terça-feira, 19 de maio de 2020

Laços de futuro

"À comemoração da efeméride do Tetra, seguiu-se a da Reconquista, com a BTV a continuar a dar voz a protagonistas desses feitos. Ontem foi a vez de João Félix, um dos principais artífices do título conquistado na temporada passada, muitíssimo elogiado por Luisão e Jonas, também na BTV, há poucos dias.
O extraordinário jogador, que mereceu a atenção de todos os clubes com maior capacidade de investimento no defeso passado, esteve acompanhado do seu irmão, Hugo Félix, atleta da nossa formação e um dos que vão demostrando terem maior potencial de um dia poderem vir a tornar-se jogadores profissionais de futebol, sempre com a ambição de chegarem à equipa A do Benfica.
Por estes dias, além de João Félix, também Nélson Semedo, Gonçalo Guedes e Renato Sanches deram o seu testemunho acerca da importância crucial que o Benfica teve nas suas carreiras, da responsabilidade, felicidade e orgulho de representarem o clube do seu coração, manifestando igualmente o desejo de, um dia, ainda na plenitude das suas capacidades, regressarem ao clube que tanto lhes deu e do qual são adeptos.
O benfiquismo assumido por estes atletas, não obstante se tratar de profissionais, é incutido a todos os jovens que desenvolvem as suas capacidades futebolísticas no Seixal. Os valores do Benfica são transmitidos a todos, ficando reservado para os que chegam à equipa A o estágio final de aprendizagem, através dos jogadores mais experientes, do que significa ser, na prática, um representante, em campo, de milhões de benfiquistas, e a quem é exigido, simplesmente, ganhar, ganhar, ganhar!
Este destaque dado aos nossos antigos jogadores na BTV não é obra do acaso. Pelo contrário, é estratégico e estende-se aos restantes meios de comunicação do Clube. Como todos tivemos oportunidade de observar, o BPlay tem oferecido conteúdos exclusivos e inovadores, permitindo um acompanhamento próximo do regresso aos treinos da nossa equipa. Também o site e as redes sociais do clube têm dinamizado esta vertente comunicacional, com o jornal a consolidar semanalmente muitos destes conteúdos.
O Benfica considera absolutamente fundamental que o protagonismo seja dado a quem efectivamente o deve ter, os jogadores e os treinadores. São eles quem são admirados por todos nós e têm a oportunidade de, em campo, defender as nossas cores e emblema. Queremos estimular cada vez mais o benfiquismo e a paixão pelo desporto, sabendo nós muito bem quem faz sonhar as crianças e as inspira e motiva a perseguirem os seus sonhos.
Entretanto, esta semana, recomeçaram os treinos de conjunto da nossa equipa, seguindo a preceito as normas acordadas entre Federação, Liga e Direcção-Geral da Saúde, com vista à retoma das competições em 4 de Junho. No último fim de semana observámos o regresso da Bundesliga, oferecendo-nos a possibilidade de retirarmos ensinamentos valiosos para os próximos passos no futebol português.
Todos juntos, a pouco e pouco, conseguiremos ultrapassar as dificuldades. E, no nosso caso em particular, estamos muito focados nas onze finais que teremos pela frente.
#PeloBenfica"

O eterno mito do retorno

"Há muito que a sociologia da emigração alimenta a hipótese de que o regresso ao país é mais uma construção mitificada do que uma realidade concreta. No mundo do futebol não é muito distinto. Os jogadores saem, para garantir o futuro financeiro e, já agora, para encontrar quadros competitivos mais interessantes, mas vão sempre deixando cair a ideia de que gostariam de voltar um dia para jogar pelo clube do coração.
Só que a ideia do jogador adepto, destinado a retomar a casa, alimenta sonhos nos seguidores de cada clube, mas nunca se concretiza. Talvez, na verdade, não seja bem assim: há excepcionalmente jogadores que regressam, mas, quando de facto o fazem, e já tarde e serve mais para frustar expectativas do que para devolver a glória em campo.
Durante as últimas semanas não faltaram declarações sentidas de jogadores, demonstrando amor aos clubes de origem. Porventura intensificadas pelo confinamento, certamente ainda mais difícil para quem é emigrante. Na semana passada, numa animada conversa na BTV, três filhos do Seixal não escaparam à tendência. Entre memórias das conquistas de água ao peito, Gonçalo Guedes, Nelson Semedo e Renato Sanches deixaram a promessa: regressar ainda com capacidade de conquistar títulos. Renato afirmou mesmo 'não querer regressar muito velho'. Nélson assegurou que 'gostava de voltar ainda capaz de dar tudo e ajudar' e Guedes confessou que 'podemos jogar noutro clube qualquer, dar o máximo. Mas jogar no clube do coração é diferente. Sentimos amor à camisola e isso faz a diferença'.
Possivelmente, reside aqui a chave para cumprir a promessa de conquistas europeias com base no Seixal. Como resulta óbvio, reter talento é uma impossibilidade, mas talvez haja margem para fazer regressar talento.
Não digo que isso aconteça aos 25 ou 26 anos, mas com a dose certa de ambição e esforço financeiro, o Benfica terá condições para fazer regressar alguns dos jogadores formados no Seixal ainda antes do ocaso das suas carreiras. Não é difícil pensar em algumas soluções criativas que concederiam os incentivos certos para promover alguns regressos (ninguém ficaria chocado se o tecto salarial fosse ultrapassado e se existissem prémios adicionais para contratar jogadores com muitos de Benfica).
Uma equipa madura e com identidade será a melhor forma de continuar a acolher jovens jogadores vindos da formação mas dará também garantias de maior competitividade. Para que tal fosse possível, era necessário afastar de vez o princípio errado de que não se pode contratar jogadores maduros e voltar a dar prioridade ao retorno competitivo. Pode ser que, assim, se cumpra um dia o desejo de todos: vermos aquele que poderia ter sido o melhor lateral-esquerdo da nossa história, Bernardo Silva, finalmente a jogar pela equipa principal."

Comunicado: Red Pass

"No contexto das consequências da pandemia da COVID-19 e após a decisão do Governo, acompanhada pelos órgãos que superintendem o futebol nacional, ficou determinado que a Liga NOS será finalizada com a realização de jogos à porta fechada.
Dada a impossibilidade de os Sócios detentores de Red Pass assistirem aos cinco jogos que faltam no Estádio do Sport Lisboa e Benfica, o Clube tomou a decisão de atribuir uma compensação de valor proporcional a esse número de jogos que não estarão abertos ao público. Esse valor será de imediato adicionado à carteira virtual de cada detentor do lugar de época.
O valor pode ser utilizado para pagamento de produtos Benfica, nomeadamente: produtos oficiais, quotas de Sócio e bilhetes (incluindo Red Pass), em qualquer ponto de venda do Benfica, tais como as Lojas oficiais, Casas do Benfica, Site Oficial em slbenfica.pt, Linha Benfica através do 707 200 100 ou a Venda Online Assistida (VOA) através do 800 20 1904.
Os detentores de Camarotes e Executive Seats também serão compensados através da disponibilização de contrapartidas de valor proporcional aos cinco jogos que faltam disputar no Estádio da Luz, podendo esses valores ser usados no decorrer das próximas duas épocas desportivas (até 30 de Junho de 2022).
O Sport Lisboa e Benfica, face à interrupção das competições e incerteza quanto ao futuro imediato, entende ser esta a forma mais justa e equilibrada para compensar todos os Sócios e parceiros Corporativos. Esperando que na próxima época voltemos a estar juntos e com os Estádios de portas abertas."

Quarentena Permanente para Comentadores de Futebol

"Com o regresso do futebol aos estádios regressam também os comentadores às televisões. Os segundos precisam dos primeiros, mas os primeiros não precisam dos segundos. E nós também não. Cada um dos 90 minutos do jogo traduzir-se-á em dezenas de horas de comentários, em todos os canais de TV, na rádio, nos jornais. Portugal tem mais jornais diários de futebol do que o Brasil (a pátria de chuteiras), mais programas televisivos de futebol do que a Itália (onde se praticava o harpastum, um dos precursores do futebol) e mais comentadores de futebol do que o Reino Unido (que tem o campeonato nacional mais rentável financeiramente).
Mas o vínculo dos portugueses é principalmente com os clubes, não como o futebol. Se há duas décadas o futebol representava 36% de todos os atletas federados, actualmente essa percentagem é de 28%. Temos cada vez mais portugueses a praticar outras disciplinas desportivas, além do futebol. E mesmo o número de praticantes inscritos na FPF (cerca de 193 mil) é comparativamente inferior, per capita, a outros países que têm o futebol como desporto nacional, como Espanha ou França.
Eu não sou psicólogo, mas parece-me que há aqui matéria de estudo para Lacan. Vínculos acríticos e paixões cabais são geralmente sintomas de uma busca por sentido e reconhecimento. Criam-se elos simbióticos com elementos externos para preencher identidades desabitadas de autoestima. É como se um golo do Rafa Silva nos fizesse esquecer a falta de amor dos pais e se sentíssemos um frango do Oyisseas como uma rejeição que nos inflama o corpo de cólera.
Sem grandes feitos profissionais ou regozijos culturais, há uma geração de portugueses que só vive nos dias de jogo. São pessoas que não praticam futebol nem veem as partidas de outros países, mesmo quando têm claramente mais qualidade do que as do seu. O elo é, no fundo, com o clube e o clube só pode ser o Benfica, o Sporting ou o Porto. O tamanho dessas agremiações é perfeito. Se fossem planetárias, atraindo seguidores estrangeiros com quem não partilhamos simetrias culturais, a nossa identificação seria diluída. A dependência é mais fácil de se estabelecer quando existe um certo caseirismo, uma ideia de exclusividade. O clube é só meu e de outros iguais a mim.
Por outro lado, não são pequenos clubes municipais. A renúncia da nossa autonomia emocional é mais fácil de atingir com terceiros que têm características maiores do que nós, despertando o orgulho e o sentimento de conquista. É o que os psicólogos chamam de auto expansão.
E é nestas insatisfações que as televisões bicam oportunidades. A síndrome clubista pelos "três grandes" é afiada como um machado que corta clubes mais pequenos e outras modalidades desportivas. Nos média, tudo gravita em torno desses três clubes, criando-se relações emaranhadas, com interesses comerciais a sobreporem-se ao desporto.
Para comentar os jogos de futebol, as televisões não contratam especialistas na modalidade. Quem tem a minha idade, lembra-se de ver os jornalistas Rui Tovar (1948-2014), Artur Agostinho (1920-2011), Ribeiro Cristóvão ou Gabriel Alves a fazerem comentários mais criativos e eficientes do que os dribles dos atletas da bola. 
Mas os comentadores de hoje, subtraindo os jornalistas da casa e os ex-jogadores, são quase todos artistas de circo. São cuspidores de fogo e de polémicas para soltar o olhar arregalado do público, são animais amestrados pelos clubes que os engordam em troca de lealdade, são mágicos anões que usam truques para agigantar a sua popularidade.
Entre os comentadores há, ou houve, ex-vereadores municipais, ex-presidentes de câmara, ex-ministros, vários deputados e actuais presidentes de partidos políticos. Discutem jogos de futebol como mendicância política. André Ventura é fruto deste pecado original. Rejeitado pelos eleitores de Loures, ressuscitou como político a comentar os jogos do Benfica numa televisão. Com a conivência do clube e do canal.
Quando se escrever a história da extrema-direita em Portugal, haverá um capítulo sobre programas de futebol na televisão."

Este futebol sem alma é como o silêncio e uma parede vazia

"Sábado, 14h30, dérbi do Ruhr.
Há algo de involuntariamente simbólico nisto de o regresso do futebol ter ocorrido no campeonato e no estádio com melhores assistências do futebol mundial.
À hora marcada, a Bundesliga voltou, justamente com a sua maior rivalidade em campo.
Em vez de vibrarmos com os mais de 80 mil adeptos que fazem do Westfalenstadion um caldeirão efervescente de emoções, contemplámos o vazio
Die Gelbe Wand como que sublinhava da forma mais imponente possível como tudo é diferente. Mesmo sabendo que as portas estariam fechadas, impressiona olhar aquela monumental bancada agora despida de gente.
«Depois da pandemia, nada vai ser como dantes», disseram-nos. Ora, no relvado, Haaland continua a revelar-se um prodígio goleador, houve uma exibição notável do português Raphael Guerreiro e o Dortmund goleou o Schalke, que da pior forma fez jus ao seu 04.
Houve comprimentos com os cotovelos em vez de abraços. Mas a isso habituamo-nos. Difícil é o silêncio. Aquele maldito silêncio que nos permite ouvir o som da chuteira a tocar na bola.
Há algo de involuntariamente simbólico nesta separação forçada entre gente que canta nas bancadas «You’ll Never Walk Alone» e a sua equipa. Aquela bendita equipa que no final cumpriu a tradição, agradecendo para uma bancada repleta de ausentes.
Westfalen é mais do que betão e ferro forjados no coração industrial da Alemanha. É um estádio tão especial que viveu durante décadas sobre uma bomba de 250 quilos lançada pela Royal Air Force durante a II Guerra Mundial e que só viria a ser descoberta e detonada em 2015, em vésperas precisamente de um Dortmund-Schalke.
Apesar do lamento, é inquestionável esta necessidade de jogar sem adeptos, por uma questão de saúde pública.
A reflexão é sobre a absoluta importância daqueles que nada ganham em termos financeiros a troco de uma impagável recompensa emocional. Aqueles que vão ao estádio e que são tidos por vezes quase como descartáveis num futebol cada vez mais mercantilista, virado para as grandes audiências globais.
Esses, que estão no estádio, não são figurantes. São, sim, a essência do futebol, a par dos protagonistas. E o espectáculo tornado indústria precisa desesperadamente de todos para voltar a ser o que foi.
Não critico, só constato: este novo futebol sem adeptos é cerveja morta, é descafeinado em vez de café.
Talvez por efeito da novidade, neste fim-de-semana, oferecendo um espectáculo incomparavelmente mais pobre, a Bundesliga teve o dobro das habituais assistências televisivas na Alemanha. Aliás, essa necessidade legítima de salvar financeiramente o negócio é a força motriz deste retorno do futebol. 
Convivamos com o mal menor. Sejamos pragmáticos. O óptimo é inimigo do bom. É melhor este futebol sem alma do que futebol nenhum.
Ainda assim, isto não é bem um regresso.
O futebol só estará de volta quando não houver silêncio e uma parede vazia."

Silêncio ensurdecedor

"A partir do último fim-de-semana, ficámos todos a saber que iremos ter durante vários meses espectáculos sem público pela Europa fora, ajudando a criar em todos nós uma estranha sensação de vazio que, se as condições não se alterarem, não vai ser fácil preencher.

“Deus criou o mundo e desistiu de continuar a sua obra ao sétimo dia porque era domingo e havia um desafio de futebol”, uma frase metafórica do jornalista Francisco Sousa Neves que, quando proferida, teve como única intenção elevar ao cume um fenómeno que tomou conta de toda a humanidade em todos os quadrantes desde que inventado em finais do séc. XIX.
E não é apenas pelo ambiente que gera à sua volta que existe paixão universal por esse jogo fantástico, mas por toda a magia que o envolve e que se repete de cada vez que a bola começa a rolar nos tapetes mais diversos, sejam eles relvado ou de simples terra batida.
A partir do último fim-de-semana ficámos todos a saber que iremos ter durante vários meses espectáculos sem público pela Europa fora, ajudando a criar em todos nós uma estranha sensação de vazio que, se as condições não se alterarem, não vai ser fácil preencher.
Na Alemanha jogaram-se os primeiros 17 jogos, em dois escalões, que constituíram também um bom motivo de análise, no sentido de se concluir se o método é ou não recomendável, sabendo-se que é, antes de tudo, possível por força de necessidades conhecidas.
E vimos vários jogos sem novidades de monta: o Bayern de Munique venceu, o Borússia de Dortmund também ganhou tendo, por isso, ficado tudo na mesma. Ou seja, após a 26ª jornada da Bundesliga o duo da frente mantém imutável a diferença que os separa de quatro pontos, com vantagem dos campeões da Baviera.
Pondo de lado resultados e classificações ficaram especialmente na retina o silêncio e o eco produzidos em todos os estádios germânicos, sendo esse, sem dúvida, o ponto mais sensível de todas as análises.
A sensação que fica é a de estarmos diante de um fenómeno novo, com menos vida, nalguns casos quase a provocar sonolência.
Para já o futebol arrancou na Alemanha.
Os outros parceiros europeus também estão a preparar-se para o tiro de partida, oxalá sem outras novas interrupções."

O Covid-19 vai mudar o futebol para sempre

"É preciso reinventar o futebol. A solução já não é contratar uma estrela e ter sorte. Os clubes precisam de definir fluxos de trabalho, de reestruturar-se e automatizar processos através da tecnologia

“As pessoas perceberam que o Futebol não é indispensável”, Fernando Gomes, presidente da FPF.
De um dia para o outro, fecharam-se os estádios e os centros de treinos. Toda a actividade parou. Os jogadores foram para casa, os adeptos também. Tal como o mundo e os nossos hábitos, a organização dos clubes do futebol vai ter que mudar.
A maior parte dos clubes só vive para o jogo do fim de semana. Contratam-se estrelas sem que exista capacidade financeira para pagar salários, com o intuito de agradar à massa adepta e tentar ter resultados a curto prazo, a maior parte das vezes abrindo buracos financeiros dificilmente recuperáveis.
Dentro dos clubes, a área técnica, scouting, departamento médico, nutrição, performance, residências, logística, gestão de jogadores e de agentes… normalmente trabalham separadas geográfica e logisticamente. A informação é espalhada pelos diferentes departamentos, com sistemas tecnológicos diferentes, o que acarreta uma imensa ineficiência dos processos e das decisões.
Com o Covid-19 fomos todos obrigados a mudar. Como disse o presidente da FPF, a pandemia também nos ensinou que” o futebol não é indispensável”. É preciso reinventar o futebol. A solução já não é contratar uma determinada estrela e ter sorte. Os clubes devem ter uma definição sistematizada dos fluxos de trabalho e, acima de tudo, uma reestruturação e automação de processos através da tecnologia, para garantir um crescimento sustentável, através de uma estratégia de investimento em recursos humanos e tecnológicos de médio e longo prazo.
A evolução tecnológica é cada vez mais utilizada pelos treinadores para os seus próprios trabalhos, mas é ainda muito descurada por todos os outros departamentos.
Hoje, a maior parte dos clubes de primeira e segunda divisão utilizam coletes GPS para medir o comportamento físico do atleta. Mas a empresa/clube deveria cruzar os dados da performance física com os dados académicos, económicos ou alimentares. Ter esta informação centralizada é a possibilidade infinita de cruzamentos de dados que irá servir para analisar tendências, tanto físicas como logísticas, e inclusive conseguir prever o futuro utilizando o Machine Learning.
Nesta actividade do Futebol a resistência à mudança é grande. É difícil convencer um treinador que prepara treinos em papel há 25 anos que utilize um sistema tecnológico. Além disso, a elevada rotatividade não só dos funcionários do topo, como dos treinadores, também não ajuda.
O que acontece actualmente é que o know how, os dados e as análises, ficam na posse dos treinadores/dirigentes que, inevitavelmente, abandonam o clube, obrigando-o a recomeçar do zero sistematicamente.
Actualmente já temos projectos em Portugal interessantes e que lutam contra essa dinâmica, como o Famalicão, que investiu na formação garantindo a definição de uma lógica entre todos os escalões de formação. Nos últimos 15 anos, também o Benfica definiu uma estratégia de reestruturação. Seguramente que os adeptos estavam muito impacientes na altura mas, quando as coisas são bem feitas, os resultados falam por si- nos últimos seis anos, cinco títulos de campeão nacional.
Também temos casos como o Vitória SC ou o Estoril Praia que vão percebendo a importância desta visão. Infelizmente, ainda são poucos.
A Federação e a Liga muito têm feito para o bem do futebol português. Desde o certificado de entidades formadoras, ao processo de inscrições online da Liga, etc. Mas para garantir que o futebol cresce de maneira sustentável é necessário que a evolução na área desportiva seja acompanhada de uma evolução na área operacional e administrativa.
A pandemia do Covid-19 deve ser aproveitada como uma oportunidade de aceleração da digitalização do sector do futebol. Não há alternativa. Quem continuar a gerir um clube com base no fim-de-semana seguinte, irá ficar para trás."

Semanada...

"1. Os Reforços de Bruno Lage. Leo Kokubo (GR), João Ferreira (DD), Morato (DC), Rafael Brito (MC), Paulo Bernardo (MC), Tiago Dantas (MOC), Tiago Araújo (EE) e Gonçalo Ramos (SA) foram chamados para treinar com a equipa principal. A imprensa, sedenta por notícias, fez disto uma grande coisa. Na verdade, parece-me que é apenas uma maneira do clube se salvaguardar caso de repente haja uma sucessão de lesões em determinada posição. É pouco provável que qualquer destes rapazes se venha a estrear pelo Benfica. Só se formos campeões com umas jornadas de avanço. De qualquer maneira, desta lista dá para perceber quem é que o clube mais acredita. Porque se a maioria dos nomes são consensuais, há outros que não são tanto. O caso mais flagrante é o de Tiago Araújo, que eu gosto como jogador, mas que era um jogador dos S23 e passou à frente de todos os extremos da equipa B. Outro ponto a retirar daqui é que está desfeita a dúvida - se é que ainda havia - de quem é o central que o clube vai apostar na próxima época. Vai ser Morato. Kalaica perdeu, mais uma vez, a corrida. Ainda vai dar jogador, mas não no Benfica.
2. Catió Baldé. Um dos nomes que Tiago Araújo ultrapassou foi Úmaro Embaló. Úmaro tem de facto um potencial maior do que Tiago Araújo. Na minha opinião, só não está aqui porque teve uma temporada complicada com lesões. Logo, acaba por fazer sentido. Mas prontamente tivemos mais um show mediatico do seu empresário. Catió Baldé começa a ser insuportável. É verdade que ele traz rapazes da Guiné Bissau e permite-lhes ter uma oportunidade na vida que dificilmente teriam. Mas também é verdade que depois explora esses rapazes e os leva a tomar más decisões para as suas carreiras. O exemplo mais claro e óbvio é o de Bruma. O próprio Úmaro não foi para a Alemanha há uns anos porque os alemães não quiseram pagar a Baldé uma comissão. É o exemplo perfeito daquilo que um empresário não deve ser. Infelizmente é cada vez mais o tipo de empresários que há.
3. O Erro de Pinto da Costa. O representante do dono do Porto Canal dirigiu-se a São Bento e aos jornalistas acabou por falar mais sobre o FC Porto do que sobre o Porto Canal. Houve duas coisas interessantes que Pinto da Costa disse (a) Se a indústria do futebol não puder voltar (“onde os atletas têm uma alimentação equilibrada e saúde controlada”), nenhuma outra indústria pode. Isto é verdade. Mas também desmente grande parte dos comentadores do FCP que dizem que o Campeonato só vai regressar porque o Benfica está em segundo. (b) Se o Campeonato for cancelado, deve-se fazer como se fez na 2º Liga. Aqui Pinto da Costa quis dizer que o FCP deveria ser campeão. Isso foi um erro. Porque apesar do Nacional e do Farense terem subido de Divisão, nenhum destes clubes foi considerado, pelo menos até agora, como Campeão da 2º Liga. Há uma diferença bastante grande entre subir de Divisão e ser considerado Campeão.
4. Quão provável é de facto a Liga terminar? Ao longo das últimas semanas, as equipas da primeira têm tido alguns casos positivos de covid-19. Os jogadores vão ser testados com regularidade antes e depois dos jogos. Mas os jogos vão envolver centenas de pessoas. A hipótese do virus entrar numa equipa não é remota. Faltam ainda 10 jornadas. Acho que era importante começar-se a discutir-se o que aconteceria caso a Liga não terminasse. Porque a hipótese, mesmo com todos os cuidados, não é impossível e se acontecer, já todos sabemos qual vai ser o forrobodó se não houver uma decisão antes. A decisão parece-me que já está tomada. Não haverá Campeão e servirá a classificação da altura para os apuramentos europeus. Foi a mesma decisão da Federação no Futsal e no Futebol Feminino.
5. Playoff no Hóquei em Patins. A FPP aprovou a mudança na estrutura do Campeonato. A partir da próxima época estão de volta os playoffs. É uma notícia muito boa. Os playoffs dão uma espetacularidade a qualquer modalidade e se à modalidade que corta a respiração num playoff é o Hóquei. O playoff em si retira qualquer peso aos jogos pequenos e mete-o todo nos jogos grandes. Ainda é cedo para prever quem vai ser beneficiado com isso. Mas no final, em vez de ganhar a equipa mais constante, ganhará a melhor equipa. Regra geral, a melhor equipa é também a mais constante. O maior impacto diria que vai ser na bilhética, o que é sempre bom.
6. Segundo reforço do Futsal. Depois de Nilson, o Benfica parece ter fechado o seu segundo reforço. Trata-se do pivot que também faz de ala iraniano de 31 anos, Hossein Tayyebi. Tayyebi jogou os últimos quatro anos no Kairat. Tem passagens pela Rússia também, além do início da carreira ter começado no Irão. Foi a peça principal do Irão que ficou com a medalha de bronze no Mundial de 2016. Na altura eliminaram o Brasil no 16-avos de final e bateram Portugal na decisão do 3º lugar. Nos últimos quatro anos foi sempre umas das peças principais do Kairat, que terminou duas vez no pódio na UEFA Futsal Champions League. É um jogador tecnicamente muito evoluído. Vai ser concerteza um reforço interessante. A dúvida será mais quem é que ele irá substituir. No Kairat jogava sobretudo a pivot. Logo para ele vir, ou Fernandinho ou Fits estarão de saída. Fernandinho tem sido um dos melhores do Benfica nos últimos anos. Com 38 anos as pernas podem começar a pesar a qualquer altura...
7. Mais saídas nas Modalidades. Desde do meu último post, o clube anunciou as saídas Albert Casanovas (Hóquei) Chaguinha (Futsal), Gary McGhee (Basquetebol), Pedro Seabra (Andebol) e pela imprensa portuguesa fala-se também da saída de Jordi Adroher (Hóquei). Adroher e Chaguinha são saídas naturais. São dois jogadores que o rendimento baixou bastante em relação aos últimos anos. McGhee e Casanovas foram apostas falhadas. Pedro Seabra é a que me deixa mais triste. Foi o meu jogador favorito do Andebol do Benfica nos últimos três anos e no período desta página. Acho até que é o meu jogador favorito de sempre no Andebol do Benfica. Sai pela porta pequena e numa decisão que me parece mais ligada a finanças do que outra coisa (a sua saída abre massa salarial para contratar jogadores para o novo treinador). Que tudo corra bem aos cinco.
8. Helton Leite. Tudo indica que está fechado o segundo reforço do plantel para 2020-21. Helton Leite vai ser o nosso segundo guarda-redes. O brasileiro de 29 anos já é, para mim, um dos três melhores guarda-redes do Campeonato (só atrás de Vlachodimos e Marchesin). É um upgrade muito significativo a Ivan Zlobin, que tal como Mile Svilar, deverá ser emprestado no próximo ano. Helton Leite é muito completo, tem grandes reflexos. Tem tudo para ser o segundo guarda-redes do Benfica durante 3 a 4 anos."