segunda-feira, 1 de junho de 2020
A importância de ser o mundo...
"Duas visitas do Benfica ao Municipal, no Redolho, em Águeda. Primeiro para o campeonato, para defrontar o Recreio, na maior enchente jamais vista naquele estádio, depois para jogar contra o Luso, da vizinha Mealhada, para a Taça de Portugal.
No tempo do meu bisavó Afonso dizia-se: Águeda é o mundo! E até certo ponto era verdade. Não sei se hoje em dia Águeda oferece muito ao País. Se calhar, não. Mas o País também não nos oferece muito ao País. Se calhar, não. Mas o País também não nos oferece grande coisa, e nós não deixamos, por isso, de gostar dele. Claro que também nós não acrescentamos muito ao País, mas aí já somos tratados em conformidade. E este nós é mesmo nós: ou seja, é a primeira pessoa do plural; não é majestático.
Conheço muita gente para quem Águeda continua a ser o mundo. Com ponto de exclamação, ou não, no final da frase, pouco importa. Diria mais... ou, melhor, vou pôr o Alberto Caeiro a dizer para mim: 'O mundo não se fez para pensarmos nele, mas para olharmos para ele e estarmos de acordo'.
Não há muita gente que saiba que o Vidal, da Aguada, levou leitões à rainha de Inglaterra. Já esteve em lugares da Terra onde as pessoas ficam em Aguadas, de Cima e de Baixo, quanto mais Oronhe ou Bolfiar, o Raivo ou Valdomingos. Já estive em lugares da Terra onde as pessoas não sabem ao certo o que é um leitão e não têm conhecimentos muito mais profundos sobre a própria rainha de Inglaterra.
Antigamente, em Águeda, o campo de futebol chamava-se Campo de S. Sebastião. Tinha a capela atrás de uma baliza e o campo de básquete atrás da outra. À volta tinha tapumes de madeira, e o Recreio disputou nele os jogos mais fantásticos da sua história, expecto um. Nestas coisas de jogos históricos, a memória tem uma importância fundamental: quanto menos a gente se lembra deles, mais históricos são. Não há jogos históricos sem imaginação e um ou outro pormenor impossível de confirmar que possam motivar discussões vitalicias. Não é segredo para ninguém: a memória é a maior inimiga da imaginação. Nenhum golo é tão bonito como aquele do qual não há quem se lembre, mas do qual toda a gente finge lembrar-se no momento em que alguém se decide descrevê-lo. A bola caindo na entrada da área, o Fanfas chutando de primeira, as redes da baliza do lado da capela abanando de alegria. E quando o discutem, tornar-no verdadeiro: isto é, mais histórico.
As visitas do Benfica
Na excepção dos jogos históricos do Campo de S. Sebastião, há o Recreio - Benfica já na beira-rio, no Redolho, junto às Lavadeiras e ao Fojo. Nessa tarde, foi tanta gente ao Municipal, que o público se esticou ás linhas laterais, e eram guardas-republicanos a cavalo que vigiavam os fiscais de linha. A malta gritava: 'Tira o cavalo da frente, que quero ver a bola'! E cavalo e cavaleiro num orgulho desmedido de bestas a fazerem de guardas fronteiriços sobre os traços de cal.
Dia 26 de Fevereiro de 1984. O Recreio tinha o Tibi na baliza e levou quatro golos. O público do Benfica lançava a velha pilhéria: 'Vai buscar, Tibi!' E o Tibi ia, que remédio. Nené marcou dois golos, o Diamantino, um, e o Paulo César que jogava na defesa aguedense, acertou com a bola na própria baliza. O golo do Recreio foi de César, um brasileiro elegante que seguiu para Setúbal.
Os meus amigos Jorginho e Nogueira estava em campo, defendendo a camisola cor de sangue seco dos Galos do Botaréu. Mas não chegava. Como não chegou para evitar a descida e terminar de vez com a presença de Águeda na I Divisão, que durou apenas essa época na qual o Benfica viria a ser campeão.
Estive lá e vi. O Benfica em Águeda.
Depois o Benfica voltou a Águeda, e eu vi outra vez. E outra vez em Fevereiro: dia 29. Desta vez para a Taça de Portugal, mas sem Recreio. O adversário foi o Luso. Não o Luso do Barreiro, que não faria sentido andarem tanto as duas equipas para disputar uma eliminatória. Um Luso bairrradino, o Clube Desportivo do Luso, ali vizinho da Mealhada, que, não tendo campo de jeito para receber adversário de tal tamanho, recorreu aos préstimos do Recreio. Nesse tempo, o Municipal já não era pelado, tinha uma relva bem arranjada, à medida da habilidade dos craques. Curiosamente, e talvez porque não havia público até às laterais, a ser empurrado para fora das quatro linhas por guarda-republicanos, a relva não deu ao jogo a qualidade do anterior. Diamantino fez um golo, aos 73 minutos, e a contagem ficou-se por aí. Faltou-lhe a alma, ao encontro, quero dizer. A alma das gentes de Águeda que continuam a acreditar que Águeda é o mundo..."
Afonso de Melo, in O Benfica
Benfica até debaixo de água
"Um adepto do Benfica preferiu ficar com a cabeça à chuva do que usar um barrete dos holandeses
Dias antes do Benfica defrontar o Feyenoord para a 1.ª mão dos quartos de final da Taça dos Clubes Campeões Europeus 1971/72, o treinador dos holandeses, Ernst Happel, teceu declarações acerca dos 'encarnados' que inflamaram o ambiente da partida, 'uma perfeita mistificação futebolística, que não passava de equipa medíocre, de onze cultivado tecnicamente e ao nível de uma escassa instrução primária'. As palavras do técnico criaram enorme mal-estar junto dos adeptos benfiquistas e foram um tónico para os jogadores, que entraram em campo motivados para provar o contrário.
Com um excelente início de jogo, 'o Benfica meteu num chinelo o Feyenoord', contudo, por falta de acerto dos atacantes 'encarnados', a partida terminou com a vitória dos holandeses por 1-0. A boa imagem deixada pelos portugueses fez com que, no final do encontro, o treinador adversário se retratasse: 'estou, sinceramente, arrependido daquilo que disse sobre o Benfica (...) é muito mais forte do que pensava'.
Porém, o orgulho dos benfiquistas estava ferido. Não havia nada a fazer! Na 2.ª mão, os adeptos prepararam uma recepção monstruosa: «o Estádio da Luz, que apresentava o aspecto ciclópico de uma das suas maiores enchentes, o 'velho Benfica'. O Benfica das noites de gala europeia». Se nas bancadas os 'encarnados' apresentaram a sua melhor versão, em campo também não foi diferente. A equipa entrou muito forte e precisou apenas de cinco minutos para inaugurar o marcador.
A chuva intensificou-se e, na bancada à frente das cabines da rádio, estava 'um garoto que assistia ao jogo, ao lado de um holandês que obviamente se 'despistara' do seu lugar'. Ao aperceber-se que o miúdo tinha a cabeça encharcada, o rival ofereceu-lhe o seu barrete. No entanto, o 'rapaz olha para a barrete, lê o dístico «Feyenoord» e esboça um sorriso amarelo e recusa'. O holandês insistiu e o garoto 'acabou por aceitar, mas continuou com a cabeça descoberta à chuva'. Há feridas que demoram a sarar!
Em campo, os 'encarnados' responderam com golos à provocação do técnico holandês, marcaram três golos em 'quinze minutos de ouro e de aço (o ouro da técnica e o aço da determinação) (que) perdurarão por muitos anos na memória de mais de setenta mil pessoas', triunfaram por 5-1 e apuraram-se para a fase seguinte.
Nessa época, o Benfica sagrou-se campeão nacional. Saiba mais na área 6 - Campeões Sempre no Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
Assegurar o futuro
"A poucos dias do regresso às competições, a nossa equipa de futebol tem vindo a treinar afincadamente, encontrando-se em estágio, no Benfica Campus, desde a passada quinta-feira, com a conquista do bicampeonato e da Taça de Portugal no horizonte.
Serão dez jornadas, mais a final da Taça de Portugal, em que a filosofia, desde sempre advogada por Bruno Lage – jogo a jogo –, será para manter. Assim como a máxima “todos contam”, uma das características mais vincadas da liderança de Lage.
É, por isso, ainda mais significativa a integração de oito jovens da nossa formação nos trabalhos da equipa A desde o reinício dos treinos. São eles Gonçalo Ramos, João Ferreira, Morato, Leo Kokubo, Paulo Bernardo, Rafael Brito, Tiago Araújo e Tiago Dantas, juntando-se a vários outros da nossa formação que já integram o plantel, podendo assim conviver, treinar e ambicionar jogar junto de colegas experientes e titulados com o emblema do Benfica ao peito.
Estes oito “miúdos” foram entrevistados pela BTV no último fim de semana, dando a conhecer um pouco de cada um a nível pessoal e como são enquanto jogadores, as suas ambições profissionais no futebol e a forma como se têm integrado no plantel da equipa A.
Alguns dos aspectos que mais sobressaíram nestas entrevistas foram a forte ligação ao Benfica destes jovens atletas, a identificação deles com os valores do Clube, a enorme vontade de singrarem na equipa A e de contribuírem para títulos do Benfica, além da gratidão e do reconhecimento da importância do Clube por tudo lhes possibilitar, dadas as condições de excelência – humanas, infraestruturais e técnicas – existentes no Benfica Campus.
A aposta na formação, com enorme retorno desportivo e financeiro, é uma realidade já com vários anos no Clube e será para manter. Esta crise global sem precedentes motivou, inclusive, um consenso no mundo do futebol acerca da necessidade de se enveredar cada vez mais por uma política desportiva assente na formação, devendo-se canalizar parte do investimento para a qualidade das infraestruturas e meios técnicos, assim como para a essencial excelência dos recursos humanos.
Este é um caminho que o Sport Lisboa e Benfica tem vindo a trilhar há mais de uma década, tornando-se numa referência mundial e sendo apontado, por empresas especializadas no sector futebolístico, universidades, meios de comunicação social e clubes, como um dos melhores exemplos da implementação bem-sucedida de uma estratégia de aposta na formação.
P.S.: Hoje, às 21h00, na BTV, o Presidente Luís Filipe Vieira dará uma entrevista em que serão abordados diversos temas da atualidade benfiquista, em particular o que foi feito, em várias dimensões, para lidar com a pandemia e a forma como foi preparada a retoma das competições. A não perder!"
O menino David Luiz
"Uma vez estive frente a frente com Darren Anderton. Os mais novos não fazem ideia de quem foi este jogador e a verdade é que eu também não me lembro lá muito bem dele em campo. Mas já o tinha visto um número suficiente de vezes na televisão para o reconhecer quando ele atestou o depósito do Lotus, do Lamborghini ou do Vauxhall numa movimentada estação de serviço a caminho de Londres onde eu trabalhei como repositor de loja durante um mês e meio, nas férias de verão de 1996.
Anderton tinha feito parte da selecção inglesa que, naquele ano, em solo pátrio, cantou o regresso do futebol a casa só para ver os seus belos sonhos destruídos, como habitualmente, por um grupo de alemães insensíveis, passe o pleonasmo. Quando voltei a Portugal, além de umas histórias bizarras que envolviam imigrantes portugueses e revistas pornográficas, o relato de um encontro com o sr. Pedro, meu vizinho lá no bairro e com quem me cruzei por acaso enquanto ele picava melancolicamente o lixo à volta da estação de serviço, e um quase incêndio em casa da minha tia quando eu e a minha avó tentámos grelhar peixe para fazer um calulu, não me cansei de dizer aos meus amigos que tinha visto Darren Anderton em carne e osso.
Ninguém ficou impressionado. Vejam, se eu tivesse visto um Paul Gascoigne, um Alan Shearer ou um Steve McManaman isso ter-me-ia valido a glória eterna junto dos meus amigos. Mas eu tinha tido a sorte macaca de encontrar Darren Anderton, um bom jogador obscuro, tão obscuro quanto um bom jogador, internacional pelo seu país, pode ser. Um pouco acima na escala “andertoniana” de fama estava Gary Neville. A fama devia-se não tanto às suas brilhantes capacidades futebolísticas, mas ao facto de vir acoplado ao irmão, Phil Neville. Eram os irmãos Neville e isso tornava-os identificáveis e basicamente indistinguíveis um do outro, como os irmãos Metralha ou os sobrinhos do Pato Donald. É esse o problema dos irmãos célebres. O que ganham em fama conjunta, perdem em individualidade
Isto para dizer que se tivesse visto Gary Neville a encher o depósito talvez tivesse tido mais sorte. Hoje, por exemplo, poderia ter começado esta crónica assim: “Uma vez estive frente a frente com Gary Neville, o homem que definiu David Luiz da maneira mais exata possível.” Creio que o leitor, se conhece a frase, concordará comigo. Neville, após abandonar o futebol e antes de enveredar por uma estranhíssima carreira de treinador, passou pelo comentariado futebolístico-televisivo. Foi nessas funções que disse que David Luiz, na altura a jogar no Chelsea, jogava como um boneco de Playstation comandado por uma criança de dez anos.
Vejam bem. Eu não me lembro de nenhuma jogada de Gary Neville em campo, de nenhum golo ou assistência, de rigorosamente nada que ele tenha feito num jogo de futebol (calculo que, como qualquer inglês, a dada altura da carreira tenha falhado um penálti decisivo numa grande competição), mas aquela frase – reveladora, transparente, definitiva – diz tudo sobre a inteligência do homem. Ele viu a essência de David Luiz de chuteiras, caneleiras e cabeleira: um boneco comandado por uma criança de dez anos. E o mais incrível é que, ao fim de oito ou nove anos, a frase não perdeu nenhuma actualidade e pertinência. David Luiz continua o mesmo, embora neste momento represente um clube onde a sua presença faz mais sentido: o Arsenal também é gerido como se fosse um clube de fantasia nas mãos de uma criança de dez anos.
Dizia eu que David Luiz continua o mesmo, talvez ligeiramente mais lento, mas sem nenhuma da ponderação, da ratice, da sabedoria esquinada que tende a vir com a idade. Tão depressa dá uma de Beckenbauer, a subir imperialmente pelo campo com a bola dominada rumo à baliza adversária, como logo a seguir falha o mais simples dos cortes ou faz um passe de trinta metros para o vazio como se metade do cérebro se tivesse apagado no segundo em que a chuteira acerta na bola. Tão depressa varre a grande área com a elegância e pacifismo de um Carlos Gamarra como incorre numa daquelas faltas à Pepe que lhe poderia valer uma acusação de tentativa de homicídio se fosse feita na rua. Às vezes karateca, coragem de Bruce Lee, outras vezes personagem de slapstick, a tropeçar nos calções caídos até ao tornozelo, assim é David Luiz.
Segundo a imprensa especializada, David Luiz anda a piscar o olho ao Benfica. É preciso ter cuidado com namoros destes. Em Inglaterra, o central brasileiro ganha 140 mil euros por semana. Mesmo que viesse ganhar um bocadinho menos no Benfica, era capaz de ser mais do que o clube pode pagar neste momento a um jogador com a idade crística de 33 anos e um cadastro de Barrabás, não obstante a sua quota de milagres.
Atenção, não sou ingrato. Apesar de todos os erros, do descontrolo emocional típico do fiel que acabou de sair do culto pentecostal das quintas-feiras, adoro David Luiz. Deixo as contas para os contabilistas. Há nele uma verdade qualquer, qualquer coisa genuína, que nos faz perdoar-lhe os erros.
O Terceiro Anel tem os seus patinhos feios e tem os seus cisnes. David Luiz é um cisne. Pode borrar tudo, pode, em certos momentos, ser mais desajeitado e deselegante do que um pato coxo, mas, caramba, não há ali um grama de mentira, de dissimulação. Dizem que as crianças não mentem. David Luiz também não. É uma criança grande comandada por uma criança de dez anos. Deixem-no vir antes que cresça e vá dar palpites num estúdio de televisão."
A bola vai rolar
"Portimonense e Gil Vicente, no Algarve, reabrem as “hostilidades”, depois de em 8 de Março último Paços Ferreira e Vitória de Guimarães terem encerrado a jornada 24.
O apetite dos milhões de adeptos portugueses do futebol está prestes a ser satisfeito com o reatamento do campeonato da primeira Liga, marcado para a próxima quarta-feira.
Nesse dia Portimonense e Gil Vicente, no Algarve, reabrirão as “hostilidades”, depois de em 8 de Março último Paços Ferreira e Vitória de Guimarães terem encerrado a jornada 24.
E aí, quando o apito do juiz soou pela última vez, sancionando o triunfo dos vimaranenses por 2-1, estávamos todos muito longe de imaginar o que iria acontecer poucos dias depois.
A verdade é que só após três meses é possível voltar a ver em acção as nossas 18 equipas, e em circunstâncias nunca pensadas antes e com consequências ainda difíceis de prever.
No ar há perguntas para as quais não são conhecidas respostas, mas que continuam a justificar-se por inteiro. Por exemplo: e se houver necessidade de proceder a uma nova interrupção do campeonato, quais são os procedimentos a adoptar? E, nesse caso, que se deseja não venha a surgir, como será feito o escalonamento das equipas portuguesas com vista à sua participação nas competições europeias?
Este não é, aliás, um tema novo, porque muitas vozes se têm levantado fazendo perguntas e acrescentando-lhes recomendações segundo as quais tudo deverá estar muito claro antes do primeiro chuto na bola na próxima quarta-feira.
E não é somente por falta de bom senso, pois é, sobretudo, ausência de serenidade, que tem estado ausente nos últimos dias entre a família do futebol, para que estas questões importantes tivessem sido debatidas e merecessem decisões adequadas.
Claro que, face à actual situação sanitária, pode vir a repetir-se tudo aquilo que deu origem à paragem iniciada em 13 de Março.
Não se deseja, mas a verdade é que a organização deveria partir mais respaldada para esta nova fase."
O Leite fará bem às águias?
"Por não serem animais mamíferos, as águias não consomem leite. No entanto, as águias do SL Benfica parecem estar prestes a adquirir 1,96m de Leite. O guardião brasileiro do Boavista FC, Helton Leite, estará a caminho dos ainda campeões nacionais, confiando nas notícias veiculadas.
A confirmar-se a sua chegada aos encarnados, o futebolista de 29 anos será sombra de Vlachodimos, acreditando, mais uma vez, que todas as notícias desportivas nacionais são verdadeiras (um mau princípio). Desta forma, o guardião grego permanecerá no clube da Luz. Ficaria desta forma solucionada a problemática da alternativa ao titular da baliza encarnada e, quiçá, a problemática do seu sucessor.
Com a contratação de Helton, Varela e Zlobin deverão conhecer o fim dos seus vínculos ao SL Benfica. Já Svilar deverá ter a oportunidade de dar seguimento à sua evolução num outro clube português, por empréstimo dos encarnados. Kokubo será, acredito, o eleito para fazer a ponte entre a titularidade na equipa B e a posição de terceiro guarda-redes do plantel principal.
“Gosta muito da ideia de jogar no SL Benfica” (pai de Helton Leite sobre o filho, ao jornal O Jogo, dia 26 de maio de 2020)
Apesar da idade, não se pode asseverar que as águias adquirem um guarda-redes experiente. Pelo menos não no panorama internacional. As duas épocas que está prestes a completar no Bessa constituem a sua primeira experiência fora do Brasil. No seu país natal, Leite destacou-se no Botafogo de Futebol e Regatas, clube carioca ao qual os axadrezados adquiriram o seu passe.
Ainda assim, os dez anos de experiência sénior dar-lhe-ão, por certo, uma bagagem interessante. Todavia, mesmo sem a bagagem de guarda-redes que Júlio Cesar, que, não há muito tempo, se despediu dos encarnados, tem, Helton Leite aparenta ter qualidade, ou qualidades, que o tornam um bom activo para as águias rentabilizarem desportivamente (financeiramente, já não haverá grande proveito a usufruir).
Fazendo (bom) uso da sua envergadura e altura, o brasileiro tem demonstrado competência nas bolas aéreas e nos remates de meia altura para cima, bem como no encurtamento dos espaços, graças à larga passada, e na execução da “mancha”. Tem igualmente revelado ser destemido e inteligente nos duelos um para um com jogadores adversários, incluindo nas saídas aos seus pés.
Helton Leite revela alguma agilidade e rapidez e, sobretudo, capacidade técnica nos confrontos directos com adversários. A sua capacidade de encaixe a remates de meia e longa distância é para lá de razoável. Por outro lado, remates de curta distância – sobretudo se rentes à relva – provocam-lhe dificuldades, não sendo a sua agilidade por vezes suficiente para compensar as suas dimensões físicas (1,96m e 92Kg). Contudo, Helton Leite consegue, por inúmeras vezes, fazer uso da sua capacidade mental e do conhecimento alargado que tem das lides da sua posição para suprir as eventuais lacunas físicas que possa apresentar.
O seu jogo de pés, ainda que não muito conhecido, não pode ser considerado mau. Ainda assim, a equipa técnica encarnada terá que empenhar algum tempo no trabalho de pés do guardião brasileiro. Eu acredito que esse empenho terá frutos, visto que quem se há pronunciado sobre a forma de trabalho de Leite revelou sempre que o “90” dos boavisteiros é dotado de excelente carácter, motivação e vontade de trabalhar.
Após duas épocas sem uma alternativa credível a Vlachodimos, os encarnados preparam-se para – por fim! – contratar um digno concorrente à titularidade da baliza benfiquista. Ainda por cima, o “módico” pagamento é de cerca de dois milhões de euros. Na presunção de que Helton assina pelos encarnados e de que nenhuma lesão o impede de mostrar serviço e todo o seu talento (como há acontecido no Boavista FC, na corrente época), afigura-se-me seguro afirmar que Leite fará muito bem às águias."
O melhor 11 sul-americano da década do SL Benfica
"O SL Benfica tem uma grande tendência para apostar em jogadores da América do Sul, e muitos deles foram apostas ganhas por parte dos encarnados.
Foram imensos os futebolistas sul americanos que passaram pelo Benfica. Hoje vou eleger aqueles, que para mim, foram os melhores dos últimos dez anos.
Alguns grandes nomes ficaram de fora deste lote, principalmente do meio campo para a frente, e, por isso mesmo, desafio-vos a fazerem o vosso próprio onze!
Ederson – Ficou a dúvida entre Ederson e Júlio César, mas a verdade é que, quando comparados por aquilo que fizeram no SL Benfica, a minha escolha recai sobre o mais jovem dos dois.
Ederson é um guarda-redes fantástico, um dos melhores do mundo actualmente.
O guardião brasileiro distinguia-se pela frieza mostrada entre os postes, pela rapidez na saída à bola e, sobretudo, pela sua exímia capacidade de passe longo.
No Benfica, Ederson disputou 58 jogos e venceu duas ligas portuguesas, uma Taça da Liga e uma Taça de Portugal, tendo ainda sido eleito o melhor guarda-redes do campeonato por uma vez.
Maxi Pereira – Não há grandes dúvidas quanto a quem escolher para posição de lateral direito. Apenas um nome pode constar nesta posição, e esse nome é o do uruguaio Maxi Pereira.
Maxi envergou a camisola encarnada por oito temporadas, até se mudar para o rival FC Porto. Contudo, foi, sem qualquer margem de dúvidas, o melhor lateral direito da década a actuar no Benfica.
Ao todo, disputou 333 partidas e apontou 21 golos, tendo sido importante na conquista de vários títulos.
David Luiz – David Luiz é a minha escolha para ocupar um dos lugares do centro da defesa, a par de outro colega com a mesma nacionalidade.
É um jogador dotado de uma capacidade técnica bastante apreciável, útil no início processo ofensivo da equipa e muito astuto na defesa. Tudo isto a juntar à sua velocidade, agilidade e força levam a que este brasileiro seja um dos meus centrais de eleição.
Pelos encarnados, disputou 131 jogos e marcou seis golos, tendo ainda conquistado um campeonato português e três Taças da Liga.
Luisão – Luisão é o eterno capitão do Benfica. Aquele que será lembrado por muitos anos, devido a tudo aquilo que fez pelo clube. Foi ainda um dos melhores defesas que já passou pelo Benfica.
Foram 15 anos de águia ao peito, sendo que realizou 538 jogos e marcou 47 golos!
Admito que poderia encaixar outros defesas nesta posição, tal como Ezequiel Garay, mas Luisão merece estar neste onze pela lealdade que sempre demonstrou.
Guilherme Siqueira – Confesso que tive dificuldades em escolher um nome para esta posição. Desde a saída de Fábio Coentrão, poucos foram os laterais que brilharam na zona mais à esquerda da defesa encarnada.
Siqueira esteve no Benfica apenas por uma temporada, por empréstimo do Granada CF, e disputou 33 jogos de vermelho e branco.
Na única temporada que esteve em Portugal, venceu o campeonato, a Taça da Liga e a Taça de Portugal, fazendo o triplete.
Enzo Pérez – Na posição de médio centro coloco Enzo Pérez. O médio argentino chegou ao Benfica em 2010/11, proveniente do Estudiantes de La Plata, mas só se afirmou na temporada seguinte.
No clube da Luz disputou 117 jogos, tendo ainda apontado 10 golos. Nos seus palmarés conta com dois campeonatos portugueses, duas Taças da Liga, uma Taça de Portugal e uma Supertaça.
Com um excelente sentido posicional e muita raça, Enzo foi dos melhores médios que vi actuar no Benfica na década transacta.
Pablo Aimar – A sua presença em campo era um espectáculo de magia por si só. Que qualidade de jogador!
Dotado de uma técnica mais do que apurada, Aimar fazia de “carpete” qualquer jogador, deixando os seus adversários completamente atordoados com a sua qualidade.
Envergou o manto sagrado por 179 ocasiões e marcou por 17 vezes. A sua veia goleadora não era a sua melhor característica, mas sim as assistências, que foram 42.
Pablo Aimar é, na minha opinião, o melhor jogador que já vi jogar em Portugal!
Ángel Di María – Di María era extremamente rápido, com e sem bola nos pés, desnorteando os adversários com muita facilidade.
A verdade é que, nos últimos dez anos, só jogou no Benfica durante seis meses, mas a sua qualidade fazem com que mereça estar nesta lista.
A sua técnica era algo de extraordinário, e a sua capacidade de produzir golos (quer seja a marcar ou a assistir) fazem dele um dos melhores extremos que vi no Benfica.
No Benfica, foi um dos destaques da era Jorge Jesus. Realizou 18 jogos, apontando 15 golos e 27 assistências.
Nico Gaitán – Nicolás Gaitán foi um dos grandes nomes do Benfica da última década, e, com a sua chegada, chegaram também muitos golos.
A sua capacidade física e a sua técnica aprimorada são as suas melhores qualidades, colocando sempre os defesas adversários em dificuldade com as suas mudanças de velocidade.
Nico é jogador de boas memórias para a massa adepta encarnada, tendo ao serviço do Benfica o registo de 253 jogos, 41 golos e 88 assistências. Números incríveis para o internacional argentino.
Jonas – Bem, o que dizer deste senhor? As palavras não fazem justiça para aquilo que Jonas fez ao serviço do Sport Lisboa e Benfica.
Era de pé direito, pé esquerdo, cabeça, simplesmente era golo toda a bola que tivesse a sorte de ser tocada por Jonas.
Jonas Pistolas havia chegado a Portugal para conquistar não só títulos, mas também o coração de todos os benfiquistas.
Em partidas oficiais, Jonas disputou 182 jogos, tendo balançado as redes das balizas adversárias por 137 vezes. Fez ainda 35 assistências para golo.
Óscar Cardozo – Um matador! Óscar “Tacuara” Cardozo, numa única palavra, era matador!
Dentro da área, qualquer bola que lhe chegasse aos pés poderia tornar-se golo. Que jogador fantástico.
Inúmeros foram os jogos em que o avançado paraguaio parecia estar desconectado do jogo, mas quando era preciso, lá estava aquele “monstro”, de 1,93 metros pronto para fuzilar as balizas adversárias.
Ao serviço dos encarnados disputou 288 jogos e marcou 166 golos, tornando-se num dos melhores marcadores de sempre do Benfica."