domingo, 21 de junho de 2020

O Orçamento

"A proposta da Direcção do Orçamento e o Plano de Actividades do clube para 2020/21 são a confirmação de quatro dos mais sólidas princípios da gestão - a humildade, o compromisso, a determinação e o ecletismo. Apesar da crise profunda que nos impede de fazer previsões, a verdade é que a Direcção conseguiu apresentar uma proposta ambiciosa.
Como refere na sua mensagem o presidente, já vivemos tempos igualmente desafiantes, há duas décadas, e todos sabemos o que nos custou e o que foi preciso fazer para resgatar o Clube. Felizmente, conseguimos nestes últimos 20 anos recuperar. Esta foi a nossa password. Recuperar as contas, recuperar a credibilidade e recuperar a competitividade. Tudo isto hoje parece fácil, mas não foi. Os resultados falam por si a todos os níveis. Do ponto de vista desportivo, impressiona a forma como, sobretudo nesta década que está a terminar, o SL Benfica assumiu a hegemonia do futebol e passou a vencer mais vezes do que os nossos adversários nas modalidades. Desde 2009, conquistámos 19 títulos no futebol, com a particularidade de nas últimas seis épocas termos vencido o campeonato por cinco vezes. Nas cinco modalidades de pavilhão, os resultados não enganam. Apesar da estimada perda de receitas na ordem dos 20% não iremos perder competitividade. E, muito importante, manteremos o eclectismo e com uma base cada vez mais sólida - a aposta na formação. Tudo isto sem pôr em causa a sustentabilidade do Clube. Apesar de a pandemia afectar a rentabilidade, a verdade é que não teremos prejuízo na próxima temporada. Tenhamos todos a noção de que continuamos a ser uma excepção à regra. Porque temos dirigentes competentes, funcionários, treinadores dedicados, atletas briosos e adeptos únicos."

Pedro Guerra, in O Benfica

Somos os nossos valores

"Se há tempos em que os valores humanos contam para a nossa conduta social e bem-estar colectivo, é este que hoje vivemos. Sou de uma geração que cresceu a aprender a viver em liberdade e que se habituou à ideia de que a liberdade de cada um começa onde termina a liberdade do outro, o que mete em equação o respeito e a responsabilidade. Palavras sábias e tão actuais...
Esta geração cresceu e ensinou aos seus filhos que Portugal se cumprirá apenas quando se libertar de pequenez e da mediocridade, de autocomiseração e do destino. Por outras palavras, vieram ao plano dos ideias de vida valores como a verdade, a superação, a resiliência e a excelência.
E assim temos evoluído colectivamente e aumentado a autoestima colectiva, às vezes até exorbitando e acreditando ser possível a superação fácil ou obrigatório atingir repetidamente todos os sucessos alcançados na cena internacional. As novas gerações parecem definitivamente libertas desse histórico fatalismo nacional que alguém um dia confundiu com fado. Mostram-se capacitadas e à altura de competir com os melhores em qualquer domínio em qualquer parte, caminhando sem complexos pelos caminhos difíceis da competitividade e prontos para lutar e vencer.
Os benfiquistas entendem bem isto porque têm como lema nada menos que a excelência, ambição de serem os melhores de entre os melhores: 'e pluribus unum'. Mas, tal como o Benfica, importa na vida travar e vencer todas as batalhas com a humildade dos campeões. Por isso consideramos tão importante o projecto KidFun - Educação para Valores. Por isso, também, o adaptámos às novas circunstâncias, e as escolas, as crianças e as famílias aderiram em massa. É esta a importância e a força do projecto KidFun: parece brincadeira, mas é do nosso futuro colectivo que se trata!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Mais do que um algoritmo

"1. Uma coisa é certa, alguns dos mesmos que, apenas há uma semana, nos envergonhámos de ver o golfar sentenças de morte a jogadores e treinadores campeões voltam a ser, agora, aqueles que tecem as loas das certezas absolutas com que afinal se moldam as mais pequenas e desprezíveis estórias da grande História do Sport Lisboa e Benfica. O adepto do Futebol tem quase sempre duas caras: tanto vai de rosto triste como chega de alegre face.
2. Mais de ansiosa amargura das derrotas à transbordante euforia das vitórias e conquistas vai um átimo. E, muitas vezes, um golpe de asa. Ou, mesmo, um sopro de sorte. O que faz e compõe a magia e a fortuna de um desporto mais do que centenário não é um algoritmo simples de montar ou resolver. Tanto mais que o rendimento de cada atleta, aqui, tanto o faz depender do trabalho de uma equipa inteira, com os diversos técnicos que os comandam, com os suplentes todos e com as estruturas que estão ali para o defender e apoiar, como, na hora do jogo, também tem de ser ele próprio singularmente contributivo do desempenho colectivo de todos os companheiros juntos.
3. A quem podem ser verdadeiramente assacadas as culpas de um apagão? Ou, tirando o caso excepecionalíssimo de um Eusébio, a que jogador (ou treinador) sozinho poderia, mais apto ou mais estúpido que fosse, vir atribuir todas, mais mesmo todas, as exclusivas razões de uma noite de triunfo de uma equipa?
4. Esse tempo, infelizmente, já acabou. Eu próprio me dei (sorte a minha!) a assistir a centenas delas, neste longo trajecto de vida de que me orgulho, no meu Benfica... Mas isso já foi chão que deu uvas. E uma coisa é certa: cada vez parece mais claro que esse tempo de todas as culpas, como o de todos os méritos exclusivos no Futebol, passou. De vez. Não existe mais.
5. Muito menos nestas circunstâncias em que estamos afundados: a ver o Futebol por um canudo; com estádios de acessos proibidos; e com palmas e assobios de sonoplastia forçada. Raios partam o vírus!
6. Nem os deuses do Futebol - que sempre gostaram de nos pregar as suas tão características 'partidas'... - têm mão no tema:  a bola, sendo redonda, nem sempre cumpre a trajectória mais apetecível; a a morfologia de cada atleta perturba-se, por vezes, no lance mais inócuo; um centímetro de relva mais crescida basta para adormecer o ritmo de um jogo... E, além de um árbitro sem pulmões, sem talento técnico (ou de espinha mesmo erecta), pode inclinar o campo de jogo de uma parte para outra, hoje, toda a mal enjorcada tripulação arbitral, armada de microfone e câmaras como nunca dantes, vir 'ajudar' também, e tão determinantemente, à festa das inconsequências e maldades que, em especial no futebolizinho à portuguesa, mais castigam os competentes e sustentam os perversos.
7. Resta assim, quando ganhamos ou perdemos, para bem da saúde mental de cada um dos que gostamos mesmo do Benfica e do Futebol, mantermos incólume esta perspicácia de conservar sempre intacta a confiança e intocável o orgulho nos símbolos que nos unem - o nosso Emblema, a nossa ideia de Glorioso Clube, e deixar inapelavelmente de fora aqueles que (sem se perceberem!) persistem em se pôr de fora, porque preferem jogar o venenoso jogo dos incapazes."

José Nuno Martins, in O Benfica