quarta-feira, 26 de maio de 2021

David Luiz, o filho pródigo a casa torna? | SL Benfica


"Nuno Gomes, Rui Costa, Luisão, Jonas. Podia referir muitos outros nomes que representam o que é ser benfiquista de alma e coração mas, hoje, vou focar-me num em específico – David Luiz.
O defesa central chegou ao SL Benfica a meio da época de 2006/07, por empréstimo do EC Vitória. Estreou-se ao serviço da equipa encarnada no jogo da primeira mão dos oitavos de final da UEFA Europa League, frente ao PSG. Apesar de não ter sido dos seus melhores jogos, a realidade é que nos jogos seguintes provou ser uma peça chave para a defesa das águias, tendo mesmo convencido os dirigentes do clube a contratá-lo – assinou por cinco temporadas.
A época de 2007/08 tinha tudo para correr bem, mas o defesa brasileiro viveu um dos maiores pesadelos que um jogador de futebol pode viver: lesionou-se e participou em apenas 13 jogos (949 minutos). Na época seguinte, vestiu o manto sagrado 27 vezes e marcou três golos.
O panorama começava a melhorar e em 2009/10, David Luiz teve uma prestação praticamente exímia ao serviço do SL Benfica. Em 51 jogos, o central assumiu o comando da defesa 49 vezes, ajudando a equipa a conquistar o 32º campeonato nacional, com 24 vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas, sagrando-se, também, o melhor jogador da temporada. A partir desse momento, começou a despertar a atenção de clubes como o Real Madrid CF, Manchester United FC e Manchester City FC, mas a saída só se confirmou em 2011, com destino a Londres. O defesa central assinou pelo Chelsea FC, mas continuou a ser um apaixonado pela equipa encarnada.
No 107º aniversário do clube português, David Luiz escreveu uma carta emotiva, onde descreveu o amor que tinha pelo clube: “O Benfica entra no nosso coração e nunca mais sai. Por isso levei, levo e levarei sempre o Benfica no coração. O Benfica é paixão, garra, cumplicidade, amizade, companheirismo, respeito, lealdade, conquista… Enfim, Benfica é parte da minha vida e nenhuma palavra consegue expressar a real grandeza deste clube. (…) Não era, aprendi a ser e sou um eterno benfiquista. Obrigado a todos do fundo do meu coração!”.
Nos anos seguintes, o percurso do jogador alternou entre o Chelsea FC e o PSG. Em agosto de 2019, assinou contrato com o Arsenal FC, realizou 43 jogos e marcou dois golos. Na presente época vestiu a camisola dos Gunners 30 vezes, marcou dois golos e ainda defrontou e eliminou a equipa do coração, nos 16-avos-de-final da UEFA Europa League – “Se eliminar o Benfica dói? Dói sempre”.
Há uns dias atrás, David Luiz anunciou que está de saída do Arsenal FC. O contrato de ligação ao clube termina no próximo mês e não vai ser renovado. Depois de se ter despedido dos colegas de equipa e de ter confessado que não vai terminar já a carreira, o jogador de 34 anos ainda não tem o futuro definido. Neste momento, estão duas hipóteses em cima da mesa: regressar ao Brasil ou ao SL Benfica.
A verdade é que o brasileiro sempre disse que queria voltar a jogar em Portugal e o regresso pode estar prestes a acontecer. Jorge Jesus já conhece as características do jogador, uma vez que foi seu treinador em 2009/10, falta agora saber se consegue ter lugar no plantel da próxima época. A concorrência é forte: Lucas Veríssimo, Otamendi, Vertonghen e até mesmo Morato, mas a ligação que David Luiz tem com o clube e com a a liga também deve ser tida em conta.
A aposta recorrente de Jorge Jesus num sistema de jogo com três centrais pode ser favorável ou não para a vinda do jogador. O treinador pode sempre optar pela rotatividade dos jogadores, mas esta gestão tem de ser muito bem feita, já para não falar que é sempre complicado prescindir de algum deles. Otamendi tem sido um autêntico patrão da defesa encarnada, Lucas Veríssimo chegou e deu imensa confiança à equipa, Vertonghen é um verdadeiro muro e tem uma leitura de jogo como poucos e Morato, apesar de ter feito poucos jogos ao serviço do clube, tem surpreendido os adeptos, uma vez que tem tido desempenhos fantásticos.
Tendo em conta este cenário é complicado conseguir agarrar o lugar na equipa. David Luiz quer voltar à Luz, os adeptos querem que ele volte, porque é sempre bom ter alguém que ame o clube como ele, falta agora saber se o destino do eterno apaixonado pelo SL Benfica passa ou não por Portugal."

Al Musrati, o monstro (não) precisa de amigos


"Depois de João Palhinha o médio líbio é o melhor do ano em Portugal no sector intermédio. Embora extremamente competente sem bola, não tem a abrangência de jogador leonino. Contudo, com bola tem condições superiores para se tornar um jogador notável. Na verdade, já o é. Al Musrati é o médio mais completo do futebol luso.
Completo não porque (mas também) muito forte em todos os parâmetros físicos e técnicos, mas porque tem impacto semelhante em qualquer momento do jogo. É incrível no duelo e no rápido fecho do espaço defensivo, e tem argumentos de elevado calibre no momento de assumir o jogo em posse.
Em Coimbra foi uma vez mais, monstruoso. Em cada jogo sem espaço, o médio demonstra que não há outro em território nacional com tamanha capacidade."

Projeto sólido


"Terminou a temporada para a equipa B, pelo que importa fazer um balanço da participação na 2.ª Liga, deste que é um projeto considerado estruturante no modelo desportivo do futebol benfiquista.
A classificação final no 8.º posto da classificação, com 44 pontos, refletiu o percurso estável e sem sobressaltos significativos, do ponto de vista classificativo, feito ao longo da época, com exceção para a fase inicial, o que se atribui, em grande medida, à inexperiência, neste patamar competitivo, da maioria de jogadores muito jovens que compuseram o plantel. A pontuação obtida resultou de 12 vitórias e oito empates, sendo 14 as derrotas registadas.
À boa entrada na prova, com dois triunfos, não correspondeu um ciclo no mesmo sentido, verificando-se seis desaires consecutivos, todos pela margem mínima (dois no tempo adicional). Na 9.ª jornada regressámos às vitórias, sendo essa a primeira de dez até final do Campeonato, a que se juntaram oito empates e oito derrotas. A permanência da equipa liderada por Nélson Veríssimo foi garantida após o triunfo no reduto da Oliveirense na 31.ª jornada, ainda com três jogos por disputar.
A forte propensão atacante é uma imagem de marca de todas as equipas de formação do Benfica, devendo-se enaltecer, portanto, que a equipa B tenha sido, em 2020/21, o 3.º melhor ataque da prova (2.º em jogos caseiros) da Liga SABSEG.
A utilização de atletas em idade ainda precoce enquadra-se no principal objetivo da aposta na equipa B, que passa por estimular a evolução dos jogadores, capacitando-os para a eventual integração no plantel da equipa A.
Assim, importa destacar que, dos 41 jogadores utilizados, 11 não eram ainda seniores (1 sub-17; 2 sub-18; 8 sub-19). Dos restantes 30 atletas, só dois pertencem ao escalão etário acima dos sub-23 (12 sub-20; 8 sub-21; 5 sub-22; 3 sub-23). 41,5% dos utilizados (17 jogadores) foram estreantes na 2.ª Liga, sendo que quatro deles constaram entre os mais utilizados. Entre os 18 chamados mais vezes a atuar pela equipa, houve quatro juniores e sete sub-20.
Morato (o mais utilizado), João Ferreira, Tiago Araújo e Gonçalo Ramos integraram esta época a Equipa A e ganharam importante 'rodagem' na Equipa B. Svilar já era jogador de Equipa A, mas ganhou volume de jogo na B.
Gonçalo Ramos (em apenas 11 jogos) e Henrique Araújo foram os melhores marcadores da equipa com 11 golos cada (só quatro jogadores marcaram mais nesta edição da Liga SABSEG), seguidos de Paulo Bernardo e Morato, com 4. Kalaica tornou-se no jogador com mais jogos pela equipa B do Benfica (97), superando o registo de Lindelöf (96) e Ferro (91). Cher Ndour passou a ser o estreante mais jovem de sempre (16 anos e 279 dias) na B, destronando João Félix.
Terminou assim mais uma temporada da equipa B em que o balanço é muito positivo. A possibilidade de jovens atletas poderem finalizar o seu processo formativo num patamar competitivo exigente, em que semana após semana se deparam com equipas experientes e evoluídas física e taticamente, é essencial para os preparar para a carreira profissional que tanto ambicionam, ao mesmo tempo que o leque de escolhas à disposição da equipa A é alargado.
Este é um projeto que continuará a ser central na política desportiva do futebol do Benfica."

Entre pedradas e ameaças de rapto


"Uma viagem atribulada, com incerteza da ida a Caracas, pedradas no intervalo do encontro e ameaças de rapto dos benfiquistas

Em 1965, o Benfica foi convidado a participar na Pequena Taça do Mundo, uma competição de carácter particular que se realizaria em Caracas, na Venezuela. Aproveitando a deslocação à América do Sul, o Benfica aceitou um convite do Vasco do Gama para um encontro particular, no Maracanã, agendado para 8 de Julho.
A caravana benfiquista saiu de Lisboa em 6 de Julho de 1965, em direcção ao Rio de Janeiro, mas ainda sem a confirmação da realização dos jogos em Caracas, dos quais se sabia, ainda, muito pouco. A principal dúvida da eventual ida à Venezuela prendia-se com uma exigência do Benfica, que tinha pedido que fosse efectuado um depósito bancário, para garantia das passagens de avião de regresso a Lisboa. A equipa já estava no Rio de Janeiro quando, de facto, se confirmou que viajaria até à capital venezuelana, a fim de defrontar o Atlético de Madrid.
Em 11 de Julho, o Benfica perdeu com os colchoneros, por 3-0. Ao intervalo, a partida esteve interrompida durante 28 minutos, devido ao arremesso de pedras e consequente invasão de campo, incidente que se saldou com, pelo menos, oito espectadores com cabeças partidas.
Mais tarde, soube-se que, para além das pedradas, a comitiva benfiquista esteve também em risco com uma ameaça de rapto aos jogadores. O episódio foi publicado ao jornal A Bola só quando a caravana se encontrava a escassas horas do regresso a Lisboa. Apesar de todos os cuidados que a equipa teve com a segurança dos jogadores e daqueles que os acompanhavam, na véspera da final do torneio, o chefe da caravana benfiquista, tenente-coronel Rodrigues de Carvalho, recebeu um telefonema que o informava de que 'se preparava o rapto de Eusébio e Costa Pereira'.
Redobradas as cautelas, tudo acabou por não passar apenas de um grande susto.
Em 17 de Julho, o Benfica venceu o Atlético de Madrid, por 1-0. Por serem jogados a pontos, os dois encontros disputados com os espanhóis deram em empate, pelo que, no mesmo dia, foi realizado um jogo de desempate de 30 minutos, tendo o Benfica vencido por 2-0 e conquistado o troféu em disputa.
A Taça Nieves M. de Gaubeka, que premiou o vencedor e foi trazida em segurança para Portugal, pode ser vista na área 12 - Honrar o País do Museu Benfica - Cosme Damião."

Marisa Manana, in O Benfica

O TPC de férias para JJ – Pormenores do (des)controlo de espaço em profundidade

"“Defensivamente, é um ponto onde eu me debato muito com os meus jogadores. É tão importante não sofrer como marcar e, portanto, estamos a trabalhar neste aspeto. Tivemos de mudar a estrutura dos centrais, o lateral… Parecendo que não, mexeu com os automatismos da equipa e este jogo foi um indicador disso. Notou-se que tenho de trabalhar mais a última linha.”
Jorge Jesus, treinador do SL Benfica

Olhando para esta citação de Jorge Jesus, a reflexão que o próprio faz sobre as dificuldades na modelação da sua organização defensiva (com principal enfoque nos subprincípios de linha defensiva) parece demonstrar alguma lucidez e bom fundamento. Problema é que estas declarações foram proferidas em… Outubro. E se era de esperar que o técnico das águias, sobejamente conhecido pelo grau de pormenor defensivo que dá às suas equipas (o próprio já afirmou várias vezes que é a fase do jogo onde existe mais intervenção do treinador), tivesse corrigido estes problemas durante estes meses. Pois bem, a final da Taça de Portugal frente ao Braga veio demonstrar o contrário. Os encarnados, que passaram grande parte do jogo com a sua linha de 5 intacta, sofreram imenso com as solicitações à profundidade por parte do SC Braga tendo resultado mesmo num lance que provocou a expulsão do seu guarda-redes e condicionando a estratégia encarnada para o resto da partida.
Tal facto deve merecer alguma reflexão por parte de JJ e apesar de não lhe pedirmos para passar o verão inteiro a ler livros de Arrigo Sacchi (JJ já demonstrou em vários contextos que é competente na operacionalização em treino de propostas de linha defensiva), deixamos alguns pormenores à reflexão para a próxima época e mais uma vez algumas provocações que poderão ser alvo de estudo num artigo próximo: mas afinal o Benfica defende melhor com uma linha de 4 ou de 5? É uma questão de números ou de princípios e subprincípios? Mas antes de nos centrarmos no futuro, regressemos à final de Coimbra:
- A bola coberta vs. bola descoberta – a principal dificuldade que se identifica na maioria das equipas na interpretação destes conceitos é a leitura das condições do portador e da sua orientação corporal para a solicitação em passe do espaço nas costas. Um encurtamento/contenção sobre o adversário não significa que o mesmo não tenha condições ou não vá buscar esse espaço, e é necessário estar preparado para reagir de acordo sem hesitações que podem custar metros.
- A orientação corporal e dos apoios – se a ação motora do portador indicia claramente que este vai procurar a profundidade, a linha tem que estar preparada para retirar essa mesma profundidade. Os apoios de base não devem estar paralelos e os movimentos de basculação vertical devem ser realizados com deslocamento lateral (e se necessário deslocamento frontal no sentido da própria baliza em regime de perseguição).
- As distâncias entre elementos – as linhas de topo para além de referências à profundidade devem ter também referências à largura, seja no plano macro (a linha do Benfica por vezes alarga em demasia, ocupando mais de 2/3 da largura do campo, por exemplo) ou micro (compactação da linha aquando de encurtamentos à frente para impedir movimentos de rutura nesse espaço)."