segunda-feira, 24 de agosto de 2020
Oliveira, Clube de Fãs
"Hoje somos todos Oliveira.
Quer dizer, somos fãs, imaginamo-nos um clube, mas nada de oficial. De coração, apenas. De muitos corações. Hoje, naquela última curva em Spielberg estivemos todos, não tocámos nem no Pol nem no Miller, fomos apenas voando, livres e sonhadores, nas mãos de um menino chamado Miguel. Oliveira, somos todos Oliveira, Falcão, 88 e Miguel, não esquecemos a cada 15 dias mais ou menos, porque o calendário tem ressaltos, não esquecemos de guardar as manhãs de sexta, sábado e domingo para estarmos ali em frente às tabelas dos tempos, empurrando mentalmente o nosso guerreiro para cima, buscando o conjunto azul-marinho e laranja que nos inquieta, nos excita, nos aquieta e acalma, e é assim mesmo esta coisa paradoxal e apaixonante de se ser MO88 em casa, na rua, em qualquer lugar do mundo, e é mesmo nesses sítios todos que vibra gente assim.
E se, há três corridas atrás, a P6 soube a pouco, se, na semana passada, o chega--para-lá que derrubou Miguel nos derrubou a todos também, nós, o Clube Não Oficial Mas de Coração do Miguel Oliveira, então, hoje, a coisa foi cerebral, predadora, cirúrgica, foi guardada para a última nesga de asfalto o salto acrobático de um menino português para o topo mundial numa modalidade tantas mas tantas vezes esquecida e ignorada cá pelo burgo.
Hoje somos todos Oliveira. Não oficiais, que disso trata, e bem, uma estrutura que tão bem soube erguer-se. Somos todos Falcões portugueses, ceamos em conjunto da lauta e faustosa ceia da vitória. Seria pedir muito que todos nos mantivéssemos assim?"
Você, meu constante amigo
"Luiz Felipe Scolari estava sentado no banco do Brasil. Sentado é uma forma de expressão que rima com banco: ele esteve quase sempre em pé. Ao vê-lo, lá da bancada de imprensa, não era capaz de adivinhar que viria a ser o próximo seleccionador de Portugal. Era algo inatingível.
Na noite do dia 30 de Junho estava em Yokohama. Da estação de comboios de Shibuya, em Tóquio, a Sakuragi-chõ é pouco mais do que meia hora. Trinta e cinco minutos de bairros contínuos, periferias maçadoras, vias rápidas que se cruzam umas sobre as outras como teias de betão de uma aranha gigante enlouquecida. Fiz trinta e cinco minutos de comboio para ver noventa minutos de futebol. A final do Campeonato do Mundo. Brasil-Alemanha: um jogo para lá do jogo. Um confronto de ideias, de filosofias, de formas de estar na vida. Um confronto até de Continentes. Quando o talento defronta a força, fico geralmente do lado do talento. O Brasil tinha talento; a Alemanha não.
Luiz Felipe Scolari estava sentado no banco do Brasil. Sentado é uma forma de expressão que rima com banco: ele esteve quase sempre em pé. Ao vê-lo, lá da bancada de imprensa, não era capaz de adivinhar que viria a ser o próximo seleccionador de Portugal. Era algo inatingível. Ainda por cima para uma selecção que se despedira do Mundial pela porta do cavalo, derrotada pelos Estados Unidos e pela Coreia do Sul.
Em Yokohama, depois da vitória do Brasil sobre a Alemanha por 2-0, com dois golos de Ronaldo – Ronaldo-Ronaldinho-Ronaldo, eis como um nome se repetiu na carreira de Scolari entre o Brasil e Portugal -, choveram cisnes coloridos de papel sobre a multidão que enchia o estádio Kokusai Sõgõ Kyõgi-jõ, mais de 72 mil espectadores encantados com a magia japonesa do origami.
O fim da festa: para onde voam os cisnes?
“Foi suado, sofrido, dramático”, escrevia Júlio Gomes Filho no jornal Esporte. E continuava, colocando o dedo na ferida cicratizada: “O Brasil que foi muito criticado antes do Mundial e chegou desacreditado, conquistou o penta-campeonato de maneira brilhante. A equipe ganhou os seus sete jogos e ainda teve o melhor ataque do torneio com 18 gol”.
Depois da tristeza de 1998, em França, a “Canarinha” recuperava a alegria amarela e verde.
Um nome era consensual: Luiz Felipe Scolari.
Não tardaria a chegar a Lisboa e a Cascais onde viveu virado para o mar. O Chico Buarque sempre disse que as festas murcham. E o Toquinho: “Uma amizade infinita de irmão mais velho/Você, constante amigo/Meu distante companheiro/Você que o tempo inteiro/Não tem medo do perigo, não”.
Quanto muito, para nós sobraram os lírios brancos de cemitérios calados."
Guarda-Redes | O lugar que ninguém e muitos querem
"A chegada de Jorge Jesus para o comando técnico encarnado significa, a título imediato, em mudanças no plantel do Sport Lisboa e Benfica, nomeadamente no posto de guarda-redes. Ora, se nas últimas semanas surgiram reforços como Waldschmidt, Everton, Gilberto, Vertonghen, Pedrinho e, finalmente, Helton Leite.
Pois bem, é deste último, ou melhor da posição em que o mesmo actua, que nos vamos focar neste artigo. Actualmente o Benfica tem quatro opções para a baliza no seu plantel, no entanto, a posição de guarda-redes é, provavelmente, a que menos é rodada a temporada toda.
Na equipa principal estão o titular Odysseas Vlachodimos, Helton Leite, Mile Svilar e, para acrescentar a esta lista, Leo Kokubo, guardião da equipa de sub-23 das águias, tem estado em grande plano.
Assim, são quatro as opções de Jorge Jesus para uma posição em que apenas três terão permanência, pelo menos é o expectado. Pois bem, se ninguém gosta de ser terceira opção, não deixa de ser verdade que há uma luta entre dois destes guardiões pela última vaga terceiro guarda-redes.
Creio que em circunstâncias normais, Vlachodimos manterá a sua titularidade assegurada e com a chegada de Helton Leite, este deverá ser a segunda opção, no entanto fica a dúvida de quem ocupará a terceira vaga no plantel encarnado.
Svilar já teve a sua oportunidade na equipa principal, mas alguns erros da sua parte acabaram por danificar a sua imagem perante os adeptos, que não o consideram um guarda-redes seguro e capaz de defender as redes encarnadas. Resta ainda referir Kokubo que tem melhorado a olhos vistos, sendo até o escolhido para defender a baliza encarnada na UEFA Youth League.
Analisando as duas opções para ocupar a última vaga reservada a guarda-redes, Svilar é o mais experiente. Ainda que tenha apenas 20 anos, o guardião belga, que fez a sua formação no Anderlecht, onde até chegou a vencer a Liga e Supertaça pela equipa principal, ainda não convenceu nos seus três anos de SL Benfica.
Quanto a Leo Kokubo, o mais novo dos três atletas em discussão (19 anos), parece-me um pouco “verde” para subir à equipa A dos encarnados. Ainda que venha a melhorar significativamente, penso que a melhor opção para Kokubo seria rodar pela equipa B e pelos sub-23 por mais uma temporada e aguardar pela sua oportunidade no plantel principal para não arriscar sair com a sua imagem prejudicada como aconteceu com Svilar.
Assim, julgo que Mile Svilar deverá ser o terceiro guarda-redes do conjunto de Jorge Jesus e que Kokubo será o preterido desta lista, devendo ficar à espreita de um lugar no plantel. Será no seu quarto ano de Sport Lisboa e Benfica que Svilar convence os adeptos da sua aptidão? Ou será “apenas” o terceiro guarda-redes que ninguém espera nada?
Julgo que saberemos no decorrer da temporada."