quarta-feira, 3 de junho de 2020
Citações de quem sabe
"Certo é que estas semanas evidenciaram muito voluntarismo, reconheço, mas também muita improvisação e quase amadorismo
1. Passaram quase três meses, que em termos comunicacionais desportivos, sintetizaria em quatro pontos: a) inflação de efemérides e estatísticas, algumas bem adequadas, outras pouco interessantes ou para encher espaço e tempo; b) putativo mercado de transferências, num contexto que ninguém ainda é capaz de determinar; c) abundantes descobertas de craques no Sporting, até agora envoltos no nevoeiro de El-Rei D. Sebastião e ofertas mirabolantes e oníricas do mercado externo para parte do seu plantel; d) silêncio, tão suavemente saboroso, de programas televisivos que têm contribuído para tornar ainda mais doentio o ambiente à volta do nosso futebol.
Mas, três meses volvidos, aí está o futebol jogado. Desta vez, e por causa da pandemia, em modo de porta fechada e de televisão abonada. Dizem-nos que é a continuação do campeonato 2019/2020. Para mim, prefiro chamar-lhe «Torneio complementar de um Verão confinado». Não o estou a depreciar, apenas lhe estou a emprestar uma natureza diversa, que advém, não do desporto em si, mas de necessidade de gerar receitas para evitar outros males. Quem normalmente detesta o futebol costuma dizer que este é o ópio do povo (o que, em parte, é verdade). Mas, agora, vamos inovar nesta asserção: se o futebol é o ópio do povo, então dispensemos o povo...
Nestas últimas semanas, um dos pontos mais sensíveis que critiquei, a lógica competitiva, acabou por ser quase totalmente eliminado. Ainda bem. Refiro-me àquilo que se afigurou ser a regra para muitas das equipas: jogar em casa, lá fora.
O certo é que estas semanas todas evidenciaram muito voluntarismo, reconheço, mas também muita improvisação e quase amadorismo. A questão dos esádios foi elucidativa. Em poucas semanas, passámos de quase nada para praticamente tudo. Não sei se por milagre, se por condescendência sanitarista, ou se por manifesto facilitismo tão português. Começou-se por admitir jogar em regime concentrado e empilhado numa região do país, concretamente no Algarve. Depois, falou-se nos estádios do Euro-2004. Aí apareceu o Marítimo, com razão, a contrariar a acomodação e, rapidamente, se concluiu que o remoçado estádio dos Barreiros afinal poderia ser aceite. A seguir, lá vieram os outros clubes reclamar da falta de equidade. Um a um, todos os estádios foram considerados aceitáveis, desde que fizessem umas meras adaptações de sinalética e derrubasem uma e outra parede interior. Por fim, até o Famalicão, que antes anunciara a sua livre decisão de jogar em Barcelos, acordou para o assunto e viu o seu campo autorizado para o torneio. E quem ficou de fora? O Belenenses SAD que, aliás, é um pedinte de estádios, mas que, curiosamente, agora não vai pode jogar no Estádio Nacional (não deixa de ser patético que o Estádio que se chama Nacional e que serve para finais da Taça de Portugal, acabe por ser o único não aceite pelas autoridades sanitárias!). Resta o Santa Clara, que se precipitou e muito extemporaneamente emigrou para Lisboa. Deve estar arrependido... E é pena, porque, se as equipas forasteiras tivessem de ir aos Açores, haveria ainda uma maior amplidão da maga questiúncula de os seus jogadores viajarem com a equipa de arbitragem, como vai suceder nas viagens para o Funchal e, assim, contribuir para mais um berbicacho no nosso futebolzinho.
2. O dirigismo do futebol continua enredado em intestino. O comentarismo prefere sangue, em vez de reflexão e pedagogia. A claque quer bola lá dentro, mesmo que com batota. Os governantes querem a bola a rolar, para satisfação acrítica do povo.
Nesta atmosfera algo poluente, queria aqui registar duas entrevistas, que li neste jornal e que traduzem, de um modo claro e assertivo, problemas crónicos que atingem o nosso futebol e com cujos textos me identifico substancialmente. Não se trata de opiniões de leigos que como eu, sempre se sujeitam à crítica de o serem. Antes de depoimentos de quem viveu e vive no âmago do futebol. Sem hipocrisias ou umbiguismos. O primeiro é uma excelente entrevista de Jorge Pessoa e Silva ao treinador do Gil Vicente, Vítor Oliveira. Para quem não tenha lido o que disse o sabedor técnico português, quase me limito, com a devida vénia, a resumir as suas desassombradas ideias:
- Queremos a verdade desportiva? Menina, não queremos nada. O que vai começar agora é o futebol-negócio e, se quiserem, o futebol-política, porque dá muito jeito politicamente que o futebol recomece...;
- Sempre defendi que se deveriam criar as condições para todos jogarem nos seus estádios, para que verdade desportiva não seja violada ou defraudada;
- Já tive oportunidade de fazer quatro jogos em público e posso dizer que é horrível. Futebol é povo, futebol é adeptos, futebol é gente nas bancadas;
- Vejam o Sporting - Belenenses o Sp. Braga - Porto: vamos ter mais riscos nos cafés e nas casas uns dos outros do que em abrir parcialmente as bancadas.
- Fizemos duas semanas de trabalho de conjunto depois de uma paragem que foi quase o dobro das férias habituais dos jogadores, situação completamente nova e algo arriscada; sinceramente, não temos noção exacta da forma da equipa quando voltar a jogar:
- Tivemos oportunidade de ver jogos do recomeço na Bundesliga e vimos jogadores que se arrastavam penosamente no campo e têm acontecido várias lesões musculares, o que pode acontecer por cá;
- Andámos há dois meses em reuniões permanentes e o calendário só sai em cima do arranque.
- Estamos a fazer os fortes ainda mais fortes. Quem tem plantéis mais fracos e desequilibrados terá dificuldade em fazer as cinco substituições mantendo a qualidade da equipa. Assim pode ser afectada a verdade desportiva com uma alteração de regras em relação ao que vigorou toda uma época (a este propósito, acrescento eu que a ideia das 5 substituições, ou seja de meia-equipa que excluirmos o guarda-redes, já anda numa roda viva de contestação aos soluções: sim, talvez, não nas primeiras jornadas, sim a seguir a uma AG da Liga. Enfim mais uma originalidade);
- Assistimos a hesitações, falta de esclarecimento, os dirigentes atacam-de todas as maneiras, ninguém se entende e mesmo com a pandemia olham para o seu umbigo (acrescento eu: mas sempre dizendo que tudo é feito para bem e futuro da 'indústria');
- Poderia ter-se aproveitada esta desgraça para se reorganizar o futebol, torná-lo mais competitivo;
- Vamos continuar agora a ter os debates ridículos que há na televisão, que até podem dar audiência, mas não trazem nada de bom ao futebol português.
Esta entrevista assim como apareceu, logo se esfumou na erosão instantânea do actualismo. Por isso, aqui, fiz questão de a repristinar. Com um desabafo: se tivesse sido um treinador inteligentsia, sempre com tão boa imprensa, quantos encómios, quanta lucidez e coragem elogiadas, quanta referência neste tempo de crise, quantas panegíricos comentaristas e quantas notícias de telejornal!
3. Hoje, escrevendo eu me registo de recomendações e citações, chamo igualmente a atenção para excertos da entrevista de Jesualdo Ferreira à Bola TV. O consagrado técnico português, embora à distância medida pelo Atlântico entre Lisboa e Santos, oferece-nos a sua lucidez, experiência e sentido agudo de observação, para nos alertar para «a falta de inteligência para não se repetirem asneiras do passado», para o que é jogar nas actuais condições («basta olharmos para o futebol alemão. São as mesmas equipas, mas não é o mesmo jogo») e para o risco para os atletas («para o risco para os atletas («os jogadores vão estar com perdas difíceis de recuperar a curto prazo») e ainda para um aspecto de que pouco se tem falado, qual seja o das repercussões para a próxima temporada e como 2020/2021 (não) está a ser acauteladamente planeado, mais parecendo um buraco begro.
4. Façamos um exercício de ficção, imaginando que o presidente da CM Lisboa, Fernando Medina, benfiquista confesso, iria presidir a um órgão do SLB em próximas eleições. Cairia o Carmo e a Trindade. E, em meu entender, justificadamente. No futebol é como na política: não basta ser, é preciso também parecer. Sobretudo, se houver a possibilidade de conflito de interesses, o que, em situações similares, pode bem acontecer. Como seria? Quem tomaria posição: o presidente camarário ou o presidente de um órgão, mesmo que não executivo?
Mas devo estar errado. Para tal, trago à colação uma frase de Gaio Fernando Abreu, dramaturgo e escritor brasileiro (1948-1996): «Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia»."
Bagão Félix, in A Bola
Finalmente, o regresso
"Quase três meses depois, finalmente estão de regresso as competições futebolísticas, quando está tudo em aberto no Campeonato Nacional, faltando disputar dez jornadas, e haverá ainda a final da Taça de Portugal.
A interrupção prolongada não esmoreceu a nossa vontade de vencermos ambas as provas, e é por esse desiderato que, sempre seguindo escrupulosamente as recomendações e regras da Direcção-Geral da Saúde, a nossa equipa se tem preparado com enorme empenho, concentração e ambição.
O foco da equipa técnica e jogadores está, neste momento, inteiramente direccionado para a partida com o Tondela, amanhã, às 19h15, no Estádio da Luz. O objectivo, como não poderia deixar de ser, passa por conquistar os três pontos em disputa e dar o primeiro passo num caminho que se deseja rumo ao 38, ao bicampeonato.
De realçar que nos encontramos num ciclo da gestão desportiva em que os resultados falam por si. Factos são factos e, contra factos, nenhum argumento resiste aos méritos e resultados, repetimos, da gestão desportiva.
Neste ciclo dos últimos seis anos, ganhámos cinco Campeonatos, alcançámos o primeiro Bi em 31 anos e o primeiro Tri em 39 e conquistámos o primeiro Tetra da nossa história, além de duas presenças consecutivas numa final europeia.
Nos últimos dez anos, no futebol, ganhámos mais títulos e troféus nacionais que os nossos dois principais adversários juntos. 18 para nós, 12 para FC Porto e 5 para Sporting. E o mesmo sucedeu nas modalidades de pavilhão, em que vencemos 73, enquanto FC Porto e Sporting, juntos, ficaram-se pelos 68.
Claro que todos gostaríamos de ter conquistado o Penta, foi por pouquíssimo que não o conseguimos obter. Mas, logo na época seguinte, confirmámos a Reconquista, celebrando o triunfo do 37.º Campeonato Nacional do nosso palmarés.
A este sucesso da gestão desportiva juntam-se os de outras vertentes, em particular a associativa, a patrimonial, a dos recursos humanos, a associativa, a comercial e a financeira. No Benfica percebe-se claramente para onde são canalizadas as receitas e o retorno está à vista!
A base está lançada para irmos à procura de novas conquistas.
E por todo o trabalho realizado, naturalmente estamos confiantes para o futuro, numa análise que é partilhada e reconhecida por todos os que analisam com isenção.
O Benfica é, indubitavelmente, um exemplo de um clube preparado para o futuro!
E agora que o Campeonato está de regresso, todos devemos contribuir para a retoma das competições, seguindo as normas definidas pelas autoridades da saúde. Todos temos de dar o exemplo, permitindo o desenrolar possível das competições.
Neste contexto, informamos que, neste primeiro jogo, o complexo do Estádio do Sport Lisboa e Benfica, incluindo a zona comercial, será encerrado a partir das 15 horas.
P.S.: A France Football incluiu o nosso Estádio entre os 30 mais vibrantes do mundo. Trata-se, do nosso ponto de vista, de uma homenagem aos sócios do Sport Lisboa e Benfica e do reconhecimento do calor humano dos benfiquistas e do indispensável contributo do seu apoio para as muitas conquistas do Clube."
Semanada...
"Nota introdutória: este post foi escrito por um benfiquista. Não foi escrito por vieirista, nem por um anti-vieirista.
Não tendo sido uma entrevista particularmente difícil - o Hélder Conduto não quis complicar a vida ao seu patrão - acabou por ser uma entrevista acima da média de Luís Filipe Vieira, na minha opinião. Passaram-se os “best hits” do costume: as pedras da calçada, o futuro é a formação, a redução do passivo e o mais recente título da credibilidade. Esta é uma parte que não entendo em LFV. Porque é que ele sente necessidade de mostrar as medalhas sempre que fala? Ninguém lhe pode retirar os méritos nestes “best hits”, não percebo o porquê de ter que repetir sempre a mesma história. Mas depois disso houve várias novidades que achei interessante.
1. A OPA. Luís Filipe Vieira atrapalhou-se um pouco com as tecnicalidades do chumbo da OPA, mas finalmente explicou porque a quis fazer e eu gostei do plano. Falou do market cap do Ajax - preço da ação x número de ações - e falou do sistema do Bayern Munich - onde a Audi, a Adidas e Allianz detêm cada uma 8.33% do clube. Neste momento o market cap do Benfica são 61 milhões de euros. O do Ajax são 260 milhões. O potencial para valorizar a SAD do Benfica no mercado é gigante. Imaginando que o Benfica consegue importar uma estrutura de shareholders igual à do Bayern Munich, ponham-se na perspectiva do investidor: (1) uma marca chega ao Benfica e começa a patrocinar o Benfica por 8 milhões por época e compra 10% da SAD (aos preços de hoje seriam 6 milhões); (2) Patrocina o Benfica por 5 épocas, ajuda o Benfica a crescer, simultaneamente trabalha a sua marca e acaba por gastar 46 milhões; (3) No final, desses 5 anos, vende a sua posição, só que agora o Benfica já vale 180 milhões e não 60 milhões. Ou seja, vende a sua posição por 18 milhões, ganhando 12 milhões e como tal em vez de gastarem 40 milhões em publicidade, gastaram 28 milhões. A marca investiu em publicidade mas no final acabou por ganhar dinheiro. Se os patrocinadores do Benfica tiverem todos uma parte do capital do clube, deixam de ser meros patrocinadores que só gastam dinheiro, passam também a ser também intervenientes que podem ganhar se tiverem uma participação mais activa e construtiva no crescimento do clube. Nesta perspectiva a OPA faz todo o sentido - e eu não sou suspeito, visto que já a critiquei várias vezes. O problema ético de um dos principais beneficiados da OPA ser um amigo e sócio de LFV mantém-se. Nunca saberemos se José António dos Santos comprou aquelas acções numa perspectiva de investimento, ou se por oportunismo de LFV. Ainda assim, com ou sem LFV, tenho que admitir que a OPA seria um bom negócio para o clube a longo prazo.
2. O Próximo Mercado. Luís Filipe Vieira disse que já tinha dois jogadores vendidos por 100 milhões de euros no próximo mercado mas que a crise gerada pelo covid-19 travou os negócios. O mais provável é que fossem Rúben Dias e Carlos Vinícius. Esses negócios depois iriam gerar dinheiro para o clube conseguir fazer mais contratações. O que aconteceu com a crise foi exactamente o oposto. Essas propostas caíram e “o Benfica não vai vender jogadores ao desbarato”. No entanto, para ir ao mercado terá que arranjar dinheiro em algum lado, visto que acabou de pagar 75 milhões de euros em empréstimos obrigacionistas e ficou com as contas limitadas. O mais provável é fazer um novo empréstimo obrigacionista que em abono da verdade já estaria a ser feito não fosse a crise. LFV está a pensar bem neste ponto, a meu ver. Vamos ver como é que tudo depois se concretiza.
3. David Luiz. Este foi um dos tópicos em que LFV esteve mal. Disse que como amigo de David Luiz não lhe recomendava vir para o Benfica. É algo que financeiramente faz sentido. David Luiz recebe 6-7 milhões por ano no Arsenal, mas LFV está naquela entrevista como Presidente do SL Benfica e não como amigo de David Luiz. De qualquer maneira negou as negociações e deixou uma indicação que David Luiz poderá reforçar o Benfica quando tiver 35 anos, ou seja, daqui a dois anos. Para já, também deixou a indicação que não parece estar muito interessado em contratar um central e fez vários elogios a Cristian Lema, jogador que temos emprestado ao Newell’s Old Boys, Morato e Jardel que “voltou em grande forma”.
4. O Jogador Mistério. Um dos temas da noite foi a indicação de que há um jogador interessado em regressar ao Benfica quando tiver 27-28 anos e o seu contrato com o clube actual acabar. Bernardo Silva acaba contrato com 31 anos, Ederson com 32, Cancelo com 31, Renato com 26, Guedes com 27, Félix com 27 e Nélson Semedo aparentemente está de malas feitas para o Manchester City, só terminará contrato com mais de 30 anos. Se tivesse que apostar, diria Gonçalo Guedes. Guedes tem tido uma época complicada no Valência. Se não fosse a crise, era até um jogador que via o Benfica a ir buscar.
5. Diogo Gonçalves e Nuno Santos. Os dois jovens vão regressar ao clube para fazer a pré-época. E ambos encaixam-se em dois pontos que precisamos de reforçar. Mantenho a ideia que vamos ter um 4-3-3 daqui para a frente. No meio campo podemos contar com Florentino, Weigl, Gabriel, Taarabt, Samaris e Chiquinho. Faz falta um médio centro jovem que possa dar alguma profundidade ao plantel nesta posição. Nuno Santos encaixa-se bem aí e acredito até que a médio prazo possa subir na hierarquia. Quanto a Diogo Gonçalves não acredito que venha para extremo. Temos Pizzi, Pedrinho, Rafa, Jota, Zivkovic e Cervi. Virá para lateral direito. Apesar de não gostar do risco que é arrancar para a quarta época consecutiva com um lateral direito pouco credenciado, consigo ver em Diogo Gonçalves alguns traços que se encaixam nessa posição. O que não faltam é laterais direitos que eram extremos, particularmente no Benfica (Miguel, Nélson ou Nélson Semedo). Parece-me que ambos os jogadores são boas apostas.
6. Jota e Florentino. LFV deixou a promessa que não venderá nenhum dos dois. Que até podem ser emprestados mas que o plano é que fiquem no clube e cresçam com as oportunidades que aparecerem. Já não é a primeira vez que diz que não vende e depois acaba por vender (Ederson por exemplo). Mas caso seja verdade, é algo que iria beneficiar o Benfica, na minha opinião.
7. FC Porto. Esta foi das entrevistas onde LFV demonstrou maior desprezo com o FC Porto que me lembro. Chegou mesmo a dizer que “Pinto da Costa hoje diz uma coisa e amanhã diz outra”, deixou várias críticas ao clube a nível financeiro, deixou indicações que o FC Porto não estava muito interessado no regresso do Campeonato e ainda acusou o FC Porto de estar por detrás do caso “Mala Ciao” que “não tem ponta onde se pegar”. Esperemos que este sentimento de LFV sirva de combustível para um Benfica mais dominante no futuro.
8. Rui Gomes da Silva. LFV dirigiu-se várias vezes a RGS como um populista. O que numa perspectiva de um benfiquista neutro nestes assuntos - onde eu sou capaz de me incluir - acaba por ser verdade. RGS tem feito várias críticas pouco realistas a LFV, a meu ver. Mas também consigo perceber porque é que RGS as faz. Se não as fizer, não consegue criar entusiasmo e captar os votos dos desagradados com LFV, que são cada vez mais. E visto que não tem nenhum canal de comunicação melhor do que o Jogo e o seu blog, que alternativa é que tem? Se a BTV não faz o seu trabalho, se LFV corta o espaço de antena na Bola e no Record, RGS tem que trabalhar com o que tem. LFV negou a possibilidade de um debate. Disse que ia ser só lavagem de roupa suja. O que, a meu ver, é provavelmente verdade, e isso não interessaria a ninguém. Um debate de roupa suja só prejudica os dois candidatos, não traz qualquer benefício ao clube. Acho que o debate deveria acontecer. Mas também é importante que a discussão se faça sobre o Benfica, sobre ideias que possam melhorar o clube e não seja uma sucessão de ataques pessoais que não beneficiam ninguém
9. As Modalidades. LFV não falou muito sobre o assunto, mas disse que era possível fazer mais gastando menos. Indirectamente ao admitir isto está a dizer que no passado fez menos gastando mais. As modalidades precisam de uma cara nova urgentemente.
10. Isenção de BTV. Acho que nunca é bom começar uma das últimas entrevistas do actual Presidente do Benfica antes de umas eleições no clube a relembrar os últimos 17 anos com este Presidente e compará-los com os 17 anos anteriores a ele. Mais uma vez, a BTV não fez um bom serviço aos benfiquistas."
Dois 'tabuleiros'!!!
"Parece que vamos ter um jogo engraçado amanhã em Famalicão.
Escândalo Mundial que vai passar incólume, não fosse o Tugão e a Comunicação Social toda controlada pelo Calor da Noite.
O Draguistão está em todo o lado."
Vem aí o futebol outra vez, e eu a fugir!
"A ausência de futebol tornou-se um verdadeiro luxo, a nossa vida deixou de ser regida pelos jogos, e não me fez falta alguma.
Não gosto de futebol, não vou gostar nunca, chego aos cinquenta anos sem saber o que é um livre ou as razões de um prolongamento, a minha glória talvez seja saber que um derby é um jogo entre clubes da mesma cidade.
De resto, a minha cultura futebolística termina com igual glória, embora possa referir que, há mil anos, li um livro maravilhoso do britânico Desmond Morris intitulado "A Tribo do Futebol" (editado em 1981) e que apreciei todas as páginas. Nesse volume, recheado de explicações e descodificações simbólicas, o biólogo, zoólogo e etólogo defende a ideia de que o futebol, como outras actividades, nasce a partir do momento em que o homem deixa de ser nómada e caçador para ser sedentário e agricultor. Não tenho como contrariar, é evidente, Desmond Morris é um nome consagrado da investigação.
Portanto, nada sei sobre futebol, nada sei sobre agricultura, nem mesmo sobre fenómenos televisivos em receitas de reality show que metem agricultores e raparigas casadoiras.
O que eu sei é que durante este confinamento profilático, estando em casa desde o dia 11 de Março, apreciei sobremaneira a ausência de jogos de futebol, mas sobretudo de comentários sobre jogos futuros ou acabadinhos de terminar. Respeito quem goste de futebol, percebo a dimensão planetária do fenómeno, não discuto sequer, porventura a falha é minha, mau gosto, outra coisa qualquer que possa apaziguar os mais fanáticos.
A verdade é que a ausência de futebol tornou-se um verdadeiro luxo, a nossa vida deixou de ser regida pelos jogos (sendo que eu tenho um filho que vê jogos da liga espanhola, inglesa, alemã, enfim, vê futebol assim ele exista, ou joga na consola qualquer coisa que meta futebol), e não me fez falta alguma.
Já sei que muitos não compartilharão desta minha observação, há mesmo quem esteja em privação de tanto ansiar por futebol, é o que é, mas posso dizer-vos que a lucidez pede que concedam que o papel centralizador desta modalidade desportiva (e mais nenhuma outra, e eu sou o tipo de pessoa que gosta de atletismo, ginástica, danças de salão, patinagem, até de campeonatos de snooker!) é exagerada, é demais.
E vem isto a propósito do quê? Da informação da rádio para a qual trabalho com prazer e orgulho: na quarta-feira não há programa "A Páginas Tantas", ah a literatura, e porquê? Porque há futebol. Percebem o meu descontentamento? Talvez não, tudo bem, mas vem aí o futebol e eu só penso em fugir."