Comunicado da Direcção do SL Benfica


"A Direção do Sport Lisboa e Benfica esteve reunida esta tarde.
Privilegiando sempre, como é sua obrigação, a relação com os sócios e a unidade e coesão internas, a Direção saúda a iniciativa do Presidente da Mesa da Assembleia Geral de solicitar uma auditoria ao último processo eleitoral, embora estatutariamente o mesmo esteja encerrado e nunca tenha merecido qualquer contestação formal das listas candidatas.
Apesar disso, a Direção deliberou avançar, de imediato, para a contratação de entidades externas e independentes que procedam à contagem dos votos físicos, à reconfirmação da fiabilidade dos processos de transporte e armazenamento das urnas, bem como ao escrutínio detalhado da eficácia dos sistemas informáticos utilizados nas eleições de há oito meses.
É na transparência que esta Direção se move, sem equívocos, razão pela qual as listas concorrentes serão convidadas a acompanhar a operação de contagem dos votos nas urnas.
A Direção decidiu ainda solicitar ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, em data que considere adequada e as condições de saúde pública permitam, uma sessão extraordinária, com carácter de urgência, para a divulgação de todos os resultados dos trabalhos que agora vão iniciar-se."

Comunicado aos Sócios do Sport Lisboa e Benfica pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral


"Caros Consócios, caros Benfiquistas:
Conforme é do conhecimento de todos, assumi há duas semanas atrás a muito honrosa função de Presidente da Mesa da Assembleia Geral do nosso querido Sport Lisboa e Benfica.
Estamos no começo de uma nova época desportiva e a Mesa da Assembleia Geral, através do seu Presidente, como entidade representativa de todos vós, apela ao empenho de todos para o enriquecimento da História do Sport Lisboa e Benfica, clube com uma vida já centenária, espalhado pelos cinco continentes, com centenas de milhares de sócios e milhões de simpatizantes e que a todos nós nos enche de orgulho.
Bela história porque, ao longo da sua vivência, o espírito de muitos dirigentes e dos milhares de atletas envolvidos nas muitas atividades proporcionadas e criadas dentro desta organização, foram norteadas por engrandecer e prestigiar o nosso glorioso Sport Lisboa e Benfica.
Acabámos de aprovar em Assembleia Geral, realizada no passado dia 15 de junho, o Plano de Atividades e o Orçamento que lhe dá suporte, dotando desta forma a Direção dos diversos meios para que o exercício de 2021/2022 possa ser concretizado com sucesso.
Contudo, os nossos objetivos só poderão ser atingidos ou mesmo superados, se todos nós, sócios, nos unirmos e apoiarmos as nossas equipas nas diversas modalidades e se todos estivermos com o nosso querido Sport Lisboa e Benfica, seja nos dias de vitórias seja nos momentos de derrotas.
Na memória de todos (e certamente que nela continuará por muito tempo), está a magnífica participação e a prova de civismo que os nossos sócios deram em outubro passado, nos vários locais de votação espalhados pelo país, mesmo em período de pandemia, no exercício do seu direito de escolher os Órgãos Sociais para o mandato atual em que nos encontramos.
Os resultados obtidos naquele ato eleitoral não foram objeto de contestação por parte de qualquer das listas concorrentes, o que honra todos os participantes e em particular os candidatos preteridos.
Posteriormente ao ato eleitoral e à tomada de posse dos novos Órgãos Sociais, alguns sócios, individualmente ou em grupo, fizeram chegar à Mesa da AG algumas questões que queriam ver clarificadas, nomeadamente a fiabilidade e a segurança do software informático que desde 2006 serviu de suporte ao voto eletrónico, ou a contagem do voto físico, em papel, colocado nas urnas que estavam acopladas a cada posto de votação.
Ainda relacionado com o ato eleitoral também alguns sócios manifestaram interesse em conhecer a forma como foi realizada a selagem daquelas urnas, o seu transporte e guarda e qual a empresa ou empresas contratadas para a realização de tais trabalhos.
Ora, todos os milhares de votantes tiveram a oportunidade de verificar que o voto que eletronicamente exerceram era idêntico ao que resultou no papel impresso e que deverá ter sido depositado por cada associado na urna respetiva.
Por outro lado, a anterior Mesa da Assembleia Geral acompanhou presencialmente ou através dos seus representantes, o processo de selagem, transporte e armazenamento das urnas.
No âmbito dos estatutos, as questões levantadas, inserem-se no âmbito dos trabalhos realizados pela Mesa da Assembleia Geral que cessou funções em 28 de outubro.
Ainda assim, os membros da Mesa da Assembleia Geral, eleitos em outubro passado, disponibilizaram-se para reunir com um grupo de sócios que se lhes dirigiu através de requerimento, carta aberta ou outros meios.
No seguimento dos contactos atrás mencionados, decidiu esse grupo de Sócios, no passado dia 6 de abril, dirigir um requerimento ao então Presidente da Mesa da AG, pedindo a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária, cuja ordem de trabalhos versava sobre as questões atrás mencionadas e relacionadas com o ato eleitoral passado e ainda um quarto ponto que discutisse e aprovasse uma proposta de Regulamento Eleitoral para eleições futuras no Sport Lisboa e Benfica, cujo documento foi feito chegar à Secretaria Geral do SLB.
Junto àquele requerimento era acoplada uma lista de diversos sócios, para que a mesma fosse convocada ao abrigo do n.º 3, do artigo 55º dos Estatutos do SLB.
Compreenderão todos os sócios que a organização de qualquer AG, quer Ordinária, quer Extraordinária, independentemente das Ordens de Trabalho de cada uma, exige a intervenção de várias estruturas do clube, coordenadas por Órgão Social, que não a Mesa, e em momento de pandemia como a que estamos atravessando, e de muitas restrições decretadas pelas entidades Governamentais e da DGS (a proibição de deslocações de e para a AML ao fim de semana é uma delas), a mesma só se poderá realizar, caso exista a concordância da DGS ao Plano de Contingência elaborado no seio das estruturas do clube e já apresentado junto desta entidade pública.
É intenção da Mesa, caso não exista qualquer decisão contra ou condicionantes que tornem impossível a sua realização, conforme atrás referi, proceder à sua marcação ainda durante o mês de julho próximo, com a Ordem de Trabalhos que vier a constar da sua Convocatória e, em caso algum, a Mesa decidirá em função de notícias publicadas nos jornais ou difundidas através de meios de comunicação, independentemente da orientação que cada um venha demostrando, ou de timings que nos queiram ser impostos.
A Mesa e, naturalmente o seu Presidente, têm plena consciência da sua função na organização em que está envolvida, bem definida nos seus Estatutos, e que uma vez mais não pode deixar de realçar; "ser o garante da legalidade no seio do Sport Lisboa e Benfica".
Para conhecimento de todos os sócios do Sport Lisboa e Benfica, quero também comunicar-lhes que, em carta hoje dirigida à Direção, através do seu Presidente, e apesar de não ter ocorrido nenhuma contestação à votação de outubro, transmiti o desejo da Mesa para que, logo que seja possível, se proceda à contagem física dos votos depositados em urnas no dia 28 de outubro passado, com o acompanhamento de representantes de cada lista concorrente ao ato eleitoral e supervisionada por uma empresa de auditoria de renome internacional e que não se encontre vinculada a qualquer estrutura empresarial do Grupo Benfica.
Em breve indicarei aos sócios e simpatizantes o nome dessa empresa de auditoria e o processo seguido para a sua escolha. Naturalmente que o relatório final deste trabalho tem como finalidade comparar os resultados finais apurados através do processo eletrónico por posto de votação com os que forem apurados nesta contagem física.
Na mesma missiva, sugeri, ainda, à Direção, que a mesma empresa de auditoria escolhida para supervisionar a contagem dos votos, proceda à realização de uma auditoria que teste a fiabilidade e a segurança do software que deu suporte ao voto eletrónico e que um resumo do respetivo relatório seja disponibilizado aos associados, sempre garantindo a confidencialidade dos aspetos críticos de segurança.
De igual forma, existindo um relatório elaborado durante o percurso do ato eleitoral, onde as várias estruturas do SLB intervieram com alguma ação, foi também solicitado que o mesmo seja disponibilizado aos associados, nas suas questões mais estruturantes, clarificando assim os principais procedimentos, entre eles a empresa contratada para o transporte das urnas, a selagem e guarda das mesmas, a organização e funcionamento de cada posto de votação, a credenciação dos sócios eleitores, a nomeação dos representantes das listas em cada um dos postos de votação e muitos mais assuntos que não deixarão de ter interesse para o conhecimento de todos os associados.
Por fim, quero transmitir a todos vós que é vontade da Mesa, dos restantes Órgãos Sociais e, certamente, da maioria dos sócios e simpatizantes, que o Benfica esteja permanentemente munido, quer de regulamentos, quer de meios técnicos, para que atos de importante decisão para o bom funcionamento democrático das estruturas do clube, tenham a mais ampla participação de todos, independentemente da cultura ou do local em que cada um viva.
Estamos no século XXI, na era do digital e da internet. A sociedade moderna está hoje dotada de meios informáticos que nos permitem, com segurança e fiabilidade, expressar o nosso voto, qualquer que ele seja, em qualquer parte do mundo. Desejo que, também o nosso Benfica, continue a ser pioneiro na utilização dessas técnicas, e que as mesmas sejam colocadas ao serviço de todos os sócios a fim de que, com o seu voto, participem cada vez mais na vida do nosso clube.
Desejo, para terminar, um bom ano desportivo a todos os nossos atletas, independentemente das atividades em que estejam inseridos, que não existam lesões graves nem problemas de saúde demasiado complicados e que todos nós, sócios e simpatizantes, nos esforcemos por estar à altura da História grandiosa do nosso Clube.
Viva o Benfica!"

A modelação de jogo pelas equipas de futebol


"A discussão em torno das ideias, modelos e sistemas de jogo no futebol é, nos dias de hoje, comum. Não raras vezes, esta discussão sustenta-se num mau entendimento sobre o significado de cada um destes conceitos que, se tratados com banalidade, resultam invariavelmente em reflexões ambíguas e pouco esclarecidas. Ao longo deste artigo procurarei refletir acerca de alguns dos conceitos que estão na base da modelação de jogo de equipas de futebol.

Nota prévia
Apesar de atual, o conceito de modelo de jogo não é novo. Não sendo objetivo desta peça descrever a sua evolução histórica, importa referir que autores clássicos da área do treino desportivo como Léon Teodorescu já refletiam sobre a sua importância ainda nos anos 70 do século passado. O importante trabalho que treinadores como Carlos Queiroz, Jesualdo Ferreira e Nelo Vingada desenvolveram no antigo ISEF (agora Faculdade de Motricidade Humana) e que contribuiu de forma importante para a reformulação dos conteúdos de formação de treinadores em Portugal, teve como ponto de partida muitos destes conceitos que foram sendo continuamente aprofundados no nosso país por autores importantes como Júlio Garganta, Jorge Castelo e muitos outros.

Da Ideia ao Modelo de Jogo
É frequente ouvirmos adeptos, comentadores e até treinadores referirem-se aos conceitos de “ideia de jogo” e “modelo de jogo” como se de um sinónimo se tratassem quando, em bom rigor, estão longe de o ser. O primeiro é um conceito bastante mais simples e que se traduz essencialmente na forma como o treinador responde à seguinte questão: como é que eu gostava que a minha equipa se comportasse em cada uma das fases, etapas e momentos do jogo? A resposta a esta questão resulta fundamentalmente do modo como o treinador interpreta a própria lógica interna do jogo – outro conceito fundamental que deixarei para um próximo artigo – e, em função dessa interpretação, concebe uma determinada ideia sobre a organização da sua equipa. É caso para dizer que ideia de jogo, cada treinador tem a sua. Para além do modo com o treinador interpreta o jogo, também outras características como as experiências anteriores, crenças pessoais e, inclusive, a sua filosofia de vida e os seus traços de personalidade podem contribuir para a construção desta ideia.
Da ideia ao modelo de jogo, contudo, há todo um caminho a percorrer. Se a primeira depende essencialmente do treinador, já o segundo depende da interação de um conjunto de fatores, entre os quais se destacam a própria ideia de jogo do treinador e (muito importante!) as características dos jogadores. A discussão sobre se o treinador deverá ajustar a sua ideia às características dos jogadores ou, por outro lado, são os jogadores que se devem adaptar à ideia do treinador não cabe neste artigo. Contudo, o que me parece menos discutível é que os jogadores são diferentes uns dos outros a vários níveis e, portanto, sendo os principais atores do jogo, a aplicação de um determinado modelo só poderá resultar tendo também em consideração as suas características. Para além das características do treinador e dos jogadores, também as características contextuais influenciam a conceção do modelo de jogo, como por exemplo fatores culturais associados ao país ou ao próprio clube, o tipo e o formato da competição e os próprios objetivos competitivos definidos. Assim, podemos perceber que o modelo de jogo é um conceito bastante mais complexo e que, embora a ideia do treinador constitua a base fundamental para a definição dos princípios que vão orientar os comportamentos da equipa, a sua operacionalização propriamente dita só emerge efetivamente da relação entre todas estas características que acabámos de referir. É também por esta razão que não é possível haver dois modelos de jogo exatamente iguais, mesmo com o mesmo treinador.
Mas o que se entende afinal por modelo de jogo? O modelo de jogo não é mais do que o referencial através do qual os jogadores combinam e coordenam os seus comportamentos competitivos, de acordo com um conjunto de princípios de ação definidos pelo treinador e a que designamos de princípios de jogo. Estes princípios orientam (não determinam!) os comportamentos individuais e coletivos no decorrer do jogo e possuem associadas determinadas intenções que traduzem a forma como a equipa irá procurar comportar-se (do ponto de vista estrutural e funcional) nas diferentes fases, etapas e momentos do jogo. Não será demais reforçar que, no respeito da natureza complexa e dinâmica que caracteriza a lógica interna do jogo de futebol, os princípios associados ao modelo de jogo devem ser entendidos como orientadores e não como determinantes dos comportamentos. Significa isto dizer que não devemos olhar para os princípios de jogo como um conjunto de soluções fechadas pré-determinadas, mas, ao invés, como um conjunto de orientações que atribuem um fator de direccionalidade aos comportamentos competitivos da equipa. Comportamentos esses que, efetivamente, resultam não exclusivamente dos princípios de jogo definidos, mas também das relações de cooperação e oposição que se estabelecem na confrontação entre as duas equipas no decorrer de um jogo.
Uma outra noção importante é a de que a operacionalização do modelo de jogo tal como é idealizado nunca chega efetivamente a acontecer. Pelo menos não na sua plenitude. Em primeiro lugar porque os comportamentos competitivos possuem uma natureza emergente, como já referimos, que resulta de interações que se desenvolvem em contextos e condições de aplicação que nunca são exatamente iguais; e em segundo porque o modelo de jogo é um referencial que está em constante evolução, cresce com a própria equipa e com o rendimento individual dos jogadores e é feito de avanços e recuos na sua operacionalização através do processo de treino.

O papel do Sistema Tático no Modelo de Jogo
O sistema tático caracteriza a organização estrutural de base da equipa e a sua importância está relacionada com a atribuição de funções e tarefas aos jogadores. A escolha por um determinado sistema deve ter em consideração a aplicação dos princípios que compõem o modelo de jogo e as características dos jogadores que o compõem. Assim, é o sistema tático faz parte do modelo de jogo e não o contrário. É por isso que um mesmo modelo de jogo pode utilizar diferentes sistemas táticos preservando os seus princípios essenciais. Não faz sentido retirar importância ao sistema tático para valorizar as chamadas “dinâmicas” coletivas na medida em que este também contribui de forma importante para organização funcional da equipa, nomeadamente através da promoção de determinadas interações entre jogadores decorrentes das suas funções (dimensão funcional) e dos espaços que ocupam predominantemente (dimensão estrutural). Mesmo quando assistimos a variações na organização estrutural da equipa em diferentes fases ou etapas do jogo (por exemplo a atacar e a defender), percebemos que essas adaptações não são totalmente independentes do sistema tático de base. Além do mais, a utilização de diferentes configurações estruturais constitui um importante fator estratégico, permitindo uma maior adaptabilidade ao jogo da equipa adversária – aqui entendida como uma adaptabilidade disruptiva, ou seja, que permita condicionar o adversário e ganhar uma vantagem competitiva."