"Se a empresa Cosmos já levou árbitros no porão até ao Brasil, se bem que no século passado, não deve apresentar dificuldade de maior, já neste novo século, repetir o procedimento de uma forma mais alargada a bem da verdade desportiva e da retoma da economia
Está quase. Mais duas semanas e temos o campeonato de volta. Já se nota, é verdade. Já se nota na retoma das discussões televisionadas, na troca de acusações e de insultos e no lançamento de suspeitas a torto e a direito a preencher os horários nobres das grelhas de programação. Haverá ainda paciência para 'isto' depois da experiência global do confinamento a que fomos submetidos? E será que 'isto' ainda rende como rendia? A questão da paciência é, como sempre foi, um problema (ou um não-problema) de cada um, já a questão do rendimento da plena operacionalidade dos gabinetes de ódio é uma questão mais prática e, sobretudo, mais geral.
Por meados de Março, quando nos chegou o estado de emergência, imperando a consciência cívica e um frenesi de bons sentimentos houve muita gente a acreditar que nunca mais nada seria igual ao antigamente. E o futebol, este jogo tão bonito, não escapou a ver-se incluído nessa onda de esperança por um mundo menos imbecil que despontaria, inevitavelmente, no rescaldo da crise pandémica. Mas, olhem, não despontou nada. Tudo leva a crer que se enganaram os que acreditavam numa revolução civilizacional desse calibre. Está quase de volta o campeonato e estão de volta as calorosas indignações por qualquer coisinha que mexa.
Vem, por exemplo, ocupando horas de discussão a hipótese de os árbitros poderem viajar com as equipas no mesmo avião para o Funchal quando couber ao Marítimo fazer o papel de anfitrião. O assunto, em si, não ter interesse nenhum não se desse o caso de ter o Benfica na sua agenda uma deslocação à ilha. E como este campeonato, pelo que parece, só vai ser disputado até ao fim para que se decida no campo quem é o campeão e, consequentemente, quem vai meter ao bolso os milhões da Liga dos Campeões, tudo o que mexa com os dois candidatos ao título serve, à falta de melhor, de pano para mangas.
Se é um escândalo um árbitro viajar para a Madeira no mesmo avião do Benfica então que se corte o mal pela raiz e enfie-se com o árbitro no porão do aeroplano juntamente com o carga e, assim, se evitará qualquer tipo de contágio ou coisa pior. Sempre é mais fácil, e dá menos trabalho, enfiar com o árbitro no porão a equipa toda do Benfica, incluindo o seu staff técnico, clínico e directivo. Como é do conhecimento público, a cada jornada, a Liga fornece à empresa de viagens Cosmos, para marcação de hotéis e de viagens, a lista dos árbitros nomeados para todos os jogos.
Se empresa Cosmos já levou árbitros no porão até ao Brasil, se bem que no século passado, não deve apresentar dificuldade de maior, já neste novo século, de repetir o procedimento de uma forma mais alargada a bem da verdade desportiva, da retoma da economia e do turismo de massas."