quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Cadomblé do Vata (mercado)

"Comentário aos boatos de pré época
1. Edinson Cavani - nem interessa a idade (é só 1 ano mais velho que Lewandovski e tem menos 1 do que Jonas na última vez que foi melhor marcador), seria um reforço brutal, ressalvando que falhar a contratação dele não envergonha ninguém... mas sendo uruguaio, caso assine pelo SL Benfica tem que ser por 5 anos, para só ir para o FC Porto a caminho das 39 primaveras.
2. Gilberto - lateral direito que há 1 mês marcou um golo ao Flamengo jesusiano... Jorge Jesus a pegar no Manual de Contratações do SLB 95/96 "se hoje a mim me marcas / amanhã por mim jogas" (em 95/96 o Glorioso contratou Panduru, Paulão, Hassan, Marcelo e Mauro Airez, batendo o recorde de jogadores que assinaram por um clube depois de contra ele terem facturado)
3. Rúben Semedo - seria LFV a dar tudo pela reeleição... no final de uma temporada que termina com os adeptos a dizerem que o que os jogadores do Benfica precisam, eram uma boas pazadas no lombo, Vieira adicionava o cadastrado central ao plantel.
4. Everton Cebolinha - craque que sozinho consegue fazer todo o lado esquerdo ofensivo e defensivo... venceu a Libertadores, a Recopa Sul Americana, a Copa do Brasil e o Campeonato Gaúcho tendo como lateral do seu flanco Bruno Cortez.
5. Koch e Waldschmidt - para um amante do estilo de futebol alemão, dois actuais seleccionados da Mannschaft no Glorioso seria um sonho... e depois da desilusão que foi a não inclusão no plantel de Friesenbiechler em 14/15, significava uma nova oportunidade de ouvir Jorge Jesus pronunciar nomes germânicos."

A democracia, os benfiquistas e as eleições

"Ponto prévio: Este texto não visa apoiar nenhuma das candidaturas apresentadas até à presente data. 
Faltam cerca de três meses para mais um ato eleitoral no nosso Clube. Enquanto associado não tenho dúvidas, o ato eleitoral é o dia mais importante para qualquer Benfiquista. E porquê? Porque é a oportunidade suprema de todos associados expressarem a sua opinião sobre quem os deve representar à frente dos destinos do clube.
Recuemos então uns anos para que melhor possamos entender a importância deste dia. Desde os primórdios da sua história que o Benfica se tem afirmado como a instituição desportiva mais democrática do país. Mesmo durante os tempos do Salazarismo, onde o país se via oprimido por uma ditadura fascista, o Sport Lisboa e Benfica era um autêntico oásis democrático onde os sócios eram livres de expressar a sua opinião, as eleições eram livres e os candidatos tinham as mais variadas cores politicas.
Foi, portanto, esta força democrática e esta união dos sócios que permitiram ao Benfica tornar-se naquilo de que tanto nos orgulhamos, um clube popular, de pessoas para pessoas. Um clube agregador de todas as classes, géneros e raças. Um clube que edificou o maior estádio do país com a contribuição e esforço de todos os sócios, que eliminou fronteiras por essa Europa fora dominando a década de 60 do futebol do Velho Continente com a contribuição de talentosos jogadores provenientes das ex-colónias. Um clube que se fez grande sem favores de ninguém. Cabe-nos a nós todos manter esse espírito democrático nos tempos eleitorais que se avizinham. Para isso que isso aconteça não devemos ter preconceitos em relação a qualquer ideia/opinião de qualquer candidato. Devemos ter a noção de que o nosso único desejo comum é do ganhar. Nenhum de nós é deste ou daquele candidato, todos somos Benfica e todos devemos ouvir todas as propostas, entendê-las e debatê-las.
Nunca na nossa história tivemos um ato eleitoral tão concorrido. E acreditem que não se trata de ganhar este ou aquele, trata-se de honrar o Benfiquismo com civismo e elevação para que no final o maior vencedor seja o Sport Lisboa e Benfica.
Com a participação e elevação de todos, temos o dever de manter a chama democrática do clube acesa e de o fazer ganhar com a pluralidade de opiniões. Somos nós que não podemos permitir que o Clube se continue a fechar sobre si mesmo como tem acontecido nos últimos tempos. O Benfica estará sempre acima de todos nós, mas será sempre nosso."

O dinheiro no desporto: amadorismo e profissionalismo

"A questão é legítima e qualquer um de nós poderá colocá-la: será que o dinheiro é um problema no desporto? Nas práticas desportivas como o futebol, o basquetebol, o ténis, o golfe, as corridas de automóveis, o ciclismo, entre outras, podemos pensar que sim. Quanto maior for o cálculo económico desta actividade humana, podemos dizer que maior é o risco de fazer desaparecer a cultura desportiva, caracterizada pela incerteza fundamental produzida pela competição entre iguais e pela lógica de identificação que liga uma equipa ou um clube a um determinado território. A dopagem, a corrupção e a violência não são fenómenos novos no desporto. No entanto, eles agravaram-se nas últimas décadas. O olimpismo constrói-se no final do século XIX contra o nascente profissionalismo e contra as derivas pressentidas do desporto-espectáculo. Ora, o dinheiro permite engendrar uma vantagem, não permitindo organizar a competição entre dois atletas iguais: o profissional recebe um rendimento que lhe permite treinar, enquanto o amador trabalha para ganhar a vida ou ocupa-se de outras actividades. A presença do dinheiro choca a moral aristocrática desse tempo, que considera o desporto como uma actividade desinteressada e de alto valor educativo. O olimpismo pretende construir, assim, uma contra-sociedade, que seria, no fundo, a imagem idealizada da sociedade moderna. Na realidade, ele coloca em prática um sistema desportivo onde a igualdade é entre os melhores, traduzindo-se pelo carácter socialmente exclusivo dos clubes e as interdições feitas aos operários de entrar nas associações desportivas. E isso leva à separação do desporto amador e do desporto profissional. Esta filosofia é sustentada ao mesmo tempo que a democratização do desporto ao longo do século XX, pela intervenção, em nome de diversas concepções de interesse geral, dos Estados, dos municípios ou das igrejas. A partir dos anos 1930, e depois a Guerra Fria, a competição política entre os totalitarismos e as democracias, assim como a vontade de colocar em evidência a grandeza nacional graças ao desporto, concorre para o desenvolvimento do desporto-espectáculo e da profissionalização dos seus actores, esbatendo as fronteiras que parecem evidentes entre amadorismo e profissionalismo."

Especialização desportiva precoce

"Passadas que estão as desconfianças que muitos educadores, desde princípios do século passado, colocavam relativamente aos valores pedagógicos e educativos do desporto, o entendimento de que, no âmbito da disciplina de Educação Física, a educação desportiva deve fazer parte do processo de desenvolvimento motor das crianças e dos jovens é uma realidade que se tem vindo a afirmar ao longo dos últimos anos, muito embora, com frequência, surjam desentendimentos. Regra geral, os desentendimentos surgem porque os protagonistas argumentam em diferentes posições e/ou planos de análise que implicam diferentes conceitos, lógicas e discursos pelo que se torna impossível compreender aquilo que o outro está a dizer. Se quando se observa um sistema de dentro para fora ou de fora para dentro vêm-se dois sistemas diferentes, assim também quando se analisa um sistema na sua base de funcionamento, na sua estrutura intermédia ou no seu vértice estratégico têm-se diferentes maneiras de ver a questão. Posto o problema desta maneira o objectivo desta reflexão circunscreve-se à análise do ensino do desporto de dentro do Sistema Educativo e do seu vértice estratégico. Portanto, vamos olhar para o sistema de cima para baixo no sentido de estabelecermos o desenho daquilo que entendemos deve ser a sua superestrutura.
De uma maneira geral, as questões relativas à organização da educação física a partir da base do sistema há muito que são realizadas. Por exemplo, sobre esta problemática a primeira referência surgiu em 1762 com o livro intitulado “Dissertation sur l'Éducation Physique des Enfans, Depuis Leur Naissance Jusqu'à l'Âge de Puberté” da autoria do médico suíço de seu nome Jacques Ballexserd. Desde então, surgiram milhares de trabalhos de investigação que, podemos dizer, culminaram na vasta obra de Jean Piaget. As questões relativas à estrutura intermédia começaram a surgir desde 1958 com o trabalho seminal de March e Simon intitulado “Organizations” e, mais tarde, em 1979, com “The Structuring of Organizations” de Henry Mintzberg que permitiram estudar os sistemas educativos tendo como foco as suas estruturas intermédias, quer dizer, da organização escolar. Todavia, têm sido praticamente inexistentes os trabalhos sobre os sistemas educativos tendo em atenção a sua configuração superestrutural, ou seja, do desenho geral dos princípios, dos valores, dos objectivos, dos recursos, dos destinatários, dos fluxos, dos mecanismos de coordenação e conjugação do trabalho, tendo em vista apurar a eficiência e eficácia do seu funcionamento.
Após a queda do Muro de Berlim, devido ao declínio acelerado do estado-nação, os regimes de muitos países do mundo começaram a olhar para o desporto como um instrumento de afirmação do seu poder político, tanto interno quando externo, através da obtenção de resultados desportivos nas grandes competições internacionais. E, para o efeito, sem qualquer sentido estratégico no que diz respeito à educação desportiva que deve estar na base do desenvolvimento desportivo dos países e no completo desrespeitos pelos mais elementares princípios da psicologia infantil e da correspondente pedagogia, começaram a implementar programas de especialização desportiva dirigidos a crianças a partir dos seis anos de idade que atentam contra a Declaração Universal dos Direitos das Crianças ONU/UNICEF. Ora, esta declaração, no seu princípio II, diz: “A criança gozará de proteção especial e disporá de oportunidade e serviços, a serem estabelecidos em lei ou por outros meios, de modo que possa desenvolver-se física, mental, moral, espiritual e socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade”.
Considerando o caso português, o desporto, enquanto actividade física promotora de valores para a vida, no âmbito do sistema educativo, deve ser entendido no:
- 1º Ciclo do Ensino Básico (1º, 2º 3º e 4º anos de escolaridade); Um processo contínuo de educação motora curricular;
- 2º Ciclo do Ensino Básico (5º e 6º anos de escolaridade); Iniciação desportiva numa sistematização eclética da aprendizagem das várias modalidades, de acordo com as possibilidades de oferta dos estabelecimentos de ensino, através da execução rigorosa de programas para o ensino das diferentes modalidades individuais e colectivas, por ciclos de actividade em função dos espaços desportivos escolares existentes. O objectivo primordial, para além dos aspectos psicomotores, deve ser a aprendizagem dos gestos técnicos fundamentais e sua interligação nas situações de jogo bem como a aquisição do conhecimento das regras e sua arbitragem nas diferentes modalidades desportivas tendo em vista a compreensão prática e teórica do próprio jogo;
- 3º Ciclo do Ensino Básico (7º, 8º e 9º anos de escolaridade); Orientação desportiva possibilitando a escolha vocacional de um conjunto de duas ou três modalidades a desenvolver ao longo do ano lectivo numa progressão técnico-prática ao longo do Ciclo.
- Ensino Secundário (10º, 11º e 12º anos de escolaridade); Aperfeiçoamento desportivo em regime de livre opção para a vida e para a competição formal em função da oferta dos estabelecimentos de ensino. O aperfeiçoamento desportivo, deve ser realizado na Escola Secundária e complementado nos Clubes Desportivos, se estes tiverem instalações apropriadas e técnicos habilitados para o desempenho dessas funções. A especialização desportiva deverá ser a derradeira etapa da formação desportiva e, por esse facto, só deverá, abranger jovens com idade de acordo com as especificações técnicas das modalidades sob um rigoroso controlo pedagógico e médico-desportivo, por solicitação dos responsáveis técnicos e com a aprovação dos respectivos pais.
A especialização desportiva pode acontecer em regime opcional através de projectos especiais a articular numa perspectiva sistémica e protocolar com as organizações do associativismo desportivo onde o estudante está enquadrado e já a desenvolver a sua prática desportiva federada.
O Desporto Escolar deve responder à evolução da disciplina de educação física tendo em atenção o seu programa e o projecto desportivo da escola.
Do ponto de vista sistémico as competências e os conhecimentos a adquirir no âmbito da motricidade infantil nos cursos de formação inicial para professores do 1º ciclo do ensino básico, a fim de se cumprir o direito constitucional à cultura física e ao desporto, devem ser estabelecidos a nível nacional através de um programa plurianual para a disciplina de educação física que abranja o primeiro Ciclo do Ensino Básico a fim de poder ser objecto de monitoragem e controlo da eficiência relativa do funcionamento e da correspondente eficácia dos resultados conseguidos.
Em simultâneo, deve ser desencadeada a institucionalização de uma Carta Desportiva a produzir relatórios em tempo real que permita apurar as necessidades de recursos humanos, formação, instalações e apetrechamento.
A política desportiva de um país considerando que a educação desportiva deve começar no 1º Ciclo do Ensino Básico deve ser equacionada tendo em atenção ciclos longos de planeamento no mínimo de 12 anos correspondentes a três Ciclos Olímpicos. É tempo do desporto em Portugal numa visão estratégica do seu desenvolvimento, ao contrário daquilo que tem vindo a acontecer com fracos resultados, comece a ser equacionado e programado na sua base, isto é, nos locais e das organizações onde ele deve acontecer quer dizer, nas escolas do ensino básico e das famílias. Nunca nenhum país do mundo atingirá um nível desportivo decente com estratégias de especialização precoce que atentam contra os direitos das crianças."