terça-feira, 22 de junho de 2021

Guendouzi, o geómetra


"Quem é o médio que Jesus pretende no Benfica 2021.
Francês – selecção pela qual jogou dois Europeus Sub 21 – formado entre o Paris SG e o Lorient, foi recrutado pelo Arsenal no seu segundo ano de sénior, e pese embora a utilização não escassa, não conseguiu tornar-se prioritário para o clube Londrino.

Porque não se impôs no Arsenal?
Guendouzi demonstra mais qualidade com bola do que sem esta, e numa Liga tão competitiva e veloz quanto a Premier League acabou por não se impor. Tem dificuldades no 1×1 defensivo e não tem passada suficientemente veloz para se impor num clube de grande nível.
É com bola, na ligação com o jogo ofensivo que se destaca. A qualidade do seu passe é excepcional, e não se coíbe de conduzir a bola à procura do passe que rompe linhas. Decide rápido e liga com muita qualidade no início de cada ataque ou transição.
Se quer uma comparação com elemento do plantel encarnado: Guendouzi seria Taarabt. Contudo, menos centrado em fazer sempre o passe mirabolante e mais capaz de colocar critério no seu jogo. E embora seja o ponto menos notório do seu jogo e que não lhe permitiu impor-se no topo, defensivamente tem um raio de acção bastante mais largo que o marroquino. Curiosamente, Guendouzi também também ele nacionalidade marroquina, embora tenha nascido em França.
No Benfica seria obviamente o oito dono de um lugar à frente de um seis de maior capacidade defensiva. Porque não, Florentino?"

Valada, duas vezes nascido no Cartaxo


"Um insólito da Volta a Portugal de 1966, no Cartaxo, levou ao nascimento de uma estrela, natural da mesma vila

No Portugal de Agosto de 196, os telespectadores assistiam aos primeiros ensaios das transmissões do ciclismo português na RTP, com a Volta a Portugal. O Benfica colocou dez ciclistas na prova, contando com elementos de topo como Peixoto Alves, vencedor da edição anterior, Pedro Moreira e Fernandes Mendes.
Entre eles ia ainda Francisco Valada, que poucos dias antes se tinha destacado na frente de um 'compacto pelotão'. Nascido na vila do Cartaxo, em 15 de Maio de 1941, representaria Portugal nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960.
A 29.ª Volta a Portugal iniciou-se no Estádio das Antas. Tinha um traçado considerado 'demasiado duro nos primeiros dias', prejudicial ao desempenho dos velocipedistas, tendo em conta que fora uma época atípica, com poucas provas.
A camisola amarela foi sendo disputada entre Mário Silva, do FC Porto e Peixoto Alves nas primeiras etapas. Entre os dias 13 e 15 de Agosto, sucedeu uma 'caleidoscópica sucessão de acontecimentos' surpreendente e insólita. Para além de uma quebra física e psicológica de Mário Silva e da equipa do FC Porto, Peixoto Alves foi confrontado com aproximação dos ciclistas belgas que lhe iam apertando o caminho. Fernando Mendes foi obrigado a 'escapar-se aos seus companheiros de fuga', cortando a meta em lugar de Peixoto Alves. Falou-se num 'fratricídio' insólito, porém necessário à equipa 'encarnada', impedindo que a camisola amarela 'conhecesse outro corpo que não fosse o de um ciclista do Benfica'.
Na etapa seguinte, que arrancou do Cartaxo até Lisboa, passando por Óbidos, Francisco Valada tomou parte das novas hostilidades que se abriram no pelotão. Desde então, mostrando-se 'cada vez mais firme', o ciclista ribatejano envergou a camisola amarela, 'não mais a largando até (ao) final', no dia 21. Com o apoio da equipa, que nunca faltou, foi o vencedor individual da prova mesmo sem ter sido dos mais destacados corredores. Foi, no entanto, o mais regular e o que em menos tempo 'cobriu os 2342 quilómetros', somando 64h 38m e 36s, menos 72 segundos que o segundo classificado, Peixoto Alves.
A chegada dos dez elementos da equipa benfiquista, sem nenhuma desistência, até à última meta foi um facto único na história da prova até então. O Benfica conquistou a 'Volta-66' em equipas e individualmente pela bicicleta de Valada, que nasceu como pessoa e como vencedor na terra de José Maria Nicolau.
Descubra esta e outras histórias do ciclismo 'encarnado' na área 4 - Momentos Únicos, n Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

Rony Lopes | O regresso do primeiro filho pródigo?


"O rol de jogadores apontados ao SL Benfica volta a ser de uma extensão assinalável. Ainda que com menos fulgor nos dias mais recentes, um dos nomes badalados foi o de Marcos “Rony” Lopes.
O extremo de 25 anos constituiria um regresso a casa, tendo feito parte da sua formação futebolística nas águias, formação essa que completou no Manchester City FC, clube que lhe permitiu estrear-se como sénior aos 17 anos (e até marcou) e que fez dele a primeira grande venda de jogadores “made in Seixal”.
A carreira de Rony Lopes não seguiria o trajeto mais previsível, mas ainda assim o tecnicista luso-brasileiro já teve a oportunidade de jogar no campeonato francês (por Lille OSC, AS Monaco e OGC Nice) e no campeonato espanhol, pelo Sevilla FC. Como tal, foi granjeando experiências importantes em ligas do “top 5”, podendo isso haver-lhe aportado a experiência necessária para, em conluio com a sua capacidade intrínseca, singrar num clube da dimensão do SL Benfica.
A sua capacidade de desequilíbrio em drible, em velocidade e em um para um são atributos que devem interessar a Jorge Jesus, que pretenderá substituir (de forma mais ou menos direta) Pedrinho. No entanto, a contratação de Rony Lopes fará mais sentido num sistema de 3-4-3, um dos mais utilizados pelos encarnados na ponta final da época transata.
No “antigo” 4-4-2 de JJ, Rony Lopes perderia espaço para jogadores do estilo de Pizzi. Sendo canhoto, Lopes procura muitos movimentos interiores, é verdade, mas em zonas mais avançadas do terreno e mais com o intuito de desequilibrar num lance individual do que auxiliar os médios, como Jorge Jesus pede ao ala direito habitualmente no seu 4-4-2.
Todavia, caso seja necessário jogar mais por dentro, Rony Lopes cumprirá os mínimos, fazendo uso da sua visão de jogo e segurança (com risco) no passe. Também o remate do jogador de 1,74m e 70Kg funciona como uma das suas armas. De resto, na época 20/21, que realizou ao serviço do OGC Nice por empréstimo do Sevilla FC, o extremo apontou cinco golos (dois na Taça de França e três na liga Francesa).
Posto isto, a sua contratação teria tudo para resultar, sobretudo se for para manter a aposta no 3-4-3. Sobeja conhecer os moldes do negócio, mas a realizar-se na modalidade que tem sido noticiada – empréstimo com opção de compra a rondar os oito milhões de euros -, seria uma aposta de grande potencial de rentabilização e muito baixo risco. No fundo, seria uma aquisição em sentido contrário às mais recentes…"

Euro


"Escrevo esta crónica enquanto se aproxima o início da participação portuguesa no Euro 2020. Perguntar-me-ão alguns benfiquistas o que terão a ver com isso, mas à falta de melhor argumento relembro o Rafa, o Vertonghen e o Seferovic ao serviço das suas selecções, além dos vários atletas formados no Benfica presentes na prova. E esse argumento é, a par da paixão por futebol, o que realmente me motiva neste certame.
Já há muitos anos que deixei de sofrer pela selecção (em 2004 já não senti a derrota na final por aí além). Não me move qualquer antipatia, muito menos o desejo de que Portugal não vença. Sou realmente indiferente, tenho testemunhas que ainda se surpreendem por isso. Torço pelo sucesso de jogadores do Benfica e daqueles que serviram condignadamente o clube. E vibro com o bom futebol. Nos primeiros dias apreciei a Itália, fiquei chocado e depois aliviado com a situação do Eriksen, contentei-me com o triunfo da Holanda ao cair do pano por ser mais que merecido e agradeci estar vivo ao ver o segundo golo da República Checa. E lamento profundamente a insipidez da maior parte dos jogos. É o tipo de futebol que está instalado, o da procura constante, em posse, dos equilíbrios, para mal de quem sonha com chicuelinas e reviengas, passes de morte e golos extraordinários. Espero que não passe de uma moda.
A indiferença relativamente ao destino da selecção portuguesa não me desqualifica enquanto português, e era só o que faltaria. Apesar de cada vez mais desvalorizar fronteiras geográficas, políticas e culturais, talvez em reacção ao recrudescimento de nacionalismos bacocos, considero-me patriota e adoro Portugal. Não troco o cozido à portuguesa por qualquer iguaria internacional. Mas, no desporto, a minha nação é o Benfica, o qual me preenche plenamente."

João Tomaz, in O Benfica

O bom Jardel


"O guerreiro vai-se embora, mas dificilmente sairá da história recente do Sport Lisboa e Benfica. Foram 10 épocas e meia de entrega, de profissionalismo, de respeito pelo clube e pelos adeptos. Sempre que foi chamado deu o máximo em campo, sempre que ficou de fora (por opção ou por lesão) nunca deixou de trabalhar e, acima de tudo, mostrou uma postura exemplar.
Jardel Nivaldo Vieira, 35 anos, soube vestir muito bem o manto sagrado. Desde que foi contratado ao Olhanense em 2010/11, conquistou 14 títulos e troféus, sendo uma figura fundamental para a conquista do bi, do tri e do tetra. Aliás, é um dos cinco magníficos a conquistar quatro campeonatos consecutivos, com André Almeida, Fejsa, Salvio e o seu companheiro do lado no relvado, Luisão. Ao todo, Jardel foi cinco vezes campeão nacional, ganhou duas Taças de Portugal, cinco Taças da Liga e duas Supertaças.
Foi autor de golos decisivos e de cortes fulcrais, mas a imagem que vai ficar na memória é a de Jardel com uma touca de natação que protegia os 20 pontos de sutura que necessitou depois de sofrer um golpe profundo na cara. Acham que isso o afectou? Se sim, não se notou nada. Jardel deixou tudo em campo. Nesse dia e em todos os outros, nos jogos, nos treinos, como homem e como profissional.
Não era a estrela mais querida dos adeptos, sócios e simpatizantes? Não, mas isso é perfeitamente normal num clube da dimensão do SL Benfica. Há quem goste mais do fogo-de-artifício, dos cortes de cabelo, das bombas que conduzem, das namoradas vistosas e das declarações polémicas. Eu prefiro os homens sérios, simples, bons, que fazem o seu trabalho.
Obrigado, capitão."

Ricardo Santos, in O Benfica

Não sei se é a ganhar que vamos longe


"Estou completamente perdido. O leitor sabe qual é a conta que devemos fazer na máquina de calcular quando se começa com uma vitória? Eu tive 20 no Exame Nacional de Matemática do 12.º ano, mas infelizmente já não tenho o contacto da colega por quem copiei a prova.
Os primeiros 80 minutos do jogo com a Hungria até correram de feição. Fomos conseguindo manter de feição. Fomos conseguindo manter o nulo, mas de repente entrou o Rafa e marcámos 3 golos. Provavelmente, a contar que a Hungria também marcasse três vezes, como em 2016, mas os húngaros não caíram na armadilha de empatar o jogo e embalar Portugal rumo à conquista do troféu. Percebemos cedo que eles não estavam ali para os fazer favor nenhum pela forma como apuraram o Ronaldo. E o Cristiano, conforme é tradição quando alguém o assobia, lá espetou duas batatas. Mais uma vez, o CR7 a colocar os interesses pessoais à frente dos interesses colectivos, empurrando Portugal para a vitória e deitando por terra a possibilidade de o jogo terminar emparado. Maldito egoísmo. Agora, ele que pegue na calculadora e faça as contas.
Amanhã voltamos a enfrentar a Alemanha, que tantas dores de cabeça nos tem causado nos últimos confrontos. Perdemos os últimos quatro duelos com os alemães e temos de recuar até 2000 para encontrar uma vitória portuguesa, estrondosa, por 3-0. Um hattrick do Sérgio Conceição, o que me ajuda a relembrar que o treinador do FC Porto já fez de mim um homem feliz para além do Clássico em que deixou o Éder Militão no banco. Desta vez estarei precavido. Se algum português marcar três golos vou celebrar em euforia, mas consciente da possibilidade de lá para 2040 ter perdido quase todo o apreço por ele."

Pedro Soares, in O Benfica

Muito para melhorar


"A derrota na final do campeonato de Futsal pôs termo à época desportiva do Benfica no que dez respeito às principais modalidades seniores masculinas.
Se no sector feminino as nossas equipas lograram vários êxitos (nomeadamente no Futebol, no Basquetebol e no Futsal, faltando terminar o Hóquei em Patins), nos homens a temporada deixou muito a desejar.
Apenas um campeonato nacional (Voleibol) e nenhuma taça de Portugal, constitui registo demasiado pobre face às excectativas, e que não está na linha daquilo que tinha sido o ecletismo do Benfica, sobretudo ao longo da década anterior.
De facto, se até sensivelmente 2016/2017 o Benfica parecia imparável, dominando, em crescendo, praticamente todas as modalidades de pavilhão (de resto, à semelhança do que acontecia com o Futebol), desde então fomos perdendo força competitiva face aos rivais.
Pelo contrário, o Sporting emergiu como grande potência na maioria das modalidades, fruto de um investimento fortíssimo, que na altura a todos parecia irresponsável, mas que, na verdade, se vai mantendo vigente, com inúmeros sucessos nacionais e internacionais. O facto é que hoje, excepção feita ao Voleibol, o nosso rival lisboeta tem genericamente melhores plantéis do que nós, sendo que o FC Porto, apostando apenas em três das cinco principais vertentes, consegue, nelas, manter-se bastante competitivo. Resultado em Hóquei, Basquete e Andebol os títulos foram discutidos entre leões e dragões, e em Futsal, sem FC Porto, acabámos goleados em casa pelo Sporting, conjunto de resultados que merece profunda reflexão, e terá de ser rapidamente revertido."

Luís Fialho, in O Benfica