sexta-feira, 11 de junho de 2021

Neno, sempre entre nós!


"O Sport Lisboa e Benfica expressa o seu profundo pesar pelo falecimento do nosso antigo guarda-redes Neno, que tinha 59 anos. Os nossos pensamentos vão, nesta altura de saudade e vazio, para a sua família.
Para sempre ficarão na memória de todos os Benfiquistas as grandes exibições que Neno protagonizou com a camisola do Benfica. Para sempre ficará também o talento de um dos guarda-redes mais marcantes do futebol português.
De águia ao peito de 1985 a 1987 e também de 1990 a 1995, o antigo guardião sagrou-se Campeão Nacional três vezes (1986/87, 1990/91 e 1993/94). Envergando o Manto Sagrado, venceu ainda três Taças de Portugal (1985/86, 1986/87 e 1992/93) e fez parte do elenco que conquistou a Supertaça em 1985.
A todos os seus familiares e amigos, o Sport Lisboa e Benfica endereça, neste momento de grande consternação, as mais sentidas condolências por parte de toda a Família Benfiquista.
A memória de Neno estará sempre entre nós."

Saudades, Neno


"O dia amanheceu triste para a nação benfiquista com a notícia do falecimento, aos 59 anos de idade, do nosso antigo jogador, Neno. O Sport Lisboa e Benfica já manifestou o seu "profundo pesar" através de nota de condolências publicada no sítio oficial, onde também enaltece o percurso do guarda-redes de águia ao peito, que se notabilizou pelo contributo para a conquista de três Campeonatos Nacionais e três Taças de Portugal.
Entretanto, ontem foi dia de novo jogo da final do Campeonato Nacional de futsal, o terceiro, em que fizemos uma boa exibição e tivemos ascendente, sobre o adversário, em largos períodos do jogo, o qual ficou marcado pela indesejável polémica fruto de uma decisão de arbitragem errada com indiscutível influência no resultado.
O Sporting venceu a partida, realizada em Alvalade, por 2-1, encontrando-se agora em vantagem na fase derradeira da prova. Recordamos que esta é disputada "à melhor de 5", o que significa que são necessários três triunfos para garantir o título nacional. O Sporting lidera a final por 2-1, sendo que o próximo jogo está agendado para domingo, dia 13, às 17h30 na Luz.
Em comunicado oficial, o Sport Lisboa e Benfica deu conta da revolta sentida por um erro de arbitragem que fez pender a balança para o lado leonino quanto à definição do vencedor. Com o marcador a registar um empate a uma bola, o Sporting viu ser-lhe atribuído um golo num lance "em que a bola, manifestamente, não entra toda na baliza, como ditam as regras". As imagens são claras e contrariam a decisão errada tomada pelos árbitros: não houve golo.
Segue-se a quarta partida, cujo objetivo da nossa equipa é vencer e, assim, levar a decisão do Campeonato para a chamada "negra".
Além do futsal, entrarão ainda em ação, ao longo do fim de semana, as equipas femininas de andebol e hóquei em patins.
No andebol estão agendadas as duas últimas jornadas do Campeonato. Em função do recente regresso do Benfica ao escalão máximo, a época tem-se revelado acima das expectativas. À entrada da penúltima jornada, a nossa equipa continua com possibilidades de se sagrar campeã nacional, apesar de não ser favorita tendo em consideração a classificação atual (2.º) e os jogos em disputa. No sábado defrontaremos, na Luz, o Alpendorada (15h00), e, no domingo, no reduto adversário, o Colégio de Gaia às 18h00.
No hóquei, as heptacampeãs nacionais entraram a ganhar nos quartos de final do Campeonato e têm agora a oportunidade de selar o apuramento para a ronda seguinte, bastando um triunfo para consegui-lo (sábado, às 16h00, na Luz; caso necessário, domingo, às 19h00, na Luz).
De Todos Um, o Benfica!"

Não Golo !!!


"Assim se continuam a decidir Campeonatos em Portugal. 1 golo para cada lado, vitória do Sporting.
Há alguém que vá defender o Benfica hoje?"

Gavotti, o bombardeiro que fez história no primeiro Itália – Turquia


"Ainda antes do futebol, um confronto entre a Itália e a Turquia ficou para a história da aviação de guerra.

A velha foto a preto e branco mostra um tipo magro de ar duro com uns olhos brilhantes e uma barba negra e cerrada. Tem pinta de “regista”, um médio centro com classe mas capaz de defender com eficácia. Pensando bem, há qualquer coisa de Pirlo neste Giulio Gavotti que apesar do nome bastante futebolístico nunca jogou à bola (pelo menos oficialmente) mas teve um papel fundamental num dos primeiros confrontos entre Itália e Turquia, os dois países que vão dar o primeiro pontapé na bola no Euro 2020.
O tenente aviador Gavotti tinha 29 anos quando foi enviado para a Líbia para combater na guerra Italo-turca que rebentou em 1911 depois de uma recém-unificada Itália ter declarado guerra ao já decadente império Otomano com o falso pretexto de proteger os italianos que viviam na Líbia dos extremistas muçulmanos.
Na verdade, das potências europeias, a Itália era das que tinha menos colónias e o verdadeiro objetivo era apenas cravar uma lança em África. O império Otomano não estava em condições de resistir e era o alvo perfeito. A guerra não duraria muito e precedeu o desastre coletivo que varreu a Europa entre 1914 e 1918 e que não pouparia nenhum destes dois contendores.
Mas em 1911, a força aérea era uma invenção recente (os irmãos Wright tinham feito o primeiro voo tripulado há apenas oito anos) e servia essencialmente para missões de reconhecimento. Mas Gavotti foi escolhido pelo comando italiano para protagonizar uma missão inédita: bombardear posições turcas pelo ar. “Fiquei muito contente por ter sido escolhido”, diria a Gavotti sénior numa das cartas que escreveu ao pai e que foram divulgadas pela BBC.
Um bombardeiro ou um caça eram um delírio totalmente impensável naquela época e segundo Gavotti relatou ao pai no dia da missão carregou o avião com quatro bombas de um quilo e meio cada uma. Duas guardou numa pasta de cabedal que levou no frágil monoplano e duas escondeu no blusão de aviador.
No dia da missão, a 1 de novembro de 1911, voou até ao oásis de Ain Zana e sobrevoou um acampamento de atónitos turcos e tribos líbias que se tinham juntado aos otomanos para resistir ao invasor europeu. Tirou a primeira bomba do casaco e lançou-a para o acampamento. “Tive o cuidado de evitar a asa e vi a explosão no solo. Acho que correu muito bem”. As outras duas bombas lançadas explodiram longe do alvo e Gavotti teve de fugir com a quarta bomba antes de a poder lançar.
A missão não terá provocado qualquer baixa entre o inimigo mas ficou para a história como o primeiro ataque a partir de um avião da história militar. Já tinha havido lançamentos de bombas de balões, mas foram proibidos pela Convenção de Haia, no final do século XIX.
Nas décadas seguintes, seguiram-se outros, mais famosos, como o que destruiu Hiroxima ou que inspirou Picasso para pintar a obra-prima Guernica.
A guerra terminaria em dezembro de 1912 com a vitória da Itália. Gavotti sobreviveu. Bem como um jovem general turco que organizou a resistência de guerrilha no terreno e quase deu a volta às forças mais poderosas de Itália. Chamava-se Mustafa Kemal e foi o fundador da República da Turquia. O piloto italiano sobreviveu igualmente à primeira guerra mundial e morreu de velho em 1939, em Roma.
Terá visto Itália a ganhar os mundiais de 34 e 38 mas já não viu o primeiro Itália - Turquia da história de futebol que terminou com a vitória dos transalpinos por 6-0. Um tal de Orlando meteu quatro bombas na baliza dos turcos. E também dessa vez só o orgulho ficou ferido."

A Grécia teve um Maradona e não o deixaram jogar no Euro 1980: "Nenhum grego chegou perto dele"


"Vasilis Hatzipanagis era como o bailarino russo Nureyev: "Dizíamos que ele dançava com a bola", (...) o milagre da seleção grega em 2004. Esta é a história de Βασίλης Χατζηπαναγής

Enquanto para uns o Olimpo é um rumor distante, outros levam-no dentro das botas ou no coração. Ou em ambos. Quando os pais de Vasilis Hatzipanagis fugiram da guerra civil grega, decidiram deixar para trás a querida terra e mudaram-se para a União Soviética, com o estatuto de refugiados. O filho, que seria o mago dos magos helénicos, nasceu em 1954 em Tashkent, atualmente no Uzbequistão. Cedo se percebeu que o rapazinho grego que nunca estivera na Grécia tinha um dom: encantava as bolas de futebol e derretia o cinismo dos homens.
Quando jogava com os amigos e deixava tudo virado do avesso, começou a despertar a atenção de alguns clubes. O pai, avesso ao poder, rejeitou a transferência do filho para o Dínamo Moscovo, por ser a equipa da polícia. Acabou por assinar pelo Pakhtakor Tashkent, um clube criado por trabalhadores de algodão. Assim talvez estivesse mais perto do povo, da poeira que tapa o chão, da verdade que cada um leva na alma. Mas a guerra civil, que sempre assombrou a sua vida, começou a revelar as suas dimensões problemáticas: para ser futebolista profissional teria de ser soviético. Hatzipanagis era grego. Essa questão seria resolvida e, já soviético, estreou-se na liga com 17 anos.
Em 1975, quando a Grécia já respirava outros ares e promessas que faziam justiça ao passado longínquo, decidiu regressar à terra dos pais e assinou pelo Iraklis, emTessalónica, que o recebeu com o estádio cheio, como se faz com as estrelas. Viajando até ao YouTube, porque em lado nenhum estão jogos completos deste génio com a camisola 10, o queixo quase muda de código postal. Melena selvagem, canhota que deve ter um palácio no Monte Olimpo, velocidade, coragem para encher as veias de cinco exércitos e dribles que parecem inventados por incorrigíveis que levam o amor debaixo da pele.
Noutro vídeo, um elemento da claque do Iraklis, jovem na altura, admitiu que não queria que os jogos acabassem, nunca. Parecia Diego Armando Maradona. E, sim, também é assim que é conhecido: o Maradona grego. Poderia haver melhor elogio?


“Ele era a versão grega de Diego Maradona”, confirma à Tribuna Expresso Vasilis Sambrakos, um jornalista grego que escreveu sobre o milagre da seleção grega em 2004. “Era muito bom com os dois pés, muito inteligente, capaz de driblar em espaços reduzidos, sempre a furar a defesa, era um jogador incrível. Veio da União Soviética, os pais eram gregos, mas ele nasceu lá.”
Hatzipanagis teve outro problema, mais uma nuvem dos tempos da guerra civil: não podia jogar pela seleção helénica porque participara em jogos com as seleções jovens da União Soviética. Por isso que falhou o Campeonato da Europa de 1980, em que a Grécia terminou na última posição do Grupo 1, com Alemanha (0-0), Checoslováquia (1-3) e Holanda (0-1) - os germânicos venceriam o torneio contra a belíssima Bélgica. Foi a primeira vez dos gregos em torneios importantes e só voltariam em 2004, espantando o mundo com uma vitória na final contra Portugal, em Lisboa.
“Foi triste para os gregos [Hatzipanagis não jogar pela seleção]. Ele era um jogador incrível. Podemos dizer que desde então nenhum grego chegou perto dele. Ele tinha muita qualidade, muita qualidade. Só jogou umas vezes pela seleção, mas foram um ou dois jogos. Creio que terminou a carreira em 1990, eu tinha 15, 16 anos, lembro-me dele”, conta Sambrakos, ao revelar que, na altura, o génio jogava e era como as estrelas de hoje, uma loucura. Os estádios enchiam para o povo o lamber com os olhos.
“Toda a gente gostava de o ver jogar. Acho que a alcunha dele era Nureyev, era um grande bailarino russo. Dizíamos que ele dançava com a bola.” A estreia de Hatzipanagis com a camisola nacional aconteceu a 6 de maio de 1976, numa vitória por 1-0 contra a Polónia. Depois disso, a FIFA fechou-lhe a porta da levitação internacional.
Por desinteresse, problemas burocráticos e principalmente pela natureza ditatorial do contrato que assinou com o Iraklis, nunca saiu daquele humilde clube para um gigante, e foi-se ficando por ali, deixando cada vez mais redonda a bolinha e corada a relva. Houve então rumores de que Estugarda, Lazio, Arsenal e Futebol Clube do Porto estiveram interessados no seu ofício. Na Grécia, onde jogou entre as temporadas 75/76 e 90/91, acabaria por conquistar apenas um terceiro lugar e uma Taça dos Balcãs.
Embora o povo grego seja divino no esquecimento, garante Sambrakos, o Maradona grego teve direito a uma desforra emocional. Em 2003, por ocasião dos 50 anos da UEFA, cada federação filiada escolheu o melhor futebolista, era a galeria de ‘Golden Players’ da UEFA, onde desfilavam nomes como Cruijff, Puskás, Bobby Moore, Di Stéfano, Masopust e Eusébio.
A federação grega escolheu Vasilis Hatzipanagis.
Mas melhor do que isso, quem sabe, aconteceu antes, em 1999, quando arrumou na lembrança a segunda internacionalização. Com 45 anos, o Nureyev dos palcos esverdeados foi convocado para um Grécia-Gana, em que jogou 20 minutos e fez o passe para o golo, uma película assim mesmo à D10S. E assim, com o Olimpo inteiro nas botas, se despediu do seu povo."

Da complexidade de uma carreira desportiva


"As notícias nos jornais, nos canais televisivos, nas rádios, só existem quando os atletas atingiram algum feito notável.
E esse feito advém de um de dois fatores: puro talento, ou muito trabalho e dedicação.
Costuma dizer-se que depois de se chegar ao topo o mais difícil é conseguirmos manter-nos lá. E é sobretudo nesta altura que outros fatores começam a interferir na vida desportiva dos atletas. Fatores para os quais não estão preparados, que podem conduzir ao desmoronar de carreiras promissoras, e a que muitas vezes se adicionam a frustração e a depressão, que podem atingir não só a vida desportiva, como o quotidiano dos atletas.
Trata-se de uma fase crítica, fulcral, na qual os atletas necessitam de acompanhamento, aconselhamento e sobretudo de companheirismo. E a especificidade do desporto requer, em minha opinião, que esse mesmo venha de alguém com um conhecimento endógeno, para poder resultar em pleno.
Torna-se por conseguinte fulcral que exista, e que os atletas saibam que existe, um local com pessoas com quem podem contar. Falo com conhecimento de causa. Sei quanta falta me fez ter alguém ao meu lado, que me soubesse alertar para o que inevitavelmente me esperava. Como saber precaver-me, como fazer escolhas, como saber distinguir à minha volta quem se queria aproveitar do meu sucesso, quem por motivos mesquinhos me queria obstinadamente prejudicar.
Poderia dar infindáveis exemplos de fragilidades de atletas de topo mundial, mas cinjo-me a dois da minha disciplina, Michael Phelps e Ian Thorpe, e a outro na ordem do dia, a tenista Naomi Osaka.
Tenho conhecimento de um projeto, fundamentado e sólido, que visa responder a estas necessidades. Frisei a situação de atletas de topo, mas esse projeto pretende abarcar vários estádios de competição, cada qual com seus enquadramentos específicos, as suas necessidades, desde as que se possam imaginar raras, até as mais comuns. Há que lutar contra as fragilidades, para tornar mais forte quem se destaca no desporto."

A Lista


"Ao princípio, parecia tratar-se de uma decisão ditada exclusivamente pelas regras da segurança sanitária: embora a final se disputasse entre duas equipas inglesas e fosse desejo de todos os respectivos adeptos que ela se realizasse em território britânico, os alegados riscos de contágio que um evento desta dimensão comportaria superavam, em muito, o orgulho nacional e a paixão dos seguidores das equipas em questão - por isso, o Governo, com Boris Johnson em destaque, declinou o convite com tanto de honroso quanto de armadilhado.
A talhe de foice, seja-me permitido anotar uma verificação de significativo alcance político e que a exótica figura do Primeiro-ministro favorece:
Boris Johnson quer para o seu país, como, de resto, o vêm confirmando sucessivos factos decorrentes do Brexit, um estatuto de desalinhamento político-comercial, como tão sugestivamente o sugerem os seus cabelos cuidadosamente mantidos em provocador desalinho.
Neste contexto de egolatria nacional, nada espanta a cada vez mais notória deriva proteccionista - e a final do Dragão veio confirmá-lo de forma brutal e chocante.
Desde logo, se os nossos entusiasmados adeptos (afinal, os hooligans continuam mais vivos do que se pensa) querem divertir-se a partir esplanadas, as da Ribeira, na cidade do Porto, servem na perfeição tão primária pulsão: uns bons copos de cerveja nas margens do Douro ( que curiosamente o antigo Primeiro-ministro John Major tanto aprecia e que, ao contrário do actual, cultiva um irrepreensível penteado) e uns bons pontapés naquela fieira de cadeiras que a boa gente do norte tão diligente e hospitaleiramente ali colocara. E foi o que se viu: vândalos aos magotes, espalhando caos e destruição ... mas que seja lá fora, que o território britânico é espaço de muito respeitinho.
Só que, aos olhos dos responsáveis da Ilha, não podia haver melhor escolha para palco da grande final: Portugal, sempre dócil e de brandos costumes, oferecia um pretexto perfeito para mais uma medida descaradamente proteccionista:
Que foram detectados três casos positivos de covid entre os adeptos regressados ao Reino Unido? Convocam-se todos os miríficos especialistas do Reino de Sua Majestade para, do alto da sua presunção, confirmarem a patriótica necessidade de retirar Portugal, de cujos encantos se diziam historicamente enamorados, da lista verde, colocando-o na outra, a lista negra, a dos destinos, na prática, vedados aos cidadãos britânicos: querem gastar dinheiro? Que o gastem cá dentro. E eis uma multidão de gente loura e louca em alvoroçada debandada, empurrada pelo aperto do prazo e deixando para trás os bares de Albufeira e os restaurantes de Almancil.
E, a ilustrar este golpe, este truque político do desvairado Johnson, está o estranho e inexplicável facto de destinos, quase completamente limpos no plano epidemiológico, como são os casos de Malta e Maiorca, constarem também da lista negra, cirurgicamente elaborada pelo governo de Londres.
Mas há uma secreta mas mal disfarçada razão para esta medida discriminatória: Portugal, Malta e Maiorca - os três territórios fazem parte da UE. E o egotismo político de Londres não permite que cidadãos seus contribuam objectivamente para a prosperidade de um espaço, do qual o Reino Unido saiu com raivoso estrondo.
E eis, amigos, como, uma vez mais, os políticos se aproveitam do fascínio do futebol para desígnios de projecção de poder.
E este foi um episódio mais do geofutebol."

Qual é o papel do desporto na sociedade?


"O sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990) realçou os laços estreitos entre o desporto e a sociedade, no qual ele se inscreve. Pela forma como é praticado, e o que está em jogo, do ponto de vista simbólico, político, económico e social, o desporto é um revelador dos valores e da organização da sociedade. Uma simples referência sobre as emoções provocadas pelo desporto dá-nos uma ideia da sua importância na sociedade. Neste sentido, ele é uma questão política e social, que determina as caraterísticas da política desportiva num determinado país.
Historicamente, os objetivos da política desportiva são muito variados e, por vezes, contraditórios. Rapidamente, o desporto foi visto como um vetor de políticas públicas mais abrangentes: a defesa militar, com a ideia de que o desporto deveria permitir a formação dos futuros soldados prontos a defender a nação, a educação, como a sensibilização dos valores de exemplaridade e de responsabilidade como estão espelhados na Carta Olímpica, ou de saúde pública, com a luta contra as doenças associadas ao sedentarismo. O desporto é visto como um bem público, que contribui para a educação dos cidadãos, para a saúde e para o exercício da solidariedade nacional. Esta visão está bem presente na Europa.
Ao permitir aliviar as tensões criadas pela vida em sociedade, e a agressividade que pode alimentar, o desporto concorre para a coesão social. Esta é a teoria de Norbert Elias, que faz um paralelo entre o processo de pacificação dos costumes e dos valores e o surgimento do desporto moderno. O desporto, e mais particularmente a competição desportiva, permite exteriorizar uma parte da frustração suscetível de ser gerada, levando a um autocontrole.
O desporto reveste também uma dimensão simbólica, acentuada pela mediatização crescente dos eventos desportivos e pela digitalização dos meios de comunicação social. Os atletas não são apenas competidores de alto nível. Eles são eleitos heróis nacionais, aclamados pelas multidões. São os modelos de ascensão social, os porta-estandartes de um grupo social e o ponto de convergência das opiniões positivas da sociedade. Pelas suas performances, os atletas de alto rendimento, participam na divulgação internacional do seu país.
A conceção multidimensional do desporto encorajou o surgimento de uma política pública fundada no interesse geral.
Qual foi a inovação desportiva que se operou nos finais do século XIX? E eu creio que alguma coisa de original se criou. É preciso que nos entendamos: existe uma multiplicidade de práticas desportivas: 1) o desporto para todos, que não obedece a uma calendarização ou a recordes; e 2) uma prática desportiva, que embora pareça semelhante, é muito diferente. É institucionalizada, competitiva, organizada, obedece a uma calendarização, financiamento, e a recordes. É essa que nós vemos na TV. É essa que solicita a nossa atenção e que nos atrai.
Num breve percurso histórico, constatamos que o desporto moderno se diferencia dos jogos antigos, dos jogos da Idade Média e dos jogos clássicos. Os jogos antigos estavam associados a um tempo cíclico, não progressista, a uma religiosidade (e a relação com Deus), privilegia-se a lealdade do combate, a técnica, e não eram democráticos. Só os homens podiam participar. Existe os Jogos Olímpicos, mas existem outros eventos. Estende-se no imaginário. Na Idade Média eram privilegiados os torneios, reservados à nobreza, com armas caras, e material preparado para o efeito. A seleção social imperava. Nos jogos clássicos, era o mesmo: não obedeciam a um regulamento específico e não havia um calendário. Ocorriam ligados a um evento particular (casamento, receção de alguém importante, etc.). As mulheres eram afastadas dessas práticas. O sistema de apostas também era arbitrário. Está ligado à decisão do momento e do instante.
No final do século XIX existe uma rutura social. O que é que se inventa? Passou a ser, teoricamente, democrático, isto é, todos podem participar. Como todos podem participar, criou-se a necessidade de uma organização. Institucionalizou-se! Internacionalizou-se! Criou-se uma cronologia. O espetáculo-desportivo passou a estar presente. É a obsessão de mostrar. Passámos a ser uma sociedade de emoções e do visível. Um outro aspeto que explica o sucesso do desporto é que coloca em destaque o ideal das sociedades contemporâneas. Todos partimos do mesmo nível de igualdade e é o mérito e o talento que ganham. Nesse sentido, é uma sociedade de concurso. O desporto permite orquestrar um discurso ao longo do tempo e permite tirar lições sobre o sucesso e o insucesso dos atletas, familiares, dirigentes, etc., seguindo-os como se fosse uma telenovela. Isso solidifica a cultura popular, os modos de sociabilidade variada (liderança, cooperação, oposição, etc.) e de comportamento. Cria um imaginário e participa no processo de memória.
Nesta inovação, destacamos também o corpo. Corpos que se inventam. Antes, privilegiava-se a força, o culturismo, os rostos acentuados, etc., que muitas vezes eram colocados nas capas de revistas. Hoje, existe uma diferenciação de qualidades. A sensibilidade é diferente. Existe uma poética do corpo e uma diferenciação de existir. Existem formas diferentes de ter prazer. O “corpo desportivo” é aquele que corresponde às normas de segurança, de musculatura e de grandeza. É um corpo de aparência, de pluralidade e de expressão. É a vulgata. O desporto é um lugar de diversificação da especialização.
Num estudo sobre as audiências da televisão em França, em 2010, tendo por base o número de objetos (um tema apresentado durante dois ou três minutos) tratados, o desporto surgia em primeiro lugar, em segundo a política, em terceiro a economia e, por último, a cultura. E se compararmos os grandes eventos desportivos e os eventos culturais, não é preciso fazer um desenho. Ele vai no sentido que adivinham. Isso mostra até que ponto o desporto assume um lugar especial nas sociedades contemporâneas. O desporto impõe-se a nós, o que leva a uma reflexão e a necessidade de compreender esta forte presença. A grande força desporto é que está em relação com os nossos ideais sociais. Qual é então o problema? O problema é a sua fragilidade: a democracia pode ter um curto-circuito, pode inventar a dopagem, pode inventar a corrupção, pode inventar a violência, etc. É isso que é preciso vigiar a todos os níveis. Cabe ao Estado, mas também ao cidadão."

Em defesa do Sport Lisboa e Benfica


"O Sport Lisboa e Benfica, enaltecendo a grande qualidade do jogo de futsal que opôs, esta noite, a nossa equipa ao Sporting Clube de Portugal, lamenta que o jogo tenha sido decido por um golo em que a bola, manifestamente, não entra toda na baliza, como ditam as regras.
O Sport Lisboa e Benfica foi mais uma vez prejudicado e exige respeito quer por parte da Federação Portuguesa de Futebol quer por parte da arbitragem.
A entrega de faixas de campeão não pode ficar refém de estados de alma de quem dirige a modalidade e tem por missão defender a verdade desportiva.
O Sport Lisboa e Benfica quer ainda realçar o carácter dos seus atletas que, mesmo perante as adversidades, foram enormes na defesa do seu emblema."