segunda-feira, 21 de junho de 2021

Neno, sempre!


"Esta semana queria destacar o grande feito da nossa fantástica equipa de polo aquático feminino, que voltou a fazer a dobradinha, conquistando a Taça de Portugal. Também queria destacar a medalha de bronze de Anri Egutidze, nos mundiais de judo. E ainda o 16.º título consecutivo de esperanças da nossa equipa masculina de atletismo. Mas a notícia da morte de Neno, confesso, deixou-me prostado. Sobretudo porque o conhecia bem e tinha por ele uma admiração enorme. Não só pelos seus atributos enquanto grande futebolista, mas também pela sua forma de estar.
Neno amava a vida e era um exemplo para todos nós. Num mundo onde impera, cada vez mais, a intriga, a mentira, o ódio, a violência e o vale tudo, Neno destacava-se pela sua postura. Se já admirava os seus feitos enquanto grande guarda-redes, sobretudo pelas conquistas de três campeonatos e outras tantas taças de Portugal para o Benfica, mais seus admirador fiquei quando tive o privilégio de o conhecer, pessoalmente, já como director do V. Guimarães.
Recordo os nossos encontros, no Estádio da Luz, sempre que a equipa vitoriana nos visitava. Neno irradiava simpatia e, sobretudo, alegria de viver. Sempre com uma piada e um sorriso no rosto, Neno era o verdadeiro embaixador da harmonia e do fair play, destacando-se como o campeão de amizade.
Serviu o V. Guimarães com total dedicação e profissionalismo, mas todos sabiam que o seu clube do coração era o Benfica. Nunca o escondeu e várias vezes me confidenciou: 'O Benfica é o Benfica!'
A todos os seus familiares e amigos e ao V. Guimarães, apresento as minhas sentidas condolências."

Pedro Guerra, in O Benfica

A bola já rola


"Já rola a bola de novo no Community Champions com os jovens dos bairros de Lisboa e driblar e chutar para golo. Não é ainda o que todos queremos, mas é um princípio de retoma que cheira a normalidade, ainda que os condicionalismos e as restrições sejam tantas que nos têm obrigado a trocar por segurança muita da espontaneidade que o futebol oferece.
De qualquer modo, as equipas que têm mantido identidade e contacto online e treinado competências individuais, investindo no apuramento da condição física e da técnica individual dos jogadores, retomam alguma interação em contexto competitivo, amigável, o que lhe permite reiniciar de alguma forma o trabalho colectivo e reacender o sonho de viajar para Roterdão para disputar o torneio final em 2022. Um sonho adiado pelo Covid, mas que colectivamente conquistaremos com o nosso comportamento responsável em comunidade!"

Jorge Miranda, in O Benfica

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"5
Só há 5 tetracampeões na história do Benfica, Jardel é um deles, com André Almeida, Fejsa, Luisão e Salvio;

7
Jardel é também um exemplo para os mais jovens. Na 3.ª e 4.ª temporadas no Benfica um total de 7 vezes pela equipa B, sem qualquer inflexão no elevado compromisso com o clube;

11
Épocas ao serviço do Benfica. Houve apenas 50 futebolistas, em cerca de 1200, que jogaram pela equipa de honra em 11 ou mais temporadas (critério: participação em pelo menos um jogo em cada época, incluindo particulares);

14
Títulos e troféus conquistados por Jardel de águia ao peito. Campeão nacional 5 vezes, venceu 2 Taças de Portugal, 5 Taças da Liga e 2 Supertaças (fez parte de plantéis que venceram mais duas);

19
Golos marcados pelo Benfica (16 em competições oficiais, 12 no Campeonato), dois deles decisivos na caminhada para o tri em 2016 (golos das vitórias na 30.ª e 32.ª jornadas);

21
Jardel demorou a conquistar os benfiquistas. Há duas formas de consegui-lo, assim seja inequívoco o compromisso com o clube e pelo menos aceitável, segundo padrões benfiquistas, o talento para o futebol: personificar um adepto aguerrido em campo e/ou qualidades futebolísticas excepcionais. Jardel tornou-se consensual pela primeira via num jogo com o V. Guimarães, em que fez quase toda a partida com uma protecção na cabeça. Soube-se depois que necessitou de 21 pontos para fechar um golpe profundo. Fez o sacrifício que qualquer adepto juga que faria naquelas circunstâncias;

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Jogos de Jardel, incluindo particulares, pela equipa de honra do Benfica. É o 44.º mais utilizado de sempre. Em competições oficiais participou em 288 desafios (34.º). No Campeonato representou o clube em 165 ocasiões."

João Tomaz, in O Benfica

Editorial


"Assumo com indisfarçável honra a responsabilidade de dirigir a partir desta edição o Jornal O Benfica, a publicação periódica desportiva em actividade mais antiga de Portugal. A dimensão que assume na vivência do Sport Lisboa e Benfica, a sua importância histórica enquanto espaço de liberdade, de discussão e debate, mesmo nos tempos mais sombrios da ditadura, comprometem-me muito mais do que qualquer laivo de orgulho. Procurarei seguir humildemente os ensinamentos deixados por José Magalhães Godinho, conhecido opositor ao Estado Novo e primeiro director deste jornal - onde também José Saramago escreveu - ou Paulino Júnior, autor da letra do 'Ser Benfiquista', outra das grandes referências entre as muitas que marcaram o trajecto de excelência deste jornal. Não escondo a angústia de, em algum momento, não estar à altura de tão distintos pergaminhos.
O nosso compromisso é o de sempre informar e dignificar o universo do Sport Lisboa e Benfica numa relação de confiança com todos os seus adeptos através de uma comunicação cada vez mais próxima e que envolva ainda mais quem ama o Benfica. As novas realidades de comunicação impõem-nos desafios que implicam explorar novos conteúdos e diferentes linguagens na comunicação. A chegada da nova época vai corporizar uma outra dimensão de análise e de opinião, com novos e diversificados cronistas, a par de exclusivos que, em paralelo com uma ambição digital, procurarão das reposta ao anseio de públicos mais jovens e todos os outros que nos acompanham desde sempre. Mas com uma premissa sagrada: em nenhum momento ousaremos beliscar a essência do Jornal O Benfica.
Uma última palavra de especial apreço e enorme gratidão para o José Nuno Martins. Ao longo dos últimos treze anos liderou o Jornal O Benfica com imensa sabedoria e um benfiquistmo inigualável. A sua prosa será sempre uma referência para nós. Obrigado."

Pedro Pinto, in O Benfica

Steven Nzonzi | O trinco para fechar o miolo encarnado?


"Mais uma semana e mais um nome apontado ao meio-campo do SL Benfica. Desta vez, a imprensa portuguesa e francesa avançam que é Steven Nzonzi quem poderá ser reforço de Jorge Jesus para a próxima temporada.
Nomes como Al Musrati, Basic, Gérson, Ugarte e agora Nzonzi já foram ou são ainda possibilidades em cima da mesa para reforçar o setor mais débil dos encarnados, as posições ‘6’ e ‘8’.
O médio da AS Roma esteve emprestado ao Stade Rennais FC desde janeiro de 2020 e disputou 46 jogos pelo emblema francês. Prestes a regressar à capital italiana e ainda com um ano de contrato por cumprir, José Mourinho já fez saber que não conta com o médio para os seus planos.
Nzonzi tem 32 anos, 1,96m e um valor de mercado a rondar os oito milhões de euros, segundo o transfermarkt.pt. A sua posição mais capaz é a de médio-defensivo, mas atua também mais à frente na posição de ‘8’.
Com uma estatura física invejável, uma experiência como poucos – passou por clubes como Sevilla FC, AS Roma e Galatasaray SK – e uma capacidade de “choque” em falta no plantel da Luz, é inegável que o francês seria uma mais valia no plantel encarnado. A questão dos adeptos do SL Benfica prende-se nos valores que o seu clube está disposto a dar por um jogador que festeja o 33º aniversário em dezembro e que aufere um salário na ordem dos três milhões de euros líquidos por ano.
Com Julian Weigl no plantel, Nzonzi não teria muito espaço de manobra no onze de Jorge Jesus, mas caso o alemão se transfira para outro clube, o francês assumiria de imediato a posição deixada em aberto. Reforçar ainda que Florentino regressa do seu empréstimo ao AS Monaco e vai entrar nos planos do técnico português, pelo menos na pré-temporada.
Mas quais são as principais diferenças entre Nzonzi e Weigl? Para começar, o alemão é um jogador relativamente novo, mais “apetecível” no mercado e com evolução desportiva e financeira. Além disso, o ex-Borussia Dortmund traz mais presença e ajuda ao setor defensivo, algo que Nzonzi não apresenta.
Ainda, Weigl tem um timing de antecipação e desarme muito mais apurado do que o francês. Em sentido contrário, o jogador da AS Roma é dono e senhor do jogo aéreo e faz valer o seu 1,96m para “limpar” tudo o que for lances pelo ar na zona do meio-campo ou em bolas paradas. Acrescentar que Nzonzi é mais ofensivo do que Weigl e por isso maior parte dos seus passes são destinados para o meio-campo ofensivo.
Nos últimos dias tinha sido noticiado o possível interesse do Stade Rennais FC em assegurar o médio francês a título definitivo, mas a qualificação para a Conference League e o elevado encargo salarial “deitaram por terra” esse interesse.
O SL Benfica tem agora uma boa oportunidade para avançar para a sua contratação até pelo bom relacionamento que os dirigentes encarnados têm com José Mourinho e com Tiago Pinto, atual diretor desportivo do emblema giallorossi."

Bastidores!!!


"Nem no Euro nos livramos do jogo de bastidores lagarto: a Suíça jogou hoje e Seferovic marcou 1 golo: Portugal só vai jogar quarta feira e o Pote já sabe quantos golos tem de marcar para ultrapassar o Benfiquista na corrida a melhor marcador da competição.
(Entretanto, o Palhinha ainda não viu nenhum amarelo no Euro2020)"

A metamorfose


"A poesia pretende, à força de palavras conhecidas, dar ao leitor esse ser humano desconhecido que as ciências tidas por exatas não conseguem vislumbrar. Por isso, porque considero genial este poema de Herberto Helder, começo precisamente com um poema: “Era uma vez um pintor que tinha um aquário e, dentro do aquário, um peixe encarnado. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor encarnada, quando a certa altura começou a tornar-se negro. A partir – digamos – de dentro. Era um nó negro, por detrás da cor vermelha e que, insidioso, se desenvolvia para fora. Alastrando-se e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário, o pintor assistia surpreendido à chegada do novo peixe.
O problema do artista era este: obrigado a interromper o quadro que pintava e onde estava a aparecer o vermelho do seu peixe, não sabia agora o que fazer da cor preta que o peixe lhe ensinava. Assim, os elementos do problema constituíam-se na própria observação dos factos e punham-se por uma ordem, a saber: 1º - peixe, cor vermelha, pintor, em que a cor vermelha era o nexo estabelecido entre o peixe e o quadro, através do pintor; 2º - peixe, cor preta, pintor, em que a cor preta formava a insídia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar acerca das razões porque o peixe mudara de cor precisamente na hora em que o pintor assentava na sua fidelidade, ele pensou que, lá de dentro do aquário, o peixe, realizando o seu número de prestidigitação, pretendia fazer notar que existia apenas uma lei que abrange tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Essa lei seria a metamorfose. Compreendida a nova espécie de fidelidade, o artista pintou na sua tela um peixe amarelo” (Do Mundo, Livraria Aleph, De Google).
A crise que atravessa a racionalidade galilaico-cartesiana e os novos paradigmas emergentes são prova evidente de que o real está em permanente metamorfose. Demais, com a hermenêutica, “o ser que pode ser compreendido é linguagem” (H.G. Gadamer, Verdad y Metodo, Ediciones Sígueme, Salamanca, 1988). De facto, se “a linguagem é a casa do ser”, como Heidegger o repetia, é a linguagem a dizer-nos o que pensava o saber aristotélico-tomista da Idade Média e o que a modernidade, com Galileu, Descartes, Newton e Kant, julgava eterno e o que a pós-modernidade entende como Verdade. Ora, a pós-modernidade desvela-se, revela-se, como “idade hermenêutica da razão” e portanto onde se “labora na pressuposição de que, rigorosamente, não há conhecimento (perfeitamente) objetivo. Apenas há interpretação de linguagens e compreensão do mundo” (Jorge Coutinho, Filosofia do Conhecimento, Universidade Católica Editora, 2003, pp. 169-170). Uma mulher, até à década de 50 do século XX, quase nada podia esperar da vida, depois de ter cumprido o seu destino “inalienável”(?) de parir e educar os filhos e ser um modelo obediente aos apetites do seu marido (nada mais!) que, entretanto, cevava os dentes todos na maçã pecadora. A própria religião cristã, com uma hierarquia masculina e uma fé institucionalizada em sociedades patriarcais, chegava às mulheres idealizada na Virgem Maria que, por ser Virgem, impossibilitava um modelo feminino de acesso generalizado às restantes mulheres. Acompanho pela televisão o mundial de voleibol das equipas brasileiras (feminina e masculina) e delicio-me com as suas exibições, designadamente as da equipa feminina. As qualidades físicas e intelectuais daquelas moças é sinal certo e seguro de uma igualdade radical de género, que já se pratica no Brasil e afinal em toda a América Latina. E, no Brasil que eu conheço, o facto de a própria teologia não deixar de pôr a nu o que de reacionário e fascizante se infiltrou na mensagem dalgumas igrejas. A Literatura Ocidental cunhou, muito justamente, o provérbio: “Vérité au deçà, mensonge ai dela des Pyrénnées”. Quando comecei a trabalhar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-Brasil), pude dialogar, inúmeras vezes, com o Rubem Alves, uma das figuras maiores da “teologia da libertação” e um escritor e pedagogo brasileiro de indiscutível mérito. Relembro o que, um dia, me disse; “Junto à cruz de Jesus Cristo, nos momentos derradeiros da sua crucifixão e morte, só mulheres se encontravam junto d’Ele. Terá sido por acaso?”.
Maria Luísa Ribeiro Ferreira, professora catedrática aposentada da Faculdade de Letras de Lisboa, apresenta, por contraste, a morte de Sócrates, onde as mulheres foram compulsivamente expulsas de assistir à agonia do mestre (cfr. Maria Luísa Ribeiro Ferreira. “A subversão de uma mundividência”, in Manuela Silva e Fernanda Henriques, Teologia e Género, ariadne editora, Coimbra, 2006, pp. 193 ss.). Enfim, Jesus Cristo, a grande “Boa Nova”, na história da humanidade! Mas, na sociedade e portanto no desporto, que todos porfiamos em construir, o economicismo da alta competição deve ser diagnosticado e o hegemonismo e o dirigismo e as tentações elitistas devem ser desmascarados. Vivemos um momento propício de relembrar o pensamento de Maurice Druon, no livro, de que é autor, La parole et le pouvoir: “A grandeza reconhecida da Democracia está em deixar em liberdade os seus eventuais assassinos. A estupidez começa quando ela, ainda por cima, lhes paga o punhal” (p. 369). O futuro do desporto nacional menos se decreta do que se merece e se constrói solidariamente. Prepara-se, com muita pedagogia e persuasão na Família, na Escola, na Comunicação Social, nos Clubes, no Comité Olímpico, na Universidade, nas Associações e Federações. As grandes prioridades são conhecidas. Mas uma guerrilha verbal alienante, onde as palavras são verdadeiras armas de arremesso e ao serviço do radicalismo saloio de certas pessoas, pode escondê-las ou mudar-lhes a cor, como acontece com o peixe do poema de Herberto Helder. Efetivamente, a opinião pública portuguesa, tendo sido contemplada com uma “explosão de informação”, depois da Revolução dos Cravos, no que ao desporto diz respeito são poucos os que o pensam e dele sabem fazer um problema nacional que se põe hoje ao nosso país”. O Desporto é um caso de Cultura e de Educação e de Saúde (e mais itens poderia acrescentar). Mas por problemas técnico e táticos? Acima do mais, porque não é possível falar-se em Desporto, sem recorrer a uma axiologia dos valores. Não há ciência humana que não comporte uma relação iniludível com a ética e a moral. Mesmo ao nível do conhecimento…"