terça-feira, 8 de junho de 2021

A importância do HPD


"O sucesso desportivo das equipas do Sport Lisboa e Benfica depende em grande medida da condição física e psíquica dos seus atletas, impactando na sua disponibilidade e rendimento em treino e competição.
Por essa razão, o SLB tem vindo a investir fortemente quer no âmbito da prevenção, diagnóstico e tratamento da patologia desportiva, quer na maximização da performance dos seus atletas de alta competição, integrando estas valências numa só estrutura – o Human Performance Department – com a missão de garantir o máximo rendimento dos seus atletas, salvaguardando a saúde e a disponibilidade dos mesmos a todo o tempo nas melhores condições físicas e psicológicas, através de uma abordagem holística multidisciplinar.
A trabalhar diariamente na Clínica Benfica, no Benfica Campus, nos Pavilhões desportivos e em todos os locais em que os atletas do SLB treinam e competem, está uma equipa de mais de 100 profissionais altamente qualificados – médicos (especialistas em Ortopedia, Fisiatria, Medicina Desportiva, Cardiologia Desportiva e Medicina Geral), enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e fisiologistas –, que trabalham de forma integrada com atletas e equipas técnicas nas seguintes frentes:
- Minimizar o risco e severidade de lesão desportiva, através da implementação de planos de trabalho preventivo individualizados tendo em conta fatores como a posição em que o atleta joga, a idade, o histórico clínico e os resultados obtidos na avaliação funcional, biomecânica, antropométrica e psicológica ao longo de toda a época desportiva. A reeducação e reforço alimentar, e o reforço físico das áreas anatómicas mais propensas a lesões através de planos de treino personalizados, são exemplos de atividades desenvolvidas de prevenção;
- Garantir o acompanhamento dos processos lesionais – desde o pós-lesão imediato, passando pelo diagnóstico, tratamento e reeducação seguindo as melhores práticas, até à total reintegração dos atletas em treino e competição sem limitações;
- Desenvolver as competências psicológicas de atletas e treinadores, como por exemplo a comunicação, a liderança, a motivação, a resiliência, a gestão dos níveis de stress e ansiedade pela pressão desportiva, bem como monitorizar a saúde mental dos mesmos e intervir sempre que necessário;
- Otimizar as capacidades físico-motoras, em articulação com as equipas técnicas, preparando-os para as exigências do treino/jogo, nomeadamente quanto à sua força, agilidade, velocidade, coordenação, resistência e flexibilidade, imprescindíveis à alta competição;
- Apoiar as equipas técnicas no planeamento e processo de treino, monitorizando a carga a que o atleta está sujeito através, por exemplo, da avaliação da frequência cardíaca durante a atividade desportiva, ou da tecnologia GPS para análise de diferentes métricas que caracterizam o esforço de cada atleta (p.e. distância percorrida, n.º de sprints, velocidade máxima);
- Monitorizar a recuperação física pós-treino e jogo, aferindo o dano muscular por biomarcadores, a qualidade/quantidade de sono, ajustando a alimentação, hidratação e suplementação de forma individualizada sempre que necessário;
- Apoiar a tomada de decisão do Clube no que respeita a novas contratações de atletas, pela avaliação rigorosa da condição física e psicológica dos mesmos;
Adicionalmente, o HPD entende como sua responsabilidade ética zelar pelo futuro dos atletas, pelo que desempenha um papel ativo na educação dos jovens atletas e seus familiares para adoção de hábitos saudáveis, promoção da sua autonomia e responsabilidade, por via de ações de formação e atividades dinâmicas individuais e em grupo.
O HPD conta ainda com uma estrutura de investigação, desenvolvimento e inovação – Knowledge and Innovation Center (KICK) –, que tem como missão a constante otimização da sua intervenção, assegurando a adoção das melhores práticas internacionais, a tomada de decisões baseada no mais recente conhecimento e metodologia científica e a formação e desenvolvimento profissional dos seus colaboradores.
O HPD é assim uma peça-chave para que o sucesso desportivo do Clube possa ser alcançado, trabalhando com dedicação, empenho e espírito de equipa em prol dos milhares de atletas que compõem a família benfiquista."

O Regresso de Tiago Dantas


"Depois de uma temporada praticamente sem jogo – Fez 7 jogos na Equipa Secundária do Bayern, que disputa a terceira divisão, e menos de 70 minutos na equipa principal bávara, o talentoso médio regressa ao Benfica.
Tecnicamente esclarecido como poucos outros a nível mundial, de Tiago espera-se que nunca perca a bola. É o tipo de jogador que facilita o jogo ofensivo das suas equipas. Sem erro, dá fluidez, liga cada sector e corredor com a qualidade dos predestinados em posse. Contudo, o seu regresso surge pós temporada traumatizante onde se sentiu em demasia as dificuldades sem bola dos médios do Benfica – E todos eles terão aí mais argumentos que o pequeno talento. Apesar do nível técnico absurdo, o seu raio de acção no momento defensivo, e capacidade para resgatar a bola para a sua equipa fazem prever que jamais será médio centro com Jorge Jesus. Mas poderá Dantas surgir nas costas de um avançado? Na sua despedida em Munique, jogou nas costas de Choupo-Moting, à frente de Kimmich e de Muller, alimentando Coman e Musiala."

Quando o "demoníaco" Šekularac fechou a porta do primeiro Europeu na cara de Portugal


"Os carrascos dos portugueses seriam os primeiros finalistas da então Taça das Nações da Europa, em 1960. O sonho lusitano, com Matateu e Coluna em destaque, caiu por terra perante a fineza do número 10 jugoslavo e companhia

O povo português não sabe o que é estar ausente de uma competição, seja Europeu ou Campeonato do Mundo, desde 2000. A cada dois anos, os amigos e as famílias juntam-se à frente da televisão para ver os rapazes de vermelho com jeito para convencer a bola a fazer certas coisas. Mas não foi sempre assim.
Só 36 anos depois da primeira edição do Mundial, que teve lugar no Uruguai em 1930, é que Portugal se estreou naquelas andanças (Inglaterra-66). Quanto a fases finais de Campeonatos da Europa, que arrancaram em julho de 1960, os portugueses só se estrearam em 1984, em França. Foi preciso esperar muitos anos para se saber como suspiram e se enamoram as multidões que ocupam as bancadas das grandes competições.
Quando se desbobina a fita do primeiro Campeonato da Europa e vemos aquela final four, com França, Jugoslávia, Checoslováquia e União Soviética, parece que os portugueses nunca tiveram hipótese de entrar naquelas jogatanas históricas. Mas tiveram…
A caminhada lusa para o Europeu - ou Taça das Nações da Europa, um sonho de Henri Delaunay que teve de esperar que a desavinda pólvora baixasse os olhos - começou a 21 de junho de 1959, em Berlim Oriental. Portugal, com golos de Matateu e Mário Coluna, ganhou a primeira mão contra a República Democrática da Alemanha. O enviado especial do “Diário de Lisboa”, Fernando Soromenho, apreciou o desempenho do avançado do Belenenses: “Agressivo, batalhador e entusiasta, causou grandes calafrios nas hostes adversárias, pois a sua exuberância, combinada com a subtileza de Carlos Duarte, foi poderosa arma de desmembramento da defesa adversária”.
Num jeito de outros tempos, Figueiredo, que fez carreira no Belenenses, resumiu então assim o jogo: "Os alemães entraram cheios de genica, julgando por certo que arrancariam triunfo fácil. Engaram-se, porém, porquanto acabámos por chamar a nós a vitória, aliás merecidamente. Gostei da minha atuação. (...) Dos alemães gostei do [Günter] Schröter", um atleta do BFC Dynamo.
Na segunda mão, nas Antas, os portugueses voltaram a vencer: 3-2, cortesia de Coluna (2) e Cavém. Soromenho, dificilmente impressionável, escreveu: “Em estilo desorganizado, sem rompantes de ‘raça’, o grupo nacional consentiu um resultado enganador que não se coaduna com a capacidade técnica dos alemães”.
"Os alemães jogaram com muito mais dureza que em Berlim", sentenciou então Cavém, futebolista do Benfica. "Lá, o jogo foi muito mais agradável e mais correto." Coluna concordou que os rivais foram mais temíveis: "Jogaram mais desta feita. Apesar disso, julgo que vencemos bem e que o resultado se ajusta ao desenrolar da partida".
Seguiu-se a Jugoslávia, que havia eliminado a Bulgária na ronda anterior, para a derradeira eliminatória antes da tal final four.
Os jugoslavos eram finos a jogar. O meio-campo gostava de tocar a bola, Perušić tinha categoria, Kostic era potente e veloz junto à linha, havia mobilidade, harmonia, uma ideia (menos física) e pouca urgência, jogava-se bem. Mas o mago dos magos, e que nenhuma alma e coração parem de latejar sem o ver jogar, era Dragoslav Šekularac, o camisola 10.
Corria como correm os craques, era fino do mais fino que há, jogava com as duas pernas, era daqueles que já usava recorrentemente o calcanhar e obrigava o realizador a puxar a fita atrás. Até podia começar pelo lado direito, mas o campo era todo dele, procurava os espaços. Era um génio.
“Não foi em poucas ocasiões que a imprensa internacional lhe ofereceu uma alcunha que então era talvez a melhor que alguém podia dar a um futebolista do Velho Continente: o Garrincha europeu”, pode ler-se no livro “Sueños de La Euro”, de Miguel Pereira. Mané Garrincha, campeão do mundo pelo Brasil em 1958 e inflamador de corações suecos, era quem sabe o futebolista mais importante do mundo na época. Quando Šekularac morreu em 2019, aos 81 anos, o seu Estrela Vermelha prestou homenagem ao “rei do drible”.
O primeiro jogo daquela eliminatória, com quase 40 mil pessoas no Jamor, até correu bem. Joaquim Santana e Matateu trataram de fazer o marcador bailar até ao 2-0. Bora Kostić reduziu a nove minutos dos 90.
O exigente repórter do “Diário de Lisboa”, que já antecipava uma jornada dura em Belgrado, deixou-se seduzir pela qualidade dos visitantes. “Os jugoslavos são aquilo que vimos nos dois Mundiais de 1950 e 1954. (...) Notável técnica individual, no controle, na condução e cobertura da bola; passes matemáticos e terrivelmente enganadores, e uma concepção, digamos, descontraída do futebol concebido como ‘associations’.”No fundo, “era um exemplo típico da tradicional escola húngara”, escreve, numa referência aos magiares mágicos dos anos 50, os tais que massacraram a Inglaterra, em Wembley, no jogo do século, trocando a bola com mestria e revelando um dos primeiros falsos 9 da história, Nandor Hidegkuti.
Portugal estava assim a 90 minutos da primeira fase final da inédita Taça das Nações Europeias. “O triunfo luso ficou quase ferido de morte com o inoportuno golo de Kostić perto do final”, recuperamos um trecho do livro “Sueños de la Euro”. “O 2-1 deixava tudo em aberto para o jogo da segunda mão, em Belgrado. Ali, os portugueses aguentaram o pulso dos locais até ao intervalo, mas os rivais começaram a assegurar a passagem à fase final com um golo madrugador da sua grande estrela, o demoníaco Šekularac.” Depois do 1-0 aos 18’, Cavém até empatou, deixando a imaginação salivar, mas aquela Jugoslávia era outra loiça e acabou a golear Portugal por 5-1 (marcaram ainda Srdjan Cebinac, Milan Galić e Bora Kostić duas vezes)
“Baile de grande gala em Belgrado”, berrava a página 17 do “Diário de Lisboa”. “O encontro de Belgrado não representou mais do que a simples confirmação do que cepticamente se pensava a respeito da selecção nacional, cujos mentores quase se esfalfaram a apregoar que a vontade, a valentia, o espírito de luta, a confiança, a atmosfera de optimismo, etc, etc, obram prodígios e seduzem quantas vezes a deusa da Fortuna…”. O cronista falou então de um jogo abraçado pela euforia, graças a uma multidão brindada com “uma exibição de fino recorte técnico, altamente prometedora”.
Os portugueses foram engolidos por “teias de passes, fintas e dribles plenos de preciosismos técnicos, ligados a um conjunto harmonioso, límpido e, ao mesmo tempo, terrivelmente prático e eficaz”, celebrava Fernando Soromenho, que, não querendo deixar qualquer dúvida quanto ao seu sentimento, deixou ainda outra nota: “Venceu, de longe, a melhor equipa e os 5-1 não traduzem suficientemente a supremacia total revelada pelos jugoslavos”. O sonho dos portugueses de jogarem uma fase final de um Campeonato da Europa teria de esperar 24 anos, uma estreia que seria apenas travada pelo quadrado mágico francês que jogava como quem bebia champagne.
A Taça das Nações Europeias, que teria como palco um dos territórios finalistas, teve lugar em França, num evento ainda não tão importante como seria mais tarde, menor do que Jogos Olímpicos e Campeonato do Mundo. A Checoslováquia e a União Soviética, que beneficiou da desistência da Espanha, pois o ditador Francisco Franco não queria misturas em solo comunista, foram os outros finalistas.
As meias-finais ditaram Jugoslávia-França e URSS-Checoslováquia. No primeiro jogo, no Parque dos Príncipes, em Paris, os jugoslavos mostraram o que haviam mostrado com Portugal e lograram uma cambalhota fascinante no resultado, vencendo por 5-4 uma seleção que não pôde contar com Raymond Kopa, Roger Piantoni e o killer Just Fontaine, que ainda detém o recorde de golos num Campeonato do Mundo - 13, em 1958.
No outro encontro, no Vélodrome em Marselha, os soviéticos despacharam os checos por 3-0, com golos de Valentin Ivanov (2) e Viktor Ponedelnik. Na baliza estava o mítico Lev Yashin. Na final, após prolongamento, a União Soviética foi mais feliz naquele duelo comunista e venceu os rivais por 2-1, com mais um golo de Ponedelnik, que em russo significa segunda-feira. "A final começou às 22h00, horário de Moscovo, no domingo, e no fim do prolongamento já era meia-noite, basicamente segunda-feira", contou uns anos mais tarde o camisola 9 soviético. "O meu apelido foi um sonho para as manchetes!"
A Jugoslávia, o carrasco de Portugal, voltaria a uma final em 1968, mas tropeçaria na derrota novamente, desta vez com a Itália de Facchetti, o homem com sorte ao jogo. A Jugoslávia é o país que mais derrotas tem em finais de Europeus sem saber como é levantar a taça Henri Delaunay."