"Depois de uma revolução na abordagem ao mercado de transferências, o SL Benfica volta à aposta na qualidade diferenciada fora de portas, relegando a produtividade do Seixal para a simples exportação, depois de anos de aposta séria nos craques que a cada ano se destacam nos escalões mais jovens.
A chegada de Jorge Jesus foi a decisão final nesse sentido, conhecendo-se de antemão a aversão do técnico à qualidade local e a preferência pelo mercado externo como base de reforço da equipa. Foi, nestes pressupostos, o mercado mais mediático da última década na Luz, com a entrada de vários titulares nas cinco principais ligas europeias, especial incidência na Premier League – os membros da mais provável dupla titular no eixo da defesa eram, até à última época, titulares importantes em equipas de ataque ao título em Inglaterra.
Verthongen e Otamendi são os rostos mais vincados desse volte-face benfiquista na construção de plantéis, tendência que se iniciou na contratação de Julian Weigl em Janeiro último e que marca um regresso da aposta encarnada em grandes nomes – tal e qual há 12 anos, quando a chegada de Pablo Aimar e José António Reyes fizeram explodir os cabeçalhos da imprensa portuguesa e internacional. Nesse sentido, relembramos os melhores mercados deste século, os mais mediáticos e os que proporcionaram melhores resultados desportivos, a curto e longo prazo.
1.
2014-15 – Houve Samaris, Jonas, Júlio César, Talisca e Eliseu: cinco titulares no fabuloso título de 2015. Os três primeiros assinaram em cima do fecho, depois de exigências de Jorge Jesus quanto à qualidade de um plantel que tinha sido esquartejado depois de todos os sucessos do ano anterior.
Faltava banco à equipa, as restantes contratações foram cartas fora do baralho (Benito, César, Bebé, Derley, Djavan, Mukhtar, Jonathan Rodríguez, Candeias e Cristante, apesar da qualidade demonstrada anos depois em Itália), mas apenas é passível de crítica a demora no reforço cirúrgico do plantel, já que a qualidade evidenciada pelas chegadas tardias demonstraram competência na identificação das deficiências.
2.
2011-12 – Chegou Axel Witsel para corrigir desequilíbrios evidenciados a meio-campo na Liga dos Campeões do ano anterior, onde Javi e Aimar mendigaram auxílio contra miolos mais recheados e mais físicos.
Só o golo de Lacazette nos minutos finais da última jornada da fase de grupos, no confronto do Lyon frente ao Hapoel, salvou aos encarnados um lugar na Liga Europa, mas o aviso estava dado: o 4-4-2 dos primeiros tempos de Jesus em contexto europeu era insuficiente e o Benfica acertou em cheio na contratação de Axel Witsel ao Standard Liége, por soma a rondar os oito milhões de euros. Com ele ao lado do trinco espanhol e a apoiar o playmaker argentino, o Benfica cumpriu como suposto na prova milionária – três vitórias e três empates na fase de grupos e caminhada até aos quartos-de-final, onde seria eliminado pelo futuro campeão europeu Chelsea.
Outras movimentações acertadas foram o recrutamento de Nolito (FC Barcelona B), Bruno César (Corinthians), Artur Moraes (SC Braga), Matic (Chelsea, negócio de David Luiz), Ezequiel Garay (Real Madrid CF), Enzo Peréz (Estudiantes La Plata), Melgarejo (Independiente do Paraguai), André Almeida (Belenenses) ou Emerson (Lille), ainda que o brasileiro tenha suscitado dúvidas ao longo da temporada acerca da sua competência enquanto lateral-esquerdo: a sua melhor exibição foi como… central, no jogo em Stanford Bridge frente ao Chelsea FC, onde jogou lado-a-lado com Javi García – as melhores soluções quando uma onda de lesões e castigos inundou o eixo da defesa.
3.
2007-08 – O quarto lugar no final desse campeonato não revela a competência benfiquista nesse mercado, que atribulado foi devido à venda da estrela da companhia, Simão, e a incerteza quanto ao futuro do treinador, Fernando Santos, que acabaria por sair ao fim de uma jornada. A maioria das apostas desse Verão de 2007 foram essenciais nos anos seguintes, com muita qualidade recrutada na América do Sul – base dos campeões de 2010.
Óscar Cardozo (Newell’s Old Boys), Dí Maria (Racing), Maxi Pereira (Defensor), Fábio Coentrão (Rio Ave FC) e Cebola Rodríguez (empréstimo do PSG) revelaram-se apostas acertadas a curto e longo prazo, dependendo dos casos; Hans Jorg Butt (vindo do Bayer Leverkusen, com quem marcou presença na final da Liga dos Campeões de 2002), incompreensivelmente, nunca conseguiu agarrar a titularidade e sai no Verão seguinte para o… Bayern de Munique, para voltar à final da principal prova de clubes dois anos depois, sob o comando de Louis Van Gaal; Freddy Adu chegou como a coqueluche do futebol americano e mundia,l mas perdeu-se nas exigências competitivas do futebol europeu; Edcarlos, Sepsi, Andrés Diaz, Marc Zoro, Halliche, Stretenovic e Luís Filipe não apagam o que de bom se fez.
4.
2004-05 – Relega 2008-09 para fora da lista por uma única aquisição, importantíssima no contexto daquela temporada: Nuno Assis foi uma das mais importantes contratações benfiquistas da era recente, pela importância na manobra de uma equipa orfã dum organizador na primeira metade da temporada em que se terminou a espera de 11 longos anos.
Trapattoni desesperava por um complemento a Simão no último terço e o ‘10’ do Vitória SC veio suprimir várias deficiências daquela equipa que até aí confiava no verdinho Manuel Fernandes para assegurar toda a construção do futebol ofensivo encarnado. Com a entrada do organizador português, a equipa equilibrou-se, o treinador italiano encontrou o seu onze base e só assim se sobreviveu a uma segunda volta muito difícil, sendo alcançado o ressurgimento do orgulho encarnado.
Os outros reforços dessa temporada? Amoreirinha, Yannick Quesnel, Karadas, Everson, Paulo Almeida, Carlitos, André Luís, Delibasic… Manuel dos Santos e Quim, os únicos que se revelaram boas apostas neste leque de contratações falhadas.
5.
2001-02 – Numa equipa que ficou conhecida à época como a ‘Dream Team’, foi o primeiro plantel construído sob a supervisão de Luís Filipe Vieira – como director desportivo – e revelou-se, na maioria das apostas, como um excelente mercado de transferências nos efeitos a longo prazo, com a entrada de varíadissimos jogadores que assentaram arraiais na Luz e constituíram a espinha dorsal do rejuvenescimento encarnado na Primeira Liga, com o título de 2004-05, além da Taça de Portugal do ano anterior.
Simão Sabrosa (FC Barcelona), Mantorras (FC Alverca), Tiago (em janeiro, SC Braga), Sokota (GNK Dinamo Zagreb), Zahovic (Valencia CF), Andersson (Aalborg), Caneira (Reggina) e Jankauskas (Real Sociedad) foram nomes que se evidenciaram com a águia ao peito, com a maioria a subsistir várias temporadas na equipa principal."