terça-feira, 11 de maio de 2021

Vermelhão: Sprint final...

Nacional 1 - 3 Benfica

Helton; Gilberto(Darwin, 65'), Veríssimo, Otamendi, N. Tavares; Weigl, Chiquinho(Pizzi, 46'), Pedrinho(Everton, 46'), Cervi(Grimaldo, 46'); Lucas(Ramos 74'), Seferovic

Reviravolta na Choupana, num jogo onde o Nacional decidia a permanência na I Liga e o Benfica, pouco ou nada tinha a ganhar (ontem os primeiros minutos no Dragay foram reveladores para a absurda hipótese dos Corruptos perderem pontos nestas últimas jornadas...!!!). Este jogos são muito perigosos, pois no Benfica nem a feijões os desaires são aceites... Para tornar as coisas ainda mais voláteis o Jesus decidiu 'trocar' vários jogadores, inclusive dando a titularidade a jogadores que muito provavelmente estão de saída... Já não estamos habituados a estes finais de época, 'sem objectivos', e hoje durante muitos minutos cheirou a desgraça...!!!

Pessoalmente, tinha optado por uma equipa na máxima força, nem que seja para tentar o 10-0, em razão daquilo que aconteceu na 1.ª volta, com a recusa em adiar o jogo da Luz... Mas, pragmaticamente até se compreende a tentativa de poupar alguns dos jogadores mais usados, dado a sucessão de jogos neste fim de época, que vai terminar com a final da Taça de Portugal! Mas recordo que é necessário manter o ritmo e a intensidade altas para a equipa não se ressentir na partida que poderá oferecer o único titulo da temporada!

O Nacional marcou cedo, num Canto com uma estranha carambola de ressaltos e mau alívio... O Benfica 'reagiu' com posse de bola, mas com poucas oportunidades... aliás, mesmo ultrapassado o meio-campo em poucas ocasiões, o Nacional obrigou o Helton a defesas de elevado grau de dificuldade!

Desta vez, as substituições acabaram por 'cair para o nosso lado, e foi com a 'carga toda no assador' que conseguimos dar a volta ao resultado: primeiro com alguma sorte (após uma finalização desgraçada do Sefe!) e depois com o puto Gonçalo, a fazer o mesmo que tinha feito na última época (na Vila das Aves), marcando dois golos, com muita oportunidade e dando a ideia que com mais minutos, poderia ter feito mais do que os 'outros' avançados!!!

Mais uma arbitragem pouco isenta com o Rui Costa e o Narciso no VAR... Independentemente de se achar que houve ou não falta do Veríssimo no lance do golo anulado, ao Nuno Tavares, tenho a certeza absoluta que se fosse golo dos Lagartos ou dos Corruptos, nunca seria anulado... No lance da 'grande' defesa do Nacionalista com os braços, não se compreende como ainda há poucos dias, 'todos' concordaram com o penalty assinalado em Vila do Conde a favor da Lagartada!

Agora temos o derby, onde vamos lutar pelo orgulho, já que as hipóteses de chegar ao 2.º lugar não são reais! Sendo importante manter os niveis de concentração elevados, pois ainda é cedo para entrar em modo pré-época, pois ainda fala a Taça de Portugal!

Para ganhar


""A responsabilidade dos jogadores e do treinador do Benfica é sempre a mesma: ganhar!", conforme afirmou Jorge Jesus, ontem, na conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Nacional, na Madeira, com início agendado para as 18 horas de hoje.
A partida com o Nacional insere-se na antepenúltima jornada da Liga NOS. O nosso adversário encontra-se na luta pela manutenção, o que reforça a expectativa de um encontro difícil frente a uma equipa apostada em contrariar o favoritismo atribuído ao Benfica.
Vencer todos os jogos até final do Campeonato é o nosso objetivo para que, se possível, possamos melhorar a classificação atual. Só depois de terminada a Liga NOS o foco será direcionado para a final da Taça de Portugal, uma prova que, naturalmente, queremos muito vencer.
Mas hoje importa apenas o jogo com o Nacional e será com o intuito de regressar da Madeira com os três pontos que a nossa equipa se apresentará em campo.
De Todos Um, o Benfica!

P.S.: As nossas basquetebolistas sagraram-se campeãs nacionais após vencerem, por 73-76, a equipa do União Sportiva no jogo derradeiro da final dos play-offs da Liga Skoiy. Apesar de desfalcada de uma das melhores jogadoras, a norte-americana Altia Anderson, a equipa apresentou-se na final determinada a vencer, conseguindo-o com enorme mérito. O Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Luís Filipe Vieira, destacou o feito inédito do Clube na modalidade, numa temporada repleta de sucesso, em que à Taça de Portugal se juntou a conquista do Campeonato Nacional. O Benfica passou a ser, com este título, o único clube português já campeão pelo menos numa ocasião na vertente feminina das cinco modalidades de pavilhão.
A lamentar temos apenas que, numa final tão bonita e bem disputada, os nossos adeptos só tenham podido entrar no pavilhão 24 minutos depois do início do jogo decisivo do último domingo, isto quando na véspera tinham sido impossibilitados de entrar e apoiar a nossa equipa feminina no segundo jogo. Uma situação que deve merecer a respetiva reflexão por parte dos vários intervenientes envolvidos no basquetebol e no desporto em geral."

O Campeonato português em 10 segundos


"Porto e Farense em jogo, lances semelhantes. Um foi penalti. O outro não foi nada.
Nem é preciso perguntar qual foi o do penalti porque todos sabemos a resposta."

O futebol que fazia Bob Marley “correr como um possuído”


"Nos seus contratos de digressão, insistia que lhe fosse garantida hospedagem perto de um parque ou jardim e que o seu quarto tivesse uma televisão: queria poder jogar e ver futebol quando quisesse. Se fosse vivo, Bob Marley cumpriria, esta terça-feira, 11 de maio de 2021, 76 anos. E esta é a história possível de contar sobre a relação que a lenda do reggae tinha com o futebol

Era a sua vontade, já era um hábito, e constava, obrigatoriamente, nas alíneas dos contratos que assinava com as produtoras - para qualquer concerto, fosse onde fosse, ele tinha de ficar hospedado algures onde “o acesso fácil” a um parque, a um jardim, a algo com relva, estivesse garantido. Nesse dia, a um dia do arranque de mais uma digressão, levou as rastas gordas e longas, baloiçantes ao acaso, enfeites no corpo vestido com roupas justas e coloridas, para um espaço verde em Paris, perto da Torre Eiffel.
Combinado estava um jogo de futebol. A 10 de maio de 1976, ele juntou-se com amigos a alguns jornalistas, para se entreterem contra uma equipa de homens de negócios, empresários vários, entre os quais Francis Borelli, que viria a ser presidente do Paris Saint-Germain. Durante essa recreação com uma bola, um adversário pisou-lhe, com força, o pé direito, entrada que lhe arrancou parte da unha do dedo grande.
Esse dedo, por consequência, teve de ser desinfetado e tapado, com uma ligadura, que, conta-se, o obrigou a usar chinelos, ou sandálias, durante a maioria dos concertos da digressão de “Exodus”, nome do álbum que a motivara - eleito pela “Time” como o mais influente do século XX. “Todas as canções são um clássico, desde as mensagens de amor aos hinos à revolução. Mais do que isso, o álbum tem um nexus político e cultural, inspirando-se no Terceiro Mundo e dando-lhe voz no resto do mundo”, justificou, em 1999, a revista.
Por ser esse álbum, por estar próximo do expoente da popularidade, como um alpinista que já avista o cume da montanha, e por outras razões que nunca saberemos, Bob Marley prosseguiu. Alastrou o reggae pela consciência coletiva. Foi o jamaicano conhecido pela rouquidão na voz, a paz nos seus ideais, a revolução nas suas mensagens, o Rastafarianismo na sua fé e a marijuana nas coisas que fumava.
Bob Marley foi música, mas também era futebol.



Robert Nesta Marley, o filho de mãe negra e jamaicana, de pai branco e inglês, adorava o futebol. Já o jogava em Nine Mile, aldeia pobre e isolada nas montanhas da ilha caribenha, de onde se mudou para Trenchtown, bairro em Kingston, sítio na capital do país onde os pobres se encavalitavam em casas de lata, sem saneamento e com cozinhas comuns.
Lá, em adolescente, jogava pelos três clubes do bairro e nas mesmas ruas onde conheceu Peter Tosh e Bunny Livingston, com quem fundou os The Wailing Wailers (mais tarde, mudariam o nome para The Wailers). O futebolista que havia em Bob, nos primeiros tempos, mesmo dedicando-se à bola, era algo gozado: pelo estilo calmo, sem meter o pé e suave com que jogava, chamavam-lhe Miss Marley, escreveu a 8by8, revista de futebol americana.
Desgostoso da forma como o julgavam, o ainda jovem, cujo primeiro single gravado, a solo, intitulara de “Judge Not”, endureceu o estilo de jogo até lhe corrigirem a alcunha. Passaria a Mister Marley.
Algures no final dos anos 60 - Bob Marley nasce em 1945 - conhece Allan “Skill” Cole, o melhor futebolista jamaicano da época, jogador de seleção e que chegaria a jogar nos EUA. Tão próximos se tornaram que Cole, na década seguinte, seria uma espécie de manager do músico, viajando com ele para todo o lado, finda a sua carreira no futebol, durante a qual fora representado pelo pai de John Barnes, craque do Liverpool.
Com ele e os restantes The Wailers, mais amigos, conhecidos e ocasionais visitas, Bob Marley daria muitos toques na bola e improvisaria éne pequenas partidas à porta de casa, em Hope Road. Já longe de Trenchtown e no pátio diante da moradia para onde se mudaria, com a família, na rua onde se tornou vizinho de políticos, homens de negócios e ricos jamaicanos, incluindo o primeiro-ministro. Era aí que, em parte, o futebol os reunia.

Foi também aí que, numa noite, em dezembro de 1976, atentaram contra a vida de Bob Marley. Em tempos de violência, crime e protestos políticos na Jamaica, o cantor anunciara um concerto solidário, o "Smile Jamaica Concert", apolítico e apartidário, mas ao qual tanto Michael Manly, o primeiro-ministro socialista, e Edward Seaga, o trabalhista e seu principal opositor, se tentaram unir. Ele foi alvejado com uma bala, no braço, que lá ficou, por os médicos o avisarem que uma cirurgia para a remover poderia afetar a mobilidade da mão e dos dedos.
Dois dias depois, com o braço ao peito, atuou durante hora e meia num espetáculo que era suposto durar uma canção. Em 1978, perante as mesmas ameaças e perigos de voltar a ser atacado, atuou, de novo, no One Love Peace Concert, durante o qual obrigou Manly e Seaga a darem as mãos. Por essa altura, já se mudara para Londres com a família, fixando-se no bairro de Chelsea, perto de Battersea Park. Um parque, claro.
Vivendo na Europa, estava mais perto de digressões, de concertos diante de massas e do mediatismo cultural - e do futebol. Os jornalistas foram sabendo dos seus horários peculiares e adaptados a jogos. Em 1978, as suas entrevistas tinham de ser agendadas consoante os horários das partidas do Campeonato do Mundo, conquistado pela Argentina de Mario Kempes e Daniel Passarela. Bob Marley gravava quase todos os encontros, em cassete.

Muitas vezes, justificando que era uma oportunidade para o conhecerem melhor e o verem mais descontraído, convidava jornalistas para jogarem futebol com ele. Ou, pelo menos, para assistirem. Como Julián Ruíz, um espanhol que, em 1980, jogou contra Bob Marley, em Ibiza. “A maior recordação que tenho é a sua respiração atrás de mim, no meu pescoço. O que fazia melhor? Correr e correr, como um possuído. Não falava muito, tinhas que lhe arrancar palavras à força, mas, quando falava, fazia-o como um líder político”, recordou o jornalista, à revista Líbero.
Mais tarde, no Brasil, meses antes de uma nova digressão lhe marcar uma ida ao país do Santos e do Pelé, que admirava, Bob conheceu Chico Buarque. O brasileiro convidou o jamaicano para sua casa, no Rio de Janeiro, onde deram uso à paixão pelo futebol no campo privado do músico anfitrião.
Presente estava Paulo César Cajú, que fora campeão mundial pela seleção brasileira em 1970 e, diz-se, acabou o dia a dissonar das vozes que louvavam os dotes futebolísticos da lenda do reggae: “O jogo foi curto e tudo foi rápido, Graças a Deus, porque estava a ser horrível. O Bob era muito mau. Simplesmente não conseguia jogar. De 1 a 10, dava-lhe um 1,5”.
Aconteceu em 1980, portanto, a exibição de Marley foi, por certo, severamente afetada pelo que soubera três anos antes - os médicos tinham-lhe diagnosticado um melanoma maligno, após Bob desmaiar durante um corrida, em Nova Iorque, desenvolvido pela ferida que, recorrentemente, ele foi maltratando no dedo grande do pé direito, com pontapés, toques e pisadelas. Com o futebol, que insistia, muitas vezes, em jogar descalço. Tinha cancro. E esse cancro, com os anos e a recusa em amputar o dedo, espalhara-se pelo seu corpo.
Mesmo de saúde e corpo decadente, conseguiu, no mesmo ano, dar um concerto em Itália, onde foi visto pelo maior aglomerado de pessoas na sua carreira: cerca de 120 mil espetadores. O local foi o estádio de San Siro, casa do AC Milão e do Inter de Milão. Ao primeiro de 11 filhos, David Marley, deu a alcunha de Ziggy, que muitos dizem ser o significado de “drible” num dialeto jamaicano, mesmo que o próprio o tenha atribuído ao álbum de David Bowie, “Ziggy Stardust”.
Gostando quase tanto de futebol como adorava música, Bob Marley faleceu em Miami, derrotado pelo cancro, a 11 de maio de 1981, aos 36 anos. Aí se começou a erguer a lenda de um músico cujo legado se agigantou, ainda mais, com a sua morte prematura. Bob Marley foi o veículo de um estilo embrionado na pobreza do Terceiro Mundo, de guitarradas pausadas e linhas de baixo pesadas, que o popularizou dali para fora. Ele foi música, mas também foi, e houve sempre, futebol:
“O futebol tem uma aptidão própria, um mundo inteiro, um universo próprio. Adoro-o porque tens de ser habilidoso para o jogar. O futebol é liberdade. Quando o jogo, o mundo acorda à minha volta.”"

O assédio não prescreve... e, aparentemente, a ignorância também não


"Nas últimas semanas as redes sociais foram inundadas com um conjunto de comentários que em nada abonam acerca da literacia emocional e, muito francamente, diferenciação cognitiva dos portugueses que por lá se “expressam” – desta feita, a propósito de um testemunho da atriz Sofia Arruda no programa “Alta Definição” da SIC.
Em boa verdade, intelectualmente falando, este programa acabou por prestar um “serviço à comunidade”, ao dar voz ao testemunho de uma situação de potencial assédio sexual, no caso, no contexto da performance artística.
À Sofia, seguiu-se a Catarina Furtado (igualmente “agraciada” com um conjunto de comentários de natureza muito “erudita”...) e um conjunto de outras atrizes, sendo que, a última “bomba”, surgiu pelo testemunho de Leonor Poeiras acerca do seu psicanalista.
Já se esperaria um agigantar de comentários idiotas (tal como se tem vindo a confirmar) por parte de quem, em muitas fases da sua vida, foi optando por “emburrecer” em diferentes “estágios” em contextos de ódio e escárnio sediados das redes sociais, em vez de tornar o seu raciocínio mais claro e diferenciado através da educação (entenda-se: educação cognitiva e emocional, daquela que, felizmente, muitas famílias ainda teimam em passar) e, por essa razão, entendemos poder serem pertinentes alguns esclarecimentos:

O Que Nos Diz a Ciência?
O trauma é, por definição, insuportável e intolerável (Bessel van der Kolk, 2014). Quanto mais insuportável é a dor física ou psicológica causada pelo trauma, maior é a probabilidade de dissociar. STOP.
Dissociar? Vamos lá explicar melhor para ver se tornamos mais claro o que, de facto, uma vítima de trauma (no enquadramento deste texto, assédio) pode vivenciar...
Na fase aguda, ou seja, enquanto está a ocorrer o trauma, não sentir a dor (física ou psicológica) permite funcionar de forma automática, como por exemplo quando uma pessoa não sente a dor de uma ferida muito grande até que chegue o socorro. Quando temos um grande trauma temos uma grande dissociação – ou seja, defensivamente, para “sobreviver” à perceção de ameaça/ameaça real, distanciamo-nos do que está a acontecer-nos de forma automática – ou seja, involuntária e inconscientemente.
Esta dissociação funciona como se a pessoa não pudesse sentir as emoções no corpo, não sentir o corpo significa não sentir sofrimento - as vítimas ficam tão transtornadas que quando o trauma lhes surge no pensamento o seu cérebro tenta a todo o custo apagar essa experiência na sua cabeça, fazendo de conta que nada se passou.
“Fazendo de conta que nada se passou” – Hummmm.... será que começa a ficar um pouco mais claro, para os “especialistas” que habitam nas redes sociais, que um dos principais mecanismos de defesa do ser humano é tentar esquecer (o que faz muitas vezes com muito êxito) e, por essa mesma razão, frequentemente só recorda a situação em causa anos mais tarde? (ops... pois é, às vezes, já num prazo “legalmente” prescrito, mas com uma violência psicológica e dor impossíveis de prescrever?!)
Então e como é que o Assédio se pode transformar em Trauma?
Em boa verdade, e pelo atrás exposto, a capacidade de reconhecer e atribuir um significado a uma situação de relação laboral ou social como abusiva é muito difícil. Estas relações revestem-se de um jogo de poder por parte do abusador e de necessidade por parte da vítima.
A vergonha e medo da exposição pública (que, como pudemos constatar nos últimos dias, não é fruto de uma “imaginação fantasiosa”, mas da crua realidade do julgamento público em que muitas vítimas se veem expostas – resultando, muitas vezes, num segundo trauma) pode levar à destruição do “eu” em vários níveis (íntimo, familiar, social, laboral), conduzindo a uma “morte psicológica”, à destruição de uma parte de si, a “parte boa”. Neste contexto a dissociação surge como mecanismo de defesa para suportar o insuportável (Xella & Belo, 2015).
Mesmo quando são pessoas de sucesso profissional nunca se sentem bem consigo próprias e estão sempre em busca do caminho para sair do trauma, mesmo que isso não seja feito de forma consciente. O próprio sucesso e autoexigência estão muitas vezes relacionados com esta busca (sendo que, neste contexto, os “experts” de internet já só querem saber do tamanho do carro, da casa, ou da conta bancária, uma vez que não fazem a mínima ideia da realidade de quem quer que seja – muito frequentemente, nem da própria).
Muito tempo depois de uma experiência traumática terminar (o assédio é uma experiência particularmente intensa e muitas vezes de longa duração) ela pode ser reativada a partir do menor sinal de perigo ou de contacto com situações que lembrem o trauma. Isto pode acontecer em qualquer altura e mesmo depois de muitos anos. Por exemplo quando é necessário proteger um filho ou quando alguém vem falar de uma experiência semelhante.
Muito frequentemente as vítimas apenas ressignificam este tipo de comportamentos como “abuso” nessa altura (entenda-se, anos mais tarde, quando acedem novamente à informação podem conseguir já identificá-la como uma situação onde o abuso ocorreu).
No contexto do assédio, muitas vezes a vítima conta quando se sente apoiada, compreendida, quando precisa de defender alguém, quando já não tem nada a perder ou quando se sente resiliente o suficiente para poder aguentar o que imagina que pode acontecer após a revelação.
Ou seja, quando se sentem robustas o suficiente para testemunhar, antecipando a chorrilhada de disparates que irão ter que ouvir e processar internamente.
O que fazer? Como se podem então comportar as pessoas para, na realidade, não evidenciarem esta espécie de analfabetismo (cognitivo e emocional) digno das praças públicas da idade média?
Vamos tentar deixar algumas orientações:
1. Mais do que 30 minutos diários de redes sociais (de forma repetida), pode evidenciar alguma necessidade de “anestesia” ou dificuldade em lidar com o aborrecimento – compre uma bicicleta ou vá andar, a sua saúde mental e física agradecem (tal como a despesa pública na área da saúde, quando daqui a uns anos começar a necessitar de mais exames e cuidados médicos, fruto de uma vida sedentária... nas redes sociais);
2. Se sentir um impulso incontrolável de comentar a vida dos outros de forma depreciativa, talvez esteja com alguma dificuldade em controlar determinado tipo de impulsos como a raiva – se não se sentir curioso(a) o suficiente para ir tentar perceber porquê e resolver em si próprio esta raiva, a primeira sugestão também se aplica – faça exercício, mas de forma vigorosa;
3. Por último, e num exercício claro de proteção da sua própria imagem, antes de vociferar comentários ignorantes acerca de que tema for, procure educar-se acerca do mesmo – ou seja, menos horas a espreitar a vida dos outros e mais horas a preencher a sua, o que será fantástico!

Nota Final
O Assédio não tem idade, género, raça ou religião – É, antes, um tema de Direitos Humanos que deve, por isso, ser levado a termo com uma enorme seriedade, criando canais seguros de queixa e de investigação para que a verdade possa ser apurada, no sentido de se imputar a responsabilidade a quem de direito no tempo certo.
Calar as potenciais vítimas não é a solução que se pretende numa Sociedade que se quer ver respeitada, mas destacar/valorizar e agradecer a quem contra tudo e contra todos avança como seu testemunho já o é!
O assédio existe em toda e qualquer organização (académica, desportiva, empresarial, religiosa,...) e é, por isto mesmo, da responsabilidade de todos nós dar-lhe visibilidade e solução."