terça-feira, 22 de setembro de 2020

Páginas que não tinham pontos finais


"O terramoto que destruiu Skopje no final de Julho de 1963 fez erguer pela Europa uma onda de solidariedade. A UEFA levou a Belgrado uma selecção com três portugueses - Eusébio, José Augusto e Simões - para disputar no ano seguinte, um jogo a favor das vítimas. Eusébio marcou quatro golos.

Perdido numa leitura de esplanada à beira-mar, reencontrei-me com algumas histórias de Eusébio contadas por ele próprio no livro Meu Nome É Eusébio. Nome que abalou o mundo do seu tempo, porque Eusébio é um daqueles nomes que ficam a soar para sempre nas campanhas da memória. E deparei-me com o terrível terremoto de Skopje, no dia 26 de Julho de 1963, na altura Jugoslávia, hoje Macedónia do Sul. A violência com que a terra tremeu foi devastadora, atingiu 6,9 na escala de Richter, matou mais de mil pessoas, deixou 3 mil estropiados e mais de 120 mil sem tecto para se abrigarem. Skopje não voltou a ser a mesma. As cicatrizes podem ver-se ainda hoje. O mundo juntou-se numa enorme campanha de solidariedade, e o futebol não ficou à margem dessa onda.
Em Setembro de 1964, a UEFA resolveu levar até Belgrado um enorme conjunto de estrelas, formando uma selecção que defrontaria, no Estádio Jugoslenska Narodna Armidja, o estádio militar, a equipa nacional da Jugoslávia. Os mais de 20 mil bilhetes vendidos, que esgotaram a capacidade do recinto, ofereceram mais uma possibilidade para se poder fazer chegar às vítimas do terremoto o mínimo de confortos. O espectáculo seria fervilhante. Quem assistiu à exibição de Eusébio, nesse dia, nunca mais deixaria se saber pronunciar o seu nome.

Golos e golos e golos
A grande figura do futebol jugoslavo de então era Josip Skoblar, avançado do OFK Belgrado. Natural de Privlaka, na região de Zadar, na Croácia, Skoblar nasceu no dia 12 de Março de 1941. Apenas ligeiramente mais velho do que Eusébio: um ano e dois meses. Jogava tanto sobre a direita como sobre a esquerda, tinha uma técnica notável e um remate potente e colocado, não parava quieto na frente de ataque, servia os companheiros, mas não deixava, jamais, de ser o protagonista dos espectáculos em que participava. Nessa noite, Eusébio roubou-lhe o palco.
Havia mais dois portugueses em Belgrado: José Augusto e António Simões. E os checos Svatopluk Pluskal e Josef Masapoust, do grande Dukla de Praga; o alemão Karl-Heinz Schnellinger, da Roma; o inevitável guarda-redes Lev Yashin, do Dìnamo de Moscovo; o húngaro Kálman Mészóly, do Vasas de Budapeste; e ainda mais um alemão, Uwe Seeler, do Hamburgo, que jogava lado a lado com Eusébio na frente de ataque da selecção da UEFA escolhida pelo treinador Helmut Schon. 'Grande jogo em que alcançámos uma expressiva vitória!', dizia Eusébio na primeira pessoa. 'O público ficou rendido à maravilhosa exibição que havíamos feito, e, no final, os nossos opositores felicitaram-nos, tecendo os maiores elogios. Os portugueses foram os melhores jogadores sobre o terreno e tinham obtido cinco dos sete golos da selecção ad Europa'.
Ninguém pode queixar-se quando sai de um estádio depois de ter assistido a um encontro que termina com o resultado de 7-2. Enfim, queixem-se, se quiserem, os vencidos, mas já vimos que os vencidos no relvado felicitaram efusivamente os vencedores. Nas bancadas, os aplausos abrangiam todos os jogadores de ambas as equipas. Durante hora e meia esqueceu-se o terror de 26 de Julho do ano anterior, os mortos ficaram um pouco mais distantes, o sofrimento foi, de certa forma, mitigado por todo aquele bailado de 22 homens com uma bola. Irrequieto, Eusébio apepinava a paciência dos defesas que o perseguiam como se corressem atrás de um fantasma, Belin, Jusufi e Melic. Ah! Mas não havia um ser humano que, nessa noite, pudesse controlar o azougue do rapaz da Mafalala. Seeler fez o primeiro golo; Eusébio, no minuto seguinte, o 23, apontou um penálti cometido sobre si. Kostic reduziu à meia hora, e Eusébio voltou a marcar com um pontapé fulminante à beira do intervalo.
A segunda parte iniciou-se com Eusébio e mais Eusébio: golos aos 52 e aos 55 minutos. Era Eusébio acima de todos, Eusébio livre como nos seus tempos de criança à sombra dos coqueiros ignorando os gritos de Dona Elisa Anissabani, sua mãe, para que voltasse a casa a tempo do jantar. Galic marcou o segundo golo da Jugoslávia; Uwe Seeler adiantou o score para 6-2 aos 68 minutos, e José Augusto, que fora um vendaval de sprints pela ponta direita, fechou as contas aos 87 minutos. A noite serena de Belgrado terminava perdida numa bruma que ia subindo do Danúbio até ao alto do Kalamegdan. Eusébio fora o melhor de todos, uma vez mais. Tornava-se um hábito. Alegre, recordou os seus quatro golos a todo o comprimento de uma página. Mas as suas páginas nunca tinham ponto final."

Afonso de Melo, in O Benfica

A 'cansativa' ou impressionante viagem à Galileia


"O basquetebol benfiquista deslocou-se às terras de Jesus Cristo, onde disputou 'talvez um dos melhores jogos da época'

Os tetracampeões nacionais do basquetebol português viajaram até Israel para defrontar o Hapoel Galil Elyon para a 5.ª jornada da fase de grupos da Taça da Europa, em 5 de Janeiro de 1993. Representante do Norte israelita, a equipa foi a primeira de fora de Tel Aviv a vencer o campeonato israelita de basquetebol e na Taça da Europa havia derrotado o Cholet Basket, vice-campeão francês, e o BK Budivelnik, campeão da recém-nascida liga ucraniana de basquetebol.
O homem não enfrentou apenas o adversário homocromo, mas também um pavilhão 'completamente cheio' e 'repleto de um público conhecedor da modalidade'. A equipa de Mário Palma contou com Carlos Lisboa, Mike Plowden, Jean Jaques, José Carlos Guimarães, Steve Rocha e Pedro Miguel, o mais novo, que jogou os 40 minutos 'sob pressão, depois de lhe terem partido a placa dentária'.
O Hapoel comandou o marcador nos instantes iniciais. Contudo, o Benfica já vencia aos 10 minutos. Até ao intervalo, o Benfica 'dominou completamente', muito embora quase se tenha deixado apanhar 'devido aos erros cometidos no ataque', fraco em lançamentos e com demasiados turnovers. Após o intervalo, Lisboa aumentou a vantagem marcando dois cestos seguidos.
Os jogadores da casa não desanimaram. Com a ajuda do seu melhor marcador, Kennedy, chegaram 'ao controlo do jogo', o que 'animava o público que enchia o pavilhão'. Mantiveram, assim, o jogo equilibrado até aos 30 minutos, aproveitando os ressaltos perdidos do Benfica.
Porém, após algumas perdas de bola por parte dos galileus, o Benfica retomou a vantagem, que logo se declarou depois de dois triplos de Steve Rocha e José Carlos Guimarães, 'extraordinários' em campo.
Foi 'um jogo muito disputado', em que o Benfica, que 'ganhou porque defendeu muitíssimo bem', só conseguiu 'fugir do adversário perto do final do jogo'. O Hapoel veio, perto do final, a adoptar também a estratégia defensiva, que não resultou, pois Carlos Lisboa encestou dez pontos nos últimos dois minutos e meio e terminou o jogo 'com um sensacional (...) cesto «à NBA», a 2 segundos do fim, com um lançamento feito' ainda antes do meio campo. O Benfica acabou por vencer com uma diferença de 19 pontos, por 74-93.
Mike Plowden foi determinante 'no excelente comportamento defensivo, que afinal acabou por ditar a vitória' à equipa da modalidade que mais títulos dava ao Clube. Não cederam perante o 'exigente público israelita', que se despediu do Benfica de 'forma entusiástica (fartos aplausos)'. Apesar de ter sido uma 'desgastante deslocação', não se deixaram intimidar e 'voltaram a impressionar a Europa basquetebolística'.
Reveja os atletas do 'período de ouro' do basquetebol do Benfica na área 4 - Momentos Únicos do Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

Obra que nos orgulha


"Hoje comemoramos o 14.º aniversário do Benfica Campus, o complexo de formação e treino de futebol, localizado no Seixal, do Sport Lisboa e Benfica.
Passaram-se anos desde o lançamento da primeira pedra até à edificação do centro de estágio. Foi no primeiro mandato de Luís Filipe Vieira e por sua iniciativa que a SAD do clube promoveu o desenvolvimento de uma infraestutura preconizada como estratégica para o sucesso desportivo e para a sustentabilidade económica e financeira futura.
A concretização da obra requereu visão, empreendedorismo, arrojo e imaginação, desde logo porque subsistiam ainda as dificuldades financeiras resultantes da má gestão na segunda metade da década anterior, e também devido ao enorme esforço financeiro que a recente construção do Estádio, bem como o apetrechamento significativo do plantel de futebol, exigiram.
Mas sabia-se da inevitabilidade da construção do centro de estágio, afinal era essencial à equipa de futebol dispor de instalações para treinar, assim como era necessário providenciar condições de treino às equipas da formação.
Porém, o Benfica Campus não foi idealizado para se tornar numa mera solução de recurso com um conjunto de relvados e balneários. Desde o primeiro esboço arquitetónico que se vislumbrou um dos eixos estratégicos de desenvolvimento do futebol benfiquista e do Clube. E esta visão nunca foi abandonada, com o investimento permanente em melhorias a tornar-se a realidade ano após ano.
Não é fruto do acaso que o Benfica Campus tem granjeado o reconhecimento internacional, manifestado através de prémios e distinções e da atenção recorrente dos mais variados meios de comunicação social, nacionais e internacionais.
A excelência das infraestruturas, a constante aposta em inovação, a abrangência dos serviços de apoio, as metodologias de organização e treino implementadas no Benfica Campus e os inúmeros atletas que entretanto surgiram na alta-roda do futebol europeu contribuem indelevelmente para que o Benfica se tenha tornado numa referência mundial de melhores práticas ao nível da formação de futebolistas.
E mais importante ainda, o sucesso desportivo na última década, em que se destacam os cinco títulos nacionais nas últimas sete temporadas, e a extraordinária evolução económica e financeira da SAD benfiquista, passando de uma situação cronicamente deficitária para a atual, caracterizada por uma invejável saúde financeira, são indissociáveis dos méritos da atividade e frutos do Benfica Campus. 
Analisando as convocatórias mais recentes da Seleção Nacional, constatamos a prevalência de jogadores formados no Benfica. E o mesmo acontece, há vários anos, nas camadas jovens de Portugal. Este é mais um sinal inequívoco do magnífico trabalho desenvolvido no Benfica Campus.
Na conjuntura difícil que vivemos, a aposta da formação é agora por todos encarada como essencial para a sustentabilidade dos clubes. O Sport Lisboa e Benfica soube antever esta necessidade em tempo útil, antecipando-se aos adversários e estabelecendo-se como a referência neste domínio também.
O Benfica Campus tem sido, e continuará a ser, instrumental no sucesso desportivo e financeiro da SAD benfiquista, sabendo-se que os desafios vindouros passarão certamente por manter a formação do Clube na vanguarda, a nível mundial, desta área. É uma missão desafiante, exigente e permanente, que requer visão estratégica e muita competência. O Benfica esteve e continuará a estar à altura desse desafio.

P.S.: Hoje, às 22h30, a BTV exibirá uma reportagem especial, intitulada "Homens com H grande" sobre os bastidores da equipa do Benfica que participou na final 8 da UEFA Youth League. Neste documentário convidamo-lo a tornar-se um dos elementos de um grupo de trabalho muito especial que só por mera infelicidade não se sagrou campeão europeu. Dentro e fora do campo, os Sub-19 mostraram a categoria futebolística e humana de um Benfica formador. Neste documento visual vai conhecer de forma mais profunda o espírito de um grupo que viveu e superou a mais estranha das épocas devido à COVID-19."