segunda-feira, 10 de agosto de 2020
Helton Leite, concorrência para Odysseas
"Chega do Boavista a concorrência para o grego Odysseas.
Depois de duas temporadas extraordinárias, o gigante Helton Leite chega com fortes possibilidades de assumir desde logo o lugar na baliza do Benfica.
Ágil e veloz entre os postes, a muralha brasileira parece tapar toda a baliza."
SL Benfica | Os 5 emprestados que poderão voltar do exílio
"Como diria a gíria popular portuguesa, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Ora bem, com a chegada de Jorge Jesus para o comando técnico das águias, o técnico português terá uma palavra a dizer sobre a situação dos jogadores do SL Benfica que se encontram emprestados na temporada 2019/20.
Muitos são os jogadores que estão contratualmente ligados aos encarnados, mas que representam e actuam noutras equipas. Estes jogadores estão prontos para regressar ao SL Benfica para provarem a Jorge Jesus que merecem um lugar no plantel encarnado, no entanto, existe a grande probabilidade de nenhum se conseguir afirmar na turma de “JJ”.
Uns serão novamente emprestados, outros serão vendidos a título definitivo, enquanto outros até poderão ser relegados para a equipa secundária do Sport Lisboa e Benfica. Vejamos, assim, quais são aqueles que serão dignos de voltar a envergar o manto sagrado.
1.
Diogo Gonçalves – Gonçalves é um extremo que também pode alinhar a defesa direito e demonstrou, ao serviço do FC Famalicão que pode ter um lugar no plantel que Jorge Jesus está a construir para o Sport Lisboa e Benfica.
O jovem de 23 anos esteve em destaque no Famalicão ao apontar sete golos em 34 jogos e vê assim uma oportunidade de regressar ao SL Benfica, este que é o “seu” clube desde os 11 anos de idade.
A sua polivalência é um dos seus pontos fortes (capaz de alinhar em todo o corredor direito) e é um jogador com excelente margem de progressão. Assim, ainda que não seja para ser um titular indiscutível, pode ser um jogador que pode vir a ajudar as águias a atacar a reconquista do campeonato na próxima temporada.
Nota: Diogo Gonçalves renovou contrato este domingo até 2025.
2.
Cristián Lema – Lema chegou a Lisboa para representar o Benfica na temporada de 2018/19, mas nunca teve a sua oportunidade, tendo representado o Benfica apenas por duas ocasiões.
Transferiu-se do Belgrano com o rótulo de central goleador, mas em Portugal nunca conseguiu provar o seu talento tendo sido emprestado ao Peñarol e ao Newell’s Old Boys. Nestes últimos disputou 22 jogos e marcou cinco golos.
Numa altura em que o eixo defensivo das águias está bastante desfalcado (Ferro não tem correspondido e Jardel vai tendo cada vez mais problemas físicos), esta poderá ser a oportunidade que o central de 30 anos tem estado à espera.
Resta saber de que forma Jorge Jesus vai abordar a questão dos centrais e se haverá uma vaga à espreita para Cristián Lema.
3.
Ljubomir Fejsa – Fejsa chegou ao SL Benfica na temporada de 2013/14 pela mão do técnico Jorge Jesus, técnico esse que está de regresso ao clube da Luz e que poderá voltar a contar com o internacional sérvio.
Actualmente com 31 anos e com grande concorrência para a sua posição no relvado, Fejsa não será das prioridades nem um dos indiscutíveis, mas poderá voltar a ter um papel no plantel encarnado, onde já revelou ser um líder no balneário.
Esteve emprestado ao Alavés, da liga espanhola, onde realizou 13 jogos e ajudou a equipa do país vizinho a garantir a manutenção para a próxima época.
4.
Filip Krovinovic – Aqui está um jogador cheio de classe! Krovinovic tem um talento absurdo e não fosse a lesão grave sofrida (rotura de ligamentos cruzados) na temporada 2017/18, creio que seria um jogador que tivesse lugar de caras no plantel encarnado.
Nesta temporada o croata mostrou que a qualidade continua lá e que merece uma oportunidade para ser opção válida para Jorge Jesus. Krovinovic esteve emprestado ao West Bromwich Albion e apontou três golos e quatro assistências em 43 jogos disputados pela equipa recém-promovida ao principal escalão do futebol inglês.
Krovinovic não é um jogador de estatísticas, mas sim um daqueles que joga e faz jogar, que declama poesia com as chuteiras e poderá ter a oportunidade de voltar e escrever novos poemas sobre o relvado da Luz.
5.
Facundo Ferreyra – Facundo Ferreyra chegou ao SL Benfica proveniente do Shakhtar Donetsk e vinha rotulado de avançado com veia goleadora. Todavia, Ferreyra não correspondeu, de todo, às expectativas que lhe eram depositadas e acabou por ser emprestado ao Espanyol de Barcelona.
Em Espanha também não foi tão feliz como havia sido na Ucrânia, tendo marcado nove golos em 36 jogos distribuídos por duas temporadas ao serviço do clube catalão. Ainda assim, Facundo Ferreyra pode ser uma opção válida para o ataque encarnado, principalmente se Haris Seferovic acabar por sair do clube.
Ferreyra é um daqueles jogadores em que todos sabem que a qualidade está lá, mas que não tem conseguido exibir o seu melhor futebol."
Cadomblé do Vata (últimas...)
"1. O SLB dá hoje o pontapé de saída na temporada de 2020/21... para a maioria dos jogadores, o SLB dá hoje o pontapé de saída de 2020.
2. A boa notícia do fim de semana é a confirmação da contratação de um vencedor da Copa América pelo Brasil que jogava no Grémio onde conquistou a Copa Libertadores da América ... a má noticia do fim de semana é que o último vencedor da Copa América pelo Brasil que fomos buscar ao Grémio onde conquistou a Copa Libertadores da América, chamava-se Paulo Nunes.
3. Gilberto foi apresentado sábado e JJ disse que ele vai discutir a titularidade com André Almeida... o Tomás Tavares hoje nem deve ter programado o despertador para ir treinar.
4. Na sexta feira a UEFA anunciou que o FCP continuava com restrições na inscrição de jogadores; no sábado o O Jogo informou que os portistas se tinham livrado de castigo do organismo europeu... andam há tanto tempo na lista de incumpridores do Fair Play Financeiro que para eles "restrições na inscrição de jogadores" já não são defeito, são feitio.
5. Poucos dias antes de começar a treinar no Benfica Campus, o Atlético de Madrid teve 2 casos de coronavirus no plantel... a menos que seja proibida a entrada dos espanhóis nas nossas instalações, o SL Benfica está mais perto de garantir o Covid-19 do que o Cavani-9."
Rui Pinto e o Estado de delito
"O sistema judicial comprovou o seu efectivo colapso. Quarenta e seis anos depois do fim do Estado Novo, recuperou o bufo como parte do processo.
Numa sociedade devem existir regras de funcionamento individual e comunitário aplicáveis a todos por igual, num quadro de direitos, liberdades e garantias. Para a observância das regras, além de um impulso cívico individual da participação na vida em sociedade, conta a existência de instituições que supostamente asseguram o cumprimento da aplicação e cominam a aplicação de sanções a quem não as cumpre, nos termos da lei.
Supõe-se que Portugal seja um Estado de direito democrático, em que todos são iguais perante a lei e o sistema judicial zela pela aplicação das regras pelos cidadãos e pela comunidade em geral. O sistema funciona mal, desde logo porque há um desfasamento entre o ritmo da justiça nas suas diversas dimensões e as dinâmicas dos indivíduos e das comunidades, por regra dentro da legalidade, mas não sempre – aliás, tal como o próprio funcionamento dos diversos órgãos e titulares da função judicial. Tal como na sociedade, há de tudo, e até os que se julgam acima da lei ou se permitem interpretações lesivas do Estado de direito.
O caso Rui Pinto é o paradigma de uma justiça incompetente, preguiçosa e em desvio para a consagração da máxima de que “os fins justificam todos os meios”, até mesmo condescender com o “criminoso” para superar as incapacidades de investigação. É público haver escutas telefónicas que são realizadas à margem da lei, sem a cobertura de um juiz, é notório haver processos judiciais em que a produção da prova ou o cumprimento das regras processuais são tão inconsistentes que deviam fazer corar de vergonha os intervenientes ou, diariamente, violações do segredo de justiça com fugas para a imprensa para a obtenção de determinados propósitos. O sistema está de tal forma deslaçado que a sociedade assiste, impávida e serena, a uma guerra mediática e judicial entre dois juízes, com trincheiras mediáticas de apoio a duas perspectivas diferentes de ver a justiça: uma, em que os fins justificam os meios, que agrada a determinada imprensa sensacionalista; a outra, em que as garantias previstas na lei são observadas. Neste bailado judicial e no branqueamento das acções criminosas de Rui Pinto à luz do Estado de direito democrático, há uma capitulação do Estado. O Estado declara-se incapaz de avaliar o cumprimento das normas que criou e valida o recurso a todos os meios, legais e ilegais, para obter determinados fins. É o Estado português, como os outros Estados-membros da União Europeia ou da comunidade internacional, que permite a existência de alçapões de fuga às obrigações fiscais e financeiras nacionais – apesar de em muitos casos, como é o da Holanda, depois se arvorarem em moralistas. Em vez de alterarem a legislação, para os habilitar a uma fiscalização mais consequente da realidade, recorrem a criminosos para obter o resultado do vasculho ilegal.
O curioso é que o mesmo Estado que resiste a que existam listas públicas de devedores às Finanças e à Segurança Social é o que condescende com um pirata informático na obtenção de informações obtidas de forma ilegal sobre fluxos financeiros. O mesmo Estado que não consegue cruzar dados entre diversas dimensões da vida individual e comunitária, por exemplo nas obrigações fiscais, com a Segurança Social e com outras entidades do Estado, permite que um indivíduo arvorado em justiceiro possa, de forma ilegal, proceder aos vasculhos e cruzamentos informáticos que lhe aprazem, de acordo com os seus critérios e opções próprias – vasculho o Benfica e o Sporting, preservo o FC Porto.
O sistema judicial comprovou o seu efectivo colapso. Quarenta e seis anos depois do fim do Estado Novo, recuperou o bufo como parte do processo. Não foi preciso o Chega ou André Ventura; o sistema judicial consagrou o “bufo informático”, resgatou um dos pilares do funcionamento do Estado de Salazar, agora com laivos de modernidade do vale-tudo. Agora como antes, dizem ser em nome da verdade. Agora como antes, isto é filho do arbítrio, do desmando e dos fins que fundam todos os meios. Não será de estranhar que se assista à comoção eufórica da libertação do criminoso por parte do universo do FC Porto ou de advogados internacionais que, noutros planos, são defensores de Platini na acusação de corrupção na atribuição do Mundial 2022 ao Catar e do Euro de França de 2016. Afinal, isto sempre esteve e está tudo ligado.
A questão central é se devemos permitir que se consagre uma sociedade de vale-tudo, sem regras do conhecimento de todos, em que os fins justificam todos os meios. Se queremos ser condescendentes com o ciberterrorismo, que é assumido na acção por diversos Estados ou que é assumido em diversos impulsos de boicote ao funcionamento da sociedade, como aconteceu há pouco tempo com ataques ao Serviço Nacional de Saúde e tantas outras entidades. É que a diferença entre isso e o voyeurismo das vizinhas ou dos invejosos é inexistente. Com que legitimidade, depois de branquear Rui Pinto, se poderá impedir que o funcionário bancário deite um olho na conta daquela figura pública ou do vizinho do 2.o esquerdo, sobre o qual recai alguma suspeita pessoal que importa investigar? Que o funcionário do fisco aceda à situação fiscal do primo que teima em impedir as partilhas ou que a funcionária da Segurança Social aceda à base de dados para tirar a limpo se cumpre as obrigações face aos sinais exteriores de qualidade de vida da cabeleireira do bairro?
Rui Pinto transforma o Estado de direito democrático num Estado de delito, em que os fins justificam todos os meios. Se é para ser assim, consagre-se a devassa, a ausência de direitos, liberdades e garantias. Já que se levam aos poucos os pilares do Estado de direito, muitos por incompetência, preguiça ou desfasamento do sistema judicial, levem o resto.
Por mim, não ao vale-tudo. Se as regras não servem, alterem-se as regras, não se idolatrizem os criminosos só porque são mais eficazes a verificar as eventuais falhas do Estado de direito.
Notas finais:
- E os jornalistas avençados do BES? O ridículo não mata em Portugal, mas tria em muitos pontos do mundo. Pedro Santos Guerreiro, jornalista ex-director do Expresso, exultou com a libertação de Rui Pinto. Não exultou nos últimos quatro anos com a libertação dos nomes dos jornalistas avençados pelo saco azul do GES; pode ser que seja para a semana. Isso sim, era sanitário para o jornalismo.
- O lamentável exercício do PCP na Festa do Avante! A Festa do Avante! tem protecção constitucional, tem cobertura dos poderes do Estado e está acima da lei em matéria fiscal. A menos que enunciar uma lotação de mais de 100 mil pessoas e sustentar a provocação perante as restantes limitações seja mais uma forma de gerar descontentamento social perante a injustiça e o arbítrio."
Jorge Jesus: uma águia diferente
"“Não sou treinador de nenhum clube – sou treinador de futebol!”, proclamou o “Mister” Jorge Jesus, no passado dia 4, segunda-feira, na conferência de imprensa, após a sua tomada de posse como treinador de futebol do S.L.Benfica. Não poderia ter começado melhor Jorge Jesus, no seu retorno à “nação benfiquista”. Na pós-modernidade, que vivemos, um treinador de futebol tem de ser, de facto, um “trabalhador do conhecimento”, ou seja, tem de conhecer o que vai e deve ensinar; e ainda um “pedagogo” e um líder, quero eu dizer: que sabe como ensinar, que sabe instaurar e promover valores, que mostra amor pelo que faz e que procura, numa síntese prática-teoria, a informação que fundamenta o seu conhecimento. No que ao líder diz respeito, ele deve tornar-se numa expressão prática e constante das motivações de um grupo que persegue, com denodo (e ética) a vitória No Brasil, que eu julgo conhecer, o Jorge Jesus encontrou um modo original de sentir as coisas e a vida, num país onde o sentimento e a ternura tudo resolvem com cordialidade e com esperança. No Brasil, há uma paixão inédita nas relações entre as pessoas, que vem dessa combustão íntima das lenhas dos mais diversos continentes (principalmente a África e a Europa) e onde, portanto, o amor e o ódio se expressam, ora numa alegria medular, incomparável, ora numa explosão de palavras e gestos arcaicos, carrancudos, dramáticos. No entanto, a índole do brasileiro não é pessimista e até na maior desgraça encontra espaço para uma simples anedota ou uma sementeira de esperança. A desconforme grandeza do Brasil (o maior país da América do Sul) não se mede só nos quilómetros andados, mas pela força obstinada e confiante das qualidades do seu povo. No entanto, posso fazer afoitamente esta afirmação: o Jorge Jesus, no futebol do Flamengo, parecia mais brasileiro do que os brasileiros, dando alegria a quem a perdera, pelos triunfos inolvidáveis, há muito arredios do universo “flamenguista”. O “Mister” Jorge Jesus levou ao Brasil um futebol novo, sem a ideologia da impotência – e venceu! O mesmo futebol que vai oferecer ao Benfica (que é, todo ele, a saudade de um paraíso perdido) – para vencer também!
Mas… onde está a novidade do futebol do Jorge Jesus? Trabalhei, sob as suas ordens, por generosidade sua e do Sr. Luís Filipe Vieira, no departamento de futebol do Benfica; sou um amigo que com ele dialoga, frequentemente; estudo, com o rigor possível, o impacto da epistemologia e da filosofia, no “fenómeno desportivo” – julgo, portanto, poder tentar um desenho (simples tenteio, nada mais) da sua personalidade. Não se mostra sujeito a tropismos partidários, nem a messianismos políticos. Acredita nos valores da solidariedade, da liberdade e da justiça, que intensamente vive e que frontalmente defende, em romântica e generosa oratória. Com religioso respeito, evoca os seus Pais e convive com os idosos. Minha Mulher e eu, que já visionamos os 88 anos de vida, podemos testemunhar o culto, em que ele se compraz, de ternura e devoção pelas pessoas de mais idade . Pelas frinchas dos excessos de expressão, se entrevê a alma do Jorge Jesus: um homem bom, naturalmente fraterno e justo. O retrato psicológico e moral é magro em pormenores, mas vou centrar-me no Jorge Jesus, treinador de futebol. Michael Massing observa: “Em todo o mundo universitário, as velhas (e novas) áreas das Humanidades estão a diminuir os cursos, reduzir o investimento e a assistir à crescente perda de alunos – e de influência. As novas coqueluches são o mundo digital, as tecnologias e os seus cruzamentos com a economia e a engenharia”. Para Michael Massing, no entanto, as Humanidades estão longe de ser inúteis, em termos materiais – pelo contrário, são verdadeiros “dínamos da economia”. Por exemplo, a indústria das artes e do entretenimento é em grande parte uma criação de pessoas que estudaram Literatura, História, Filosofia e Línguas” (in revista LER, Lisboa, Outono de 2019, p. 71). Ora, para mim, o Desporto integra uma ciência hermenêutico-humana e em muito contribui ao PIB (Produto Interno Bruto) dos vários países. Atingem os 456 milhões de euros o contributo do nosso futebol profissional ao PIB dos portugueses, segundo o Anuário do Futebol Profissional Português. E bem mais seria, aqui, de enumerar…
“A redescoberta do tempo nas ciências do mundo físico-químico testemunha, por si só, que a história da ciência não é uma calma acumulação de dados que se incorporam num avanço simples e unânime. A história das ciências é uma história de conflitos, de escolhas, de apostas, de redefinições inesperadas. Talvez o exemplo mais dramático desta história marcada pelas surpresas e pelas transformações de sentido seja a história da concepção do universo temporal, que vivemos hoje” (Ilya Prigogine e Isabelle Stengers, A Nova Aliança, Gradiva, Lisboa, 1986, pp. 6/7). Já no fim deste livro incontornável pode ler-se: “A descoberta da complexidade é, acima de tudo, um desafio (…). Mas esta complexidade que descobrimos é igualmente portadora de esperança, esperança de uma nova identidade da ciência, esperança que evoca o título deste livro, A Nova Aliança. Com este título afirmámos que, para além das falsas classificações, dos interditos, das condições culturais, políticas e económicas, as ciências não têm por direito, como limite, senão a criatividade” (p. 440). Ora, nas ciências humanas, agimos segundo motivos e motivos que dêem sentido à vida. O homem é um ser permanentemente em busca de sentido – e o sentido, no Desporto, é a competição cingida à transcendência, rumo à vitória… sobre os adversários e sobre nós mesmos! Na alta competição, tudo é um apelo à transcendência (ou superação), na competição, no treino, na vida íntima e na vida social – em todo o lado, em todas as situações, o “homem do futebol” está em jogo. No futebol, há cada vez mais meios técnicos que parecem assegurar o caminho da vitória. E morais? É que, sem humildade, sem esperança, sem força de vontade, sem espírito de sacrifício, sem disciplina, sem solidariedade, sem o q.b. de inteligência, sem respeito pelos outros (colegas e adversários) e por si mesmo – nada de grande, edificante acontece na prática desportiva. Tudo isto o J.J. exige aos seus jogadores. Porque não há jogos, há pessoas que jogam, preparar um profissional de futebol é, acima do mais, preparar um homem que joga futebol!
E uma preparação física científica? O Dr. Mário Monteiro, licenciado em Desporto e muitos anos de trabalho com Jorge Jesus, é o seu adjunto habitual (e eu digo mesmo: ideal) neste sector. Hugo Assman (Reencantar a Educação, Vozes, Petrópolis, 1998, p. 150) classifica de “falaciosa” toda a teoria da mente, da inteligência ou do ser humano global, que não se integre numa filosofia do corpo. Na pessoa do Dr. Mário Monteiro, saúdo todos os treinadores-adjuntos que acompanham Jorge Jesus, profissionais que não deixam de prestar tributo, sempre que podem, à capacidade ilimitada de trabalho e à acção inteligente e perseverante do seu chefe. Alma incapaz de sofrer inveja, coração inábil para sentir rancor, vou distinguir, nele, algumas qualidades que explicam o treinador invulgar que o Jorge Jesus é: diferente porque, num mundo incerto, descontínuo, competitivo e crítico, chega a Lisboa, depois de uma estada apoteótica no Brasil, perfeitamente calmo, seguro dos seus princípios e dos seus métodos e afirmando, sem receio: “Vamos reunir um leque de jogadores, para fazermos uma grande equipa. E não vamos jogar o dobro, vamos jogar o triplo”. E insistiu ainda, na cerimónia da tomada de posse, como treinador do S.L.Benfica: “Vim para ganhar (…). Vamos arrasar”.
De facto, o que mais me impressiona, em Jorge Jesus, é a sua imunidade á insegurança, à incerteza, típicas do homem do nosso tempo. De facto, na racionalidade hodierna, sem excluir os “agentes do desporto”, as crenças, as acções, as decisões, as teorias, as regras, os métodos, os valores procuram, com mais volúpia, o ensejo de acerbamente criticar do que as oportunidades de realizar, de corajosamente decidir. Jorge Jesus é o contrário de tudo isto. A teoria platónica do saber parece ser o paradigma mais apreciado. Ele, ao invés, é um prático, que sabe muito de futebol e sabe esta regra fundamental: no futebol não precisamos de muitas coisas, precisamos uns dos outros, quero eu dizer: precisamos de quem saiba jogar futebol e de liderança técnica e moral. Recordo, a propósito, o Zinedine Zidane, após um jogo Sevilha-Real Madrid, na época de 2016/2017: “Gestionar personas es más importante que la táctica”. Tenho a certeza que o treinador Jorge Jesus saberá encarnar as aspirações e os anseios do Benfica de hoje, dando-lhes expressão e realização plena. Não tenho dúvidas, a este respeito, No reino das águias, ele será uma águia diferente… "