terça-feira, 28 de julho de 2020

As papoilas germinavam-lhe nos pés...

"José Águas teve uma estreia infeliz com a camisola do Benfica, na Tapadinha, frente ao Atlético, no dia 24 de Setembro de 1950 - empate 2-2. Estava à beira de fazer 20 anos e ainda não se habituara às suas novas circunstâncias. Não seria preciso esperar muito: apenas mais uma semana...

Segunda jornada do campeonato nacional de 1950-51. Dia 24 de Setembro de 1950. O Benfica deslocou-se à Tapadinha para defrontar o Atlético. O onze inicial recita-se de cor para os adeptos mais fervorosos: Rosa; Jacinto e Fernandes; Moreira, Félix e Francisco Ferreira; Corona, Arsénio, Águas, Melão e Rosário.
Bem, eu digo que se recitava de cor, mas não é absolutamente exacto. Havia ali um elemento novo, do meio-campo para a frente. Águas: José Pinto de Carvalho dos Santos Águas, de seu nome completo. Estava à beira de completar 20 anos - no dia 9 de Novembro. Pela primeira vez era chamado ao team principal. Uma enorme curiosidade em seu redor. Faltava-se de um cabeceador temível, de um pássaro capaz de voar sobre os centrais adversários e tocar, de cima para baixo, do nada para o golo, as bolas que lhe fossem dirigidas à medida.
'É aquele! É aquele!', apontava um miúdo mais curioso.
A Tapadinha estava cheia, rebentando pelas costuras.
Os jornais da época registavam: 'Assistência avultada e franco ambiente de entusiasmo'.
O início foi rijo. Confronto directo, físico. Ben David dava água pela barba à defesa encarnada. Era um fulano tremendo de força e de vontade. Mas o Benfica tinha aquele trio de centrocampistas impressionante: Fernando Ferreira, Félix e Moreira. Autênticas torres num xadrez táctico que envolveu o adversário numa teia cada vez mais apertada e sufocante.
Águas era vítima de uma marcação homem-a-homem impiedosa por parte de Armindo. Lá de África, tinham chegado notícias sobre um rapaz que marcava golos em barda pela equipa de futebol da empresa Robert Hudson (representante da Ford), do Lobito. Depois jogou no Luso, e a sua fama cresceu até receber um convite do FC Porto, via telefone. José Àguas marimbou-se. 'Amanhã respondo', replicou. E o amanhã foi nunca.

Águas afligia-se
Nessa tarde da Tapadinha, Águas afligia-se. Não estava habituado a jogar em campos rehlvados, não lhe ajeitava aos pitons que lhe tornavam as botas mais rijas, menos maleáveis. Tinha chegado a Lisboa pouco antes, no dia 18 de Setembro, e já estava metido no futebol a sério, competitivo, bruto também.
O público não costuma perdoar quem quer que seja quando se sente defraudado nas suas expectativas. Olhavam para aquele rapaz magrinho, espigado, metido entre tantos dos heróis que tinham conquistado a Taça Latina três meses antes, e queriam golos e golos e golos. Afinal, não fora para isso que viera o tal de Águas? Mas nada de anda. Era o homem e as suas circunstâncias, com dizia Ortega y Gasset, e as circunstâncias erguiam-se cruelmente contra ao homem. O Atlético fez 1-0 por Ben David.
Uma revolta cresceu no peito do gigantesco Fernando Ferreira. Os seus gritos contagiavam companheiros e assustavam adversários. Mas logo no início do segundo tempo, 2-0, com autogolo de Félix.
Os benfiquistas, nas bancadas, arrancavam cabelos com o desespero. 'Mas por onde anda esse moço chamado Águas? Quando nos dará algo de diferente que explique o motivo de o temos ido buscar a África e de o treinador lhe dar a titularidade mal chegado que está a Lisboa?' Perguntas a que Águas ainda não estava preparado para responder.
Rosário foge pela lado direito, e não há quem o segure. Vai direito ao guarda-redes Ernesto, chuta com precisão e faz o 2-1. É tempo de arregaçar definitivamente as mangas, agora que a defesa do Atlético treme e vai perdendo a confiança que tinha exibido até então.
Há movimentos perigosos em ambas as grandes áreas. Percebe-se um equilíbrio notório, a qualquer momento surgirá um golo, mas para quem? A fadiga começa a fazer os seus estragos, o relógio não pára, o relógio não pára nunca! Cinco minutos para os três apitos derradeiros. Um último fôlego dos encarnados, indo buscar forças onde elas pareciam esgotadas. José Águas, o jovem José Águas, continua perdido no meio de um desafio de vontades e de garra ao qual não está habituado. Sente-se descoroçoado, mas não há motivos para isso. Os espectadores que, nessa tarde, saíram da Tapadinha frustrados com a sua exibição só terão de esperar mais uma semana. Na jornada a seguir, na goleada face ao SC Braga por 8-2, Águas marcará quatro golos, afastando em definitivo as nuvens negras que pairavam sobre ele como um mau presságio.
85 minutos. Rosário repete o seu golo a papel químico: 2-2.
Nada mais sobra no fundo da alma de 22 jogadores que esgotaram todos os seus recursos. O povo vai descendo devagarinho a tapada, em direcção a Alcântara, comentando as incidências da partida e a exibição sofrível de Águas, o africano. Águas regressa triste ao lar do Benfica. Mas é um homem de fibra. Na sua vontade férrea, os quatro golos que se seguirão em breve já germinam nos seus pés como papoilas num campo de gipsófila."

Afonso de Melo, in O Benfica

Como quebrar um recorde com duas décadas!

"Há 60 anos, antes de 'Monangambé' ou 'Os Meninos de Huambo', Ruy Mingas trouxe glória ao atletismo benfiquista

Os anos 60 foram uma época gloriosa para o futebol português e também para o atletismo, sinal da crescente qualidade dos atletas. Ao longo da década, foram-se quebrando múltiplos recordes.
No salto em altura, o recorde de 1,88m, com duas décadas de longevidade, esteve à guarda de Guilherme Espírito Santo, desde 25 de Agosto de 1940! Durante vinte anos, os 'apaniguados do atletismo' esperaram por um novo recorde, 'apesar de todas as tentativas, apesar de tantas vezes, em vão'.
De Angola vieram duas promessas: Ruy Mingas para o Benfica e Júlio Fernandes para o Sporting. O despique entre ambos tornou-se 'um dos mais apaixonantes motivos de todas as reuniões de atletismo'. Em pouco tempo, igualaram o resultado de Guilherme Espírito Santo, recobrando 'todas as esperanças naquilo que parecia negar-se'.
Tudo mudou naquele domingo, 19 de Junho, quando em Alvalade se reuniram os atletas do Benfica e do Sporting, juntamente 'com condições atmosféricas favoráveis', para disputar a segunda e última jornada do Campeonato Regional de juniores. Nos pés (ou asas) de Rui Mingas, que saltou 1,90m, o recorde foi finalmente quebrado! Frente ao adversário sportinguista, o novo recordista revelou-se sempre com maior velocidade e 'superior elasticidade, maior desenvoltura e força muscular'. A assistência era pouca, mas mesmo assim 'delirou exuberantemente', e reconheceram Mingas como 'o melhor homem destes «Regionais»'.
Juntamente com Goulão, somaram 42 pontos para o Benfica, contribuindo para uma diferença quase mínima frente ao adversário, que venceu com 'certa dificuldade'. A prova foi renhida, e só ao fim se soube 'a quem pertencia o título de campeão'. Apesar de não ter vencido por três míseros pontos de diferença, o Benfica venceu mais três títulos individuais que o Sporting, atestando a qualidade dos seus atletas. Para além do recorde nacional absoluto no salto em altura, Ruy Mingas venceu o ouro no salto em comprimento e nos 110m barreiras.
O seu irmão Avelino elevaria o recorde para 1,93m, em 1962. Ambos foram importantes políticos angolanos, um como ministro das Finanças, e Ruy, mais tarde, como ministro do Desporto e embaixador de Angola em Portugal.
Guilherme Espírito Santo, 'rendido e resignado, desportivamente, ao poder evolutivo e natural das coisas', sentiu-se feliz por ver o Benfica recordista, tal como os colegas de Ruy Mingas que naquele domingo 'erguiam aos ombros em sinal de triunfo' o novo recordista que, anos depois, ergueu aos ombros a revolução angolana, aprendendo como se ganha uma bandeira, como na sua canção.
Na área 4 - Momentos Únicos do Museu Benfica - Cosme Damião, pode saber mais sobre grandes marcos do atletismo do Clube."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

Mehdi Taremi


"Terminou a Liga com chave de ouro ao somar mais dois golos. Os dois do triunfo que permitiram ao Rio Ave a chegada a um lugar Europeu.
Invulgarmente hábil e móvel do ponto de vista motor para quem tem a sua morfologia, Taremi foi a grande surpresa da Liga NOS. É muito mais que um matador, um homem de último toque. Que também o sabe dar a preceito. Sempre com potência e colocação que lhe permitem um impacto elevadíssimo nos resultados, todavia mais impressionante ainda que a forma como finaliza com enorme assertividade é a forma como se movimenta, maioritariamente em profundidade.
Excelentes timings de desmarcação, tudo o que necessita é de ser bem servido no passe, que ele próprio encontrará o espaço e momento oportuno para ludibriar defensivas adversárias e chegar à cara dos guarda redes adversários.
Aos 28 anos e depois de apenas uma temporada na Europa desperta o interesse dos melhores clubes nacionais que em Taremi têm a certeza de um avançado que também nas cada vez mais determinantes tarefas defensivas, é um elemento valioso pela disponibilidade constante para pressionar e cortar espaços."

Objectivo Taça

"A nossa equipa está agora focada no último objectivo da temporada, a conquista da Taça de Portugal. Hoje à tarde iniciará um miniestágio em Óbidos, com vista à preparação para a final, que será disputada no próximo sábado, às 20h45, em Coimbra.
O Benfica é o clube que mais vezes conquistou esta prova, num total de 26 com a actual denominação "Taça de Portugal" (a alteração do nome ocorreu em 1938/39, conforme referido no relatório da Federação Portuguesa de Futebol relativo a essa temporada). Até à época anterior, no "Campeonato de Portugal", o Benfica havia triunfado por três vezes naquela que se tornou na prova-rainha do futebol português, totalizando 29 triunfos com ambas as designações (40 finais).
Esta é a competição do futebol nacional com mais vencedores, o que se entende facilmente por se disputar em sistema de eliminatórias. Seguem-se, no palmarés, ao Benfica com 29 (3+26), o Sporting, com 21 (4+17), o FC Porto, com 20 (4+16), o Belenenses, com 6 (3+3), o Boavista, com 5, V. Setúbal, 3, Braga e Académica, 2, todas já na era "Taça de Portugal". Houve ainda mais oito vencedores, três clubes até 1938 e mais cinco desde então.
Esta será a 11.ª final disputada entre Benfica e FC Porto (10.ª com a denominação "Taça de Portugal"), sendo o saldo extremamente positivo para as nossas cores com nove vitórias e uma derrota. A última vez que ambos os clubes se defrontaram na final foi na temporada 2003/04, em que vencemos, por 2-1, após prolongamento, com golos de Fyssas e Simão. Após este triunfo, voltámos a vencer a Taça de Portugal em 2014 e 2017.
O palco da final será em Coimbra, interrompendo-se assim a utilização do Estádio Nacional, no Jamor, algo que não acontecia desde 1983 e que, antes, desde 1946/47, só não se verificara em mais quatro ocasiões.
Veríssimo procurará seguir as pisadas de outros treinadores adjuntos que chegaram à final da Taça de Portugal na condição de treinadores principais e a venceram pelo Benfica. Valdivielso, em 1959, Fernando Caiado, em 1962, José Augusto, em 1970, e Toni, em 1993.
Será certamente um enorme desafio para a nossa equipa, a qual, estamos certos, se preparará da melhor forma para tentar conquistar mais um troféu para o nosso glorioso palmarés.
#PeloBenfica"

Semanada...

"1. João Noronha Lopes. Na quinta-feira João Noronha Lopes apresentou a sua candidatura para Presidente do Benfica. Esta candidatura é desde já uma novidade no panorama do futebol português porque pela primeira vez temos um gestor de dimensão internacional a querer ser Presidente de um clube de futebol. Regra geral podemos dividir os candidatos em três tipo de pessoas: empresários de dimensão nacional, políticos ou pessoas ligadas ao futebol. João Noronha Lopes não é nenhum desses. Tem um passado imaculado. O discurso de João Noronha Lopes para já parece ser o que se pede. Gosta de Jorge Jesus, quer uma estratégia para o futebol, quer limitação de mandatos, quer um código de conduta para os membros dos órgãos sociais do clube e não deixa de fora a possibilidade de manter Domingos Soares de Oliveira. A pouca experiência que tem no futebol também creio que seja positiva. Um Presidente de um clube de futebol não tem que contratar jogadores ou despedir treinadores. Os últimos anos têm provado isso. Sempre que um Presidente mete o dedo no assunto, não tem dado bom resultado. Um Presidente de clube de futebol tem que contratar alguém que perceba de futebol e deixar esse tipo de decisões para essa pessoa ou esse grupo de pessoas. Tem de deixar as tecnicalidades para os técnicos e focar-se no plano de futuro do clube. João Noronha Lopes parece-me saber isso. È este o modelo que usa nos Estados Unidos da América e é o modelo que aos poucos vai aparecendo na Europa. Quanto a João Noronha Lopes em específico, gostei do que vi até agora, vamos ver que mais ideias e nomes trará para a mesa.
2. Adidas. As primeiras imagens das camisolas da próxima temporada já estão aí. A camisola até deve ser anunciada algures na próxima semana. Na minha opinião, a nossa camisola principal vai ser a pior camisola principal que já vi do Benfica. Vamos ter uma camisola principal vermelha, com as riscas pretas e o símbolo monocromático em dourado. É horrível. O contrato com a Adidas termina em 2021. Espero que estes sejam os últimos equipamentos que a Adidas desenha para nós. A Puma neste momento tem os melhores equipamentos do mercado. Gostava de ver o Benfica a vestir Puma. Outra boa alternativa seria uma marca chinesa como a Li-Ning ou a Anta, que como toda a China quererão expandir, e provavelmente seriam capazes de oferecer as melhores propostas ao Benfica. O Benfica é um clube recheado de História e a Adidas não tem demonstrado que queira saber disso. A história do clube com a marca é bonita, mas chegou a altura de irmos procurar alguém que nos respeite e honre o nosso passado.
3. Taça da Liga. A Liga vai propor que a Taça da Liga do próximo ano tenha só oito equipas, as seis primeiras classificadas da Liga NOS e as duas primeiras da Segunda Liga após a última jornada de Novembro. Eu gosto do formato desde que não tenha sorteio e se privilegie quem vai nas primeiras posições. A próxima época vai ser muito puxada a nível físico. Os nossos jogadores, por exemplo, vão ter menos de duas semanas de férias. É importante tentar minimizar a sobrecarga de jogos. Este formato permite isso, mas também permite que a competição se realize.
4. Damian Hollis. A segunda passagem do americano por Lisboa foi muito aquém das expectativas. A saída acaba por ser natural. Quanto à composição da equipa, a nível de portugueses, já não deverá haver novidades. Todos os jogadores já renovaram. A nível de americanos, a única contratação para já é Scottie Lindsey. Eric Coleman deverá continuar. Micah Downs ainda não se sabe. Ainda falta anunciar pelo menos dois americanos. Se Downs sair, faltam anunciar três.
5. Novidades no Andebol. A equipa de Andebol oficializou esta semana vários reforços: Arnau Garcia (LE), Ole Rahmel (PD), Matic Suholeznik (Pivot) e Mahamadou Keita (PE). Já tínhamos apresentado o guarda-redes Sergey Hernandez. Falta ainda apresentar Lazar Kukic (Central). A estes jogadores vão se juntar Gustavo Capdeville (GR), Francisco Pereira (Central), João Pais (PE), Carlos Martins (PD), Paulo Moreno (Pivot), Belone Moreira (LD), Kévynn Nyokas (LD), Petar Djordjic (LE), Guilherme Tavares (LD), Pedro Loureiro (Pivot) e Dilan Belalcázar (LE). O plantel em princípio está fechado. O clube decidiu investir muito neste plantel e o resultado parece ser um plantel melhor que o do ano passado. O plantel ainda parece estar a uma distância significativa do Porto, principalmente no capítulo defensivo, visto que Djordjic, Belone e Nyokas não são propriamente especialistas defensivos. Se tivéssemos mais um pivot na linha de Matic, este plantel já poderia discutir qualquer coisa mais. De resto, gosto do facto de não termos um plantel muito grande, dando oportunidade para jogadores como Guilherme Tavares e Dilan Belalcázar (colombiano de 20 anos que fomos buscar o ano passado para a formação) tenham oportunidade por lutar por um lugar no plantel e crescer. Gostava que Joaquim Nazaré, uma das revelações da temporada passada, e Daniel Neves também fizessem parte do plantel. Ambos poderiam ser importantes a dar profundidade ao plantel e têm muita qualidade.
6. Aluguer do Avião. Luís Filipe Vieira fretou para ir ao Brasil e trazer Jorge Jesus e a sua equipa ténica. Havia uma alternativa muito simples: voar em Executiva pela TAP ou outra companhia aérea. Ao todo, só esta operação terá custado cerca de uns 100-200 mil euros à Benfica SAD. O Benfica Clube este ano cortou cerca de 25% do investimento nas modalidades. A maior fatia deste corte deveu-se à quebra de royalties pagos pela SAD ao Clube. Faz-me impressão que ao mesmo tempo que temos cortes históricos nas modalidades, o nosso Presidente tenha gasto este dinheiro todo só para uma viagem que tinha uma solução bastante barata. Este dinheiro daria para trazer um bom reforço para a equipa de Andebol, que vai ter um plantel demasiado curto, por exemplo.
7. Filip Krovinovic. O West Bromwich conseguiu a promoção à Premier League. Krovinovic foi o oitavo jogador mais utilizado da equipa. O jogador terá naturalmente muito mercado. O Benfica está recheado de bons médios centros. Tem se falado em alguns reforços também para essa posição. Não creio que Krovinovic regresse ao Benfica. Mas em princípio não deverão faltar clubes interessados nele. Deve representar um bom encaixe financeiro na ordem dos 10 milhões de euros."

15 minutos à Benfica

"Boa tarde, jogadores! Antes de mais queria agradecer ao presidente e ao treinador a oportunidade que me deram de falar com vocês, a poucos dias da final da Taça de Portugal. Sou um simples adepto e sócio do clube, mas vou tentar passar-vos tudo o que tenho na alma, bem como o sentir e o pulsar da imensa nação Benfiquista. Foi essa a ideia desta iniciativa e é por isso que estou aqui.
Olho para vocês nos olhos, aqui sentados no balneário e noto a descrença e a falta de confiança. Não levem a mal, mas nota-se a léguas. Eu não sei o que se passou entre vocês esta temporada para a queda que tiveram, mas neste momento nem quero falar disso. Quero-vos falar de um clube muito especial. Sim, do Benfica. O clube que vocês representam. Alguns saberão isto, outros nem tanto, mas vocês têm noção do clube em que estão? Não sabem, não...se vocês soubessem, verdadeiramente...caramba, este clube é tão bonito. Tem uma História tão bonita. Nasceu pobre, com poucas condições e fez-se gigante. E sabem porque se fez gigante? Porque virou uma frente Popular! De uma forma que não tem explicação, o povo apaixonou-se pelo Benfica, identificou-se com algo genuíno e despretensioso. O "Sport Lisboa" que depois também virou "e Benfica" nasceu humilde, e quando se deu por isso era o grande de Portugal e além-fronteiras. Sempre com o amor dos seus adeptos. Sabiam que o antigo Estádio da Luz foi construído pelas suas gentes? Criaram rifas, leilões, doações, tudo e mais alguma coisa para que houvesse dinheiro. E onde não havia dinheiro, havia trabalho. O povo pegava nas enxadas e ia cavar para os terrenos baldios. As pessoas até pagavam para fazer isso! E depois, com presidentes doutores e presidentes operários, houve Eusébio, títulos europeus, hegemonias internas, novas finais europeias e uma série infindável de glória! Mas também de tristeza. Este clube já passou por uma fase muito difícil, quase que fechou portas. Curiosamente foi durante a minha adolescência. Mas sabem do que me lembro sempre desses tempos? É do Benfica ter perdido uma vez 7-0 e no jogo seguinte ter visto no estádio um jovem como eu com uma camisola que dizia "nem que fossem 14!". É que, meus amigos, este clube tropeça, mas não cai. Este clube não desiste, nunca! Há bocado falei de Eusébio...vocês têm noção do que é serem herdeiros de um dos maiores jogadores de todos os tempos? Olhem para essas vossas camisolas...um dia foi o King que a envergou! E fixem isto e nunca se esqueçam, porque é a verdade. Decorem estas palavras e que nunca mais vos saia da memória: Estão preparados? Quando vocês estão em campo, estão milhões de pessoas a sofrer por vocês. Mas não é só em Portugal. É em Angola! Em Moçambique! Em Cabo Verde! Sabiam disso? O Benfica vai a qualquer desses países e é recebido com um amor incalculável. Muitos de vocês já foram a tantos países europeus e alguma vez os adeptos vos falharam? Vocês jogam por um clube que é do norte, do sul, do este e do oeste. É de toda a gente e de toda a parte! Aqui há uns anos o Benfica jogou no Stade de France contra o Lille e, sem exagero, estavam lá 50.000 Benfiquistas. O nosso treinador bicampeão europeu Bèla Guttmann disse de forma perfeita um dia: "Chove? Está frio? Faz calor? Que importa. Nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves da serra ou no meio das chamas do inferno; por terra...por mar...ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica, atrás da sua equipa. Grande, incomparável, extraordinária massa associativa!"
E portanto, herdeiros de Eusébio, eu vou-vos pedir um favor. No sábado, quando entrarem em campo, joguem pelo menino de 10 anos que chora quando o seu Benfica perde. Joguem pelo velhinho de 90 anos que desfruta de cada jogo do seu Benfica como se fosse o último. Joguem pelo Benfiquista que mora na cidade do Porto e que no dia seguinte vai ter que os encarar na escola, no emprego ou no café. Joguem pela rapariga e pela mulher que ultrapassa o preconceito e diz "Sim, eu gosto de futebol. Sim, eu gosto do meu Benfica. E sim, eu sinto, entendo e percebo este jogo tão bem ou melhor que tu". Joguem pelo pobre, pelo rico, pelo branco, pelo preto, pelo novo, pelo velho, pelo homem, pela mulher, porque todos fazem parte desta casa. E sim, joguem por vocês! Joguem pela vossa família! Joguem pela cozinheira, pelo apanha-bolas, pelo Pietra, pelo Sr. Shéu. Joguem pelo Sport Lisboa e Benfica! Pelo clube que foi um bastião de democracia durante o fascismo! Que foi cosmopolita no colonialismo! Que foi europeu ainda antes da integração europeia! Que foi interclassista ainda antes do conceito do Estado Social!
Neste clube aprendemos a jogar por nós, a vencer por nós e não contra os outros. Está na nossa génese e dificilmente algum dia irá mudar, mesmo que a gasolina do "contra tudo e contra todos" dê tanta força ao outro lado. Mas eu tenho que vos dizer isto: Preparem-se. Vocês vão para uma guerra. O outro lado odeia-vos. Não sejam meninos. Não sejam anjinhos. Não entrem com sorrisos e palmadinhas nas costas, quando os outros vão entrar de faca nos dentes. Disputem cada bola como se a vossa vida dependesse disso, apoiem os vossos colegas como irmãos de armas e mesmo que sintam dor, cansaço, cãibras...dêem um bocadinho mais. Só mais um bocadinho! Pela glória. Pela História! Para que daqui a muitos anos, possam dizer aos vossos netos: sim, eu joguei naquele clube maravilhoso, eu fui um herdeiro de Eusébio e no dia 1 de Agosto de 2020 fiz milhões de pessoas felizes. Em Portugal, em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde, nos Estados Unidos, um pouco por toda a Europa. E por isso, no dia 1 de Agosto de 2020 também o teu avô foi feliz.
Mais uma vez, obrigado a todos os que me permitiram estes 15 minutos com vocês. Do fundo do coração, desejo-vos a melhor das sortes. Sintam na alma a chama imensa! E eu estarei a sofrer por vocês. Estaremos todos!"

Ás de trunfo!!!

"Terá Fontelas Gomes o ás de trunfo?
Depois da utilização de dois ases (Carlos Xistra e Jorge Sousa) nas últimas duas jornadas, falta um jogo para terminar a época e Fontelas Gomes parece estar a guardar o melhor para o fim.
Num ano em que tudo mudou, há coisas que nunca mudam em Portugal.
Artur Soares Dias é o ás de trunfo do #PortoaoColo e muito surpreendidos ficaríamos caso não fosse o escolhido para a Final da Taça de Portugal no sábado. Depois de ter ajudado a virar o Campeonato, terá de ir dar uma ajuda ao clube do coração na Taça.
Terá sido o bolo da festa confeccionado na pastelaria de Artur Soares Dias?"

Karma!!!

"Uma grande notícia do fim de semana: o Calor da Noite B desceu de divisão.
A ironia é terem sido despromovidos por um ponto. Ponto esse que foi atirado propositadamente para a bancada dos Super Dragões na marcação de um penalti por um jogador cujo sonho era terminar a carreira no Calor da Noite.
Não nos esquecemos.
A isto chama-se karma."

Para os pilantras: o futebol é maravilhoso quando só é futebol

"Há alcateias de propagandistas, uma vara de cartilheiros e piratas de SADs vestidos de fato, gravata e colarinho branco. Gente cujo menor dos interesses é o triunfo do futebol. A esses, tipos de coluna maleável e convicções gelatinosas, só o beijo do poder e a bênção do padrinho apoquenta.
Os pilantras querem estar em todo o lado. Agora, triste sina, rasgaram em pedaços a história bonita e longa do Clube Desportivo das Aves. Não se importam com os futebolistas, os treinadores e os adeptos que estão sempre lá, enquanto os farsolas entram e saem. Foram eles, sim os adeptos, que fizeram 600 quilómetros até Portimão, mesmo com as bancadas fechadas e a equipa já despromovida.
É este o futebol que me interessa, porque o futebol é maravilhoso quando só é futebol.
O futebol é extraordinário quando vejo o conto de fadas do Leeds United e um actor de Game of Thrones a entregar o coração e a alma à loucura de don Bielsa.
O futebol é também fantástico quando coloca Paco Fortes em lágrimas e a beber champanhe, enquanto saboreia numa golada o regresso do seu Sp. Farense ao escalão maior.
Este futebol, o futebol que amo, é comovente e belo quando manda para as ruas a cidade de Cádiz e a cidade sobrevive, mesmo que o clube perca e só suba no dia a seguir.
O futebol, maravilhoso não é? Quando vemos o icónico Lucas Radebe a falar sobre o Leeds a partir da África do Sul, quando vemos um adepto propor-se a fazer 1000 quilómetros por amor ao seu clube, quando temos as cidades de Vila do Conde e de Famalicão prontas a abençoar os seus heróis, mesmo que só uma tenha podido ganhar.
O lado bom da bola. Existe, pois claro. Quando Bruno Fernandes e Ricardo Pereira telefonam para saber como podem ajudar o Desportivo das Aves ou quando um miúdo do Benfica estreia-se no campeonato e marca dois golos em oito minutos.
E o que dizer dos sonhos cumpridos das «crianças» do FC Porto? Diogo Costa, Diogo Leite, Tomás Esteves, Vítor Ferreira, Romário Baró, Fábio Vieira, Fábio Silva e João Mário, vencedores da UEFA Youth League em 2019 e campeões nacionais em 2020.
O futebol é maravilhoso quando só é futebol. Palco para todas as emoções, para o suspense e o coração que só por sua causa é capaz de bater mais depressa. O que sentirá o adepto que festeja nos descontos o golo que o leva à Europa e que logo a seguir sofre o empate e um banho de realidade?
É disto que precisamos, é isto que queremos. A SIC anunciou o fim dos programas com a participação de comentadores afectos aos três grandes e queixa-se da «toxicidade» que o modelo leva à modalidade. A ideia é boa, mas não podemos ser ingénuos e achar que tudo vai ficar bem. Os abutres continuarão à solta, noutro céu qualquer.
Gostava de acreditar que isso é o primeiro passo para roubar o futebol das mãos dos departamentos de comunicação dos clubes e devolvê-lo a quem melhor o trata. Lamento, ainda não consigo.
O problema é profundo, generalizado e grave. Só um acordo alargado – Liga, FPF, demais órgãos de comunicação social – poderá devolver qualidade e dignidade aos espaços de comentário/análise futebolística. Por ora, agarremo-nos a contos soltos, a maravilhas saídas do realismo mágico de um campo de futebol, aos feitos improváveis e heróicos.
A identidade da instituição, o emblema, o equipamento, o estádio, o craque do poster lá de casa. Há mais alguma coisa a importar além disto?"

SIC e Canal 11 decidiram defender o Futebol. Quem os segue?

"Em 2016 a GoalPoint teve a oportunidade de trabalhar em televisão com a SIC Notícias. O mérito da nossa estreia e de como a aproveitámos foi quase todo para Ricardo Costa. O director-geral de Informação da SIC deu-nos total liberdade para criar uma agenda de conteúdos centrada no EURO 2016, que permitisse à SIC Notícias diferenciar-se, num contexto que não permitia à então estação de Carnaxide apresentar quaisquer imagens do torneio, nem sequer golos.
Abraçámos o desafio com “unhas e dentes”, em parceria com a GoTV (parceira da GoalPoint desde então), e durante cerca de um mês entregámos diariamente informação e grafismos prontos a ir para o ar, desde as estatísticas imediatas pós-jogo aos melhores em campo, passando por rankings, tops, comparativos, factos do dia, recordes e análises diversas. Aos cerca de 15 temas diários enviados para a SIC Notícias somavam-se as sinopses contextuais que permitiam aos diversos pivots entender e escolher o que queriam lançar em emissão, sem necessitarem de qualquer ajuda da GoalPoint. E quando a estação colocava os seus comentadores em debate, lá estavam os oráculos “à Bloomberg”, que em vez de cotações mostravam rostos, nomes e feitos dos artistas individuais do torneio, em inúmeros rankings rotativos que demoravam longas dezenas de minutos a repetirem-se. O serviço funcionou na perfeição, nada falhou, e somando isso à importância que aquele Euro teve para todos nós, a nossa convicção de que aquele era apenas o começo era total. Mas não foi bem assim e hoje em dia só lamento não ter guardado mais “screenshots” desse projecto.
Findo o Euro, e pese o reconhecimento da qualidade e diferença que havíamos feito em conjunto, Ricardo Costa deixou claro que se nos deparava um obstáculo que se viria a revelar intransponível: a SIC Notícias apresentava uma grelha demasiado preenchida com programas fixos “de Futebol”, muitos deles demasiado parecidos. O homem-forte da SIC não queria, compreensivelmente, sobrecarregar ainda mais o canal com conteúdos futebolísticos, ao mesmo tempo que deixava claro nas suas palavras não ter condições para os trocar por novas abordagens. O tempo foi passando e nunca mais, na SIC ou noutro canal, surgiu algo semelhante ao que foi feito nesse inesquecível verão. Não voltámos a ter a oportunidade de mostrar que há espaço para algo mais, pese alguns “ameaços” e a boa relação que mantemos com praticamente todas as estações.
Quatro anos volvidos, foi o próprio Ricardo Costa a anunciar que a SIC Notícias irá descontinuar os “programas com comentadores que representam clubes de Futebol”, associando-os até ao clima de “toxicidade” que se vive no futebol português. A decisão pode ter sido demorada e, aos olhos de alguns, tardia, mas não deixa de ser um sinal muito positivo para quem gosta realmente de Futebol. Com todo o respeito pelos muitos intervenientes que participaram neste tipo de programas, muitos deles mais vítimas que culpados do formato, a existência destes programas estava assentes em praticamente tudo o que não interessa a quem realmente gosta do desporto-rei e gostaria de o ver tratado, ao nível mediático, como o é noutras culturas que, ou nunca tiveram formatos semelhantes, ou já os enterraram há muito.
A decisão da SIC é corajosa e, sobretudo, promissora. Tenham os formatos substitutos de sucesso, trazendo quiçá audiências há muito divorciadas do futebol televisivo que não o transmitido em directo, e isso poderá inspirar os canais que persistam em insistir num conteúdo defunto. Mas neste momento é justo relembrar que a SIC não é propriamente a primeira a abrir este caminho. O rumo que o Canal 11 segue, desde o seu aparecimento, foi certamente a primeira chama (que sei intencional e planeada) nesta “queimada” construtiva do que não interessa ao Futebol, ao nível do conteúdo.
Por tudo isto, e porque sempre fomos frontalmente críticos da forma como os media portugueses, em especial os televisivos, promoveram a depreciação da essência do Futebol, é por demais justo aplaudir, elogiar e até agradecer o caminho que primeiro o Canal 11 e agora a SIC Notícias decidiram trilhar, em defesa do Futebol. Para lá de aplauso, os dois projectos merecem sobretudo a atenção e audiência de todos os que querem ver o Futebol como verdadeiro tema central do conteúdo televisivo que nele encontre razão para existir. Que este seja mais um passo rumo a um Futebol português melhor."


PS: A decisão de acabar com estes programas é positiva, mas a SIC só avançou com esta medida, porque tem vindo a perder audiências para os concorrentes... o resto é treta!

De Pizzi a Jardel, mas também com muito mérito do colectivo leonino


"Embora realizando um jogo de nível muito baixo no Estádio da Luz, o golo do Sporting delineou-se numa saída em contra ataque de grande categoria sustentado em movimentos e definições habituais no padrão ofensivo leonino.
Roubo da bola – Procura do Apoio Frontal do Ala do lado da bola (Jovane) que coloca num médio de frente para o jogo (Wendel), enquanto no lado oposto o ala já acelera na frente (TT) para então se dar início ao momento de acelerar a jogada. Categoria na saída e gestos técnicos a finalmente não encontrarem erro.
Do outro lado, a perda sem qualquer critério habitual em Pizzi que deixa sempre a equipa exposta aos contra ataques adversários, e a decisão errada de Jardel de travar o movimento correcto que vinha fazendo – Baixar no campo para controlar o espaço nas costas. Travou, TT percebeu e ofertou o golo a Sporar."