quarta-feira, 12 de agosto de 2020

JJ e a (não) aposta na formação: Mito a combater ou realidade a retomar?

"Não sei se já souberam, mas Jorge Jesus é o novo treinador do Sport Lisboa e Benfica. Se não sabiam, não se sintam ignorantes, foi, de facto, inaceitavelmente pouco noticiado esse regresso. Com Jesus, chegaram adjuntos em número suficiente para montar um Cirque du Soleil, dúvidas, especulações, críticas, mensagens de apoio e, ainda que poucas, algumas certezas.
A primeira, naturalmente, a de que as únicas pessoas que se previa que garantidamente receberiam Jorge Jesus em Lisboa de braços abertos seriam Luís Filipe Vieira e o Cristo-Rei (o de cá). A segunda, sem dúvida, a de que o clube da Luz iria atacar o mercado com força, mas também, espero, com alguma precisão. Consequentemente, há dois aspectos que emergem como relevantes.
O primeiro prende-se com o potencial êxodo de jogadores ligados contratualmente aos encarnados. Vários futebolistas de qualidade vão abandonar o clube, com o assumir do leme de JJ. Estou a brincar! Os futebolistas de qualidade vão ficar! Parabéns, Rú…Gri…Viní…Piz… Bom, se calhar, é melhor passar à frente.
Os jogadores que não demonstraram qualidade suficiente, esses sim, vão por certo receber guia de marcha da parte do mister campeão em título da Libertadores (aposto que também não sabiam isto, pois não?). Jogadores que já provaram o seu valor, mas que realizaram uma má época, vão poder mostrar-se a Jesus (o que quer dizer que o Gabriel só fica se passar a locomover-se em campo, no mínimo, com a mesma velocidade, vontade e energia de um condenado à morte a caminho da cadeira eléctrica – o que já era uma mudança enorme!).
Chegamos ao segundo aspecto. Por entre entradas e saídas (com obrigatória desinfecção das mãos), onde ficam (ou para onde saem) os jovens da formação? Continuará a haver uma aposta na formação do Seixal? Ou o Seixal vai virar “Seixeles”, destino turístico apreciado por futebolistas ricos em pré-reforma (agora a sério, “anda para o SL Benfica, Cavani!” Juro que estou a citar…)? Jovens como Gonçalo Ramos podem perder espaço com a chegada de nomes consagrados como Edinson Cavani Há quem tenha uma resposta bem armada para esta questão, há quem não tenha.
Há quem não duvide que as águias vão voltar ao paradigma que viveu na primeira passagem de Jesus pelo clube, há quem ache que talvez não seja bem assim. Espantem-se: eu acho que não será bem assim.
Eu compreendo o rótulo aplicado ao treinador de 65 anos (já estava reformado, se não fossem esses bandidos do Governo), relativamente à (falta de) aposta na formação. De resto, fez no dia da apresentação oficial de JJ nove anos desde a primeira vez em que o SL Benfica alinhou apenas com estrangeiros (na Turquia, frente ao Trabzonspor), precisamente com Jesus.
No entanto, além do próprio se assumir mudado, também o contexto da formação do Seixal mudou, por três grandes razões. A primeira é a existência da equipa B. A formação secundária das águias é muito importante para uma saudável aposta nos jovens no plantel principal. Na equipa B, os formandos encarnados encontram um espaço onde podem “marinar” e, sobretudo, crescer, amadurecer e experimentar.
Sem equipa B (ou de sub-23), das duas uma: ou os jogadores transitam directamente dos juniores para a principal equipa, o que nem sempre é fácil, ou têm que sair, temporária ou definitivamente. Jesus ainda coincidiu com o novo projecto da equipa B, mas já nos três anos finais. Assim, nos primeiros três anos do natural da Amadora no clube, durante os quais erigiu o seu projecto, em coordenação com a “estrutura”, a aposta em jovens significaria isso mesmo: apostar em jovens.
Tendo em conta a exigência táctica de JJ, não seria, em muitos casos, viável, a aposta em jovens que, ainda que talentosos, só conheciam a realidade dos juniores (e realidades abaixo). Veja-se o infame caso do múltiplo nascimento. Em meados de janeiro de 2014, estava JJ na sua quinta época de SL Benfica, o treinador campeão do Brasil afirmou que, para substituir Matic, um jovem da formação teria que “nascer 10 vezes”.
A frase, claro, causou celeuma junto de benfiquistas e junto de cientistas que recusavam aceitar que tal fosse possível. Todavia, vejamos: quem era, à época, o jovem formando que poderia substituir Matic? Quem era o “6” da formação do Seixal? Na equipa B, o habitual titular era Rúben Pinto, de 22 anos. Nos juniores, exibia-se a bom nível Estrela, então com 18 anos.
Sem desprimor para ambos, mas são incomparáveis os percursos de Matic, Rúben Pinto e Estrela. Após sair do SL Benfica, Rúben Pinto passou pelo FC Paços de Ferreira, pelo CF Os Belenenses e está, há alguns anos, no PFC CSKA Sófia, da Bulgária. Estrela passou pelo Orlando City, dos EUA, pelo Varzim SC e pelo CD Aves, tendo rescindido contrato por justa causa. Matic tem sido titular indiscutível em clubes de topo da Premier League.
A verdade é que, na altura, já se notava qualidade nos jovens da formação do Seixal, mas não a suficiente, creio, para serem aposta concreta nas equipas de Jesus. Tal muito se deve à falta das duas outras razões para que tenha mudado (melhorado) a formação do SL Benfica: a presença regular na Youth League e nas selecções jovens (bem como a melhoria destas).
Os jogadores dos escalões de formação do clube da Luz têm vindo a chegar às equipas seniores com mais qualidade e maturidade, muito graças às experiências internacionais adquiridas na Youth League (criada em 13/14, época em que as águias disputaram a final, com Estrela no onze) e nas selecções jovens. Os formandos da Luz começaram a integrar com maior regularidade as convocatórias para as selecções a partir de 2014, 2015.
Foi também a partir dessa altura que as selecções de sub-19 e sub-21 (as mais próximas da selecção sénior) voltaram a frequentar e a vencer as fases finais dos Europeus. A participação de jovens do SL Benfica nessas mesmas fases finais aporta-lhes uma maturidade técnica, táctica e pessoal vital para um fácil ingresso na equipa B e, posteriormente, na equipa A.
De resto, voltemos a Estrela, para fazer uma comparação com o mais recente “6” da formação do SL Benfica, Florentino Luís. Na sua época, Estrela era um jovem com enorme potencial. Mas não mais do que isso. Por seu turno, Florentino Luís chegou à equipa principal do SL Benfica campeão europeu de sub-17 e sub-19 pela selecção portuguesa, vice-campeão europeu de sub-19 pelo SL Benfica (também Estrela o foi, diga-se) e com 72 jogos realizados pela equipa B.
Toda esta experiência e todas estas experiências facilitam a aposta nos jovens oriundos da formação e que nunca saíram do clube. Ainda assim, as notícias veiculadas relativamente ao ataque encarnado ao mercado deixam claro, parece-me, que a aposta na formação será relegada para segundo plano, ainda que possa não ser totalmente abandonada.
Espero que, tal como aconteceu com quase tudo este ano, essa aposta seja apenas adiada, não cancelada. Espero que a chegada de Gilberto, por exemplo, signifique que a ideia passa por deixar crescer jovens como Tomás Tavares até ao ponto-rebuçado, o que, diga-se, é uma ideia mais viável do que “atirá-lo aos cães” na Liga dos Campeões vindo dos juniores (veja-se a diferença de não passar pela equipa B).
Creio, em suma, que JJ irá ter uma maior atenção aos jovens da formação, sem, no entanto, abdicar da sua predilecta forma de montar plantéis: contratar jogadores “feitos” que compreendam mais facilmente todas as suas indicações.

P.S.: continua a ser inaceitável a não aposta de Jesus em João Cancelo e Bernardo Silva."

Luisão e Paulo Lopes | Reforços de peso para o balneário

"O ano de 2018 foi duro para as “águias”. Além de não terem conseguido conquistar o pentacampeonato, os encarnados viram algumas figuras de peso abandonar o balneário.
Paulo Lopes, o “eterno terceiro guarda redes” encarnado, anunciou que iria pendurar as luvas, aos 40 anos, sendo que iria prosseguir a sua carreira na Luz como treinador de guarda-redes da equipa sub-23 do Benfica.
Também Shéu Han, após cerca de 20 anos a desempenhar a função de secretário técnico, anunciou, por motivos pessoais, que iria assumir outros cargos na Luz.
E como não há duas sem três, também Luisão anunciou que, ao fim de 15 anos ao serviço das “águias”, iria colocar um ponto final na sua carreira de jogador profissional, passando a desempenhar um cargo nas relações internacionais do clube.
Em suma, num ano, perderam-se três referências no balneário encarnado. Três “monstros sagrados” cuja capacidade para passar a mística e o poder do Benfica quer aos jogadores estrangeiros, como aos mais novos, valeram dezenas de títulos para o palmarés vermelho e branco.
No entanto, a situação parece que vai mudar na época 2020/21. Com o regresso de Jorge Jesus ao comando técnico dos encarnados, voltam dois nomes de peso ao balneário. Luisão e Paulo Lopes vão ingressar na equipa técnica do treinador português, ocupando os cargos de secretário técnico e treinador de guarda redes, respectivamente.
Numa altura em que se perspectivam várias mudanças no plantel, com o próprio Jorge Jesus a admitir, em entrevista à Benfica TV, que “muitos ainda não chegaram e muitos não vão ficar”, ter dois pesos pesados da história das “águias” no balneário será muito importante para receber e integrar os novos jogadores à realidade encarnada.
A presença do antigo guarda redes e do antigo capitão também serve para controlar melhor o balneário encarnado, numa altura em que se suspeita, especialmente devido a toda a situação que levou ao despedimento de Bruno Lage, que poderá haver algumas maçãs podres que desestabilizam o plantel."

Cadomblé do Vata (teutões!)

"Argentina pelo Maradona e Brasil pelas afinidades históricas. Quando os jogadores portugueses se recusavam a cancelar as férias no Algarve para participarem em Mundiais, eram estas as equipas preferidas de 4 milhões de adeptos nacionais. Os outros 6 milhões eram todos suecos, porque "quer-se dizer"... aquilo era tudo tão nosso que ainda hoje ninguém entende porque não equipavam de vermelho e branco. Mas eu não só era alto, tosco e loiro, como também, no espaço entre o Cabo de São Vicente e a fronteira franco-germânica, era o único admirador da Alemanha.
Desde cedo que me deleito a ver jogar aqueles feios, porcos e maus teutões. Apreciava a forma como durante 90 minutos, estraçalhavam a relva, o adversário desse jogo e os futuros oponentes. Bastavam os nomes dos jogadores para fazerem tremer qualquer rival.. Klaus Auguenthaler, Jurguen Kohler, Guido Buchwald, Bernd Schuster, Lothar Matthaus (certamente estão todos mal escritos). Era o futebol quase perfeito: inteligente, físico e técnico. Mas o que realmente me deleitava, eram os pontas de lança deles. 
O poderio alemão via-se na frente: Rud Voller, Jurguen Klinsmann ou Karl "Air" Riedle eram apelidos que se davam à palavra Golo. Mais tade Carsten Jancker ou Oliver Bierhof eram sinonimo de Pinheiro Nórdico com Pernas. E eu, como puto imberbe que era, sonhava em ver um daqueles pontas de lança alemães com a camisola do SLB. Tanto sonhei, que quase aconteceu, quando em 1996, Toni ia convencendo o Bayer Leverkusen a ceder-nos Ulf Kirsten em troca de um saco de rebuçados. A transferência só foi realidade durante 24 horas... foi um dia inteiro a escrevinhar possíveis 11 titulares do Glorioso, que girassem à volta do ex. farmacêutico, nas ultimas páginas dos cadernos na escola. 
Imaginem pois a moral com que acordei hoje. Waldschmidt não é bem ponta de lança e eu nunca o vi jogar, mas porra... anda lá pela frente, é alemão e tem o cognome de Bomber. Para mim chega. Nem percebo porque discutimos preços com o Friburgo. Comigo era logo "cláusula de 23 milhões? Tomem lá 25 biscas e fiquem com o troco". Reparem que o mas próximo que há da Mannschaft em termos de eficácia no futebol mundial, é a Squadra Azurra. E o novo 10 chama-se Gian Luca Waldschmidt... este miúdo só não singra no SLB se ficar muito ofendido com a forma como JJ vai pronunciar o nome dele."