sexta-feira, 19 de junho de 2020

Das expulsões em Vila do Conde aos penáltis em Alvalade

"Dos três jogos de mais impacto dos últimos dias na Liga portuguesa, o Rio Ave-Benfica foi aquele que registou mais casos e situações técnicas e disciplinares que, de uma forma geral, foram bem resolvidas. Vou destacar alguns desses lances, agrupando-os pela similaridade das acções e não pela sequência cronológica.
Assim, debruço-me sobre as duas expulsões que ocorreram e que foram bem decididas pelo binómio árbitro/VAR. Al Musrati é advertido aos minutos 13 e 62, por em ambas as situações cortar um ataque prometedor. A primeira infracção foi sobre Pizzi, que entrava na área com perigo, e a segunda foi sobre Rafa, que escapava com velocidade e com a bola controlada na direcção da baliza adversária. Ao minuto 72, Nuno Santos foi expulso, com cartão vermelho directo, após intervenção do VAR, já que o árbitro tinha inicialmente mostrado o cartão amarelo. A entrada do jogador do Rio Ave é enquadrada na falta grosseira, pois ao entrar de sola e com os pitons sobre o seu adversário, usou de força excessiva, que pôs em risco a segurança e a integridade física do jogador “encarnado”. No minuto 27, o do golo do Rio Ave, e no minuto 87, o do golo do Benfica, temos a questão do uso das mãos, de eventuais agarrões e empurrões e a sua intensidade. Em ambos os casos, o árbitro deixou seguir e jogar, sendo que o VAR, baseado no protocolo, cumpriu a indicação de só intervir em caso claros e óbvios, validando a decisão do juiz de campo.
No golo do Rio Ave, Borevkovic e Dyego Sousa usam os braços de forma mútua. Contudo, no final do lace é mais evidente o puxar da camisola ao jogador do Benfica, mas aceita-se a leitura, porque inicialmente esse contacto e agarrão é recíproco.
No golo de Weigl, vê-se que Vinícius tem o seu braço esticado e coloca a mão nas costas de um adversário, mas fica a ideia de não haver uma consequência faltosa, até porque Vinícius também está a ser carregado por um jogador vila-condense nas suas costas. Ou seja, tudo acções de contacto normais e sem motivo para falta.
Ao minuto 79, não há motivo para penálti, o cabeceamento de Taremi leva a bola a embater na zona inferior do ombro de Ferro, que tinha o braço encostado ao corpo, não o abrindo nem ganhando volumetria.
O principal caso de jogo ocorre ao minuto 42, com o golo correctamente anulado ao Benfica. A lei 11, na sua página 99 e 100, esclarece de forma clara e inequívoca a interpretação deste lance, ou seja, o fora-de-jogo (17 cm) de Dyego Sousa enquadra-se na expressão “tomar parte activa no jogo” por interferir com o adversário. Não obstante não ter tocado na bola, o jogador do Benfica tentou claramente jogar a bola que se encontrava perto, tendo esta acção tido impacto no adversário (Borevkovic).
Um dia antes, no Desp. Aves-FC Porto, houve três lances a destacar.
Minuto 19: penálti incorrectamente assinalado a favor dos “dragões”. Szymonek, com os punhos, soca apenas a bola, sendo o contacto posterior com o corpo com Otávio normal e sem infracção, fruto do movimento contrário de ambos os jogadores.
Minuto 45: falta atacante incorrectamente assinalada a Tomás Esteves sobre Afonso Figueiredo. Este lance tornou-se relevante pois o assistente levantou de imediato a bandeirola e o árbitro interrompeu o jogo, mas por se tratar de uma acção próxima da baliza e de finalização, deviam ambos ter esperado pelo fim da jogada e só depois intervir. Desta forma, anularam a hipótese de uma revisão por parte do VAR de um lance com potencial perigo de golo.
E por último um fora-de-jogo (56cm) assinalado a Corona, que acaba por anular o penálti cometido sobre Luis Díaz. Boa decisão da equipa de arbitragem.
Em Alvalade, os diversos casos que existiram foram ao nível das áreas. Ao minuto 3, Jovane é tocado na sua perna pelo joelho de Jaquité, já no interior da área. O médio do Tondela acaba por desequilibrar o avançado leonino, que cai e perder o controlo da bola. Uma infracção passível de pontapé de penalti.
Minuto 29: penálti bem assinalado. Pepelu faz o tackle deslizante para tentar interceptar a bola, mas não apoia o braço esquerdo no chão junto ao corpo aquando da queda. Pelo contrário, abre-o de forma deliberada para ganhar volumetria e, desta forma, antecipar a trajectória da bola, acabando mesmo por lhe tocar.
Minuto 41: mais um penálti que ficou por assinalar. A repetição é clara e inequívoca da intencionalidade e do acto deliberado de Yohan Tavares, que vira o corpo à bola mas que depois roda completamente o braço esquerdo e a intercepta com o cotovelo. Ganhou volumetria, afastou o braço do corpo, levando-o ao encontro da bola rematada por Camacho.
Minuto 50: lance de televisão, em que todas as repetições, sem excepção, mostram que foi clara e óbvia a acção de Jaquité, ao agarrar de forma ostensiva e deliberada Coates, impedindo a sua movimentação e acabando por derrubá-lo. Mais uma infracção no interior da área passível de pontapé de penalti."

(Des)Liga dos Campeões

"António Costa referiu que a decisão de acolher a Liga dos Campeões se tratava de um prémio para os profissionais de saúde. Na realidade, estes profissionais não beneficiam da escolha da UEFA em nenhum dos cenários. O mesmo pode ser dito dos adeptos de futebol nacionais.

A fase final da Liga dos Campeões irá ser jogada em Lisboa e, após o anúncio da UEFA, António Costa não demorou a enaltecer o papel de todos os cidadãos, que, pelo seu comportamento exemplar durante a pandemia, viabilizaram esta escolha. É sinal de que o nosso país é visto como seguro e preparado para acolher os maiores jogos do calendário de clubes, acompanhados por milhões de pessoas em todo o mundo. Marcelo Rebelo de Sousa também admitiu ser uma boa notícia para Portugal. Mas que impacto terá realmente esta decisão? Ainda é difícil determinar porque muito depende da abertura (ou não) dos recintos desportivos.
É a abertura parcial dos estádios ao público que vai determinar a afluência da maioria dos adeptos estrangeiros, com todos os impactos positivos que gera, particularmente para o sector do turismo (um dos mais afectados pela pandemia). Apesar disso, parece-me pouco sensato que, menos de duas semanas após o término da época nacional (que será concluída à porta fechada), as autoridades aprovem a abertura dos estádios a adeptos internacionais. E, caso se mantenham as portas fechadas, a “boa notícia” de que falam primeiro-ministro e Presidente da República cai por terra. Os adeptos perdem o motivo para viajar e os restantes turistas estarão mais receosos, logo menos receptivos a visitar o país.
António Costa referia ainda que a decisão se tratava de um prémio para os profissionais de saúde. Na realidade, estes profissionais não beneficiam da escolha da UEFA em nenhum dos cenários. O mesmo pode ser dito dos adeptos de futebol nacionais.
A ausência de adeptos nas bancadas no regresso aos relvados contribuiu para enfatizar a pobreza do jogo na liga portuguesa. Os dois candidatos ao título sucedem-se em deslizes e praticam um futebol rudimentar e inconsequente. Assim sendo, a realização da fase final da Liga dos Campeões em Lisboa surgiria, aparentemente, como uma boa notícia: os portugueses poderiam assistir ao futebol de mais alto nível dentro das suas cidades. A verdade é que o comum adepto assistirá igualmente aos jogos pela televisão, quer estes se realizem em Portugal ou no estrangeiro. No caso de a DGS decidir abrir os recintos, a oferta de bilhetes será, muito provavelmente, dirigida aos adeptos estrangeiros.
De qualquer forma, os fãs portugueses estarão sempre desligados da competição. Podíamos argumentar que a própria imagem da Liga dos Campeões em Portugal funcionasse como incentivo para alguns aficionados de equipas portuguesas assistirem ao futebol apenas pela beleza do jogo. A nossa sociedade revela um défice de cultura desportiva, o que torna importante aprender a ver além da cor da camisola. Porém, estaríamos a sonhar demasiado alto, num país em que polémicas entre dirigentes e representantes dos clubes (“grandes”) abrem noticiários. Como referia António Tadeia, a realização destes jogos trata-se, acima de tudo, de “um favor do futebol ao país”. Podemos apenas esperar que as condições sejam favoráveis à abertura dos estádios e que isso impulsione o regresso do turismo, tão necessário ao nosso país."

Saúde Mental e Literacia Emocional (ou a falta dela)

"Portugal mantém-se muito perto do “Top Mundial” em questões que se relacionam com a ausência de Saúde Mental, sendo neste momento um dos países da OCDE que mais consome ansiolíticos e antidepressivos, atingindo já uma taxa que duplica o consumo ocorrido em alguns congéneres europeus – e, esta, talvez não seja um pódio onde almejaríamos estar.
Apesar deste fenómeno não ser uma consequência directa da pandemia que vivenciamos, uma vez que este tipo de estatísticas começa a ficar fortemente enraizado no nosso DNA (como tem sido evidenciado nas estatísticas referentes a esta área nos últimos anos), naturalmente que assumiu proporções mais expressivas no decorrer da mesma, com o testemunho dos mais jovens a referenciar um aumento de cerca de 17% no consumo de psicofármacos neste mesmo período.
Este não é, por isso, um tema “novo” – é sim, um tema que nos acompanha por estar a ser, desde sempre, descurado e “não visto”... entenda-se, considerado um tema quiçá “menor”.
Já se sabe que - e perdoem-me a expressão, mas tendo já decorrido mais de 20 anos do início do novo milénio, é incompreensível - “parolamente” a nossa cultura continua a associar as questões de vulnerabilidade psicoemocional a um qualquer “defeito de fabrico” que precisamos esconder a todo o custo, ao invés de os encarar como “margem de progressão” para aquisição de novas e melhores competências, novas e melhores formas de bem-estar.
Também sabemos que, curiosamente, outros sinais de igual (ou maior) fragilidade psicoemocional (e, por vezes, psicopatia), expressos através de comportamentos agressivos (de grande “virilidade” para os latinos? Será que ainda é isto?), parecem merecer os créditos de uma qualquer “competência acrescida” quando, por exemplo, passando por cima de tudo e todos se chega a um dado patamar de um qualquer tipo de “êxito” que a nossa sociedade teima em, uma vez mais “parolamente”, validar... 
Contudo, a única razão que nos “prende” e faz estagnar, como se não fossemos capazes de olhar para uma Saúde Global e não estigmatizada (onde se inclui tanto as áreas psico-emocionais, como as que se referem à nossa saúde músculo-esquelética, cardiovascular, venosa, entre tantas outras) relaciona-se inevitavelmente com uma espécie de “analfabetismo emocional”, onde a incapacidade em ler emoções (as nossas e as dos outros), contribui de forma dramática para todo e qualquer tipo de problemática que assole a nossa sociedade.
Dúvida? Vamos fazer um pequeno teste:
Baixo rendimento escolar (curiosamente, por vezes o alto também), bullying (em contexto académico ou empresarial), violência e agressividade (em casa, no desporto, nas escolas, nas empresas, em todo o lado), taxas elevadas de consumo de psicofármacos, consumo elevado de fármacos para regulação do sono (ou do apetite, ou da energia em geral), índices elevados de insatisfação com a escola (apurados muito recentemente numa amostra de alunos portugueses que, na realidade, se encontram “amotivados” – sem motivação alguma), elevadas estatísticas de divórcio (que, em Portugal, e à semelhança de muitos outros países, dispararam a seguir ao confinamento), doenças psicossomáticas e autoimunes (e os seus elevadíssimos custos para o bolso dos contribuintes), insatisfação com a performance desportiva, profissional e até sexual.
Enfim, uma extensíssima e infindável lista de situações do “quotidiano” que seriam, senão erradicadas, pelo menos claramente diminuídas se escolhêssemos apostar claramente na Literacia Emocional dos nossos cidadãos.
E, nem vamos falar, da despesa pública (que todos pagamos) associada a uma política “paliativa” e não preventiva, unicamente justificada por não sabermos fazer contas e sermos altamente “competentes” (muitas dúvidas nisto) a curto prazo, ao invés de um planeamento a médio longo prazo como, de resto, tudo deveria exigir (saúde, economia, educação, enfim).
Inevitável, por isso, e enquanto continuar a ser promovida uma cultura de consumo de psicofármacos através da expectativa de resolução rápida da sintomatologia que traz desconforto, em vez de nutrirmos uma cultura de Saúde Mental e Literacia Emocional, através de uma maior diferenciação cognitiva e emocional, onde se pode socorrer, por exemplo, do conhecimento científico da Psicologia para promover uma maior consciência e regulação dos afectos, a tendência de “galgar” cada vez mais este ranking.

Soluções?
Termos consciência que a solução não poderá ser nunca nem imediata nem compartimentada, uma vez que deve atravessar não só os diferentes sectores como as diferentes gerações da nossa sociedade.
Apostar na literacia emocional de quem, de alguma forma, tem responsabilidade na formação e/o gestão de outras pessoas para que a mesma se possa difundir muito mais rapidamente - professores, treinadores, gestores, directores, médicos, entre outros profissionais que acabam por ter acesso a um maior número de pessoas.
Definir critérios de validação de competência que possam impactar directamente e de forma inequívoca na avaliação actuada em contexto académico, desportivo e empresarial.
Termos a noção, o sentido de missão (e a coragem) de assumir que esta é uma acção que a actual geração poderá apenas lançar, uma vez que estará nas mãos das gerações que se seguem a continuidade de implementação e, muito provavelmente, a recolha do mérito da mesma.
Termos a noção que, definitivamente, temos que deixar de nos sentir reféns da lógica “tonta” (e imatura) do retorno imediato, e assumir que a nossa responsabilidade (individual, de grupo e Comunidade) será garantir que os “tijolos que assentarmos” deverão ser firmes e sólidos – tanto quanto a emergência que se impõe no que respeita a levarmos este assunto com a seriedade que merece – para que, quem vier a seguir, possa ter uma base sustentada para continuar a construir os pilares da mudança que se pretende.
Assumirmos, definitivamente, que a solução não partirá nunca de uma só cabeça, de uma só disciplina ou de uma só organização e que, sinal de inteligência e maturidade será a constituição de equipas multidisciplinares que possam discutir, implementar, errar, reformular e implementar de novo e mais uma e outra vez até que se possa encontrar uma solução que se ajuste da melhor maneira possível à necessidade que temos de “reflorestar” o deserto emocional em que nos encontramos."

Golpada da vergonha

"Na última quarta-feira tivemos a decisão da UEFA de organizar a fase final da Liga dos Campeões em Lisboa, numa manifestação clara e inequívoca de confiança e segurança à forma como Portugal e os portugueses têm sabido lidar com a pandemia e as consequências desta.
Nesse mesmo dia, em flagrante contraste, foi revelado mais um episódio demonstrativo da aviltante promiscuidade entre política e futebol com o objectivo de preparar uma golpada que levasse ao adiamento do FCP-Boavista, invocando falta de condições de segurança, para um jogo calendarizado no dia 22 de Junho, em que todas as entidades presentes nessas reuniões aprovaram a realização desse jogo e quando se sabe que os festejos de Santo António e São João não se poderiam realizar como tradicionalmente.
Importa realçar e recordar que as próprias forças de segurança presentes nessas reuniões aprovaram a realização desse jogo.
Os protagonistas deste lamentável episódio, que não se coíbem de querer assumir que só no Porto não existem condições de segurança, foram precisamente o presidente da Câmara Municipal do Porto, também vice-presidente do Conselho Superior do FC Porto, e o presidente da Câmara Municipal de Gaia, igualmente membro desse órgão do FC Porto e que, recorde-se, em 2016, pretendeu integrar a administração da SAD portista, passando pelo vexame de lhe ter sido negada essa pretensão devido a um parecer negativo da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.
Estes dois autarcas, e o mesmo será dizer, membros dos órgãos sociais do FC Porto, pretenderam interferir na calendarização e na verdade desportiva, criando um facto que no limite poderá colocar em causa a continuidade das competições, ao querer determinar que afinal as autoridades policiais, pelo menos no Porto, não conseguem garantir as condições de segurança invocando eventualmente falta de efectivos.
Tudo isto é de enorme gravidade, contraria a própria realidade que o país viu reconhecida pelas exigentes instâncias internacionais e interfere no esforço que todos sem excepção vínhamos a fazer. 
Enquanto a UEFA reconhece o bom senso, responsabilidade e forma consciente como os portugueses têm sabido lidar com a pandemia, os munícipes de Porto e Gaia, que naturalmente mereceriam igual consideração e respeito, tiveram aqui ao invés um sinal de desconfiança dos seus autarcas acerca do sentido de responsabilidade das suas populações.
Reconheçamos, no entanto, que ninguém se poderá afirmar surpreendido com esta situação, pois ninguém percebe onde começam e acabam as responsabilidades públicas e os papéis de adeptos dirigentes dos seus clubes.
Por outro lado, enquanto em todo o país se proclama a capacidade de organização e segurança para todos os jogos que se estão a realizar e inclusive para a fase final da Champions, apenas no Porto não existe essa segurança?
Não será incompreensível que os seus responsáveis políticos sejam os primeiros a admitir que o Estado de direito não tem capacidade para manter a ordem pública?
E isso é que é o mais preocupante, neste episódio.
Afinal, quem não quer jogar?
E, afinal, quem quer à última hora mexer no calendário das competições, numa espécie de vale tudo?"

Imparcial !!!

"Jorge Coroado. Tribunal “O Jogo”. Dois nomes incontornáveis no que toca ao fanatismo puro, manipulação e mentira."

Sem cura...

"A definição de esterco humano. Só mesmo um jornal propriedade intelectual do Calor da Noite pode albergar um imbecil anti-benfiquista primário da estirpe de Jorge Coroado. Um sujeito profundamente doente como demonstra em todas as "análises" que faz nesse jornal de merda. Até quando será permitido isto?"

A paixão e o fascínio da pesca

"Descobri a alegria e o fascínio da pesca lúdica muito cedo. Era um jovem de 13 ou 14 anos. Nunca me interessei pela pesca de mar. Foi sempre de barragem ou de lagoa. O olhar para a água e a bóia a mexer (quando mexia) é algo que faz parte da minha juventude e memória. Poucos peixes, sobretudo o chichito, arrepiavam a superfície. O ano passado fui a uma lagoa. Voltei a deitar a linha à água. Não foi necessário fazer o warm-up, garantindo que todos os músculos estão quentes e que as articulações poderão ser solicitadas. Deveria tê-lo feito, pois uma pequena e teimosa carpa escapou-me. Não fiquei frustrado, mas sim feliz por estar a agir, mantendo os olhos fixos na água.
O prazer da pesca para mim não é apanhar peixes, mas de ver os círculos de ondas suaves e o lançar da linha. O fascínio continua, mas a falta de tempo (uma sociológica desculpa esfarrapada) roubou-me essa alegria. Setembro é um mês bom e generoso no calendário de um pescador. Mas eu prefiro os meses de Julho e Agosto, secos e tórridos, sobretudo na região do Alentejo. Os fins de tarde mais frescos são uma boa hipótese para a pescaria. Pela manhã, cedo, também. Escolher o melhor local não é uma decisão fácil. Mas quando escolhido, é tudo uma questão de vida ou de morte para lançar o anzol à água. A minha dificuldade é sempre o de colocar o peso adequado na linha, por forma a que a bóia não vá ao fundo.
O isco é, quase sempre, feito de pedaços de minhoca. É um isco atraente e apetitoso para o chichito. Considero-me um pescador paciente. Sou capaz de ficar horas sentado, agarrado à cana, na esperança de um qualquer peixe abocanhar o isco. Irrita-me quando os vejo a saltar, em acrobacias aquáticas, perto de mim. Algumas espécies têm esse hábito e prazer. É o caso da carpa, por exemplo. As trutas, os barbos e os salmões também são saltadores. Para além de ser um bom anti-stresse, a vantagem da pesca é nunca se saber como ela se irá desenrolar. É tudo uma questão de sorte. É preciso lidar com o vento, o estado da água, a proximidade de outros pescadores, a mania dos peixes, o barulho, entre outros aspectos. Já apanhei muitos peixes. O cheiro deles nas minhas mãos não me incomoda. Há dias expliquei a uma pessoa amiga a paixão e o fascínio da pesca. Não sei se ficou convencida, até porque a pesca desportiva tem imensas regras. No site do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas é possível encontrar muita informação para o seu exercício. Votos de boa pescaria."