quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Vermelhão: Competitivo...

Benfica 2 - 1 Braga
Vinícius(2)

Odysseas; Gilberto(Ferreira, 64'), Almeida, Ferro, N. Tavares(Cervi, 75'); Weigl(Gabriel, 75'), Taarabt, Rafa(Pedrinho, 64'), Everton(Gonçalves, 64'); Pizzi(Chiquinho, 79'), Vinícius

Vitória em jogo complicado, onde até entrámos muito bem, mas no final da 1.ª parte, com a redução da capacidade de pressão alta, acabámos por permitir ao adversário subir no terreno... e sofremos um golo 'evitável' antes do intervalo...
No 2.º tempo o Braga mudou muitos jogadores, mas acabámos por chegar ao empate numa excelente iniciativa do Vinícius, que até aí estava a ser um dos piores (com as notícias da chegada de novos avançados, até parecia que o Vinigol estava a 'despedir-se'!!!)...
Pouco depois com a expulsão do Taarabt, a partida alterou-se... mas com o Benfica a ameaçar no 'contra'! Já nos descontos, novamente o Vinícus, a aproveitar um erro, voltou a marcar...

Muitos ausentes, defesa completamente remendada, devido a lesões e às convocatórias para as Selecções! Apesar disso, a 'famosa' linha defensiva do Jesus, esteve bem, perdi a conta aos ataques do Braga que terminaram em fora-de-jogo... mesmo com os fiscais a demorarem eternidades para levantar a bandeirola! O Everton esteve abaixo do esperado, e no lance do golo do Braga, tem que 'entrar' na bola com mais convicção, o Horta teve sorte no ressalto, mas o Everton tinha que fazer mais... O Rafa voltou a cometer muitos erros... Gilberto a cometer gafes defensivas... Nas situações de pressão alta, o buraco entre a linha defensiva e os dois médios é demasiado grande, os Alas tem que fazer melhor as coberturas... A falta de um 2.º avançado (o Pizzi não o é...) facilita o trabalho aos nossos adversários! O Digui voltou a entrar bem... Boas indicações do Pedrinho, nos primeiros minutos 'abertos' ao público!

Segundo jogo, segunda prenda do apito! Várias faltas marcadas ao contrário, uma delas deu o 1.º amarelo ao Taarabt!!!

João Mário, Incremento Físico, Tático e Técnico


"Poderá estar para breve o regresso a Portugal de um dos filhos mais acarinhados do leão. Porém, desta feita pela porta do seu rival Benfica, onde encontrará Jorge Jesus, o treinador que lhe deu vida.
Médio Centro (Interior) de origem, com Jorge Jesus foi praticamente sempre utilizado como ala no 4x4x2 do amadorense.
Mas como poderá encaixar João Mário no Benfica de Jorge Jesus?
No Benfica deverá ser também como ala que poderá ser aposta. Com uma capacidade de resistência invulgar, tem o fulgor que encanta Jesus para poder cumprir as exigentes tarefas defensivas e ofensivas que os seus extremos sempre são obrigados a realizar. À tremenda capacidade física, alia qualidade técnica, inteligência que lhe permite ser criterioso, e mais do que não perder bolas disparatadas para as transições ofensivas adversárias, ainda ser eficiente e eficaz nos seus gestos a combinar com os colegas, e ainda tem condições para impacto na zona de finalização – Assim sejam esses os espaços a pisar.
João Mário seria muito naturalmente um incremento de qualidade sobre todas as perspectivas do rendimento – físico, técnico e táctico – ao modelo do Benfica, que com o português e Cebolinha nas alas, aos quais se poderá juntar Luca mais por dentro se vê assim reforçado num sector que estava demasiado carente de qualidade.
Não é um desequilibrador nato, mas não perde um posicionamento, ou uma oportunidade para dar boa sequência aos lances em que intervém, sendo absolutamente completo pela igual competência que tem nos diferentes momentos – Ofensivo e Defensivo, algo que vem sendo carência nas últimas temporadas no Estádio da Luz."

Regresso em cheio


"A nossa equipa de futebol encontra-se em acelerada preparação para o regresso à competição após um defeso atípico, invulgarmente curto, devido aos acertos de calendarização inevitáveis, na temporada passada, motivados pela pandemia que grassa ainda e cujas consequências continuamos a ter de lidar. 
Durante os escassos dias de férias para o plantel do futebol, foi apresentado o novo técnico, Jorge Jesus, tratando-se de um regresso muito saudado daquele que é o treinador que conquistou mais títulos e troféus ao serviço do Benfica, além de ser o que mais jogos e vitórias tem, em competições oficiais, pelo Clube.
O palmarés de Jorge Jesus é sobejamente conhecido e todos nos recordamos do bom futebol apresentado pela nossa equipa ao longo das seis épocas em que representou o Benfica. Mas são também os reforços já apresentados, juntando-se a um conjunto de jogadores com títulos de águia ao peito, a suscitarem entusiasmo entre os Benfiquistas.
Everton, Gilberto, Helton Leite, Pedrinho, Vertonghen e Waldschmidt são as caras novas, além do regressado Diogo Gonçalves, num plantel que se pretende extremamente competitivo para lutar pelo triunfo em todas as competições nacionais e chegar o mais longe possível na Europa.
Desde o início dos trabalhos, a nossa equipa disputou quatro jogos-treino (misto da equipa B e Sub-23; Estoril, Bsad e Farense) e um jogo particular (Bournemouth), estando previstas mais duas partidas, ambas no Estádio da Luz com transmissão televisiva pela BTV, frente ao Braga (hoje às 19 horas) e Rennes (sábado às 19 horas), englobadas na preparação da importante eliminatória de apuramento para o play-off de acesso à Liga dos Campeões, a disputar com o PAOK, num único jogo em Salonica, Grécia, no próximo dia 15, às 19 horas.
Caso o Benfica elimine o PAOK, o play-off será disputado com o Krasnodar, da Rússia, nos dias 22 e 30 de Setembro. Entretanto, a estreia da Liga NOS será no fim de semana de 19 e 20 de Setembro, com uma deslocação ao reduto do Famalicão, seguindo-se as recepções a Moreirense (26 ou 27 de Setembro) e Farense (3 ou 4 de Outubro) nas jornadas seguintes.
Por definir está ainda se o regresso às competições significará, também, o tão desejado regresso de público às bancadas e, caso este ocorra, em que moldes acontecerá. A saúde pública será sempre a prioridade e fazemos votos para que estejam reunidas as condições para que possamos voltar a frequentar, o mais rápido possível, os estádios e pavilhões em que os nossos atletas defenderão as nossas cores e emblema.
De todos, um. O Benfica!"

Cadomblé do Vata (benfiquices!)


"1. O sorteio da Champions que colocou no nosso caminho o clube grego cujo presidente entrou em campo armado só foi há 2 dias e o SLB já trabalha fortemente na contratação de Rúben Semedo... onde estão os garotões que criticam a política desportiva do Glorioso?
2. Ainda bem recordados do filme que levou à perda de Cristian Rodriguez e da novela da (não) renovação de Maxi Pereira, os benfiquistas preparam-se para a segunda temporada da série "Eu quero um ponta de lança uruguaio para 20/21"... entendem agora porque é que a capital do Uruguai se chama Monte...video? 
3. Os argentinos Di Maria e Paredes deram positivo a Covid-19 depois de estarem de férias em Ibiza com Cavani... este é aquele momento que eu recordo com saudades, aqueles tempos em que o FCP nos roubava os alvos de mercado todos.
4. Aparentemente, tal como tinha feito com Waldschmidt, Luis Filipe Vieira mandou Rui Costa resolver o imbróglio da transferência de Darwin Nunez... o futebol europeu está tão dominado pela realeza do Médio Oriente, que para desbloquear contratações, o Benfica já só precisa enviar o Príncipe da Luz com uma mala cheia de dinheiro.
5. Segundo a imprensa, o SLB continua bastante interessado no madridista Mariano Diaz... sinceramente, tenho dificuldade em ficar entusiasmado com a vinda de um avançado de 27 anos, que só fez uma temporada a sério, tem a nacionalidade do De Tomás e o penteado ridículo do Beto."

Weigl – Equilíbrio Central


"O primeiro jogo televisionado do SL Benfica permitiu perceber o papel que Jorge Jesus guarda para o médio alemão Weigl.
Weigl é o homem dos equilíbrios defensivos no momento de Organização Defensiva, e Transição. Articula o seu posicionamento com o dos defesas, ficando responsável por ocupar a posição de central sempre que um central sai – Com bola no corredor lateral ou aproxima cobertura, ou ocupa posicionamento como defesa para responder a cruzamento, se o central já aproximou da bola.
A Weigl cabe analisar espaço defensivo e preencher qualquer posicionamento prioritário que esteja desguarnecido. Seja à frente da linha, seja integrando a linha. Não tendo uma cadência de passada ou resistência física que lhe permita ter o impacto defensivo que outros médios de nível mundial têm no modelo das suas equipas (Como Goretzka, por exemplo), Weigl compensa com inteligência para estar no local certo na hora exacta.
As “skills” em posse são desde sempre um forte trunfo do seu jogo, e com Jorge Jesus tenderá a aumentar competência sem bola, reunindo condições para ser um médio defensivo de grande impacto em todo o jogo do Benfica."

UEFA Youth League | As 5 revelações do SL Benfica


"A UEFA Youth League da época 2019/2020 ficou marcada por mais uma grande campanha das águias, ainda que, novamente, sem a tão desejada vitória numa final europeia, desta vez caindo perante o Real Madrid CF numa final honrosa e muito bem disputada, orgulhando o nome do SL Benfica e deixando, não só por causa do jogo da final mas por toda a campanha na prova, água na boca aos adeptos encarnados relativamente ao futuro de algumas destas jovens promessas.
Ainda que o plantel do SL Benfica vá sendo constantemente reforçado com jogadores de inegável qualidade, certo é que, com uma formação como a do Seixal, com bastantes provas de talentos ao longo dos últimos anos, é expectável perceber até que ponto Jorge Jesus poderá, já nesta temporada, aproveitar alguns dos jovens para trabalhos na equipa principal (treinos e jogos, provavelmente de menor dificuldade e responsabilidade).
Assim sendo, vamos conhecer mais ao detalhe os cinco jovens que, a meu ver, foram as grandes revelações do SL Benfica na UEFA Youth League que recentemente findou.

1. Gonçalo RamosDistinguido como melhor jogador e melhor marcador da prova (juntamente com Roberto Piccoli da Alalanta BC), Gonçalo Ramos foi a grande revelação do SL Benfica na Youth League 2019/2020, assim como o jogador mais preponderante na caminhada até à final, tendo inclusive bisado na partida decisiva, atingindo, deste modo, os oito golos na edição, aos quais somou mais três assistências.
É um jogador extremamente completo, podendo actuar em diversas posições (médio, segundo avançado ou ponta de lança), e oferecendo uma panóplia de recursos que o diferenciam dos demais elementos (passe, visão de jogo, ligação meio campo-ataque e faro de golo, com finalizações com ambos os pés ou a cabeça).
Num momento em que muito se fala da necessidade do SL Benfica em contratar avançados para as suas fileiras, Gonçalo Ramos provou, não só na Youth League mas também na primeira vez que foi chamado à equipa principal (bis nas Aves em poucos minutos) que deverá ser uma alternativa viável no plantel treinado por Jorge Jesus, uma vez que se encontra num nível diferenciado e a precisar de evolução para impedir a estagnação nestes escalões mais jovens.

2. Úmaro Embaló Também nas alas se encontra destaque nestes jovens, nomeadamente, o extremo Úmaro Embaló. Com sete jogos na UEFA Youth League, três golos e duas assistências, o jovem nascido na Guiné-Bissau, mas com nacionalidade portuguesa, evidenciou a tremenda capacidade de imprevisibilidade, drible, a enorme velocidade que foi uma das suas principais armas e, ainda, atributos como os cruzamentos (alguns deles teleguiados para os avançados) e finalização.
Com a tenra idade, é comum vê-lo também, em alguns momentos, demasiado agarrado à bola, tentando resolver sozinho, errando no momento da tomada de decisão ou na própria execução, coisas que, com o tempo e trabalho, serão facilmente trabalhadas e melhoradas, evoluindo para um patamar de excelência, pois potencial é algo que abunda no jovem extremo.

3. Tiago Dantas É considerado por muitos como o maior talento da formação encarnada, tendo já actuado na equipa principal (uns minutos frente ao Vitória FC num encontro da Taça da Liga) e também sendo chamado para treinar em alguns períodos.
Nesta edição da UEFA Youth League, foi um dos grandes pilares e destaques da equipa do SL Benfica, com participação em oito jogos, contabilizando quatro golos e duas assistências.
Ainda que muitos duvidem da afirmação do jovem de 19 anos devido à sua pouca estampa física, é no ponto de vista técnico, na sua inteligência e cultura tática que evidencia todo o seu futebol. Obviamente, num meio campo a dois fica mais exposto, mas num 4-3-3, tal como actuou preferencialmente a equipa do SL Benfica orientada por Luís Castro, conseguiu sobressair bastante, com passes de encher o olho, fintas curtas e simulações de corpo, a forma como protegia a bola e impedia o choque físico com os adversários e, claro, os golos que marcou e que, num médio, são sempre números assinaláveis. Pena enorme o pénalti desperdiçado na final, mas a certeza que o tornará mais forte mentalmente e capaz de muito rapidamente integrar a equipa principal do clube da Luz.

4. Ronaldo Camará Sem dúvida um dos maiores diamantes do Caixa Futebol Campus. Iniciou o seu trajeto na UEFA Youth League com uns impressionantes 16 anos, assumindo na fase de grupos e, posteriormente, na fase a eliminar, por várias vezes, um lugar no 11 inicial, demonstrando tudo o que o caracteriza: médio ofensivo com qualidade de passe, visão de jogo, transporte de bola, remate, muita chegada à área, velocidade, finta e inteligência na ocupação de espaços. Apesar de muitos o verem como uma espécie de box-to-box, necessita de evoluir bastante no processo defensivo para ficar um médio mais completo e com hipótese de ser integrado no plantel de Jorge Jesus. Apontou um golo e somou duas assistências na UEFA Youth League, números interessantes para um jogador tão jovem, mas com tanto para oferecer nos próximos anos.

5. MoratoContratado no início da época passada por uma quantia que, na altura, foi surpreendente para muitos (sete milhões de euros), já que nunca tinha realizado qualquer jogo oficial pelo São Paulo FC, o defesa central brasileiro passou grande parte da época a jogar nos escalões mais jovens das águias, com presenças na Segunda Liga e na Liga Revelação, contudo foi na UEFA Youth League que claramente demonstrou todo o seu potencial, qualidade e o porquê de o SL Benfica ter despendido uma quantia tão avultada na sua contratação. Ao longo da prova, foi totalista (10 jogos, actuando em todos eles os 90 minutos) e terminou sem qualquer cartão, o que também é um dado interessante.
Com 1.90m, Morato é fortíssimo no jogo aéreo, tem boa capacidade de posicionamento, joga com os apoios orientados, oferece outras valências clássicas num central, tais como desarme e marcação e, além disso, é um central moderno, ou seja, sabe jogar com bola, construindo com muita qualidade e critério desde trás, para depois sair em condução ou utilizar a sua boa capacidade de passe (curto e longo). O facto de ser canhoto também poderá ser algo que o valoriza no futebol atual, dada a menor quantidade de centrais que usam o pé esquerdo, podendo futuramente ser uma alternativa ao provável titular e recém contratação dos encarnados (Jan Vertonghen), experiente central que, na minha opinião, deverá ser um alicerce fundamental para o desenvolvimento e maturação do jovem brasileiro.

Para finalizar, gostaria ainda de deixar outros nomes que facilmente poderiam figurar nesta lista, pelo facto de terem realizado uma campanha de valor e exibições muito acima da média, sendo importante e interessante manter o acompanhamento e atenção no percurso destes jovens: Leo Kokubo, Pedro Álvaro, Filipe Cruz, Rafael Brito, Paulo Bernardo e Tiago Araújo."

Rui Pinto em banda desenhada


"No mesmo país em que o Tribunal Constitucional chumbou o acesso das secretas à listagem de comunicações de suspeitos de terrorismo, muita gente respeitável defende a intrusão em comunicações por um hacker "justiceiro" - desde que encontre "coisas interessantes". Deverá ser esse o critério?

"Se calhar é a única maneira de apanhar os maus." Foi o que uma amiga me disse numa conversa sobre Rui Pinto. "Se não há outra forma, se as polícias não chegam lá de outra maneira, e não chegam, como já se percebeu, então se calhar tem de haver Ruis Pintos."

Percebo o sentimento dela. Qualquer pessoa que tenha visto por exemplo o filme Laundromat, de Steven Soderbergh, baseado na ocorrência que ficou com o nome de Panama Papers, acompanha a personagem de Meryl Streep na perplexidade, desespero e raiva ante o emaranhado da circulação do dinheiro por empresas fantasma e offshores e a facilidade com que se iludem autoridades, credores e vítimas - como ela.
De facto, a primeira coisa que ocorre perguntar ante Laundromat não é como se soube de tudo aquilo mas como é possível que se permita um sistema assim. A quem, se não a criminosos, terá parecido boa e vantajosa ideia a criação das contas offshore - e por que raio, umas cinco décadas e muita evidência de lavagem de dinheiro, financiamento de terrorismo, da criminalidade em geral e de esquemas cada vez mais sofisticados de subversão dos sistemas políticos depois, os governos mundiais ainda não tomaram a decisão de acabar com tal coisa. É capaz de se chegar à conclusão de que para o chamado sistema capitalista o mais importante é que o dinheiro possa circular à vontade - e o resto que se dane. 
Mas o meu texto não é sobre a existência desta rede; é de Rui Pinto que quero falar - ou melhor, dos argumentos sobre Rui Pinto. E esses dividem-se em três campos.
Há o da defesa, explanado na contestação de 130 páginas enviada ao Tribunal Criminal Central de Lisboa, e na qual, para resumir, admite "ter acabado por praticar ilícitos penais para obter os dados que procurava", mas considera que, dados os resultados - a revelação de várias aparentes ilegalidades -, "a censura não deve ser muito forte". É a tese defendida, por exemplo, pela ex-eurodeputada socialista Ana Gomes, talvez a mais notória apologista da tese de que Rui Pinto é um whistleblower, ou denunciante, que tendo divulgado informação de inegável interesse público deve ser tratado como tal pela justiça.
Este argumento tem problemas. Desde logo porque aquilo que está definido numa directiva europeia sobre protecção de whistleblowers (e que ainda não entrou em vigor) é que estes são definidos como pessoas que tomem conhecimento, no âmbito do seu trabalho ou do contacto com organizações, de factos ocultos de interesse público e os revelem. É o caso clássico do americano Edward Snowden, que ao serviço de uma agência dos serviços secretos americanos se deu conta da existência de um esquema massificado de vigilância e intrusão em comunicações quer em solo americano quer no estrangeiro. Por outras palavras, os serviços secretos americanos "hackam" tudo e todos e Snowden expôs esse facto. Será aliás muito interessante caso Snowden, que está no rol de testemunhas apresentado por Rui Pinto, aceda a falar no julgamento ouvir o que tem a dizer sobre este caso: será que aprova que um indivíduo faça aquilo que se feito pelo Estado considera um crime?
Depois há o argumento da acusação: o hacker invadiu sistemas informáticos alheios, como vulgar larápio que arrombasse casas ou empresas, para ver se encontrava coisas interessantes das quais se pudesse apropriar e usar para benefício próprio - daí a acusação de extorsão, a mais grave no cardápio de 90 crimes por que responderá em tribunal a partir da próxima sexta-feira. No documento entregue pela defesa, Rui Pinto admite ter iniciado a tentativa de extorsão mas desistido de seguida, considerando que teria sido "ingénuo".
Existe por fim um terceiro tipo de argumentos - os que embora dando de barato o interesse público do que Rui Pinto encontrou e revelou e até a sua intenção meritória cotejam isso com as bases do Estado de direito. A ideia fundamental é simples: se a polícia e o Ministério Público pudessem, sem mandado judicial e portanto sem verificação dos fundamentos da necessidade da intrusão, entrar em todos os sistemas informáticos, ouvir todas as chamadas, ler todas as mensagens e mails e fazer buscas em todas as empresas e domicílios também iam encontrar muita coisa "interessante", solucionar muitos crimes e apanhar muito meliante insuspeito. Sucede que não podem fazê-lo porque há garantias constitucionais a impedi-lo - protecção contra a arbitrariedade, garantia de privacidade e de processo justo e adequado. Porque as pessoas só podem ver os seus direitos fundamentais, como o da privacidade, postos em causa se houver base suficiente para tal, e isso tem de ser decidido por um juiz, com base nas premissas da lei. Se assim não for, estamos no domínio dos "métodos proibidos de prova" - como explica o número 3 do artigo 126.º do Código de Processo Penal: "Ressalvados os casos previstos na lei [que são aqueles em que há autorização judicial], são nulas, não podendo ser utilizadas, as provas obtidas mediante intromissão na vida privada, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações sem o consentimento do respectivo titular."
Talvez a maioria das pessoas não valorize estes princípios ou considere, como a minha amiga, que se pode abrir excepção quando os "apanhados" nunca o seriam por meios legais e legítimos - sem se dar conta de que uma vez aberto o precedente não há regresso. Talvez algumas contraponham que se os sistemas judiciais e fiscais de vários países estão a usar as informações obtidas ilegalmente por Rui Pinto e a construir processos com base nelas não é justo que ele seja condenado por tê-las disponibilizado - e sim, há aí um problema bicudo. Caso Rui Pinto seja condenado, não deverão cair pela base todos os casos que se baseiem nas suas revelações? E caso não seja, poderemos dizer que ainda temos um Estado de direito?
Tomemos como exemplo as Luanda Leaks, o enorme acervo de documentos relacionados com os negócios da empresária angolana Isabel dos Santos, filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos, de cujo "vazamento" Rui Pinto assumiu ser autor. Se o não tivesse feito, poder-se-ia pensar, como sublinhou ao DN o advogado Rui Silva Leal, "que tinham sido reveladas por alguém dentro de alguma das organizações implicadas, um verdadeiro whistleblower tal como está descrito na legislação europeia." Mas, conclui, "a partir do momento em que Rui Pinto assume que lhe chegou através de intrusão informática, são fruto da árvore envenenada." Ou seja, prova proibida. Para sublinhar a importância das suas descobertas e da sua posição de "denunciante", o hacker jogou essa cartada, colocando assim a justiça numa situação impossível: ou fingir que não viu o que está nas Luanda Leaks, que é já do domínio público graças à divulgação jornalística e teve como se sabe inúmeras consequências judiciais (arresto de bens, etc.) quer em Angola quer em Portugal, ou agir com base nessa informação - que é o que está a acontecer - e portanto admitir que o seu revelador prestou um serviço ao "bem".
A perversidade da situação é adensada pelo facto de haver quem defenda que Rui Pinto deve ser "contratado pela Polícia Judiciária para fazer o que saber fazer" - não se percebendo muito bem o que será isso ao certo - e por vermos o próprio director da Polícia Judiciária, Luís Neves (também arrolado como testemunha de defesa), a fazer o elogio público do arguido numa entrevista ao DN: "É uma pessoa relativamente jovem e culta, com preocupações de defesa do colectivo, preocupado com questões de igualdade, justiça social, e isso é importante."
Vai ser mesmo muito interessante seguir este julgamento e ver que tese prevalece. Num país no qual o Tribunal Constitucional voltou a chumbar, há um ano, o acesso dos serviços secretos aos chamados metadados das comunicações - que não incluem sequer as próprias conversas ou mensagens -, vamos admitir que um qualquer rapaz com jeito para a informática e "preocupações de defesa do colectivo" entre onde lhe apetecer e tire o que lhe aprouver se algumas das coisas que encontrar permitirem entalar poderosos? E se assim for estamos dispostos a que esse princípio se aplique a toda a gente ou achamos que é assim uma coisa de banda desenhada, que só afecta os "maus"?"

A saga continua...


"1. A ligação do SL Benfica com a Hungria é sobejamente conhecida pelos motivos óbvios, Béla Guttmann e Miklós Fehér;
2. Esta relação é pública, com diversos eventos associados, e muito anterior ao aparecimento do funcionário do crime organizado;
3. O ministro dos negócios estrangeiros não tem qualquer interferência em extradicções, mas claro, isto não se trata de desconhecimento ou ignorância, apenas da intenção objectiva de confundir e criar ruído na opinião pública;
4. A oferta de bilhetes é apenas isso, oferta de bilhetes de cortesia. Quando se continua a bater "nesta tecla", diz muito da falta de factos que vão ao encontro daquilo que são as práticas do FC Porto e que talvez por isso, tentem - ainda que infundadas - associar a outros;
5. Rui Pinto, continua a sua senda de suspeição e insinuações em relação ao Sport Lisboa e Benfica, ficando bastante claro aquilo que o move;
6. Infelizmente, tudo isto, acontece agora sobre um manto de protecção e privilégios. Resta saber, a mando de quem e com que interesses."