segunda-feira, 14 de setembro de 2020

5 jogadores que podem explodir sob o comando de Jorge Jesus


"Após uma pré-época prometedora, com sete vitórias em sete partidas, os comandados de Jorge Jesus estão perto do início oficial da temporada, com o jogo decisivo da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões frente aos gregos do PAOK, onde só a vitória interessa aos encarnados. 
O clube da Luz tem-se mostrado muito activo no mercado de transferências, tendo conseguido assegurar jogadores de alto gabarito como Vertonghen e Everton, assim como jovens promissores como Pedrinho e Darwin, que deverão dar muitas alegrias aos benfiquistas já num futuro próximo.
Portanto, esta semana, decidimos olhar para o plantel do SL Benfica e escolhemos cinco jogadores cujo rendimento desportivo pode, porventura, explodir sob o comando de Jorge Jesus.
1. Darwin Núñez25 milhões de euros, a contratação mais cara de sempre na história do Benfica, mas também o jogador ideal para explodir sob a alçada de Jorge Jesus. Darwin tem tudo para singrar na Luz. É um avançado possante (tem 1,87m), rápido, capaz de segurar a bola, permitindo combinações com colegas, sendo que, no momento defensivo, é um jogador intenso, capaz de exercer uma pressão avassaladora sobre os defensores adversários.
Com 16 golos e três assistências ao serviço do UD Almería, que terminou a temporada passada em quarto lugar, o avançado uruguaio, agora num clube que joga mais em posse do que em transições rápidas, tem todas as condições para prosperar e se afirmar no futebol europeu.
Esperemos que Darwin faça jus à sua teoria, e que demonstre que o seu habitat natural é as redes das balizas adversárias. 
2. Diogo Gonçalves A solução para o problema da lateral direita poderá estar dentro de casa. Após uma excelente época ao serviço do FC Famalicão, onde somou sete golos e dez assistências em todas as competições, Diogo Gonçalves regressa à Luz, pretendendo assegurar, de uma vez por todas, um lugar no plantel encarnado.
A competição para o lugar de médio ala direito/extremo direito é elevada, sendo que Rafa e Pedrinho são os favoritos para ocupar a posição. Porém, o alentejano poderá, na minha opinião, ser titularíssimo no emblema da Luz a… defesa direito. Exacto, ouviram bem, Diogo Gonçalves poderá bem ser o próximo grande lateral direito “made in Seixal”.
O extremo, além de ser velocíssimo, tem também um enorme compromisso defensivo pelo que, face à concorrência de André Almeida e Gilberto, dois jogadores que, na minha franca opinião, não têm qualidade para serem titulares num clube com a dimensão do Benfica, encaixaria que nem uma luva na posição.
De lembrar que não seria algo de novo para Jorge Jesus que, no passado, converteu extremos como Maxi Pereira e Fábio Coentrão em defesas laterais de topo.
3. Pedrinho Um jogador de enormíssima qualidade, Pedrinho poderá ser uma das surpresas da temporada que se avizinha. Um médio ala/extremo com um excelente toque de bola, Pedrinho é um criativo virtuoso, sem medo de encarar os adversários no um para um e com uma grande capacidade para jogar entrelinhas, algo que, confesso, me surpreendeu bastante.
Essa capacidade em jogar entrelinhas destacou-se, sobretudo, no jogo frente ao Braga, onde o brasileiro, para surpresa de muitos, jogou no apoio ao ponta de lança, tendo deixado boas indicações sobre aquilo que pode acrescentar ao futebol das “águias”.
4. Haris Seferovic Mudam-se os tempos, os treinadores e até surge uma pandemia, mas há algo que parece não mudar. Parece que Haris Seferovic poderá ter uma (outra) nova vida na Luz. O ponta de lança helvético parece estar na linha da frente para assumir a titularidade, mesmo após Vinícius ter mostrado serviço, ao bisar, frente ao SC Braga.
No entanto, não é de estranhar a preferência de Jorge Jesus pelo suíço, pois, na minha opinião, Seferovic é o avançado que reúne as características que Jesus aprecia num ponta de lança. O suíço é rápido, possante, capaz de pressionar com muita intensidade e tem movimentos de ruptura e de ataque à profundidade muito interessantes, pecando apenas no jogo entrelinhas.
Porém, essa fraqueza, à semelhança do que aconteceu na “época do 37”, pode ser mascarada por um segundo avançado de qualidade, e, este ano, ao contrário da temporada passada, os encarnados têm opções de qualidade para essa posição (Pizzi, Waldshmidt e até Pedrinho), pelo que será interessante ver se Seferovic consegue voltar a render mais de vinte golos por época.
5. Julian Weigl Se dúvidas existissem, penso que na pré-época as mesmas se dissiparam: Weigl será, para Jorge Jesus, o patrão do meio campo encarnado. O alemão foi titular nos três jogos de pré-temporada “disponíveis” aos adeptos, pelo que Julian deverá estar na linha da frente para ocupar a posição “6” no jogo contra os gregos do PAOK.
De resto, em Janeiro de 2020, quando ainda era técnico do Flamengo, Jesus, questionado sobre a contratação de Weigl pelo Benfica, em entrevista à CMTV, referiu que o alemão é “uma aposta segura”, sendo que “ainda tem um defeito no seu jogo”. O técnico na altura não revelou qual é que é o defeito do alemão, mas com certeza que o mesmo já deverá ter sido corrigido, não fosse Jesus um perfecionista inato.
O que é certo é que o Weigl que temos visto nestes últimos três jogos de pré-época é um Weigl diferente daquele que chegou em Janeiro. Com bola continua a ter a mesma qualidade que já dispunha nos tempos do Dortmund, apenas com a agravante de se ver um Weigl a arriscar mais com passes verticais. Sem bola, o alemão tem demonstrado mais agressividade nos duelos, transmitindo mais segurança aos colegas (e aos benfiquistas)."

Broncas!!!


"Da série "Bronca com Darwin".
Já passaram 5 dias e continuamos à espera da oficialização de Tony Martinez e da capa do Record.
Já nem nota de rodapé merece, brilhante Bernardo Ribeiro."

Ver longe, analisar em profundidade, promover a inovação, pensar no país (3)


"Tomar medidas difíceis em tempos difíceis é fácil. As populações amedrontadas, na ânsia de se salvarem, até aceitam chefes autoritários e demagógicos que, imediatamente, se aproveitam das circunstâncias para reforçar o seu poder. Todavia, os verdadeiros líderes, aqueles que são portadores de futuro, afirmam-se naturalmente através de decisões difíceis nos tempos fáceis, porque, regra geral, são as decisões difíceis nos tempos fáceis que, realmente, têm o potencial necessário para desencadear um futuro melhor do que aquele que aconteceria caso não tivessem sido tomadas.
1. A fragilidade do desporto nacional.
Esta reflexão ocorre-me precisamente no âmbito da extrema fragilidade em que o desporto nacional se encontra. Não pelo desporto em si, mas pela incapacidade das suas lideranças. Não pelo Covid-19 que, tudo indica, será superado, mas pela mais confrangedora incapacidade de, nos últimos vinte anos, se terem tomado as medidas necessárias ao desenvolvimento sustentado do desporto. Antes pelo contrário, têm sido bastas as medidas que têm colocado o desporto nacional no caminho dos dinossauros. Por isso, não vale a pena, agora, chorarem-se lágrimas de crocodilo a lamentar a irrelevância sociopolítica do desporto porque os seus protagonistas são irrelevantes. Se bem interpreto a prosa de António José Silva (A Bola, 2020-08-27), a irrelevância sociopolítica do desporto não é porque os seus protagonistas são irrelevantes é porque os seus protagonistas políticos e desportivos são responsáveis.
2. Planos estratégicos.
O desporto, mais uma vez e não será certamente a última, foi olimpicamente ignorado em dois documentos relativos ao desenvolvimento económico e social do País: (1º) Programa de Estabilização Económica e Social (2020-06-07); (2º) Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030 (2020-07-21). E foi ignorado não porque os responsáveis não gostam de desporto, mas porque dele têm uma visão infantilizada o que significa que não lhe conferem a massa crítica que, na realidade não tem, mas podia ter, a fim de, numa perspectiva transversal, figurar como catalisador, num plano estratégico para o desenvolvimento do País.
3. Turismo cultura e desporto.
Quando os dirigentes desportivos comparam o desporto ao turismo e à cultura reivindicando um tratamento idêntico acabam por não compreender o ridículo em que caem. Como se a final da Champions no seu pacóvio nacionalismo pudesse ser comparada ao patriótico nacionalismo da Nabucco, ou se a dimensão económica do desporto nacional pudesse alguma vez comparar-se à importância económica do turismo que, para além dos 336,8 mil empregos em 2019, vale 14,6% da economia nacional. Este tipo de argumentos faz-nos lembrar os desejos libidinosos de Íxion e as respectivas consequências, ao “tomar a nuvem por Juno”. Na realidade, o pior que o desporto nacional tem é que muitos dos seus dirigentes, encantados com as luzes e o foguetório das cerimónias olímpicas, ou, completamente embriagados pelas odisseias da selecção nacional de futebol, regressados ao planeta Terra, acabam por não ser minimamente capazes de enquadrar o processo de desenvolvimento do desporto a partir das virtualidades do próprio desporto no desenvolvimento do País.
4. Capital social.
É claro que a generalidade dos políticos não tem a mínima noção daquilo que é o capital social do desporto para além dos espetaculares golos do Ronaldo. Todavia, a culpa não é deles, a culpa é dos dirigentes desportivos que, salvo as devidas exceções, ao atingirem os lugares de cimeira do desporto passam a preocupar-se fundamentalmente com a longevidade do lugar que ocupam, sua imagem pública, as comendas e os honoris, o “dress code” das cerimónias institucionais, a recandidatura, o acesso a cargos em instituições internacionais ou, entre outros, a organização de eventos que não servem para nada a não ser para o seu próprio prestígio. E fazem-no em prejuízo do desenvolvimento do desporto, das respectivas modalidades e do bolso dos contribuintes. Portanto, não vale a pena agora os dirigentes desportivos chorarem lágrimas de crocodilo na medida em que eles, por ação e omissão, são os principais responsáveis pela Situação Desportiva em que o País se encontra e o miserável Nível Desportivo que o desporto apresenta. E esta situação é tanto mais lamentável quanto se sabe que, enquanto os políticos vão e vêm às dezenas, dirigentes desportivos há que têm as suas raízes nos anos setenta e oitenta do século passado.
5. Rasgar de vestes.
O problema de os Governos ignorarem olimpicamente o desporto não é de agora. Vem de há muito tempo e, sobretudo, para não irmos mais longe, desde as pretensas políticas públicas desencadeadas a partir de inícios do corrente século, pelo que foi com espanto que assisti ao público rasgar de vestes do presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) de seu nome JM Constantino a criticar o Governo pela “ausência de uma visão estratégica para o desporto” na medida em que, nos últimos vinte anos, tanto no domínio da Administração Pública quanto no domínio do associativismo, ele foi uma das figuras mais preponderantes no desporto nacional, pelo que, certamente, a mais capaz de explicar o que se está a passar.
6. A insustentável leveza do ser.
Segundo a Lusa/RTP (2020-08-19) para o presidente do COP "a apresentação do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES), no âmbito do qual o desporto primou pela ausência, constituiu um elemento revelador do parco peso político que o desporto tem junto dos outros sectores da governação (...) e da total desconsideração e ausência de uma visão estratégica para o país na qual o desporto tenha lugar". E o presidente do COP censurou ainda o facto de o desporto não estar incluído na Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, projecto que define dez eixos estratégicos para a recuperação do país onde o desporto, de facto, "é totalmente ignorado e negligenciado". E lembrou que tal opção vai ao arrepio de directrizes das Nações Unidas e da União Europeia sem referir quais. Melhor seria ter citado Kundera na insustentável leveza do desporto, na fragilidade da sua natureza, nas paixões que desencadeia, na imaginação de um destino comum e na liberdade que proporciona.
7. Ao tempo de Passos Coelho.
Ao ler as dolorosas críticas do presidente do COP, relativamente à falta de visão estratégica do Governo, vieram-me à memória os difíceis anos de 2011 a 2015, ao tempo do XIX Governo presidido por Passos Coelho, quando o País estava envolto numa enorme crise financeira. Então, o presidente do COP, JM Constantino, numa entrevista ao Record disse: “Não ignoro o quadro que estamos a viver”. E explicou: "Reconheço que num quadro de redução significativa do financiamento público, não ao projecto olímpico, mas designadamente às federações desportivas, seja difícil estabilizar uma linha de orientação estratégica para o desporto nacional”. (Record, 2014-03-25)
8. Entre a velocidade e o esquecimento.
A velocidade que, de Ciclo Olímpico em Ciclo Olímpico, é exigida ao processo desportivo, mesmo que não se tenha a mínima ideia para onde se vai, nos seus paradoxos e contradições, está a desmemoriar os dirigentes. Voltando e parafraseando Kundera, direi que fica por perceber se os dirigentes se esquecem porque vão com muita velocidade ou vão com muita velocidade para se esquecerem. Claro que só eles podem esclarecer.
9. Pedido de Esclarecimento.
Aqui fica um pedido de esclarecimento ao presidente do COP: Porque é que, em Março de 2014, quando existia uma única crise (financeira) que atingia sobretudo os países ocidentais, com uma evolução previsível e controlável como se veio a verificar, era “difícil estabilizar uma linha de orientação estratégica para o desporto nacional” e, em Agosto 2020, quando existem três crises (pandémica, económica e financeira) a laborar a uma escala mundial, de difícil ou, até mesmo, de impossível previsão e controlo, se critica o Governo por “ausência de uma visão estratégica para o desporto”?
10. Diferentes leituras no meio da tempestade!
Uns dias depois, o presidente do COP voltou à comunicação social a fim de anunciar a possibilidade de se estar perante “o colapso do desporto em Portugal” (A Bola, 2020-08-25) afirmando a sua surpresa para com a interpretação dada à normativa de retoma da actividade desportiva da Direcção-Geral da Saúde (DGS). E disse ter “uma leitura contrária à do Governo” pelo que afirmou serem "de enorme gravidade" as orientações da DGS para a retoma da actividade desportiva” (O Jogo, 2020-08-26) que estabelece as normas a cumprir por cada modalidade desportiva no regresso ao treino e à competição. Infelizmente, no meio da tempestade com o navio a colapsar, não ficámos, no seu concreto, a conhecer as soluções do presidente do COP.
11. E o contrato-programa IPJD x COP?
Quanto ao hipotético colapso do desporto nacional, devido ao quadro de constrangimentos das modalidades no regresso à prática desportiva, a posição do presidente do COP devia merecer uma explicação tendo, conjuntamente, em atenção três questões: (1ª) Em caso de tragédia de doença com graves sequelas ou morte quem assume as responsabilidades relativamente a atletas e seus familiares, mas, também, a técnicos e a dirigentes? (2º) Onde estão os planos de contingência? Segundo um estudo do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington, Portugal poderá ter quase 20 mil novos casos diários de covid-19 em Dezembro. E a projecção aponta para um número acumulado de óbitos entre os 4 mil e os 11 mil em Janeiro; (3º) No quadro do Contrato-programa (n.º CP/1/DDF/2018 - Diário da República, 2.ª série, N.º 18 - 25 de Janeiro de 2018) o que é que o COP, em matéria de retoma do desporto nacional, propôs concreta e objectivamente ao Governo? Existindo um contrato programa de desenvolvimento do desporto entre o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e o COP, o que se esperava era que houvesse uma concertação de posições a fim de, no meio da tempestade, não se verificar um desacordo operativo entre as duas entidades. Ficam-se a aguardar explicações do presidente do COP.
12. O hipotético colapso do desporto.
A hipótese de colapso imediato do desporto nacional não tem qualquer sentido. Perante a crise suponho mesmo que, colapsar por colapsar, é mais fácil acontecer o colapso do COP do que o dos clubes que, por esse país fora, garantem a prática desportiva e, na verdade, são eles a verdadeira força motora de sustentação do desporto nacional. Por isso, o anúncio de um hipotético colapso do desporto parece-nos, no mínimo, um exagero que não se esperava de quem tem a obrigação de dar um rumo e um sentido de esperança ao futuro do desporto nacional. E é tanto mais grave quanto ignora o que foi a institucionalização do desporto português desde há cerca de cento e quarenta anos.
13. As origens do moderno desporto português.
O moderno desporto português, que nasceu no último quartel do século XIX, não surgiu nem das estruturas burocráticas do Estado nem das estruturas civis que, ao longo dos últimos anos, em regime de monopólio, se têm vindo a apropriar do desporto. Este, nasceu no seio das famílias, entre elas a Família Real, que por iniciativa e a expensas próprias organizaram e desenvolveram as primeiras actividades desportivas que chegavam ao país vindas dos mais diversos pontos da Europa e começaram a fundar os primeiros clubes que, na lógica do industrialismo, deram forma a partir da base ao desporto nacional. Quer dizer, para além das estruturas burocráticas públicas e privadas (muitas delas só servem para atrapalhar) se existe algum desporto em Portugal é porque as famílias não o deixam morrer nem deixam morrer os clubes que elas próprias fundaram e sustentam. Por isso, o hipotético anúncio do imediato colapso do desporto nacional não tem qualquer sentido. A visão catastrofista do desporto devido ao Covid-19 só pode ser prevista por quem não é capaz de compreender a base que o sustenta. Por quem, numa visão hiperburocratizada, só é capaz de olhar para o desporto de cima para baixo. Felizmente, contrasta com a posição do presidente da Confederação dos Treinadores de Portugal, de seu nome Pedro Sequeira que, em cooperação com a Direcção Geral de Saúde e a Secretaria de Estado da Juventude e Desporto, garantiu o regresso à prática desportiva dos escalões de formação assim que estejam definidos os moldes em que os treinos e as competições deverão ocorrer. (A Bola, 2020-09-10).
14. Discursos de vitimização.
Para além do Covid-19, o principal problema do desporto já vem de longe e tem a ver com a incapacidade dos diversos organismos públicos e privados racionalizarem Políticas Públicas verdadeiramente ao serviço dos portugueses e do País. As aparições públicas que têm vindo a acontecer, protagonizadas por diversos agentes do desporto nacional, pecam por um deficiente processo de análise da Situação Desportiva do País nas suas relações sociopolíticas e técnico-funcionais, com as quais nunca se preocuparam. Em consequência, remetem-se a um discurso de vitimização que, no estado de emergência que o País vive, só serve para demagogicamente entreter os apaniguados e, pior ainda, atrapalhar aqueles que têm de tomar decisões no meio da tempestade. De resto, por informação do Secretário de Estado da Juventude e Desportos, não há conhecimento de que algum clube tenha fechado portas. (Público, 2020-09-06). E não acredito que algum clube o venha a fazer.
15. Congresso dos clubes desportivos.
Creio que chegou o momento de dar voz à base do Sistema Desportivo, às famílias, aos clubes, aos treinadores (95% dos quais voluntários) e a todos aqueles que, na base do Sistema Desportivo, nas mais diversas actividades, para além das luzes da ribalta, todos os dias e em todo o País, dão vida ao desporto nacional. É tempo de regressar às origens, como deve acontecer nos momentos de grandes crises e recordar o I Congresso dos Clubes Desportivos realizado em 1933. Ao tempo, os clubes desportivos através dos seus representantes, solicitaram a Oliveira Salazar que olhasse com olhos de ver para o desporto nacional. Claro que Salazar não se fez rogado, mas isso é outra história. A partir deste facto histórico, para além das realizações entretanto levadas a cabo pela Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto que não podem ser ignoradas, deixo a Vítor Pataco a sugestão de, no quadro da divulgação dos resultados do inquérito aos clubes, proponha superiormente a realização de um Congresso dos Clubes Desportivos Portugueses a fim de, a partir da base, se debaterem os verdadeiros problemas do desporto nacional.
16. Acontecimentos imprevisíveis.
Para além das inglórias lágrimas que se possam verter, o cenário criado pelo Covid-19, deve ser aproveitado pelos clubes da base do desporto, para mudar a lógica de funcionamento e o dramático rumo do desporto nacional, institucionalizado a partir do início do corrente século. Trata-se de uma oportunidade única. Recordo que, na linha de pensamento de Gilbert Heebner, uma das leis para prever o futuro diz-nos que, de tempos a tempos, surge um acontecimento, geralmente imprevisível, que obriga a sociedade a mudar de rumo. Nesta perspectiva, espero que, a dramática situação que a pandemia veio criar, permita aos dirigentes que estão na base do Sistema Desportivo perceber que chegou o momento para desencadear uma mudança estratégica no funcionamento do desporto em Portugal, uma mudança que institucionalize um modelo orgânico de desenvolvimento a partir da base do Sistema Desportivo que é onde o desporto verdadeiramente acontece. Um desenvolvimento que parta das famílias, das escolas e dos clubes e não dos idílicos sonhos de alguns dirigentes políticos e desportivos que, regra geral, à custa do dinheiro dos contribuintes, acabam em dramáticos pesadelos. 
17. Salve-se quem puder.
O surgimento do Covid19 tratou-se de um acontecimento imprevisível para o qual a sociedade global, bem como a multiplicidade das organizações públicas e privadas, com e sem fins lucrativos, não estavam preparadas para enfrentar. Por isso, o que mais se tem visto durante a pandemia é vários responsáveis sem saber o que fazer. Decisores sociopolíticos que, habituados a governar ao estilo “magister dixit” do “quero posso e mando”, estão a revelar não ser capazes sequer de perceber o padrão de imprevisibilidade do cenário que decorre da pandemia. Então, exigem a elaboração de planos estratégicos quando os cenários não permitem a mínima previsibilidade necessária para os idealizar. E pretendem impor tomadas de decisão “em cima do joelho”, isto é, sem os dados, a informação e o conhecimento necessários quando estão em causa a vida e a saúde das pessoas, o funcionamento do sistema de saúde e a economia do País. E, pior ainda, perante o desconhecido, têm revelado ser incapazes de constituir equipas de trabalho de competências diversas que preparem processos de tomada de decisão minimamente coerentes e credíveis. Esta incapacidade é tanto mais grave quanto se sabe que, na maioria das vezes, o consenso cruzado das previsões de especialistas de várias áreas científicas costuma estar certo. O problema é que como se habituaram a um estilo de liderança em que só se ouvem a si próprios, agora, não são capazes de ouvir ninguém. E tomados pelo pânico do “salve-se quem puder”, vão para a comunicação social anunciar o caos e estabelecer mais confusão do que aquela que já existe.
18. Exercícios de inutilidade.
Planos estratégicos e decisões definitivas em cenários de grande imprevisibilidade não passam de meros exercícios de inutilidade. Antes de fazer qualquer predição todo e qualquer planeador deve estar convicto do alto grau de probabilidade de ocorrência do elemento a que a predição diz respeito. Isto é, deve estar consciente de que vai controlar elementos que vão ser objecto de planeamento. É, simplesmente, absurdo aplicar o termo planeamento a matérias que não são controladas pelo planeador, quer dizer, a elementos que fogem ao seu próprio controlo. Nesta conformidade, o planeador tem de começar por adaptar as suas decisões ao ambiente e tipo de acontecimentos com que está a liderar porque: (1º) Aquilo que está na esfera de controlo do planeador é susceptível de ser planeado; (2º) Aquilo que não está ou foge da esfera de controlo do planeador, pode, se necessário, ser considerado, mas não planeado.
19. Acontecimentos.
Todo e qualquer plano, seja ele estratégico ou não, deve ser elaborado tendo em vista as diversas categorias de acontecimentos que, numa primeira análise, podem ser (1º) conhecidos e (2º) desconhecidos.
20. Acontecimentos conhecidos
Os acontecimentos conhecidos podem ser certos e incertos. (1º) Os acontecimentos conhecidos certos ocorrem repetidamente no decorrer da vida de todos os dias, semanas, meses e anos. Estão dentro da esfera de controlo do planeador pelo que podem ser geridos (previstos, planeados, executados, controlados e corrigidos) através da implementação de rotinas e de compromissos (protocolos, planos, contratos-programa, etc.) que, no quadro de uma estratégia deliberada, consubstanciam-se em trabalho (fluxos, conjugação, coordenação). (2) Os acontecimentos conhecidos incertos podem ou não ocorrer. A possibilidade de ocorrência deve ser considerada a fim de serem, em tempo útil, superados através uma estratégia contingencial e respectivos planos de contingência A, B, C, etc.
21. Acontecimentos desconhecidos
Os acontecimentos desconhecidos surgem para além de todas as previsões sustentadas no conhecimento e na experiência pelo que é impossível a sua previsão. Exigem uma adaptação constante de ajustamento às circunstâncias, por inexistência de soluções de rotina, de compromisso ou de contingência. Quando acontecem, requerem uma superior capacidade de adaptação através de soluções de emergência estratégica que vão acontecendo de acordo com as circunstâncias, através de acções, em tempo real, de improviso em constante reajustamento. Tal como os navegadores portugueses de quinhentos que nas viagens e explorações marítimas, para utilizarmos uma metáfora de Sophia, “navegavam sem o mapa que faziam”. Perante o desconhecido e as ocorrências que dele resultavam, os marinheiros de então eram portadores das necessárias competências básicas de marinharia que lhes permitiam, enquanto desenhavam os mapas que não tinham, num ambiente de emergência estratégica, improvisar as melhores soluções a fim de superarem os desafios de morte dos mares nunca dantes navegados. E as soluções resultavam porque havia uma extraordinária capacidade de improviso em tempo útil sustentado numa bem estruturada competência de navegação. Uma navegação que, antecipadamente, tinha: (1º) As rotinas e os compromissos bem estabelecidos que respondiam às necessidades logísticas dos processos de manutenção de vida e organização do futuro; (2º) Os acontecimentos incertos bem identificados pelo que estavam antecipadamente definidos os planos de contingência (A, B, C, etc.) capazes de, em tempo real, responder aos acontecimentos conhecidos incertos, por exemplo, uma tempestade que surgia inopinadamente. E, as tripulações das naus e das caravelas estavam em condições para improvisar, com competência e em tempo real, soluções expeditas capazes de responder numa dinâmica de trabalho de grupo às maiores e mais imprevisíveis contrariedades da navegação. A competência do improviso só acontece quando: (1º) As rotinas estão bem concebidas, assumidas e praticadas; (2º) Os compromissos estão bem estabelecidos, são respeitados e cumpridos; (3º) A contingência tem os problemas bem identificados e os respetivos planos estabelecidos a fim de os resolverem.
22. O popular desenrascanço.
Note-se que a capacidade de improvisação é bem diferente do popular desenrascanço que significa o atrevimento de tentar resolver problemas sem os compreender, recorrendo a uma criatividade técnica irresponsável que, na grande maioria das vezes, conduz a maus resultados. O desenrascanço surge quando as rotinas estão mal concebidas, os compromissos não são suficientemente claros e fortes para serem respeitados, os planos de contingência não existem e tudo passa a acontecer através a adaptação pelo desenrascanço. E, então, cai-se no círculo da incompetência caracterizado por procurar resolver a adaptação, que não se compreende, com contingência da qual se desconhecem os planos, a contingência com compromissos nunca estabelecidos, os compromissos com rotinas que ninguém conhece e as rotinas com desenrascanço. Nestes termos, num cenário completamente imprevisível, que obriga a uma constante adaptação, o último comportamento que se pode esperar de um dirigente são propostas de planos estratégicos e decisões de efeitos longos, quando só é possível e aconselhável tomar decisões de emergência, passa a passo, de acordo com os novos dados, a informação e o conhecimento que surgem a todo o momento.
23. Cultura de desenrascanço.
A cultura do desenrascanço não surgiu com o Covid-19. Ela vem do início do corrente século quando foram tomadas pretensas decisões estratégicas sem a participação dos interessados, sem qualquer fundamentação e sem uma visão esclarecida acerca da organização do futuro que se desejava construir. Então, sob o signo do desenrascanço: (1º) Foi precipitado um processo de revogação da Lei de Bases do Sistema Desportivo (Lei 1/90 de 13 de Janeiro) que não chegou a ser implementada na sua plenitude e, muito menos, avaliada. Tratou-se de um processo extemporâneo, precipitado e sem participação dos agentes desportivos, quer directa, quer indirectamente envolvidos no desporto; (2º) Foi produzido um documento com 59 páginas completamente inúteis, intitulado “Opções Estratégicas para o Desenvolvimento Desportivo Nacional (2003-2013), constituído por um conjunto de generalidades: (a) Sem profundidade ou quaisquer bases de sustentação; (b) Sem levantamento e análise de situação tendo em atenção as etapas, as áreas e os sectores do processo de desenvolvimento; (c) Sem uma visão de futuro para o desporto nacional; (d) Sem objectivos e metas; (e) Sem estratégia; (f) Sem programas devidamente orçamentados; (g) Sem qualquer projecção no tempo e no espaço do território nacional. Por ausência de utilidade, acabou por cair no esquecimento; (3º) Foi elaborada uma nova lei, a Lei de Bases do Desporto (Lei 30/2004 de 21 de Julho) de características napoleónicas que contestada pelo ao tempo presidente do COP não chegou a ter três anos de vida; (4º) Foi assinado um contrato-programa entre o Instituto do Desporto de Portugal e o COP o Contrato-programa de desenvolvimento desportivo nº 48/2005 (DR - II Série Nº 70 - 11 de Abril de 2005) que, numa visão do ponto de vista social distorcida e do ponto de vista do rendimento irrealista, previa a obtenção de cinco medalhas nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008); (5º) Foi publicada a Lei de Bases da Atividade Física e Desporto (Lei n.º 5/2007 de 16 de Janeiro) que tal como a anterior mereceu a contestação dos agentes desportivos e, vendo bem o que tem acontecido nos últimos anos, não serve para nada. De então para cá tem sido o descalabro. Taxas de prática desportiva miseráveis e resultados nos Jogos Olímpicos medíocres.
24. Reforço da estrutura burocrática do vértice.
O referido processo conduziu ao reforço da superestrutura burocrática do vértice do desporto nacional com dramáticas consequências a nível intermédio (federações desportivas) e da base (clubes) do Sistema Desportivo onde, realmente, é desencadeada a prática desportiva. As federações desportivas deixaram de ter uma visão sistémica sobre as modalidades que lideram e os clubes deixaram de ser considerados a célula base do desenvolvimento do desporto.
25. Sob o desígnio do desenrascanço e da inutilidade.
Só por esquecimento daquilo que tem sido o desenvolvimento do desporto nos últimos, pelo menos, vinte anos é possível estranhar a sua ausência no Programa de Estabilização Económica e Social ou em qualquer outro documento relativo ao desenvolvimento do País. Porque, no estado actual do desporto nacional, por mais que os dirigentes desportivos avancem com citações e pomposas recomendações de entidades como as Nações Unidas ou a União Europeia, não faz qualquer sentido reivindicarem um plano estratégico para o desporto e, muito menos, que o desporto passe a estar presente, enquanto linha estratégica, nos planos de desenvolvimento do País quando se sabe que a sua organização decorre sob o signo do desenrascanço. Consequentemente, ninguém sabe quais são os seus grandes objectivos para além de duas ridículas medalhas olímpicas que, muito provavelmente, até vão ser conseguidas por atletas naturalizados de aviário precisamente para esse efeito. E, de acordo com a distopia do sistema neomercantilista que organiza o País, caso o desporto fosse considerado como um eixo estratégico do desenvolvimento não ficava muito admirado se a solução encontrada fosse a de, simplesmente, construir uma espécie de legião estrangeira a fim de, em nome de um triste Portugal, conquistar medalhas nos mais variados eventos desportivos internacionais.
Nos tempos que correm, em que nada é claro e tudo imprevisível e questionável, no quadro de uma cultura inculta dominada pelo esquecimento e o desenrascanço como é a do desporto, pedir planos estratégicos e decisões de efeitos longos, quando o barco está a meter água por todos os lados, parece-me um perfeito exercício de inutilidade."

A ética quando dá jeito


"Porque se indigna o jornalista da SIC José Gomes Ferreira com a presença do primeiro-ministro na Comissão de Honra de Luís Filipe Vieira e nada disse sobre a sua participação em iniciativas do BES em estâncias de esqui enquanto jornalista de economia no activo?

Para que fique claro, sou benfiquista e apoio a reeleição de Luís Filipe Vieira como presidente do Sport Lisboa e Benfica. Não exerço cargos públicos há 9 anos e partidários há 6 anos, mas se os desempenhasse em nada alteraria as razões da participação, porque nada tolheria os critérios de pensamento e de acção em funções públicas.
Em Portugal instituiu-se que a ética da República é o que está na lei do Estado de Direito Democrático, em que as subversões mediáticas e as geometrias variáveis dos interesses fazem com que cada vez mais sejam colocados em causa os direitos, liberdades e garantias. Demasiadas vezes se verificam situações de duvidosa legalidade, de manifesta falta de senso ou de nebulosa aparência que são ignoradas ou conformadas pela anuência pública, por contraste com outras que são geradoras de indignação e comoção quase nacional. Estas são o momento da emergência dos moralistas da República, que nos entretanto sossegam com parte dos acontecimentos e indignam-se com outros, sem que seja inteligível o quadro legal ou o critério aplicado para fundamentar a diferenciação.
Porque se indigna o jornalista da SIC José Gomes Ferreira com a presença do primeiro-ministro na Comissão de Honra de Luís Filipe Vieira e nada disse sobre a sua participação em iniciativas do BES em estâncias de esqui enquanto jornalista de economia no activo? Ou sobre a lista dos jornalistas avençados pelo saco azul do GES que o grupo Impresa e a classe jornalística protege para que não se saibam quais os nomes dos que recebiam dinheiro de Ricardo Salgado enquanto nos “informavam” sobre a actualidade económica?
Porque se crispam tantos que nada disseram sobre as listas do Conselho Superior do FC Porto ou dos órgãos do Sporting Clube de Portugal, com autarcas e protagonistas do sistema judicial, sobre as nebulosas da acção governativa da actualidade e do passado ou até sobre as proximidades do actual e do anterior Presidente da República ao universo bancário problemático?
Porque se agitam alguns com tantos telhados de vidro que a memória traz à liça como se pudessem ser curadores de uma ética, de uma exigência e de um senso que não praticaram em momento próprio, como é bom de lembrar ao Bloco de Esquerda com o caso Ricardo Robles e a tantos outros que, tendo falado, poderiam se avivados da memória das suas acções e proximidades com o histórico de quase três décadas de acompanhamento da actualidade.
A resposta é simples. Porque é o Benfica e é Luís Filipe Vieira. Porque é arguido, dizem. Sim, como centenas de portugueses com funções públicas, quantas vezes condenados nas notícias plantadas na imprensa pela promiscuidade entre a justiça e os media e absolvidos em julgamento. Em Portugal, num Estado de Direito Democrático, a presunção de inocência deixou de existir. É uma ficção, atropelada pela violação do segredo de justiça. Uma justiça que faz alardo da sua acção na investigação selectiva de situações em função de dinâmicas que escapam aos princípios do Estado de Direito Democrático. É assim que surgem alvos preferenciais e outros são negligenciados ou que, em momentos chave surgem impulsos orientados para determinados fins. Em geral, com eleições autárquicas em 2021, entrámos na fase das denúncias anónimas orientadas para as Autarquias Locais e para os seus protagonistas. O padrão de anos anteriores, de instrumentalização da justiça, diz-nos que as ditas anónimas são enviadas agora para gerar acções, buscas e afins durante o primeiro semestre de 2021. É assim que funciona. Há demasiados calendários e entorses a tolher a justiça em Portugal.
Os entorses são tão claros que alguns parecem não ter percebido o essencial. O foco em Luís Filipe Vieira é só o pretexto para chegar ao Benfica, não mudaria com qualquer mudança de protagonistas, porque o que está mesmo em causa é o que foi construído ao longo das últimas décadas e o que foi conseguido no campo desportivo. O que está em causa é o Benfica e a força institucional que tem na sociedade portuguesa e no mundo. É lamentável constatar a adesão de alguns benfiquistas a esse impulso de que “os fins justificam todos os meios”, incorporando o argumentário alheio e exercitando uma alegada autoridade moral sem nexo com o seu perfil e com a atuação. Agora que parte da justiça deposita parte do Estado de Direito Democrático nas mãos de um pirata informático, a quem alguns media dão guarida com “achismos” e outros vasculhos, ninguém acha estranho que os impulsos justicialista não tenham suscitado o altruísta furto equitativo da correspondência de 10 anos dos três grandes? Claro que não, era pedir demais ao sistema paralelo que agentes do sistema judicial parecem querer validar e incorporar no Estado de Direito Democrático. Foi só o Benfica. Os fins justificam todos os meios, até ter o mesmo advogado do impoluto Michel Platini, apeado da UEFA por suspeitas de corrupção, e outras excentricidades.
Há muito que defendo e procuro praticar uma ética além do estabelecido na República, mas em Portugal, nada é valorizado. Nem a ética da República vertida na lei, nem as visões mais exigentes desse sentido de ética republicana. Por exemplo, como Governador Civil de Lisboa, tendo residência nas Caldas e estando a viver na casa de um familiar em Lisboa, prescindi de um subsídio mensal de cerca de 500 euros a que tinha direito. Fi-lo por uma questão de acréscimo de exigência ética.
Uma sociedade que se conformou com tanta coisa que se passa e passou, com promiscuidades, distorções e entorses, não pode querer despertar para a vida só porque é Luís Filipe Vieira e o Benfica. São importantes, mas não são o centro do mundo. E a ética não pode ser brandida só quando dá jeito, logo por quem tem telhados de vidro, por ação e por omissão. Há muito que a parcialidade, discriminação e populismo em relação ao Sport Lisboa e Benfica se projectou para o domínio do assalto ao acervo construído, que é da órbita dos sócios, das Casas do Benfica e das estruturas da instituição. 
Quanto à ética se é para ser, que seja para todos e em todos os momentos, sem alegados moralistas com reiteradas marquises e telhados de vidro."

E pluribus unum


"A 7 de Junho de 2019 decorreu a Assembleia Geral Ordinária do Sport Lisboa e Benfica para votação do orçamento e plano de actividades do Clube para 2019/20. Aproveitei a minha presença naquele que é momento mais importante de um associado para fazer uma breve declaração sobre o que é o Benfica para mim. Podem ler o texto aqui. O título talvez pareça presunçoso mas é sincero. E é também por isso que volto a usá-lo hoje. Releio as minhas últimas palavras "O Benfica é uno e é múltiplo, é singular e é diversidade, é liberdade de expressão e de que questionar. Nunca se esqueçam, o Benfica é nosso e faz-se de todos. Da opinião de todos" e tento compreender o que terá acontecido nos últimos meses para que a relação entre consócios esteja tão extremada.
Quando olhamos para trás e pensamos nos irmãos Dassler, nos Gallagher, em Caim e Abel e em tantos outros casos - deixo apenas as gémeas de Olhos de Água de fora porque há mínimos numa conversa séria -, as explicações para familiares dividirem-se são muitas. Da ganância ao ciúme, da soberba à inveja, assim se estragam relações duradouras e que julgávamos à prova de tudo. Para muitos de nós, um clube é, ou deveria ser, uma grande família. Porém, esse conceito traz em si uma enorme responsabilidade: somos obrigados a aceitar a diferença e isso é algo complicado. Diria até que é quase impossível.
Vivemos numa era de enganosas ofertas feitas à medida de cada um, pelo que somos levados a acreditar que não precisamos de adaptar-nos. Do pacote de Internet móvel ao menu de fast-food, do partido político ao programa de uma campanha, do Tinder ao speed dating, queremos tudo à nossa medida. E não aceitamos que os outros sejam menos do que 100% iguais ao nosso melhor sonho. Só que o mundo da Disney não existe. E a desilusão está sempre ao virar da esquina. Se queremos mais e melhor, temos de lutar por isso. Temos de dar e receber. De aprender e ensinar. De conhecer e reconhecer. Temos de fazer. E para melhorar também é preciso ceder.
Diz-se que Júlio César terá sido o primeiro político a pôr em prática o conceito "Dividir para reinar (divide et impera), e talvez seja. Mas, pelo menos, é indiscutível que a ideia tem sido replicada ao longo dos séculos. Em regimes mais ou menos autocráticos, a ação política contra a oposição divide-se entre: ter os inimigos por perto; dividir para reinar; arregimentar-se contra um inimigo externo. Pensem em partidos políticos, em dirigentes desportivos ou chefias menos democráticas e verão que estas medidas repetem-se. Ninguém vai reinventar a roda, basta fazer o que sempre foi feito.
Volto aquela noite de Junho do ano passado: "O Benfica é feito por nós aqui, na Assembleia. E é feito no Estádio da Luz, nos outros estádios, nas roulottes, nas viagens, na casa dos avós, dos primos e dos tios, ou no jogo de bola na nossa rua." O peso da expressão "de muitos, um" obriga a que compreendamos e ajamos segundo um dos princípios mais complicados de todos: aceitar a diferença. E isso é fundamental nas eleições que estão aí a chegar. Falta pouco tempo e, porém, ainda falta demasiado. Os insultos, as acusações, as mentiras e as vendetas não podem triunfar. Por muito que queiramos defender a nossa visão do Benfica, não podemos desprezar o nosso camarada. O que se pede aos benfiquistas é algo que não é novo mas que parece esquecido por muitos: elevação no debate interno. Se ousarmos esquecermo-nos de que há uma manhã seguinte à votação, corremos o risco de acordar num dia bem mais negro, vivendo num clube estilhaçado. Tal como um partido ou uma família, um clube deve ter diferentes olhares. Nada é pior do que a unanimidade vazia e estéril. Todavia, não devemos deixar que a polifonia dos benfiquistas se sobreponha a um ideal superior. Não podemos esquecer-nos de que haverá um dia depois das eleições. Que haverá derrotados mas que só queremos ter um vencedor: o Sport Lisboa e Benfica."

A confusão continua


"Estando em causa, prioritariamente, a defesa da saúde de todos nós, continuamos a assistir a situações que muitas vezes vão para além da nossa compreensão.

O início da nova temporada futebolística não tem trazido boas notícias, dando azo a uma enorme confusão que, aliás, tem alastrado a diversos sectores.
Estando em causa, prioritariamente, a defesa da saúde de todos nós, continuamos a assistir a situações que muitas vezes vão para além da nossa compreensão.
Para a confusão está a contribuir o conhecimento de casos que ultrapassam todas as previsões, que estão a dar origem a alguma desordem nas estruturas responsáveis, e a causar muita apreensão aos dirigentes, para além, claro, da ansiedade que está instalada nos adeptos, com todas as dúvidas que teimam em não desaparecer do seu horizonte.
O começo da segunda Liga não deixou motivos para bons augúrios: dois jogos adiados "sine die", conhecidas que foram as infecções em vários elementos dos seus clubes, soam já as trombetas que anunciam a não realização do jogo Sporting-Gil Vicente, incluído na jornada inaugural do calendário da Liga principal, com quinze positivos nos gilistas e dez nos leões, sabendo-se também que um dos guarda-redes do Benfica passou a estar incluído na lista dos afectados.
E uma mão cheia de casos pode indiciar que, infelizmente, poderemos não ficar por aqui.
Este desfile de problemas ajudou igualmente a lançar séria perturbação nas autoridades da saúde, e por isso têm sido ouvidas críticas vindas de vários quadrantes.
Daí o termos dito logo no início que a confusão está instalada no nosso futebol.
Pelo meio, repetem-se os apelos no sentido de permitir o regresso, ainda que de forma moderada, dos espectadores às bancadas dos estádios, mas aos quais a DGS e o Governo continuam a manter-se insensíveis.
E certamente nada mudará nesta linha de orientação seguida pelas entidades responsáveis, pois passou agora a haver outros problemas que são inquestionavelmente bem mais importantes."

Entre a tranquilidade e o medo


"O gancho de direita de Firpo, o Touro das Pampas, atirou com Jack Dempsey por cima das cordas, para o meio do público

Num fim de tarde de Setembro, passeando pelas ruas de San Salvador, deparei-me com uma parede branca que gritava em letras negras: «Salvadoreños! Tanta tranquilidad me da miedo!». O mais pequeno e o mais densamente povoado de todos os países da América Central ainda vivia na ressaca da guerra civil de 1992 e do massacre de El Mozote que matou mais de 800 civis, entre os quais cerca de 400 crianças, numa vertigem de crueldade inaceitável e incompreensível. Foi em El Salvador que conheci um clube de futebol chamado Deportivo Luis Ángel Firpo. Tem um touro no emblema. O touro de Firpo, El Toro de Las Pampas, e camisolas azuis e vermelhas como as do San Lorenzo de Almagro, o clube que Luis Ángel levava no coração quando desembarcou nos Estados Unidos, em 1922, com uma mala de cartão que tinha lá dentro um colarinho e uns calções de boxe. Somava 28 anos e era filho de um sapateiro de Junín, uma cidade a noroeste de Buenos Aires. Passara a infância a sofrer de otites e iniciara a adolescência a trabalhar num restaurante do bairro de Boedo, não longe de Almagro, um dos mais proletários da capital argentina. Cresceu muito e depressa. Chegou ao metro e noventa. Ombros largos, peitaça em quilha como as dos barcos que atravessam o Rio da Prata. Mãos que pareciam mapas do Canadá e um força bruta que lhe permitia pôr fim a questiúnculas agarrando os maçadores pelo pescoço e pelo fundilho das calças e atirá-los para fora dos restaurantes onde devorava refeições que satisfariam um regimento. O boxe chamava por ele e Firpo não resistiu ao apelo. Não tardou a derrotar por KO todos os que se atreviam a subir a um ringue na sua companhia.
Quando Firpo desembarcou em Nova Iorque, o boxe nos Estados Unidos entrara na fase de um gigantesco bocejo. Jack Dempsey, o menino bonito dos americanos, não conseguia encontrar ninguém que se dispusesse a combater com ele. Ou melhor, que se dispusesse a ser espancado por ele. Mas Luis Ángel teve o descaramento divino de desafiar o monstruoso Dempsey, o homem que se limitava a ficar o mais quieto possível e dar socos fatais a quem se aproximasse o suficiente para ser atingido pelos seus punhos de ferro. Quando foi anunciado que Dempsey e Firpo se defrontariam no Polo Ground no dia 14 de Setembro de 1923, o mundo do boxe agitou-se como poucas vezes até então. Luis Ángel era perseguido por jornalistas, por fotógrafos, por apostadores e por meros curiosos. No seu jeito manso, pacífico, limitava-se a sorrisos tímidos. Dir-se-ia que tanta tranquilidade dava medo. Mas medo era uma palavra que não cabia no dicionário do fantástico Jack Dempsey.
Mais de 80 mil pares de pulmões arquejaram de incredulidade quando o punho do Touro das Pampas caiu com estrondo no crânio de Dempsey. O campeão do mundo de pesos pesados tombou sobre os joelhos, atordoado. Levantou-se devagar e começou a esmurrar Firpo teimosamente, levando o argentino ao tapete por sete vezes durante o primeiro assalto. Por sete vezes, Luis Ángel Firpo se reergueu. O público que enchia o Polo Ground não perdia um segundo do que se passava no ringue. Estava para lá de todo o entendimento. Nunca se vira uma tal explosão de violência à força de socos. Grantland Rice, um dos maiores jornalistas que escreveu sobre boxe, sublinhou: «Foram talvez os quatro minutos mais violentos e mais emocionantes vistos num ringue». Após a sétima queda, Firpo arrancou um suspiro profundo do seu peito ancho e puxou o braço atrás, desferindo um arco largo e previsível. O gancho de direita que atingiu o Colosso de Manassa projetou-o sobre as cordas e fê-lo saltar disparado para o meio da multidão, caindo por entre espectadores e jornalistas, rachando-lhe a cabeça de encontro a uma máquina de escrever. Nunca Dempsey fora tratado de forma tão brutal. As pessoas que receberam com o seu corpo suado em cima trataram de empurrá-lo de volta para o combate. Não havia tempo a perder.
Há quem ainda teime que Jack Dempsey devia ter sido desclassificado por ter recebido ajuda. O árbitro, Jack Gallagher, foi condescendente. Nem ele estava disposto a perder uma luta daquele calibre. Seria mais tarde suspenso por cinco semanas por ter adiado a contagem e permitido que Jack estivesse 14 segundos fora de combate. Em Buenos Aires, escutando os acontecimentos pela rádio, os argentinos convenceram-se da vitória do seu campeão e iniciaram festejos antecipados que rapidamente deram lugar à indignação. Logo no primeiro minuto do assalto seguinte, Jack Dempsey atingiu Firpo na cabeça com dois golpes poderosíssimos. O Touro das Pampas desabou como se fosse um edifício. Jack deixou o boxe. Fora demasiadamente abalado na sua tranquilidade. Talvez tenha aprendido o significado da palavra medo."

Os Cem de Ronaldo


"No chão, lá em cima perto das águias, com a bola a passear-lhe nas costas, de cabeça, de calcanhar, de livre, de penalty, depois de partir os rins ao adversário, em antecipação, de fora da área, à boca da baliza, após um ressalto na canela ou um remate falhado: a lista de golos de Cristiano Ronaldo pela selecção portuguesa é um cardápio infinito da grande alegria do golo. O Papa Francisco veio dizer que os prazeres da gastronomia e do sexo são divinais, mas é provável que este “hincha” do San Lorenzo de Almagro saiba que o golo (não o futebol no seu todo, mas o golo em particular) não lhes fica atrás.
Quando Cristiano Ronaldo apareceu era o sucessor natural dos extremos que marcaram a história do futebol português. Tinha velocidade e técnica mas, ao contrário de jogadores como Futre ou Figo, mais próximos da ideia de um extremo clássico, as suas características físicas permitiam-lhe aventurar-se na grande área, disfarçado de ponta-de-lança. Os seus dois primeiros golos pela selecção foram precisamente de cabeça e na sequência de cantos, um tipo de lance a que os extremos da antiguidade não eram particularmente propensos. Contudo, imaginava-se que seria ele o principal fornecedor dos nossos pontas-de-lança inconstantes, de apetência bissexta pelo golo. Ele era o criador, o fantasista, o repentista que inventava lances do nada e, para o acompanhar, só faltava desencantar um avançado que dançasse com ele o tango do golo.
Infelizmente, esse avançado nunca apareceu. Felizmente, Cristiano metamorfoseou-se e a falta desse complemento nunca se sentiu. O miúdo que rebentava defesas na linha, que fazia gato-sapato de adversários indefesos, especializou-se na arte do golo ou na produção em série de golos, mais ou menos artísticos, para fruição das massas. O exercício de rever os 101 golos de Ronaldo pela selecção provoca vertigens. É quase um resumo não da carreira de um jogador, mas de toda uma época do futebol. A variedade de golos, de soluções, de invenções repentinas é tal que, não fosse a presença física inquestionável do jogador, diríamos tratar-se de vinte ou trinta jogadores diferentes.
Escolhi alguns que ilustram essa variedade de recursos de um autêntico canivete suíço do golo.
Rússia - 13 de Outubro de 2004, Alvalade
Portugal esmagou a Rússia com um resultado de ressonâncias agradáveis para os adeptos leoninos, 7-1. Ronaldo marcou o segundo e o quarto. Neste, pegou na bola a meio-campo, descaído para a esquerda, e avançou por ali fora, no estilo dos seus primeiros tempos, todo ele potência e controlo de bola, e lançou uma bomba bem de fora da área.
Arménia - 22 de Agosto de 2007, Hanrapetakan Stadium
Ah, o Ronaldo marca muitos golos a selecções fraquinhas. Não faz mal. Em primeiro lugar, quantos jogadores da qualidade de Ronaldo conseguem motivar-se para este tipo de jogos? Poucos e os portugueses sabem-no bem. De desastres contra equipas fraquinhas está a nossa história recheada. Neste jogo acabámos mesmo por empatar. Valeu o golo de Ronaldo, uma das suas pequenas pérolas esquecidas: num espaço em que mal daria para instalar uma cabine telefónica, passa a bola com a planta do pé e, com um toque subtil, fá-la deslizar por baixo do guarda-redes.
Dinamarca - 11 de Outubro de 2011, Parken Stadium
Portugal perdeu o jogo, mas Ronaldo deixou a sua marca em Copenhaga, num livre directo “ronaldiano”, a lembrar os “rockets” dos tempos de Manchester. A bola sai disparada e vai ganhando velocidade e altura num desenho geométrico misterioso e inevitável até entrar na baliza.
Holanda - 17 de Junho de 2012, Metalist Stadium
Portugal entrou praticamente a perder neste jogo da fase de grupos do Euro-2012, mas Ronaldo deu a volta. O segundo golo é uma delícia: Ronaldo recebe um cruzamento da direita, senta o defesa holandês e quando se esperava que chutasse a bola para o segundo poste, Ronaldo remata, contra intuitivamente, para o poste mais próximo.
Hungria - 22 de Junho de 2016, Parc Olympique Lyonnais
Era o jogo do tudo ou nada logo na fase de grupos e Ronaldo, que tinha estado desafinado nos dois primeiros jogos, apareceu no momento certo. O golo de calcanhar à Hungria é dos seus golos com nota artística mais elevada.
País de Gales - 6 de Julho de 2016, Parc Olympique Lyonnais
Duas semanas depois, Ronaldo voltou ao local do crime e voou para um daqueles golos de cabeça que lembram a suspensão de Michael Jordan no ar e que mostram que CR7, em certos momentos e literalmente, está muito acima dos outros.
Ilhas Faroé - 31 de agosto de 2017, Estádio do Bessa
Até agora Cristiano Ronaldo não marcou pela selecção um golo de pontapé de bicicleta (marcou contra o Azerbaijão, também no Estádio do Bessa, que foi anulado), isto foi o mais próximo que esteve desse golo mítico, o Santo Graal do golo. Já o conseguiu na Juventus e nenhum homem sensato apostará que não será capaz de o fazer pela equipa das quinas.
Espanha - 15 de junho de 2018, Estádio Olímpico de Sochi
Durante demasiado tempo, quer nos clubes, quer na seleção, Ronaldo insistiu em bater os livres em força, com aqueles efeitos estranhos que a bola ganhava. Nem sempre corria bem. Este livre contra a Espanha pedia jeitinho, colocação, e quando Ronaldo se preparou para marcar, o adepto português pôs as mãos na cabeça à espera de uma daquelas bombas para a bancada. E não é que Ronaldo marcou aquele que é possivelmente o seu melhor golo de livre na categoria “mais em jeito do que em força”? 
Luxemburgo - Estádio de Alvalade, 11 de Outubro de 2019
Lá está. Não é Cristiano Ronaldo que escolhe os adversários. Vem o Luxemburgo? Então aguentem-se. O guarda-redes sai à maluca? Então toma lá um chapéu de medidas perfeitas.
Suécia - 19 de Novembro de 2013, Friends Arena
É a melhor exibição de sempre de Cristiano Ronaldo pela selecção e que, em termos individuais, só perderá para o recital de Eusébio contra a Coreia do Norte em 1966. Este é o jogo em que tudo muda. Estava em jogo o apuramento para o Mundial, o duelo com Zlatan Ibrahimovic e a possibilidade de Ronaldo se aproximar do recorde de Pauleta, até então o melhor marcador da selecção com 47 golos. E Ronaldo resolveu tudo: Portugal apurou-se, ele ganhou o confronto individual com o sueco e igualou o registo de Pauleta com um hat-trick tirado da caixa dos truques. Não foram três golos, mas uma trindade. No primeiro, os últimos três toques na bola são de Ronaldo; no segundo são os últimos dois, sendo o penúltimo um magnífico domínio com o joelho; no terceiro golo, uma vez mais são de Ronaldo os últimos três toques na bola. Todos os toques são de uma eficácia estonteante. Não há um toque a mais, nem um toque falhado, nem um toque para decorar a jogada. São toques perfeitos rumo à baliza, ao golo. A partir daí, Ronaldo entrou noutro patamar."

A actividade física e desportiva... em nova da vida (3)


"No recente e último artigo tínhamos ficado na Idade Contemporânea (meados do sec. XVIII até aos dias de hoje), recomeçando a aparecer a prática do exercício e da actividade física como fim terapêutico … e dissemos ainda que para além de caber a responsabilidade do lançamento das bases directivas do desporto organizado à Inglaterra, foi de facto nas escolas públicas e nas universidades que encontramos o gérmen aglutinador de paixões que o mundo adoptou e fez um crescendo de entusiasmo.
A partir do sec. XIX, mais propriamente do último quartel, elaboram-se regras ao pormenor em diferentes modalidades, e o desporto começa a perder um carácter puramente lúdico.
Como nota de brevíssima referência poderemos anotar o exemplo da participação nos Jogos Olímpicos modernos (fundados pelo Barão Pierre de Coubertin em 1894). Tiveram em Atenas em 1896 a sua abertura, com a presença de atletas totalmente amadores, tendo como essência de prática, a simples mas honrada participação, não sendo a coisa mais importante vencer, assim como a coisa mais importante da vida não era o triunfo mas a luta. É claro que os requisitos do amadorismo foram gradualmente desaparecendo com o implacável mercado publicitário, venda de imagens e marcas em que o atleta amador passou a ser trabalhado ao sabor da conquista das medalhas, em tempo integral, vendo no Estado, ( e não só), a batuta para o acórdão numa possível subida ao pódio com o foco da cores da bandeira “clamar” com lágrimas o hino da Pátria amada!...
Esta tendência da especialização competitiva assume dois aspectos a ter em atenção: os governos a preocuparem-se com a oficialização e regulamentação do desporto, tornando a sua prática obrigatória, passando o atleta a ser olhado para o movimento das bilheteiras, começando a reclamar a sua percentagem nos lucros. Surge então o profissionalismo, encoberto e tímido nos seus primórdios, para se tornar um caso sério na indústria circulante universal.
Nos tempos que correm a Actividade Física e Desportiva desempenha um padrão promocional do espectáculo entre as multidões que comentam, ouvem, praticam, veem, escrevem, leem, etc … sendo cada vez mais amplas as secções desportivas dos diários noticiosos, crescendo o número de periódicos das diversas especialidades, devorados por um público certo, que o segue de foram atenta e entusiástica. Qualquer acontecimento desportivo, tem por vezes nos dias de hoje mais repercussão do que importantes questões políticas ou sensacionais revelações científicas ou manifestações artísticas. Alteram-se horas de comícios, paralisam-se fábricas, encerram-se gabinetes públicos, quando um sensacional espectáculo ou grande competição, tem hora marcada.
O caso do dia é muitas vezes, o caso desportivo: a vitória do A sobre o B, o record estabelecido por determinado campeão, fazem a manchete noticiosa, estando a rádio, o cinema, os jornais, a T.V. com a responsabilidade de o propagandear depressa e bem.
Depois há uma grande actividade científica que utiliza as actividades físicas e desportivas como objecto de estudo. Na medicina, na psicologia, na pedagogia, na cibernética, na biomecânica, no treino desportivo, no direito, na nutrição, etc, a investigação atinge resultados admiráveis, marcando a história do profissionalismo uma referência de ordem económica, social e empresarial, impossível de suster. 
Não podemos contudo deixar de salientar os efeitos do desporto amador, para o lazer, para a educação e para a saúde, no reconhecimento da sua indispensabilidade e no direito da sua aplicabilidade.
Esse direito tem as suas origens mais longínquas nas regras, que os povos primitivos aceitavam como sagradas e cumpriam sem escrúpulos.
Como refere Fabrício Valserra (1923): “a história do desporto é uma das mais belas e instrutivas que se podem contar aos homens”.
Seria difícil na literatura grega algum historiador, poeta ou filósofo que não tivesse dedicado a sua atenção à Actividade Física e Desportiva, ou para enaltecer, reclamando a sua prática, ou para realçar as façanhas dos atletas. Lembra-nos aquele belo trecho de Aristófanes (446 – 386 a.C.), quando alude ao ideal da sua prática: “Brilhante e fresco como uma flor, tu passarás o tempo nos ginásios, em vez de dizeres tolices picantes sem pés nem cabeça na praça pública, ou de te irritares por qualquer questiúncula toda feita de chicanas, de contestações ou velharias. Irás até à academia, onde à sombra das oliveiras sagradas, começarás a tua corrida, coroado de subtil orvalho, com um amigo da tua idade. Aspirarás o aroma da salsaparrilha e do choupo, que vai perdendo os amentilhos, gozando a estação primaveril, quando o plátano vai confiando os seus segredos ao ulmeiro. Assim terás sempre o peito robusto, a tez límpida, os ombros largos!...”
Mas o homem de hoje procura descobrir a essência própria de todas as coisas. O que era verdadeiro ontem, pouco mais o é hoje e não será certamente amanhã. Mais do que nunca procuramos no fundo das coisas a capacidade para racionalizar as competências, isto é, o elemento duma cultura abrangente. Foi dentro destes conceitos e mudanças que o Desporto evoluiu.
Há alguns anos dizia-se que era preciso ser forte para se poder fazer Desporto, hoje, faz-se Desporto para se ser forte, porque nele está a possibilidade de salvaguardar a raça humana – é quase uma oportunidade de sobrevivência. (Continua)"

Vitoria na abertura...

Benfica B 3 - 2 Vilafranquense
Ramos(2), Vukotic


Regresso dos B, com uma vitória, e uma exibição agradável, apesar de alguns erros defensivos evitáveis!
O plantel este ano é mais 'experiente', o ano passado o Renato, 'levou' com demasiadas caras novas na II Liga, este ano houve mais jogadores a transitarem da equipa do ano passado, além disso os jovens que 'subiram' de escalão, já vem com um ano dos Sub-23, algo que não aconteceu com a geração anterior que 'saltou' directamente dos Juniores para os B...!!!

O Gonçalo continua com a mira afinada, mas também gostei do Vukotic, e do Ganchas. O Morato na 'direita' foi uma novidade (a lesão do Pedro Álvaro assim o obrigou!)... O Brito tem que melhorar a qualidade de decisão na entrega da bola... o Fábio dentro dos 'postes' até esteve bem, mas aquelas 'saídas' tem que ser temperadas! A utilização do Tomás Tavares na B, na minha opinião é uma opção válida... o Tomás saltou demasiado cedo para a equipa A, se não for emprestado, deve jogar na B...

PS: Destaque para o primeiro caso de Covid num jogador da equipa principal, em 'competição'!!!
Depois do que se passou ontem em Chaves, com as notícias que chegam de Barcelos, está-se a preparar o caldinho para uma época caótica, onde a xico-espertize de alguns pode decidir o Campeonato... e existe mesmo a possibilidade do Campeonato não chegar ao fim!!!
Jogos adiados, falta de datas, faltas de comparência, jogadores contaminados que os Clubes vão-se 'esquecer' de informar, jogadores potencialmente contaminados a defrontarem equipas, que na semana seguinte têm determinados adversários... o potencial para a trafulhice e falta de critério é gigantesco!!!

Sem espinhas...

Benfica 3 - 0 Sp. Espinho
25-17, 25-20, 25-18

Nova vitória, contra um Espinho reforçado, mas ainda longe do nosso nível...
Na final-four desta 'estranha' Supertaça, vamos defrontar o Sporting, que perdeu hoje contra a Fonte, o nosso provável adversário na Final... Em caso de vitória nas meias-finais, como é claro!

PS1: As nossas meninas do Voleibol, também continuam vitoriosas na Liguinha de acesso à primeira categoria, tendo vencido o Guimarães por 1-3, hoje. No próximo sábado temos as Meias-finais 'decisivas' contra o Sp. Espinho...

PS2: O Vasco Vilaça, continua a somar Pratas, hoje na etapa da Taça do Mundo de Triatlo, na República Chega, em Karlovy Vary, novamente um 2.º lugar...