sexta-feira, 22 de maio de 2020

Missão complexa

"Os nossos briosos 25 jogadores voltaram aos treinos em conjunto para um final de temporada empolgante e asfixante. Bruno Lage e a sua equipa técnica têm a dura missão de preparar a nossa equipa para jogar ao mais alto nível as 11 finais que falta disputar. Quer o Campeonato, quer a Taça de Portugal são dois objectivos perfeitamente alcançáveis. Estamos bem posicionados em ambas as provas e dependemos de nós. É verdade que a missão dos nossos briosos atletas e dos nossos competentes treinadores será a mais complexa de sempre, pois terão de jogar sem a presença dos adeptos. Todos sabemos a importância vital do 12.º jogador nas conquistas do Glorioso. A hegemonia do futebol português, que conquistámos neste década, foi alcançada graças apoio permanente, consistente a inquebrável dos adeptos. Quantas e quantas vezes, em casa e fora, as nossas equipas atravessam momentos difíceis e foi a nossa vibrante massa associativa que as empurrou para a vitória?
Por isso, a missão de Jardel e seus pares será bem mais difícil. Serão cinco jogos numa Luz sem inferno, mas inspiradora. E serão cinco jogos fora sem o apoio dos nosso fantásticos adeptos do Norte, onde disputaremos três finais, e sempre a presença dos dedicados benfiquistas algarvios e madeirenses.
Tenho a certeza de que o nosso grupo de trabalho tudo fará para nos brindar com mais dois títulos. Se tal acontecer, serão 21 os títulos conquistados desde Março de 2009. Já conquistámos 19, e o homem do leme foi sempre foi o mesmo. A extraordinário conversa de Luís Filipe Vieira com Luisão, Jonas e Salvio, na BTV, define bem o Benfica moderno, que conseguiu o tão ambicionado tetra. Ambição, compromisso, humildade, determinação, solidariedade, ecletismo e inovação são os valores que soubemos abraçar e que nos permitiram viver no topo esta década de sonho."

Pedro Guerra, in O Benfica

Sejam bem-vindos

"Nas geografias longínquas, onde a vida é áspera, onde o fio da navalha é o chão que se pisa, e o pão que se rói é conquistado a ferros, dia após dia, pouco existe que levantei olhares e acenda sorrisos. Aí, nesses lugares é uma miragem, e a vida é um equilíbrio frágil e precário, a simples ideia do sucesso e da conquista é sinónimo de futebol e acendalha dos sonhos pessoais mais fervorosos. Nesse imenso planeta do infortúnio, a dor e a perda são duas irmãs inseparáveis, sempre à espreita, que acompanham as gentes pela vida fora, desde a mais tenra infância até ao último sopro, tantas vezes prematuro.
A esperança, sempre presente, às vezes ténue e esmorecida, reaviva-se com as notícias que chegam de um mundo mítico, com países de abundância, onde a comida é farta, e a vida é serena e feliz. Onde as crianças vão à escola sem medo nem insegurança, onde se vive até ser velho, muito velho de quase cem anos. Onde as ruas se enchem de vida a abarrotar de famílias felizes, com casas bonitas e novas, carros, lojas e esplanadas, cinemas, estádios, tudo! Esse mundo mítico, onde estádios fantásticos se enchem de multidões aplaudindo craques galácticos que ali chegam de todo o mundo para conquistar a fama e aumentar a glória dos grandes clubes, existe mesmo e fica bem perto, do outro lado do mar, repassada a costa de África e conquistada a Europa numa jangada que seja. Se há que arriscar a vida, que seja por um sonho que valha a pena. E este vale! Este país mítico, que outros sonham um dia alcançar, é também o nosso, tantas vezes subvalorizando na sua abundância por quem teve a sorte de nele nascer. E esse grande clube de jogadores-heróis que alimentam sonhos e inspiram superações é também o Benfica, imenso e grandioso que irrompe pelo mundo e arrebatar gerações. É um Benfica de braços abertos, lugar de partilha e de pertença, que se oferece a todos e que a todos acolhe. Por isso, só podemos imaginar, nunca sentir em todo a sua amplitude, o sentimento de alegria e gratidão que um refugiado acolhido em Portugal tem ao sentir que faz parte do Benfica, que estamos cá para o acolher, que pode ser um de nós. E isso é uma imensa dádiva dos benfiquistas à Humanidade, mas é, humilde e espontaneamente, como bem sabemos, uma mística profunda e um modo, único, de ser Benfica!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Duas semanas não são nada

"Duas semanas não são nada; passam num instante. Pelo menos, é assim que quem está de fora costuma dizer a alguém, num consolo perante o infortúnio de uma situação externa... Quanto menos preparados e precavidos estivemos para as súbitas guindadas de percurso a que o destino nos força, e quanto mais repentina for a adversidade, às vezes até parece que tudo nos caiu em cima, fica-se de rastos, e mais insondáveis se nos apresentam as soluções... Neste tempo difícil que atravessamos, infelizmente, muitos de nós acabámos por tomar conhecimento de autênticos pesadelos que subitamente vieram interromper a normalidade de vidas pessoais cujo quotidiano fora devastado, até de modo letal e irreversível. E de quantos casos, em outros contextos familiares e empresariais nos quais parecia reinar uma aparente regularidade, não nos teremos entretanto dado conta de se terem visto feridos por outros consequências menos fatais, mas ainda assim envoltas em duros dramatismos que dificilmente se dissiparão num futuro próximo?
Em todo o caso, com toda a riqueza semântica das mil variantes de que a nossa antiga língua nos permite beneficiar, nem sempre aquela mesmo expressão de conforto - 'duas semanas não são nada' - reveste esse profundo significado solidário, fraterno, compassivo e cheio de comiseração com que a usamos para transmitir alívio espiritual a terceiros desesperados.
Dizem os que sabem, que o uso da nossa querida língua é infinito. Muito mais diversos e poderoso, até, do que os milhares de declinações expressivas que a utilização física conjugada expressivas que a utilização da face ainda nos concede, para completar com a expressão do rosto quanto nos vai na alma e mais um par de botas...
Aquela mesmíssima asserção pode ser usada, por exemplo, com um sentido exclusivamente interior. De si, para si. Numa conversa a sós. Apenas de mim, para mim, a conversar sozinhos e só comigo. Com o meu sentido prático e este proverbial espírito positivo - de resto, à força de tanta devastação e tanto confinamento, agora um pouco mitigados - confesso que já dei comigo a ter de me consolar a mim mesmo: 'Já só faltam duas semanas! Não é nada; isto passa num instante...'
E depois, serão só mais oito. Até ao Marquês."

José Nuno Martins, in O Benfica

Calendário...

25.ª Benfica-Tondela - 04.06 | 19h15
26.ª Portimonense-Benfica - 10.06 | 19h15
27.ª Rio Ave-Benfica - 17.06 | 21h15
28.ª Benfica-Santa Clara - 23.06 |19h15
29.ª Marítimo-Benfica - 29.06 | 18h00
30.ª Benfica-Boavista - 04.07 | 21h15
31.ª Famalicão-Benfica - 09.07 | 21h30
32.ª Benfica-V. Guimarães - 14.07 | 21h30
33.ª Aves-Benfica - 21.07 | 21h15
34.ª Benfica-Sporting a definir

15 anos depois

"Todos nos recordamos daquele extraordinário dia, no Bessa, faz hoje quinze anos, em que voltámos, onze anos depois, a celebrar a conquista de um Campeonato Nacional. A festa começou no estádio, o mar de adeptos eufóricos estendeu-se pelas ruas portuenses a acompanhar a equipa até ao aeroporto e, já de madrugada, no Estádio da Luz repleto de benfiquistas, celebrámos o nosso 31.º título nacional. 
Terminou, nesse dia, o maior jejum da nossa história. Foram dez temporadas afastados do título, suplantando o maior ciclo negativo anterior, de "apenas" quatro.
É sobejamente conhecida a situação periclitante e sem precedentes em que o Clube se deixou cair no final do século passado e, em 2005, estavam ainda a ser dados os primeiros passos para se reerguer.
A obrigatória recuperação da credibilidade, o enorme esforço para saldar dívidas, a imprescindível modernização das práticas de gestão, bem como das infraestruturas, enquanto se procurava suprir a evidente falta de qualidade do plantel de futebol, eram as prioridades, sabendo-se que seria um caminho longo e muito difícil para se conseguir recolocar o Benfica no lugar que, historicamente, lhe pertence. Ser não só o maior, mas também o melhor clube português.
Conforme Luís Filipe Vieira, Presidente do Sport Lisboa e Benfica eleito em 31 de Outubro de 2003, disse hoje: "Foi um título que não correspondia ao momento que o Clube vivia, em que estávamos a começar a sair de uma enorme crise e que chegou cedo de mais, tal como o futuro nos deu razão, proporcionando uma percepção errada de quem só estava a dar os primeiros passos com vista à recuperação e credibilização do Benfica ganhador como hoje o conhecemos. Mas nunca esquecerei, e está guardada para sempre na minha memória, a grande alegria proporcionada a todos os benfiquistas, o percurso fantástico e vibrante a partir do Bessa, numa comemoração inesquecível de quem pôs fim ao maior período da nossa história sem festejar um título de campeão."
Com os primeiros passos dados, coroados com um título de certa forma inesperado e cimentados, no ano seguinte, com a inauguração do Benfica Campus, no Seixal, o Benfica começou a estar mais próximo dos títulos, voltando, nos últimos anos, ao tão desejado topo do futebol português, com cinco campeonatos conquistados nas últimas seis temporadas.
Ao longo destes anos, o Benfica soube reinventar-se, mantendo o investimento em áreas críticas e inovando constantemente de forma a manter-se na vanguarda, a nível mundial, da gestão desportiva e empresarial. Os títulos desportivos, acompanhados da melhoria substancial da situação económica e financeira, assim como os recorrentes elogios, sob as mais variadas formas e proveniência, às práticas de gestão do Clube, constituem-se como a garantia de que o Benfica está no bom caminho para se preservar, por muitos e bons anos, na liderança do futebol português.
Ainda hoje temos uma boa amostra do bom trabalho que tem vindo a ser feito, por exemplo, desde que se tomou a decisão da aposta na formação. Olhando para as primeiras páginas dos diários desportivos espanhóis, somos levados a pensar que hoje se comemora o dia nacional do Seixal em Espanha, pois o destaque é dado a Bernardo Silva e Nélson Semedo.
E ontem, na BTV, assistimos a uma excelente entrevista ao nosso antigo jogador David Luiz, em que sobressaiu o benfiquismo e ficámos a conhecer um pouco mais da fórmula do nosso sucesso a partir do Seixal.
Inspirados pelas palavras de David Luiz e parafraseando um anúncio publicitário do nosso parceiro adidas por altura do nosso centenário, traduz-se em 20% infraestruturas e métodos, 20% talento, 20% identidade, 20% rigor e exigência, 20% família... 100% Benfica!"

5 nomes que merecem integrar o mural da Rotunda Cosme Damião

"Tudo o que se segue serve para, primeiro, agradecer o enorme trabalho de toda a malta que se ocupou da Rotunda Cosme Damião e a transformou num monumento intemporal e sempre necessário à revitalização da História benfiquista.
Segundo, servirá como catarse para as minhas saudades do Benfica, porque as minhas saudades serão sempre mais dolorosas que a dos outros, já que as deles não poderei eu sentir.
Por último, as sugestões que aqui ficam expostas nunca deverão ser interpretadas como crítica ou achega ao orgásmico trabalho da malta do Mural da Glória, para os quais se mandam fortes e aconchegados cumprimentos, daqueles com tanto carinho que se mete em causa tanto amor extrovertido.
Na Rotunda Cosme Damião constam já os nomes de 39 intérpretes do legado encarnado, pessoas de carácter ímpar que à custa de todo o suor derramado pela águia ancestral, assente na faixa vermelha e verde, se fundiram com o próprio clube. Nomes que se associam imediatamente a tardes e noites de alegrias marcadas a ferro e fogo no imaginário benfiquista.
Aos pusilânimes que por lá passaram há duas semanas, rabiscando de verde os retratos de quem só sentia vermelho: a resposta veio com mais uma catrefada de representações das figuras do Olimpo, porque é assim que respondeu sempre o Benfica – com a genialidade que não deixa ninguém indiferente, sobrepondo-se às invejas com ainda mais virtudes e utilizando o amor incondicional como repelente para o ódio irracional.
Eusébio, Mário Coluna, Rogério Pipi, José Augusto, Chalana, Bento, José Águas, Toni, Shéu Han, Humberto Coelho, Ângelo, Carlos Lisboa, Jonas, Jaime Graça, Nené, Pietra, Diamantino, Guilherme Espírito Santo, Simões, Zé Gato, Francisco Ferreira, Carlos Manuel, Costa Pereira, Cruz, Ricardo Gomes, Vítor Paneira, Valdo, Veloso, Óscar Cardozo, Cavém, Michel Preud’homme, André Lima, António Bastos Lopes, José Torres, José Jardim, Valadas, José Maria Nicolau, Isaías, Mozer.
São estes os ilustres representados até ao momento. Em exercício de reflexão, identificarei cinco notáveis que merecem a homenagem e convido-vos a fazer o mesmo.

1. Ribeiro dos Reis Das qualidades pouco ortodoxas, mas eficazes como avançado centro, disseram certo dia que “metia golos com a canela, para ser mais saboroso”, aludindo ao estilo combativo enquanto futebolista: nunca foi um craque assumido, antes jogador sempre comprometido com os objectivos da equipa.
A fama eterna viria do seu carácter nobre, honesto e imparcial, construído na sua formação casapiana, e das distintas competências enquanto militar, jornalista, treinador, dirigente e … árbitro. Foi o primeiro português no Comité de Arbitragem da FIFA e membro da sua Comissão de Regras, de 1952 a ’61.
Um estudioso e entusiasta do jogo e da paixão de uma vida, o Benfica. Em tempos de crise, o clube recorria aos seus préstimos enquanto técnico principal, qual D. Sebastião, para se encarregar de missões quase impossíveis, para as quais tinha sempre o estofo e brios necessários.
Na primeiríssima das vezes, comandou os encarnados à vitória no Campeonato de Lisboa de 1931, interrompendo jejum de 13 anos; no último salvamento, em 1953, ganha a Taça de Portugal – aplica chapa cinco ao FC Porto comandado por Cândido de Oliveira, amigo inseparável (companheiros na fundação d’A Bola, mais Vicente de Melo) que se tornou rival, fruto das circunstâncias da vida. Foi também pioneiro na Selecção Nacional.
Foi o primeiro seleccionador único e autor da primeira vitória de sempre – 1-0 à Itália, em 1924. Oito anos depois, voltaria a colaborar com a Federação para ajudar em tempos conturbados, na caminhada para o Mundial de 1934. Em jogo para esquecer, acarreta responsabilidades num triste 9-0 sofrido em Chamartín, frente à Espanha: dias depois, em tentativa de desforra, perde 2-1. Abdica imediatamente e, vítima de escárnio avassalador, nunca mais volta.
Torna-se Águia de Ouro em 1943, quando se assinalavam 30 anos ao serviço do Sport Lisboa e Benfica. Assim justificou a direcção merecida homenagem: “Vibrante, sincera, grandiosa, mas sem o falso esmalte protocolar, a alguém do desporto nacional, homem de espírito forte e forte acção, que tem lutado sempre com a mesma fé, indiferente à maledicência, alheio aos manejos da baixa política desportiva. Os murmúrios dos despeitados e dos maldosos nunca o fizeram vacilar no caminho correcto».

2. Ted Smith Além de ser o rosto mais vincado de uma heróica conquista da Taça Latina – ao fim de 143 minutos e dois prolongamentos – o que lhe valeu louvores do governo, John Edward Smith destacou-se também pelo papel fulcral na interrupção do poderio sportinguista e dos Cinco Violinos. 
É o responsável pela vitória no Nacional de 1950-51, cercando o tetra adversário; vence três Taças de Portugal, descobre um menino chamado José Águas numa digressão em Angola e reformula todo o clube, preparando-o para as exigências do profissionalismo imposto por Otto Glória, anos depois.
Foi um intenso e competitivo defesa direito no Milwall FC, sendo obrigado a interromper a carreira para servir a sua pátria na Segunda Guerra, vindo parar à base das Lajes como muitos outros famosos jogadores seus conterrâneos. É lá que trava conhecimento com Tamagnini Barbosa, presidente encarnado, que discernindo conhecimento suficiente no jovem de 34 anos, desafia-o a suceder a Lipo Hertzcka no comando benfiquista.
A famosa derrota por 10-0 frente à Inglaterra, um ano antes no Jamor, justificou a nacionalidade pretendida pelo dirigente: queria influência britânica no futebol benfiquista, para elevá-lo a patamares de excelência nunca alcançados. Exactamente o que aconteceu. Foi consigo que o Benfica se tornou o mais forte opositor daquele Sporting CP dominador, vencedor de sete campeonatos em oito.
A sua história constrói-se também com episódio caricatos, como o do seu desaparecimento. Corria 1951-52 e um Benfica intoxicado pelos sucessos vai, aos tropeções, caminhando pelas provas nacionais. Numa visita a Guimarães, derrota por 2-1 e motivos suficientes surgiram para Ted Smith avisar a sua saída, alegando «problemas pessoais».
Sem espaço para mais explicações, desaparece do radar e ninguém mais sabe dele. Nos idos de Março, não houve traição, mas surpresa: aparece sem aviso na secretaria do Jardim do Regedor, disposto a reassumir os destinos da equipa principal. Ocasião oportuna, já que ainda ia a tempo de dirigir a equipa no jogo do título, frente ao rival lisboeta. Mas, no Jamor houve derrota (2-3) e as esperanças na vitória final acabaram aí. Um mês depois, saiu definitivamente.

3. Otto GlóriaO pai do profissionalismo no futebol português. Foi ele que inovou em todos os sectores da gestão do futebol benfiquista e preparou o clube para os sucessos da década seguinte. Sem ele, a glória europeia nunca teria sido realidade.
A forma como liderava as suas equipas a toque de chicote, impondo disciplina nunca antes vista, contrastava com a figura paternal que personificava nas alturas mais difíceis, coadjuvada com o aspecto bonacheirão que o seu bigode à escovinha alimentava.
Seu Otto adaptou-se ao nosso país como ninguém, notando-se a influência dos avós: emigrantes em Vera Cruz, impuseram no neto o gosto pelo Vasco e pelo… Benfica. Otto já era benfiquista antes de cá chegar, e a Glória que trazia no nome acompanhou-o à custa de muito trabalho e inovação.
A preparação física foi imediatamente filtro de compromisso, ainda antes do ultimato feito a todos os jogadores – o clube a tempo inteiro ou a porta da saída. Rogério Pipi e Arsénio foram vítimas dos métodos estranhos a início, mas que a todos convenceram com a dobradinha no final do ano de estreia.
É de sua autoria o projecto do Lar de Jogador ou Casa de Concentração – onde viviam solteiros e jogadores vindos das colónias – os quais não podiam estar na rua depois das… 23h, ou o ordenado era cortado em metade. Nas zonas de convívio eram proibidas «palavras de baixo calão, vozerios ou algazarras que perturbem o silêncio, a ordem ou os princípios da boa educação». Os casados, livres de restrições de morada, eram visitados frequentemente por ele ou pelo adjunto, autênticos polícias a assegurar que as regras de nutrição e sono eram cumpridas.
Chegou em 1954 e desde logo causou consternação pelo salário que lhe deu Joaquim Bogalho. Eram 12 contos, o dobro de Szabo no Sporting e Riera no Belenenses, enquanto Fernando Vaz auferia sete nas Antas. Ganhou, em 244 jogos de águia na jaqueta, quatro campeonatos nacionais e três Taças de Portugal, além de chegar a uma final europeia.
Em 1962, quando liderava o Sporting, introduziu no léxico do futebol português famoso ditado – não posso fazer omeletes sem ovos -, quando confrontado com a ausência de resultados. Os sportinguistas, exasperados ficaram com o «desplante» de um treinador que consideravam ser uma… melancia – verde por fora e vermelho por dentro. Despediu-se dias depois, com a honra intacta.
Ao comando da Selecção, foi ele quem levou os Magriços ao bronze em ’66 e quem em ’82 foi resgatado para fazer o mesmo (ou melhor) no Europeu, mas sucumbiu antes de lá chegar com a derrota por 0-5 em Moscovo, frente à URSS.

4. Simão Sabrosa O ‘20’ surgiu por força das circunstâncias, já que o número predilecto ocupado estava: «não podendo optar pelo ‘10’, que já tinha dono, encontrou a solução recorrendo a uma simples operação matemática: dez mais dez igual a vinte». Mal imaginava ele que se tornaria a sua imagem de marca e número sagrado de uma geração de benfiquistas que às suas cavalitas saiu do “Vietname” do final dos anos 90.
Era um jogador do Barroco futebolístico. Sustentou a sua eficácia de composição nas trajectórias curvilíneas com que encarava o adversário e a baliza. Da esquerda para o meio, os ziguezagues interpretavam um pensamento sem a rigidez dos ângulos rectos. Criações flexíveis, criatividade efeverscente, os elementos decorativos em doses sempre certeiras.
O remate em arco concluía na perfeição um futebol sempre em prol do colectivo – sem nunca se afastar do génio que se sobrepunha aos talentos em seu redor. Era Simão Sabrosa, o menino que se inventou a si próprio nas longas tardes de peladinhas com o irmão Serafim, que «chegou a ser convidado para jogar no FC Porto», mas que não chegou a ir por imposição dos pais. Os mesmos pais que, anos depois, não tiveram coragem de rejeitar pela segunda vez um convite de um grande. E Simãozinho abalou sozinho rumo a Lisboa, tinha 13 anos. No Estádio de Alvalade viveu até à subida aos seniores, em 1997.
Foi um instante até ganhar preponderância e mudar-se para a Catalunha. Cresceu, marcou num El Clásico, mas não estava pronto ainda. Os 12,5 milhões que o Benfica ofereceu em 2001 convenceram os culés e o regresso a Portugal não incomodou Simão.
Recebido apoteóticamente pelos benfiquistas, teve direito a um abraço de Eusébio na apresentação – estava dado o mote para carreira ímpar, levando os encarnados das piores classificações de sempre ao reencontro das noites europeias do passado, sempre como capitão e figura da equipa.
O título de 2005, 11 anos depois, é a sua grande obra. Líder de uma equipa abnegada, mas sem o talento de outras, Simão foi a jóia que manteve vivo o brilho e a esperança encarnada. Trapattoni era uma velha raposa do futebol europeu, mas dele se socorreu inúmeras vezes, pedidos de ajuda vários que ficam bem representados na frase marcante dita em conferência de imprensa para todos ouvirem, ainda a época ia a meio: «Graças a Deus temos Simão!»
Quando o talento já era demasiado para a Liga Portuguesa, ausentou-se. A braçadeira bem entregue ficou a Rui Costa, Nuno Gomes e Luisão, igualmente símbolos superiores desse ressurgimento.

5. Luisão Seu Anderson é um marco na História do Benfica e a proximidade temporal só exigirá a força dos números na argumentação: 15 anos, 20 títulos, 538 jogos, do quais 414 com a braçadeira no braço esquerdo. 766 horas dentro do rectângulo de jogo com a águia ao peito. 46 internacionalizações na Canarinha e seria uma merecida presença na Cosme Damião. Uma questão de tempo até ter o seu retrato eternizado."

Eternamente Manuel Bento

"Adoptou-se  como o seu protegido e fê-lo desde os tempos em que nos cruzámos nos treinos na Luz em 1982. Pela vida fora criticou algumas coisas que escrevi, elogiando outras, mas sempre afectuoso e paternal. Manuel Galrrinho Bento foi um amigo e um fenómeno construído com entrega, dedicação e trabalho. Senhor do seu nariz, sabia que era grande mas preferia que fossem os outros a dizê-lo.
O final da carreira foi doloroso. A fractura da perna esquerda, no México'86 interrompeu percurso excepcional. A partir de então, Manuel oscilou mais ainda o humor: tanto aparecia bem-disposto, dando a entender que convivia bem com o final da carreira; desanimado quando treinava mais a sério e o tornozelo inchava, revoltado quando tinha um assomo da grandeza que o enquadrava na história e resolvia discutir a opção de quem o deixava de fora. Fiz-lhe uma entrevista nessa altura de dor, dúvidas preocupação. Aproveitou a oportunidade para emitir um sinal de confiança, dizendo que era o mesmo guarda-redes e podiam contar com ele. Nada de muito surpreendente para quem lhe ouviu, na digressão de final de época a África, aos 42 anos, que Eriksson não quis ser campeão europeu em 1990, na final com o Milan. Porquê? 'Porque se quisesse tinha-me posto a titular'. Meu querido Manel Bento, foste o maior."

Rui Dias

Cadomblé do Vata (DesLiga!!!)

"1. Pedro Proença foi à Assembleia Geral da Liga e antes de ser demitido, colocou o lugar à disposição... aprendeu com o Lisandro, que antes de o Yebda lhe tocar, já se tinha atirado para o chão. 
2. Com a decisão de ontem, o (ainda) Presidente da Liga colocou o seu futuro nas mãos dos clubes... algo me diz que vão metê-lo mais fora de jogo do que o Maicon.
3. Pinto da Costa recusou representar os clubes numa reunião com as operadoras televisivas, porque Carlos Pereira o apelidou de traidor... é curioso como um homem com o passado conjugal do presidente portista, ainda é tão sensível a tal acusação.
4. O Marítimo impugnou o final da II Liga para evitar a subida do Nacional e uma futura divisão de subsídios do governo regional da Madeira... se isto não resultar, os maritimistas ameaçam avançar para a constituição de um órgão de comunicação social.
5. Nos últimos dias Bernardo Silva, Nelson Semedo, Renato Sanches e David Luiz (entre outros) afirmaram desejar voltar ao Benfica no futuro... um dia ainda vou entender porque é que o SL Benfica é um clube bem mais apelativo para os nossos jogadores, depois de serem transferidos para outro lugar qualquer."

Fora em casa !!!

"Ponto prévio, estamos a analisar notícias e fugas de informação que saíram na comunicação social no dia de hoje e como nada é oficial, as coisas podem não se concretizar e a bem do futebol português esperamos que não se concretizem mesmo.
“Porto jogar fora… no Dragão” seria só mais uma facada neste Campeonato que já está tão ferido de verdade desportiva. Só falta a nomeação do Artur Soares Dias ou do Carlos Xistra para completar a festa.
Quanto ao calendário, ainda não há nada oficial, mas as propostas iniciais da Liga e da SportTv coincidem num ponto: o #PortoaoColo deve ter mais um dia de descanso do que o Marítimo, seu adversário na jornada 26. No caso do Benfica, o intervalo seria, e bem, igual ao do Portimonense. 
Exige-se igualdade de tratamento para os 2 candidatos ao Título. Igual período de descanso nos jogos com os seus adversários e repartição no número de jornadas em que cada um joga antes do outro."

O primeiro mau sinal

"Na Alemanha, o recomeço da Bundesliga teve como consequência a lesão de oito jogadores nos jogos realizados na jornada passada. E essa circunstância terá seguramente muito a ver com a interrupção de actividade por período de tempo tão dilatado.

O estado físico dos jogadores que vão tomar parte na ponta final do campeonato não tem sido objecto de grandes reparos. No entanto, convirá não esquecer que esse assunto não pode deixar de ser rodeado de especial cuidado, atendendo às condições em que tudo vai processar-se.
Os atletas estiveram parados dois meses seguidos resumindo a sua actividade, em alguns poucos casos, a exercícios físicos individuais que pouco terão adiantado para a manutenção do estado de cada um.
Na Alemanha, o recomeço da Bundesliga teve como consequência a lesão de oito jogadores nos jogos realizados na jornada passada. E essa circunstância terá seguramente muito a ver com a interrupção de actividade por período de tempo tão dilatado.
Todos sabemos que em situação normal os jogadores descansam um mês, normalmente em Junho, para recomeçarem no início de Julho. E a partir daí a preparação gradual das equipas contempla também diversos jogos de preparação o que, perante a realidade que vivemos, é completamente impossível.
Com tão escassa preparação, pois o campeonato regressa daqui por catorze dias, há que ter especial cuidado com aspectos tão delicados.
E o primeiro mau sinal chegou-nos ontem do Futebol Clube do Porto com a lesão de Marcano, central portista, a quem a idade de 33 anos vai ajudar menos à recuperação.
O jogador espanhol tem sido um dos mais influentes da equipa comandada por Sérgio Conceição, acrescentando à sua regularidade a obtenção de oito golos nos desafios disputados até aqui, o que o torna o sexto melhor marcador da equipa.
Porque a sua paragem deverá chegar aos seis meses, a lesão de Marcano representa um prejuízo considerável para a colectividade portista, dada a influência que tem mantido na equipa dos dragões desde o seu regresso no início da temporada.
E se não houver cuidado, outras más notícias deste teor poderão chegar ao nosso conhecimento dentro de prazos mais ou menos curtos."