrível e, ao mesmo tempo, oportunidade para um novo começo e para ter vontade de aprender coisas novas. Eu amo aprender e essa pandemia ensinou-me a adaptar-me ainda mais. Sim, todos os meus planos, todo o meu orçamento e um monte de coisas não deram certo, foi horrível. Mas foi igual em todo o mundo, então tínhamos que transformar isto em algo positivo. Havia que seguir em frente, procurar novos desafios, novas competições que certamente aconteceriam.
Também foram dois anos de confidência ou intimidade. Nunca vivi tanto tempo junto, nos mesmos lugares, com minha querida. Foi maravilhoso.
Comecei o crossfit durante o confinamento, e foi muito difícil porque ganhei muito peso e musculatura mudando as atividades, tive de fazer um pouco de perda de massa muscular para depois voltar a fazer canoagem.
Quais são os objetivos reais para Tóquio?
O meu objetivo é chegar à final, e farei para chegar ao pódio que tanto sonho desde pequeno.
Qual a importância do teu treinador na tua carreira?
A importância do treinador na minha carreira foi sempre a de aconselhar, a de aproveitar a sua sabedoria na tomada de decisões. Eles são pessoas reconfortantes e de enorme confiança. Vivi muitos anos sem treinador, dá para treinar e até competir sem treinador, mas, para mim, é fundamental ter esse recurso externo.
Quais são os teus hobbies fora da competição? O que gostas de fazer?
Adoro teatro, piano, ler e adoro ecologia, agricultura.
Amo e adoro fazer de tudo com minha parceira, sinto muitas saudades dela. Tudo que faço com ela é simplesmente lindo.
Foste o primeiro atleta português a chegar a Tóquio. Qual é o sentimento? Porque foste tão cedo?
O meu sentimento é de satisfação. Era difícil chegar tão cedo. Era difícil prever tudo, e difícil voltar ao Japão num período em que não estava previsto pelo TOKIO 2020. Tenho de agradecer à cidade de Oshu pela sua ajuda em todas estas etapas.
Fui tão cedo porque minha equipa médica aconselhou-me, e acho que foi uma ótima ideia. Para ultrapassar o jet lag o mais rápido possível, para me acostumar ao clima e comida. Enfim, se tenho de sair de casa para treinar e depois vou estar em Itália, Alemanha ou Japão, é melhor eu estar já aqui, onde as condições são ótimas.
O Benfica Independente agradece a disponibilidade de Antoine Launay para esta entrevista e tem a certeza que será uma competição onde muito honrará as nossas cores. Boa sorte, Antoine. Estamos no apoio!"
Qualificação terminada... que comecem os Jogos!
"No passado dia 29 de junho terminou o mais longo período de qualificação da história dos Jogos Olímpicos. Desde 11 de maio de 2018, foram necessários 1.145 dias, mais de 3 anos, para se alocarem as mais de 11.000 quotas disponíveis para Tóquio 2020. Decididamente, este não foi um ciclo olímpico normal.
Com esta pandemia, que ditou o primeiro adiamento de sempre de uns Jogos Olímpicos, foi subitamente necessário reformular todo o processo de preparação e qualificação dos atletas. Gerir períodos de isolamento forçado, readaptando todo o processo de preparação em função de grandes restrições e de um calendário competitivo recheado de limitações e surpresas, com intermináveis adiamentos e cancelamentos das mais importantes competições. Um conjunto de desafios sem precedentes para o treino desportivo nas suas mais diversas vertentes, desde a área técnica e metodológica até às áreas científicas a ele associadas.
Contra todas as expectativas, uma das mais interessantes evidências deste período foi a forma como um número significativo de atletas conseguiu aproveitá-lo a seu favor, desenvolvendo áreas do treino e da sua vida pessoal porventura menos exploradas no passado, conseguindo prestações de maior qualidade do que no passado. Face à impossibilidade da manutenção das habituais rotinas diárias, este foi um tempo propício à reflexão e redefinição de objetivos, mas também à experimentação de novos métodos. Paradoxalmente, este quadro aparentemente tão negativo acabou por permitir a muitos deles reforçar a intrínseca vontade de treinar e competir, sem a qual pouco ou nada faz sentido para quem tanto se dedica à excelência no desporto.
Este foi também um período de intensa atividade formativa para os treinadores, com uma partilha de informação sem precedentes que permitiu, em muitos casos, elevar a qualidade da sua intervenção. Este período tem proporcionado uma reflexão metodológica, com o foco na gestão inteligente dos períodos preparatórios e competitivos, mas igualmente na importância dos períodos transitórios e de regeneração para a elevação da performance a médio e longo prazo, tantas vezes subestimada. Porventura, nunca tantos mitos sobre a preparação desportiva ao mais alto nível foram postos em causa em tão pouco tempo.
No final desta “maratona”, a nossa representação em Tóquio aponta para um total de 92 atletas, de 17 modalidades, salvo alguma realocação de última hora, o mesmo número de atletas e mais uma modalidade relativamente aos Jogos do Rio 2016. Atletismo (com 20 atletas), Natação (9), Canoagem, Judo (8), Ténis de Mesa, Vela (5), Ciclismo, Equestre (4), Triatlo (3), Ginástica, Remo, Ténis (2), Taekwondo e Tiro com Armas de Caça (1) são modalidades com histórico de participação olímpica e algumas delas já com medalhas conquistadas. Mas a inédita qualificação da equipa de Andebol (14), assim como as estreias absolutas do Surf (3) e do Skateboarding (1) deixam uma marca distintiva que, certamente, aumentará a amplitude do interesse do público nacional no maior evento desportivo do Mundo e nos nossos atletas.
Outra marca desta Missão corresponde à maior participação feminina nacional de sempre com 36 atletas, representando aproximadamente 40% do total de qualificados, mesmo considerando a presença da equipa de andebol masculino. Por outro lado, alguns jovens atletas que muito dificilmente se qualificariam em 2020, aproveitaram da melhor forma a oportunidade para anteciparam em 3 anos a sua estreia no maior palco desportivo do Mundo, prevista para Paris 2024, “refrescando” a missão com a sua juventude.
Aconteça o que acontecer, estes Jogos serão históricos e marcantes. É verdade que será uma edição com um número inédito e impensável de restrições para quem neles participa, o que, porventura, lhe retirará muito do glamour habitual. Certamente não serão os Jogos mais divertidos e serão tremendamente marcados pela Covid-19. Qualquer teste positivo poderá significar a não participação, o que obrigará à máxima vigilância de todos. Não obstante, mesmo considerando a dificuldade na sua organização e todos os riscos que estes Jogos encerram, minimizados em larga escala pela elevada percentagem de atletas vacinados, esta será, seguramente, uma das edições com maior significado da sua história, face ao quadro internacional que vivemos.
No plano desportivo, trata-se de uma grande oportunidade para os nossos atletas demonstrarem todo o seu valor. As suas prestações nos últimos anos dão-nos fundamentadas esperanças de uma participação portuguesa em Tóquio digna, à altura das expectativas e objetivos definidos. E apesar de ser compreensível que todas as atenções mediáticas possam estar centradas na conquista de medalhas, muitos outros objetivos são igualmente importantes, seja na conquista de diplomas (classificações até ao 8º lugar), posições de semifinalista (até ao 16º lugar) ou, na sua impossibilidade, a realização das melhores classificações ou marcas de sempre, quer pessoais, quer nacionais, em contexto de Jogos Olímpicos.
Estaremos de regresso às míticas madrugadas de apoio aos nossos atletas nos Jogos Olímpicos, à semelhança do que aconteceu no passado com os grandes feitos de muitos dos nossos maiores heróis desportivos. Essa vibração e esse apoio serão certamente sentidos a mais de 11.000 Km, na Terra do Sol Nascente.
Que comecem os Jogos!"