sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Demonstração de crença


"O jogo realizado ontem, frente ao Rangers a contar para a terceira jornada da fase de grupos da Liga Europa, no qual Jorge Jesus promoveu várias alterações tendo em conta o calendário bastante exigente neste período da época, começou da melhor maneira, com a nossa equipa a entrar pressionante e a ser recompensada com uma vantagem prematura, passado um minuto do apito inicial.
Seguiu-se um período de ascendência sobre o adversário até aos 19 minutos, quando a nossa equipa se viu reduzida a dez jogadores, o que motivou uma inversão da tendência de domínio verificada até então, agudizada pelos dois golos sofridos em pouco mais de um minuto a meio da primeira parte e ainda a ampliação da vantagem do Rangers, para 1-3, no início da segunda metade.
Não obstante o contexto muito adverso, a nossa equipa nunca baixou os braços e continuou a procurar a oportunidade de voltar a discutir o resultado, conseguindo-o já no último quarto de hora, através de Rafa, assistido por Darwin. Já à passagem dos 90 minutos, Darwin foi servido por Waldschmidt e empatou a partida, selando o resultado em 3-3.
Jorge Jesus reconheceu a qualidade do adversário e as dificuldades sentidas pela equipa ao longo do jogo, especialmente após a expulsão de Otamendi, e mostrou-se satisfeito pela "crença e a alma dos jogadores", que nunca desistiram.
O nosso treinador destacou Rafa como um exemplo da excelente atitude da equipa e revelou que, após a partida, lhe disse "que é com estes jogadores, com esta crença e alma que o Benfica lutará por títulos".
Rafa chegou aos 40 golos de águia ao peito em competições oficiais (superou Saviola e Vata e é agora o 57.º no ranking dos melhores marcadores do Benfica em jogos oficiais) e Darwin somou o seu quinto golo desde que chegou à Luz. Com o empate conseguido no ocaso da partida, o Benfica continua na liderança do grupo em igualdade pontual com o Rangers e manteve a invencibilidade nos jogos disputados em casa desde que a competição é denominada Liga Europa (2009/10). São já 25 jogos consecutivos sem perder (incluindo uma pré-eliminatória).
O próximo desafio será já no domingo, dia 8, às 20 horas. O Benfica receberá o Braga, na Luz, no âmbito da sétima jornada da Liga NOS. A nossa equipa tentará regressar aos triunfos, sabendo que terá um bom adversário pela frente, o atual terceiro classificado do Campeonato. Confiamos muito na capacidade da nossa equipa para somar mais três pontos no domingo.
De muitos, um!"

Monstro & Monstro


"A tarde noite da Liga Europa ficou marcada pelo jogo de dois monstros. Não têm a genialidade técnica ou criatividade dos grandes predestinados, mas a forma como utilizam a sua agilidade e habilidade motora, em conjunto com capacidades físicas absolutamente tremendas muda por completo os jogos.
Darwin Nunez resgatou um ponto para o Benfica, e o velho conhecido Renato Sanches voltou a dar um festival de futebol – A forma como ilude e dribla opositores (ninguém roda tão rápido sobre si mesmo como o “bulo”) para de seguida acelerar o jogo dificilmente encontra paralelo qualquer outro médio no futebol mundial. Desta feita em pleno Giuseppe Meazza onde o Lille bateu o AC Milan por 3 a 0, depois de escassos dias antes ter rubricado mais uma exibição de excelência no jogo com o semi finalista da Champions Lyon.
Darwin e Renato Sanches, da Liga Europa para muito brevemente o topo do futebol mundial. Para o português será um regresso, agora que está muito melhor preparado."

SL Benfica 3-3 Rangers FC: Noite de dilúvio salva por San (Darwin) Núñez


"A Crónica: Exibição Limitada e Com Erros, Mas Com Empate no Suspiro
Depois de uma derrota humilhante no Porto, o SL Benfica precisava de um estímulo para começar bem na Europa e assim foi.
Aos dois minutos, a pressão alta das águias foi eficaz e Rafa cruzou para a área, onde Goldson acabou por fazer autogolo como se de um ponta de lança dos encarnados se tratasse. Assim, os encarnados nem deram tempo para os Power Rangers se prepararem para a luta. Aos 20 minutos, Otamendi foi imprudente na sua ação e derrubou Kent, acabando o argentino expulso. Fica muitas dúvidas quanto à posição do jogador do Rangers no início da jogada. Pizzi saiu para a entrada de Jardel, mudando toda a estratégia de jogo.
Os destinos do jogo foram de mal a pior para os encarnados e se para as águias o golo surgiu de um autogolo, para o Rangers FC foi a mesma coisa. Diogo Gonçalves a falhar totalmente o caminho de onde se deve aliviar e a bola foi parar à baliza. Nem muitos minutos depois, Kamara fez tudo com calma e dava a volta ao resultado muito facilmente (2-1). Aqui, os Power Rangers já estavam mais do que alinhados quando o “vermelho” foi expulso da equipa… e quem mandava era o azul.
Qualquer benfiquista ficou pasmado com as substituições ao intervalo dos encarnados e surgiram logo grande efeito, mas para o lado negativo. Tavernier entrou como quis e Morelos, que já tinha marcado a SC Braga e FC Porto, voltou a fazer o gosto ao pé a uma equipa portuguesa. Se o jogo estava mau para o SL Benfica, agora estava péssimo.
Depois de domínio atrás de domínio escocês, Darwin, que ao contrário de Seferovic não desiste de uma bola, foi teimoso e construiu um lance que permitiu a Rafa encostar para reduzir para o 2-3. Mas o melhor estava guardado para o fim, quando Waldschmidt assistiu Darwin Núñez para o terceiro da noite para os encarnados, salvando, pelo menos, da derrota.
Após a expulsão de Otamendi, o SL Benfica praticou um jogo pobre e não fosse o tango uruguaio a ouvir-se de fundo para limpar tudo o que se passou nos 90 minutos a equipa tinha saído com a derrota. Os encarnados seguem com os mesmos sete pontos do que o Rangers FC e, na próxima jornada, vai ter uma deslocação difícil à Escócia para lutar pela liderança isolada do Grupo D.

A Figura
Darwin NúñezA sua teimosia, rapidez e inteligência valeram e muito para que os encarnados saíssem deste jogo com, pelo menos, um pontinho muito precioso. Depois de ter tido um jogo para esquecer no Bessa, saiu do banco para fazer e a diferença. Quando dificuldades havia para que a bola chegasse perto do uruguaio, Darwin conseguiu aproveitar as poucas oportunidades que tinha e assistiu e marcou o golo do “suspiro”.

O Fora de Jogo
Otamendi Se a sua exibição no Bessa já tinha sido má e com várias críticas, então durante este jogo volta a estar na ribalta pelas piores razões. Apesar de haver (ou não) fora de jogo, a verdade é que faz uma falta desnecessária quando a bola parecia mais do que controlada por Vlachodimos. Se Jorge Jesus acreditaria que o argentino viria para dar experiência à defesa encarnada, só tem dado motivos pelo contrário.

Análise Táctica – SL Benfica
Depois da derrota no Bessa, Jorge Jesus procurou renovar a equipa para que não se cometesse os mesmos erros desse jogo. Diogo Gonçalves ocupou o lugar de Gilberto, Weigl entrou no onze para o lugar de Gabriel e na frente havia duas caras novas: Seferovic e Rafa. Num habitual 4-4-2, o SL Benfica voltava a procurar muito a velocidade de Rafa e Everton e o posicionamento mais central do avançado suíço na grande área. 
Com Seferovic, Pizzi e Rafa havia essa primeira pressão alta e ajuda no meio campo de Taarabt não deixavam que os escoceses conseguissem construir ou mesmo sair a jogar de forma calma e até mesmo de forma rápida com o jogo direto. A verdade é que com menos um, Jardel entrou para tapar o buraco, mas a defesa começou a mostrar as duas debilidades e, principalmente, a nível de laterais de Diogo Gonçalves e de Nuno Tavares.
Ao intervalo, as substituições de Grimaldo e Gilberto de pouco ou nada valeram para mudar o rumo do jogo e depois as entradas de Darwin e Waldschmidt também foram só para completar as cinco que os encarnados podiam fazer. A partir do momento da expulsão, os encarnados apostaram num 4-4-1 (e por vezes via-se um 5-3-1) e havia a clara intenção de jogar com bolas longas, que nunca resultavam. A teimosia de Darwin e a procura pela profundidade salvou o SL Benfica de mais uma derrota.

11 Inicial e Pontuações
Vlachodimos (5)
Diogo Gonçalves (4)
Otamendi (3)
Vertonghen (5)
Nuno Tavares (4)
Weigl (6)
Pizzi (5)
Taarabt (5)
Everton (4)
Rafa (7)
Seferovic (4)
Subs Utilizados
Jardel (5)
Grimaldo (5)
Gilberto (4)
Darwin Núñez (8)
Waldschmidt (6)

Análise Táctica – Rangers FC
Steven Gerrard apostou num 4-3-3 como sistema tático para a equipa escocesa e aqui notava-se muito a exatidão da linha. Em relação ao último jogo da liga escocesa, o Rangers FC apenas deixou de fora Itten e Arfield e com as apostas de Kamara e Steven Davies.
Os escoceses mostravam muita dificuldade em ligar o seu jogo entre a defesa e os restantes jogadores, apostando mais por um jogo direto. A pressão alta dos encarnados eram a principal culpa para a ineficácia da construção para este Rangers FC. Havia uma clara intenção de trocar a bola de flancos de forma rápida e com a aposta sempre na profundidade tanto de Kamara e Kent.
Com a expulsão de Otamendi, o Rangers FC fizeram o que quiserem e a superioridade numérica permitiu que as ideias que não estavam a surgir pudessem fluir da melhor forma. A verdade é que foram eficazes tanto defensivamente como ofensivamente, aproveitando a velocidade do seu trio atacante. O facto de não ter mexido quase nada (apenas a entrada de Arfield) deixou os escoceses muito vulneráveis a erros e confirmação disso são os dois golos dos encarnados.

11 Inicial e Pontuações
Allan McGregor (5)
Tavernier (6)
Goldson (4)
Helander (5)
Barisic (5)
Jack (5)
Steven Davies (6)
Aribo (5)
Kamara (6)
Kent (6)
Morelos (6)
Subs Utilizados
Scott Arfield (5)"

O Costume – Erros, Desequilíbrios habituais e… Luca e Darwin


"O começo do Benfica foi bastante bom. A pressão da linha da frente tirou por completo o conforto com bola aos escoceses que foram perdendo a posse – Ou porque forçavam a sair e não conseguiam – Assim marcou o Benfica – Ou porque esticavam na frente e perdendo a bola nunca foi o Rangers capaz de sair da teia encarnada.
Para lá do bom trabalho defensivo das linhas mais altas, foi aparecendo a ligação Diogo Gonçalves – Rafa Silva no corredor direito que agitou o jogo ofensivo, e juntos ainda criaram um potencial lance de 2 a 0 que Seferovic interceptou – A bola seguia para um Everton em óptima posição.

4x4x2 em Organização Defensiva

Mas, não é novidade que a última linha do Benfica tem revelado dificuldades que comprometem decisivamente os jogos, mesmo aqueles como o que o desta noite estava prometedor. Vertonghen uma vez mais voltou a desiludir – Na Grécia um erro crasso custou a eliminatória, e hoje é imperdoável o lance em que Otamendi se vê expulso. Se para se jogar alto a velocidade importa, muito mais importará o bom posicionamento e a forma como se orienta o corpo para o jogo.
Com dez o Benfica não teve sequer tempo para procurar organizar-se e fechar a sua baliza, antes de ver a equipa de Gerrard tomar as rédeas do marcador. Nuno Tavares completamente adormecido deixa adversário directo completamente sozinho nas suas costas – Sobe, largando-o! – e o lance termina com um erro técnico de Diogo Gonçalves – que até então estava bem – que também também muito a ver como não abriu o corpo para poder ver tudo ao seu redor. Se assim fosse, saberia que poderia deixar rolar a bola.
O segundo golo não tardou e chegou em forma do que vem já sendo um hábito. Taarabt não resolve na Transição Defensiva – É batido por duas vezes – Em ambas no mínimo poderia ter feito falta, já que roubar bolas já se sabe que dificilmente consegue – e o lance prossegue até ao virar do resultado.


Os desequilibrios do plantel encarnado ficaram uma vez mais bem expostos – Não há um médio completo – Uns atacam bem mas defendem mal, outros defendem bem mas atacam mal; os laterais estão em formação, os centrais desiludem – E não podem sequer defender-se na falta de protecção da equipa porque esta estava à vista até aos erros da última linha tudo determinarem.
Bem exposto ficou também a qualidade de Darwin e Luca. Dois jogadores de categoria tremenda. que fizeram equilibrar o resultado em mais um jogo para esquecer do Benfica. Juntos disfarçaram e disfarçarão muitas lacunas da equipa encarnada.
O ponta de lança Uruguaio é um verdadeiro portento e ninguém tem tanta categoria para fazer uma equipa jogar como Luca."

Diz que vais estar que nem uma bala, Luís Miguel, e eu já estou pulgas por uma noite daquelas. Nunca mais é domingo


"Vlachodimos
quem entre ao pé coxinho, há quem reze ao seu deus ou até quem beije ambos os braços quando marca. Vlachodimos também já tem o seu ritual: ir ao fundo das redes buscar a bola pelo menos três vezes por jogo. Não é agradável de ver, mas temos que respeitar estas manias de cada um.

Diogo Gonçalves
Aquele lance não engana. Temos aqui um extremo com faro de golo. Tirando isso manteve os níveis de esforço acima da média. Há esperança para ele, mas temos um longo caminho pela frente e pouco tempo a perder. 

Vertonghen
Começou ao lado de Otamendi em modo dupla-de-centrais-com-grande-experiência-internacional e terminou ao lado de Jardel a protagonizar uma campanha publicitária para as residências assistidas do Hospital da Luz. Deus nos ajude.

Otamendi
O antigo dono desta posição também cometia erros, mas tinha o cuidado de não os concentrar em meia dúzia de jogos. Milhares de benfiquistas questionaram o valor do Ruben Dias e hoje sentem que deram uma tampa à melhor miúda que alguma vez estariam em condições de sacar. Entretanto saiu-lhes a sorte grande no Tinder do Jorge Mendes: um argentino trintão que não parece acreditar no amor e recusou um convite para jantar no chimarrão porque é vegetarino. Se continua assim arrisca-se a receber o Dragão de Ouro.

Nuno Tavares
Por detrás da estampa física parece esconder-se um Adrian Mole do Seixal, pleno de complexidades e angústias existenciais. Já vimos o suficiente para saber que é impossível não haver ali um belíssimo futebolista, mas por enquanto prefiro o Grimaldo com um andarilho.

Weigl
Entre os passes acertados, os kms percorridos, a vontade de agarrar um lugar e o sangue que lhe caiu do nariz, eu acho que o Weigl fez por merecer o lugar de central já contra o Braga. É mais ou menos isto, não é?

Taarabt
É admirável o modo como Taarabt rejeita facilitismos ou atalhos na construção ofensiva, tentando sempre manter-se fiel às indicações do mister. Enquanto alguns se passeiam em campo como se tivesse vontade própria, Taarabt já percebeu que, entre Jorge Jesus e a liberdade condicional que conquistou com Bruno Lage, não há margem para brincadeiras. Só não lhe peçam para defender sozinho. Precisamos de mais cadastrados assim.

Rafa
Jorge Jesus falou em dois ou três jogadores que acreditaram sempre e eu só posso concluir que se referia exclusivamente ao Rafa. Jogou por ele e pelos restantes. É continuar assim.

Pizzi
Jorge Jesus já garantiu que ele vai estar como uma bala. Não sei se era ao Pizzi que ele se referia, mas vou assumir que sim. Vem aí uma daquelas noites de gala que nos fazem esquecer todos os momentos difíceis pelos quais temos passado, sim, nós, os que temos de ver algumas destas exibições do Pizzi. Já estou em pulgas, Luís Miguel. Nunca mais é domingo!

Everton
A sorte do Grémio é que já o pagámos. Acho eu.

Seferovic
Às vezes sinto que vivo demasiado tudo isto. Faz-me mal. Jardel Ao contrário de Otamendi, mostrou que era possível segurar as pontas da defesa sem ser expulso.

Gilberto
Continuo à espera que o André Almeida entre subitamente no relvado, atire as canadianas para o chão e diga “Estava a Brincar, Caíram Que Nem Uns Patinhos!”

Grimaldo
Quando há pouco disse que preferia o Grimaldo com um andarilho ao Nuno Tavares, não foi por acreditar que uma versão coxa do Grimaldo nos resolve todos os problemas. Mas é um facto que dá alguma segurança quando vemos alguém cometer os erros que já esperávamos ver, e não alguém que não conhecemos bem a cometer novos erros.

Waldschmidt
Quando já todos davam a Pensilvânia como perdida, Waldschmidt apareceu com pezinhos de lã e reduziu para 2,5 - 3, permitindo a Darwin fazer o resto. Têm dúvidas? Contem os golos!

Darwin
As coisas que este menino é capaz de fazer quando não é apanhado em fora de jogo. Uma besta dum jogador. Foi lindo vê-lo correr na direcção da bancada para celebrar como se esta estivesse cheia de adeptos. E estava, Darwin. Estávamos todos lá a dizer “Vamos C*****ooooo”."

Cadomblé do Vata (Rangers...)


"1. Darwin entra com 1-3 no marcador e faz uma assistência e marca um golo... não quero ser exagerado, mas isto era o tipo de coisa que acontecia com o Cardozo.
2. Os escoceses marcaram um auto golo e nós devolvemos a gentileza... este é que é o tipo de fair play que JJ tem de erradicar do SL Benfica.
3. Não sou apologista do jogo violento nem nada que se pareça, mas... 3 faltas cometidas em 93 minutos de um jogo em que estivemos com menos 1 jogador desde os 19 minutos, é desleixo completo.
4. Ainda me custa acreditar que JJ pediu a contratação do Gilberto... parece um daqueles jogadores que o LFV contratava a um Vitória de Setúbal qualquer, para emprestar a um Desp. Aves da vida
5. Rafa está há 4 anos no SLB, mas nunca defendeu tanto com nos 10 jogos desta temporada... o Vlachodimos até já perguntou se aquele rapaz é que é o tal Lucas Veríssimo que tanto se falou."

A resposta política à crise desportiva


"A crise pandémica dificilmente pouparia algum sector. Era impensável que o desporto não sofresse as consequências decorrentes da paragem a que foi sujeito e da retoma parcial em condições precárias.
Podemos sempre discutir, e devemo-lo fazer, se a resposta sanitária à situação pandémica é mais ou menos adequada. Podemos discutir a dualidade de critérios de algumas autoridades sanitárias locais, por vezes divergentes, contraditórias e incoerentes face às orientações de saúde pública para a realização de competições desportivas. Podemos ainda compreender a preocupação de muitas autoridades municipais em serem mais restritivas do que a das autoridades de saúde nacionais. Devemos, finalmente, reconhecer o esforço daqueles que no Governo, procuram fazer com que o desporto não seja ignorado. 
Mas se a discussão, em torno das condições em que o desporto pode ou não ser retomado, é útil, em última instância prevalece a decisão, que é política, de homologar os entendimentos que as autoridades de saúde pública têm sobre o problema. E é uma decisão que, mesmo quando dela discordamos, procura acima de tudo garantir a segurança de todos.
Questão de natureza completamente distinta é a resposta política face à crise desportiva criada pela pandemia. E o que se constata é a ausência, no domínio das políticas públicas, de qualquer resposta à excepcionalidade da situação. As medidas adoptadas, de cariz marcadamente administrativo, foram positivas, mas são manifestamente insuficientes.
Ao contrário de outros países europeus, e de outros sectores nacionais igualmente expostos ao impacto da crise, por força do cancelamento das suas actividades, constata-se que não foram até hoje implementadas ou acolhidas quaisquer medidas com impacto directo no Desporto. A Proposta de Lei do Orçamento de Estado para 2021 é o exemplo mais recente dessa desconsideração. Soma-se, à ausência de uma política pública, a irrelevância do Desporto na acção e nas prioridades dos seus protagonistas no espaço político português. Estas dimensões não estão naturalmente desligadas.
Chegamos a um ponto em que a questão de fundo com que o desporto se confronta já não é apenas sanitária, passou a ser política. Porque a situação sanitária é iniludível e inultrapassável em função da evolução pandémica. A resposta política, essa é de outra natureza e depende apenas da vontade do Governo e dos demais atores políticos, e da percepção que têm da importância do desporto para o País. O que se constata é que Portugal tem ignorado os apelos no âmbito da União Europeia, do Conselho Europeu, da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, que exortam os Governos dos Estados-membros a dedicarem uma parte dos apoios comunitários à área do Desporto, propondo a integração do sector no pacote de medidas extraordinárias e incentivos para mitigar o impacto da pandemia. E, até ao momento tem também abandonado as muitas propostas que o sector desportivo apresentou.
Em política, muitas das “decisões inevitáveis” são opções, são escolhas, que depois surgem como se não houvessem alternativas. Num ambiente saturado pela gestão da circunstância é urgente definir um rumo e um sentido às políticas públicas para o desporto que introduzam um factor de esperança no combate à situação que vivemos. A situação é difícil. Mas renunciando o Governo à adopção de medidas e de soluções políticas que ajudem a mitigar os efeitos da crise, no futuro será bem pior. 
Laurentino Dias, ex-secretário de Estado do Desporto, em recente debate público, afirmava que os primeiro–ministros só ligam ao Desporto quando algum resultado de nível internacional lhes dá visibilidade pública através da colagem ao sucesso desportivo. No resto do tempo de governação o desporto é abandonado e deixado ao cuidado de outros. Nunca um ex-governante foi tão claro e ao mesmo tempo tão severo na descrição de como os governos em Portugal têm tratado o Desporto.
A fragilidade no campo político, - no pensamento, na doutrina e na acção - numa clara omissão governamental perante a gravidade dos tempos actuais, é o exemplo acabado daquelas palavras traduzidas numa realidade que desafia os limites da sobrevivência e o futuro desportivo do país aos seus mais diversos níveis."

O desporto: um mundo fantasiado face às realidades


"A história do desporto está marcada por uma sucessão de eventos, de recordes e de performances que impregnam as sociedades modernas. As evoluções técnicas, tecnológicas, regulamentares, mediáticas ou económicas atestam a permeabilidade do universo desportivo face a um mundo que não pára de o moldar.
O caminho socio-técnico-político está embebido por uma conceção secular e imutável de valores próprios ao desporto. Enquanto modelo social, a legitimidade do desporto assenta, essencialmente, na aceitação, sem reservas, de um certo número de princípios, nomeadamente o da justiça. Aos olhos de grande número de cidadãos, o desporto constitui o último reduto de uma forma de justiça que dá sentido à meritocracia, amplificando a função agonística. Por que ele se insere na continuidade política e económica das sociedades industrializadas e capitalistas, o desporto funda-se sobre o reconhecimento dos méritos individuais para explicar as diferenças sociais entre os indivíduos. O modelo desportivo repousa, por isso, como o capitalismo, sobre a noção de igualdade e sobre uma justiça socialmente contruída pelos atores sociais. Mas, vários estudos sociológicos, nomeadamente os de Pierre Bourdieu, mostram que o sistema capitalista se alicerça justamente sobre as desigualdades sociais.
Nestas condições, a experiência quotidiana que fazemos da sociedade na qual vivemos ilustra em permanência a irrealidade da justiça social como pressuposto do funcionamento do capitalismo. Ao mesmo tempo, o sistema judiciário, o garante do ideal democrático, é constantemente colocado em causa. Há várias anos que o funcionamento da justiça testemunha a sua ineficácia, nomeadamente face ao poder político. O princípio da separação dos poderes apresenta algumas entorses, ao qual o público assiste sem reação.
O modelo desportivo continua a conservar uma inteligibilidade comum e tangível, preservando o equilíbrio do jogo. É, por isso, que os presidentes das federações desportivas (internacionais e nacionais), os responsáveis políticos e os atletas lembram-nos dos valores ancestrais do desporto: igualdade, justiça, fair-play, respeito, entre outros. Estas conceções são erigidas como princípios absolutos, contribuindo até para ocultar muitas das reais condições da prática desportiva competitiva. Uma observação atenta da atualidade desportiva ensina-nos sobre o estado do desporto e sobre a sua evolução."