Núcleo duro

"Hoje, 13 de maio, faz três anos que o dia terminou em celebração no Marquês devido à conquista do quarto Campeonato Nacional consecutivo, o inédito na nossa história e tão almejado Tetra. A esta efeméride junta-se a da próxima segunda-feira, 18 de maio, que assinala um ano da brilhante Reconquista.
Vencer cinco campeonatos em seis temporadas, algo que o Clube já não conseguia desde os anos 70, exigiu muito trabalho de acordo com um plano estratégico implementado em várias fases. Assim o exigiu o estado a que se deixou chegar o Clube no final do século passado.
Recuperada a credibilidade perdida, dotado o Clube de infraestruturas modernas, sendo o Estádio e o Benfica Campus as mais relevantes, e enormemente aumentada a capacidade de captação de receitas, incrementou-se exponencialmente o potencial desportivo do Benfica, com repercussões significativas no número de troféus das mais diversas modalidades que, todos os anos, dão entrada no, entretanto edificado e que tanto nos orgulha, Museu Benfica – Cosme Damião.
Um dos eixos fundamentais do nosso sucesso recente no futebol está relacionado com a estabilidade ao nível do plantel. Mesmo havendo saídas de jogadores ao longo destes anos, percebe-se que há um fim condutor na composição dos vários plantéis. Pretende-se, e os resultados validam a estratégia, que haja uma efectiva transmissão da mística ano após ano, algo que também motiva a aposta na formação, pois é com cultura benfiquista que os nossos jovens atletas chegam à primeira equipa. 
Nestes cinco títulos nacionais, André Almeida, Fejsa, Jardel e Salvio fizeram o pleno. Jonas, Luisão, Pizzi e Samaris foram campeões quatro vezes, enquanto houve dez jogadores, incluindo Grimaldo, que já o foram por três vezes ao serviço do Benfica. Dos 17 que venceram dois campeonatos neste período, contam-se Cervi, Rafa e Zivkovic. Apenas uma vez campeões houve 53 jogadores, oito dos quais pertencem ao atual plantel. Ou seja, Bruno Lage, também ele campeão, tem à sua disposição 16 atletas que sabem o que é e o que custa ser campeão de águia ao peito.
A BTV, conforme anunciámos ontem, dedicará, a partir de hoje e até segunda-feira, sempre às 18 horas, parte da sua programação a relembrar os feitos futebolísticos do Clube nas últimas seis temporadas, bem como os seus protagonistas. Hoje não perca, em directo estarão Jonas, Luisão e Salvio que receberão a companhia de Luís Filipe Vieira desde o Seixal.
Num momento em que já está agendado o reinício do Campeonato, é importante que este espírito de vitória perdure e ajude a nossa equipa a disputar as onze finais que se avizinham.
Quem já foi ao Marquês, nunca mais se esquece e quer muito lá voltar, assim as circunstâncias o possibilitem. 
#PeloBenfica"

SL Benfica | Regresso aos treinos com caras novas

"No passado dia 4 de maio, depois de uma semana de testes físicos (onde todos os atletas corresponderam), o SL Benfica regressou aos treinos conjuntos no Seixal. Depois de várias semanas de paragem os atletas encarnados voltaram a pisar os relvados.
De forma a cumprir as normas impostas pela DGS, o plantel foi dividido em quatro grupos de trabalho (cada um com um horário de treino distinto). Todos os jogadores do SL Benfica realizaram, entretanto, o teste para detectar o covid-19, tendo apenas David Tavares acusado positivo. O jovem médio português irá cumprir a quarentena no centro de estágio do Seixal. Foram inúmeras as mensagens de apoio deixadas nas redes sociais de David Tavares.
O clube encarnado pediu aos jogadores a máxima responsabilidade pelo código de conduta imposto aos jogadores, código esse que tem gerado tanta polémica, de forma a evitar ao máximo o aparecimento de novos casos.
Todo o plantel e staff do SL Benfica irão repetir os testes com alguma regularidade, de forma a garantir a exatidão dos mesmos.
Relativamente aos jogadores, todos voltaram em invejável forma física. O médio brasileiro Gabriel recuperou da lesão que o afectou nos últimos meses, estando agora a 100%. Com a recuperação do brasileiro, todos os jogadores estão à disposição do treinador. Bruno Lage terá que resolver várias “dores de cabeça”.
Leo Kokubo foi o primeiro dos jogadores dos escalões de formação a juntar-se ao plantel principal. O guarda redes japonês esteve, pela primeira vez, ao serviço de Bruno Lage, tendo impressionado. Num curto de espaço de tempo Kokubo deverá receber a companhia do lateral direito João Ferreira, o médio defensivo Rafael Brito, o defesa central Morato, o médio centro Paulo Bernardo, o médio ofensivo Tiago Dantas, o extremo esquerdo Tiago Araújo e o ponta de lança Gonçalo Ramos.
Todos estes jogadores estão inseridos num plano especial, com a vista à sua integração no plantel principal. Se realmente o resto da liga se realizar, as equipas terão muitos jogos compactados num curto espaço de tempo. Este tipo de calendarização poderá, naturalmente, causar problemas físicos aos jogadores, daí a inclusão destes jovens nos trabalhos da equipa principal. Todos os atletas mencionados anteriormente deverão também realizar a pré época na temporada seguinte.
Bruno Lage já veio dizer que a equipa vai treinar arduamente para tentar conquistar o bicampeonato, e parece que a promessa de entrega da equipa está a ser cumprida.
O regresso à competição, se os números de infectados não continuar a crescer de forma drástica, deverá dar-se no dia 4 de Junho. Pela frente os encarnados têm dez jornadas e a final da Taça de Portugal frente ao FC Porto.
O local, a data e as horas dos jogos estão ainda a ser estudados, não sendo sequer absolutamente certo o regresso à competição. Muitos jogadores, treinadores e alguns dirigentes já demonstraram o desejo de ver o campeonato por terminado. Teremos de esperar para ver."

Fenómeno com pedras no caminho

"Jota tem a genética de um craque e é dos maiores talentos do futebol mundial da sua geração. Se daqui por um ano houver mais gente a corroborar a ideia expressa nestas linhas, não se admirem: e só o tempo a cumprir o seu dever

Cedo lhe detectaram um talento grandioso o nome tornou-se familiar a todos os scouts do Mundo. Era uma criança com evolução psicológica, física e biológica para concluir, mas a notícia de que o Benfica tinha um fenómeno entre os mais jovens andava de boca em boca - a informação, nestes casos, costuma correr à velocidade do som. Os treinadores do clube e a quase totalidade do corpo técnico da FPF coincidiam na convicção de que o futebol português tinha encontrado o expoente da nova geração. Foi nesse ambiente de admiração e expectativa que Jota (inicialmente João Filipe) viveu e cresceu. Era o herói da comunidade, alvo das atenções do comando e beneficiário do maior temor e admiração dos adversários.
Uma lesão grave travou a afirmação e atrasou o processo de consagração como craque universal. Nada que o tenha impedido de ser estrela das equipas campeãs da Europa de sub-17 e sub-19, feitos que lhe permitiram das lustro à arte de transformar o excepcional em rotina. Porque a maturação da juventude não se faz sempre no mesmo tempo, não delimitou logo espaço na primeira equipa dos encarnados. Instalada a decepção e a dúvida, que funcionavam como sacrilégio, atendendo ao seu passado, viu criadas condições para inviabilizar o reconhecimento unânime. E neste ponto em que nos encontramos.
Jota pertence ao grupo dos que amam o futebol; é elemento de um núcleo privilegiado que não precisou de pobreza, miséria e fome para se expressar. Ao contrário de outros, que só foram vencedores porque se agarraram à bola com apurado instinto de sobrevivência, evitando a derrota social a que pareciam condenados, não precisou de privações para ser orgulhoso e comprometido. Os exemplos de sucesso entre essa população costumam ser mais escassos e só com coragem, atitude, inteligência e convicções fortes é possível superar o suplemento motivacional daqueles que só têm o futebol para ser alguém na vida. Johan Cruyff disse sobre Michael Laudrup que, se encarasse a profissão como a coisa mais importante da sua existência, o dinamarquês teria atingido o nível de Maradona. É essa leveza que Jota terá de combater. Mesmo habituado a que as coisas lhe corram bem, terá de entender que, enquanto a inspiração não chega, é preciso procurá-la com suor sacrifício, trabalhando como operário.
Jota está a perder crédito junto da nação benfiquista, mesmo entre aqueles que se entusiasmaram quando era menino-prodígio do Seixal. As reacções emocionais não assentam em conceitos de fidelidade - por vezes até omitem bom senso e respeito. O adepto responde a impulsos passionais de circunstâncias, pelo que o jogador deve responder na mesma moeda, isto é, com elevado sentido do imediato - aplausos e assobios são sempre efémeros e voláteis. A tarefa é mais difícil para quem só conhecia a face do êxito, da exaltação e do elogio, e tem de ligar com dúvida, indiferença e desconfiança. Encontrou as primeiras perdas no caminho.
Antes de abordar este final de época atípico, Jota terá aceitado sair por empréstimo. Definiu Inglaterra como destino ideal e só em alternativa dará resposta positiva ao fervoroso apelo do Olympiakos de Pedro Martins. O Benfica reconhece nele uma pérola preciosa e o jogador mantém ligado o motor de talento e sonho para cumprir a promessa do fenómeno que sempre foi. Qualquer que seja a decisão, a saída temporária constitui só mais um episódio da história e nunca o seu epílogo prematuro e decepcionante. Jota tem código genético de craque e é dos maiores talentos do futebol mundial da sua geração. Se daqui por um ano houver mais gente a corroborar a ideia expressa nestas linhas, não se admirem: é só o tempo cumprir o seu dever. Não digam, depois, que não foram avisados."

Rui Dias, in Record

À vontade do freguês !!!

"Mais vale dizerem logo quem querem que julgue o caso. Propomos Francisco J Marques, Ana Gomes e sorteio de um elemento dos SD para juízes."

Como é que é?

"O desespero é muito, a clarividência é pouca. É este o resumo das declarações do Presidente do #Portoaocolo, ontem, em Belém. Mentir, omitir, deturpar nada faltou, mas vamos por partes.
«Se o FC Porto seria justo vencedor nesse caso? Parece-me que o que tem sido feito, nos campeonatos que acabam, é que conta a classificação que está.» Que Campeonatos?
Em Portugal, a FPF (no que diz respeito ao futebol) cancelou o Campeonato Nacional de Seniores, a 1ª Liga de futebol feminino, a 2ª Liga de futebol feminino e os campeonatos de formação. Em nenhum houve campeões. A II Liga foi anulada pela LPFP também sem campeão. É disto que estará a falar?
«A própria federação e a liga já o mostraram, quando interromperam o campeonato da II Liga e quem subiu foi quem estava em primeiro e segundo quando o terceiro ainda podia subir. Estava assim, foi assim que acabou. Não vejo que tivessem um critério para a I Liga e outro para a II Liga.»
Pois, é verdade. Foram indicados para subir, mas não houve campeão. Será que Jorge Nuno obteve essa informação? Ou ele próprio está a dizer que quer que não existam campeões?
«O que está a ser feito é assim, no campeonato francês, quem ia em primeiro foi campeão.»
OK. Portanto estamos a comparar a situação do PSG (com mais 12 pontos e menos 1 jogo) com a situação em Portugal. Faz sentido. Já agora, porque não referir a situação dos outros 2 Campeonatos anulados (Holanda e Luxemburgo) onde não houve campeões? Pois, deve ter sido um “lapso”.
Já agora, para quem não sabe, em França houve unanimidade da direcção da Liga composta por 25 elementos (dos quais 10 são clubes). Em Portugal, a decisão na II Liga foi também ela tomada por unanimidade pela direcção. Bem que podia ser um Artur Soares Dias ou um Carlos Xistra a decidir, não era, Jorge Nuno?
Por fim, relativamente à justiça da classificação a 10 jornadas do final, deixamos um quadro com o que se passou nos últimos Campeonatos em Portugal. Como podemos observar, em 38% das ocasiões existiu alteração na liderança a 10 jornadas do fim e se considerarmos uma diferença igual ou inferior a 1pt - tal como se verifica agora - este número sobe para 75%. Ou seja, a classificação a 10 jornadas do final nada quer dizer quanto ao seu desfecho.
Aliás, nem a classificação com 5 jornadas por disputar nos diz algo. Como é óbvio para todos, menos para os cartilheiros do #Portoaocolo."

Retomar? Sim, mas…

"Toda esta perturbação, já sem a ressonância de há alguns dias atrás, está também a fazer caminho noutros países onde o debate continua envolto em alguma polémica.

Depois de a Liga de Clubes de Futebol ter apontado os dias 30 e 31 de Maio para o reatamento do campeonato com a realização da 25ª jornada, foi agora escolhida nova data, 4 de Junho, vindo os nove jogos a ser disputados quinta, sexta, sábado e domingo.
Com 23 dias pela frente até a bola voltar a rolar a sério, há no entanto um punhado de questões que terão de ser resolvidas. Por exemplo: definir perfeitamente as regras que devem ser estabelecidas tendo em conta a possibilidade de o campeonato poder voltar a ser interrompido.
Ou seja, podendo vir a ser contemplada essa circunstância quem será designado campeão, e quais os clubes que preencherão a lista dos participantes nas próximas edições da competições europeias.
Pelo caminho há igualmente um aspecto que assume a maior importância: até à chegada do dia 4 de Junho os jogadores vão ainda ser submetidos a diversos testes cujos resultados poderão dar origem a que a discussão volte ao início. E a isto junta-se, claro, a questão do recolhimento obrigatório previsto no código de conduta recentemente publicado, e que alguns jogadores mostram pouca vontade em aceitar.
Toda esta perturbação, já sem a ressonância de há alguns dias atrás, está também a fazer caminho noutros países onde o debate continua envolto em alguma polémica.
Da Inglaterra chegava ontem, via “Daily Mail”, a notícia segundo a qual vários jogadores da Premier League estão a comunicar aos seus treinadores que não querem voltar à competição enquanto não lhes forem dadas garantias totais de salvaguardada da sua condição física.
Na Itália também continuam a levantar-se vozes que contestam a possibilidade da Série A voltar aos estádios pelos mesmos motivos que se apontam na terra de Sua Majestade.
E a Espanha também prossegue dando sinais de incerteza, mais preocupados que estão os seus responsáveis em debelar a pandemia que tantas vítimas tem provocado no país vizinho.
Em resumo: ninguém pode falar de certezas, sendo que a única tem apenas a ver com a salvaguarda da saúde pública que nenhum desafio de futebol pode substituir. E é aí que todos temos de nos empenhar."

Data de retoma da Liga NOS

"No passado domingo, a DGS emitiu o parecer técnico sobre as condições do regresso da Liga NOS à competição, no seguimento da decisão do Governo do passado dia 30 de Abril.
Recorde-se que, nessa data, o Executivo enquadrou esta competição profissional como uma das actividades autorizadas ao desconfinamento.
Ao longo dos últimos dias, as várias entidades têm levado a cabo sucessivas reuniões de alinhamento para que a retoma possa acontecer em segurança e com todas as medidas de protecção que mitiguem os riscos do regresso à actividade, seguindo-se uma fase de vistorias para apuramento dos estádios que efectivamente cumprem os requisitos definidos naquele parecer técnico.
Antecipa-se que este trabalho conjunto da DGS, da FPF e da Liga Portugal sirva de modelo para a retoma de outras actividades económicas, pretendendo-se que esta competição profissional forneça um exemplo das boas práticas que esta pandemia nos impõe.
Por forma a garantir que são rigorosamente vistoriados os estádios e realizados os testes médicos a todos os profissionais envolvidos nos jogos e na respectiva organização, está apontada a data de 4 de Junho de 2020 para o primeiro jogo da 25.ª jornada da Liga NOS."

Ainda a retoma

"O Benfica perdeu oito pontos na Luz e cinco fora o que quase me levaria a desejar que o meu clube não jogasse nenhuma das 10 partidas sobrantes no seu estádio.

1. Na semana passada, aqui dei a minha opinião sobre a chamada retoma do principal campeonato de futebol. Tenho lido ou ouvido com atenção outros pontos de vista, tão respeitáveis como julgo serão também os meus. Creio poder concluir que há um ponto em comum: o de considerar que a efectivação dos 90 jogos por realizar nunca será como se estivéssemos em absoluta normalidade. Eu concluí pela bondade da cessação da prova, como um bem menor. Outros concluíram pela sua finalização, como um mal menor.
Por vezes, pergunto-me se devo escrever sobre estas questões em notória divergência com legítimos anseios dos clubes e dos media mais ligados ao futebol. Ser-me-ia, por certo, mais cómodo não discorrer sobre estas matérias, assim evitando falar do que, num curto prazo, parece não ir ao encontro dos produtores e comunicadores futebolísticos. Desde o primeiro texto que escrevi em A Bola, sempre deixei claro que, até mesmo em relação à linha oficial do meu clube, ou em qualquer outra circunstância, não fujo às contingências de pensar pela minha cabeça e de ter uma opinião que, genuinamente, é a que, em cada momento, me parece melhor. Apenas isto, sem qualquer interesse acoplado, sem fazer fretes seja a quem for, sem a obsessão do culto da unanimidade quase compulsiva, sem o desrespeito por quem pensa diferente de mim. Apenas, livre e desinteressadamente.

2. Deixando de lado a questão de infectados entre atletas nos últimos dias, sobre a qual não ouso ter opinião, como leigo que sou, tenho presente um dos pontos da retoma, que mais me suscita forte crítica. Refiro-me à desvirtuação em 30% da competição (que é o que está por disputar) de uma das suas regras substantivas e não meramente adjectivas, qual seja a de a igualdade plena implicar que cada equipa jogue com as outras, uma vez recebendo-as, outra vez deslocando-se ao terreno aos adversários. Aliás, basta atentar num ponto para se perceber como é abstrusa a ideia de perverter esta norma. Refiro-me ao máximo castigo que, disciplinarmente, um clube pode sofrer - acima até da punição de jogar em casa sem público - e que é disputar os seus jogos caseiros em campo neutro, ou, em linguagem mais sancionatória, o de ver o seu estádio interditado. Ora, considerar a dispensa desta norma como desportivamente tolerável não é uma coisa de somenos. É, ao contrário, um contorcionismo de uma regra nuclear de uma competição por jornadas. Claro que tal procedimento pode ser assumido, como vai ser o caso, mas jamais pode ser confundido com a continuação da mesma prova. Caricaturando, também se poderiam mudar os pontos a atribuir nestas condições. Por exemplo, no caso de empate num jogo em casa, forçadamente jogado fora dela, dando 1,5 ponto ao clube prejudicado e 0,5 pontos ao outro clube, em vez de 1 ponto a ambos. Refiro esta hipotético formulário de pontos - obviamente esdrúxulo - apenas para dizer que, quando começamos a excepcionar aspectos fundamentais de uma competição por pontos, sabemos onde começamos, mas não sabemos onde acabamos por chegar. No fundo, a violação de uma regra substantiva não pode conferir uma nova normalidade a um torneio que já não é o mesmo. Verdadeiramente igualitária foi a primeira volta, em que todos jogaram contra todos, umas vezes em casa, outras fora.

3. Embora aparentemente desmentido pela FPF, li, ainda, neste jornal (7 de Maio) que para os estádios seleccionáveis - Luz, Dragão, Alvalade, Guimarães, Braga e Bessa - os clubes seriam divididos em grupos, jogando os seus jogos caseiros num dos estádios elegíveis do seu grupo territorial. E li que, por exemplo, o Marítimo ficaria num grupo de Lisboa jogaria em casa contra o Benfica... na Luz (e, consequentemente, este jogaria fora... na Luz). E o Paços de Ferreira, de um grupo do Porto, jogaria em casa contra o FC Porto... no Dragão, sendo que os portistas viajavam fora, indo ao forasteiro Dragão! Não quero acreditar que venha a ser assim, mas não me espanta que, desta ou doutra maneira, possa haver distorções deste jaez. Se os relvados escolhidos foram os acima citados, há a boa sorte de nenhum dos clubes estar a lutar pela manutenção, porque, então, seria a anomalia do seu esplendor. Imagine-se, por hipótese académica, que o Boavista estava no meio dos clubes aflitos e que, ao contrário de todos os outros nas mesmas condições, era o único a jogar em casa os jogos caseiros.
Tenho observado um argumento para atenuar esta coisa de jogar dentro, lá fora (um quase antónimo de um slogan turístico de há alguns anos e que agora ressurge: o de ir para fora, cá dentro). Um argumento direi factual, supostamente induzido pelo facto de para alguns clubes, terem mais pontos fora de casa do que no seu reduto. É o caso, entre outros, do Santa Clara, que pontuou mais fora dos Açores. Pois sendo assim, acrescento até o Benfica (8 pontos perdidos na Luz e 5 pontos desperdiçados fora da Luz), o que, na mesma linha de raciocínio, quase me levaria a desejar que o meu clube não jogasse nenhuma das 10 partidas sobrantes no meu belo estádio...

4. Há clarificações que importa resolver, no plano das promoções e despromoções e no contexto do apuramento para as competições oficiais? Claro que sim. Mas, para tal, sempre haveria outras maneiras excepcionais para superar a excepcionalidade do actual momento. Não se queira, porém, enfrentar a excepcionalidade com uma anormalidade, que é enxertar uma norma estranha e injusta para dar a ideia de que muda algo, mas tudo ficaria mais ou menos semelhante. Por exemplo, há naturais dúvidas sobre o clube que teria acesso à Champions, ainda que não se atribuísse o título de campeão. Por boa coincidência, são os mesmos clubes - Benfica e Porto - que disputarão a final da Taça de Portugal. Ora, assim sendo, poderia haver uma decisão concertada para nesse jogo se decidir quem é imediatamente apurado para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Há clubes que têm de descer, então por que não uma liguilha, como tantas vezes houve? Aliás, é difícil perceber três diferentes critérios para os três primeiros escalões, por via da Liga ou da FPF. Na principal divisão, vão jogar até ao fim; na 2.ª divisão acaba tudo e descem os dois últimos classificados e no Campeonato de Portugal acaba tudo e... não desde ninguém. Vá lá perceber-se!

5. Como expressivamente Henrique Monteiro disse na sua coluna de opinião, o que vamos ter é mais indústria do que desporto. Direi, ainda, tautologicamente, que se o futebol é a matéria-prima desta (relevante) indústria, também as sãs regras industriais se lhes devem aplicar, quanto a exigências gestionárias e patrimoniais próprias de qualquer empreendimento sustentável, e não apenas a excepção pedincha de condicionalismos e maneiras de contornar artificialmente os problemas. Mas este é um tema que poucos querem confrontar, dando a impressão que, mesmo em tempo de fortes riscos, o que mais importa é manter a ilusão do que umas vitórias, uns encaixes não recorrentes, umas excepções e alguma condescendência como móbil de qualquer decisão simpática ou popular.

6. Em toda esta difícil situação, aqui saúdo a circunstância de a Federação de Futebol ter resistido a alargamentos de divisões, isto é, à recorrente solução de nacional-porreirismo (como ontem aqui escrevei José Manuel Delgado) sempre que surge algum imbróglio não previsto na lei e nos regulamentos. Já nos basta a história acumulada deste expediente aritmético-popular de resolver um problema, criando dois. Aliás, o que precisamos é de redução de equipas, sobretudo nas duas principais divisões, mas isso é assunto para outra altura.
Também me agradou a rectificação de um propósito enunciado, que fazia depender o recebimento dos apoios financeiros atribuídos, por causa do fim prematuro da 2.ª divisão, da aceitação da classificação e suas consequências. Ou seja, recorrer para uma instância jurisdicional seria razão para nada receber do envelope financeiro da FPF e Liga. Há determinações que, mesmo num tempo conturbado e inédito, jamais fazem sentido.

P.S. - Com a deliberação da CMVM - antecedida pela desistência da proponente - acabou o enredo da OPA sobre a Benfica SAD. A pandemia veio reforçar a inoportunidade da mesma. O fundamento da decisão até pode ser questionável, à luz dos factos relacionados com a contratualização de serviços entre a Benfica SGPS e a SAD. Em qualquer caso, fico satisfeito com o fim desta situação que considerei injustificada, como aqui desenvolvi aquando da divulgação da oferta pública. Em resumo, não havia necessidade..."

Bagão Félix, in A Bola

O adeus do mágico bêbado

"Abril de 1970. O Benfica foi a Zagreb participar na festa de despedida de Stjefan Lamza, um dos melhores jogadores jugoslavos de todos os tempos, marcado pelas depressões e pelo vício do álcool. Um abraço de solidariedade pintado de vermelho.

Lamza foi uma personagem extraordinária do futebol mundial, e eu gosto de escrever sobre ele. Além disso, o Benfica ficou a fazer parte da sua vida quando foi convidado pelo Dínamo de Zagreb, clube no qual passou os grandes anos da sua carreira, para ser a estrela da sua noite de despedida.
21 de Abril de 1970. Três anos antes, Lamza, tinha sido a grande figura do Dínamo que venceu a Taça das Cidades com Feira, depois Taça UEFA e, hoje em dia, Liga Europa. Agora jogava no Châteauroux. Ou, melhor, arrastava-se. Um problema grave na espinha dera-lhe cabo do sentido de equilíbrio. Tudo porque Lamza foi um bêbado inveterado.
Às 19h00 em ponto, o Dínamo de Zagreb - Benfica teve início.
Aos 39 minutos, Lamza fazia o 1-0. Afinal, a noite era sua.
O estádio estava cheio. Mais de 60 mil pessoas. O Benfica tinha as suas vedetas para apresentar, sobretudo Torres, Jaime Graça, Simões e Eusébio, todos titulares da selecção nacional que atingiu o terceiro posto no Campeonato do Mundo de 1966, em Inglaterra.
Mas havia qualquer coisa a prender os movimentos dos encarnados. Meio apáticos, não reagiram com ganas ao fulgor de um adversário que parecia ansioso por fazer render a sua festa. Todos estiveram de acordo: a vitória do Dínamo foi amplamente merecida.

A reacção encarnada
Um dos enviados-especiais da imprensa portuguesa a Zagreb escreveu: 'A derrota da equipa do Benfica aceita-se perfeitamente, muito embora os portugueses possam lamentar-se da falta de sorte que atingiu a equipa a meio do segundo tempo. Mesmo que cada equipa tenha dominado 45 minutos, o Dínamo foi muito mais objectivo e perigoso no seu período do que o Benfica o foi na segunda parte. Podem os benfiquistas lamentar-se de ter visto uma bola sua bater na trave, através de José Torres, mas o facto não fez esquecer os seus débeis primeiros minutos'.
No segundo tempo, os encarnados trataram de puxar pelos galões. Tinham sofrido o 0-2 por Lalic, apenas dois minutos após o golo de Lamza, e foram em busca da sua identidade. Artur Jorge e Torres, apoiados por Simões e Jaime Graça, movimentaram-se na tentativa de surpreender os centrais contrários. Eusébio parecia cansado. Mas, de tempos a tempos, atirava-se como uma fera pelo meio-campo jugoslavo, tal como no lance em que, depois de ultrapassar dois opositores, chutou a milímetros do poste uma bola que parecia levar fogo na cauda como um cometa.
Lamza tivera a sua festa e tivera Eusébio na sua festa. Era um homem contente, ele que destruíra a sua vida por causa do álcool. Confessou, mais tarde, numa entrevista, que bebia umas goladas de rum logo ao acordar. Precisava de sentir a força da bebida para ter coragem de sair de casa e enfrentar as terríveis depressões que o ensombravam.
Na noite em que o Dínamo de Zagreb bateu o Eintracht Frankfurt por 4-0, virando o 0-3 da primeira mão, os jogadores foram comemorar a um bar dos arredores da cidade. Lamza bebeu este mundo e o outro. Secou a adega do bar de tal forma, que os companheiros decidiram fechá-lo num quarto à chave para que não cometesse mais disparates.
Foi o fim de Lamza. Irritado, saltou pela janela, bateu com a cabeça no lajedo, quebrou vários ossos do crânio e ficou com uma lesão na espinha que lhe retirou para sempre a capacidade de agir sobre o seu equilíbrio e controlar muitos dos seus gestos. Fim triste para um jogador que estava no topo das suas faculdades e, em seguida, se limitou a jogar quase por piedade em clubes de pequena dimensão.
Stjepan Lamza é uma das personagens do futebol que me fascinam. Um daqueles heróis sem estrutura que mergulham no mais fundo da sua infelicidade. A bebida levou-o a estados de loucura impossíveis de prever. No dia em que disse, finalmente, adeus ao futebol, o Benfica estava lá. Como que oferecendo um abraço solidário a um homem que o futebol perdeu com tristeza."

Afonso de Melo, in O Benfica

Benfica, 'tierra soñada por mí'

"De passagem por Lisboa, o menino-prodígio do cinema espanhol visitou a secretaria do Benfica, deliciando-se com a glória do Clube

O famoso pasadoble dedicado à cidade de Granada foi cantado por grandes vozes como Pavarotti, Sinatra, o próprio Luís Piçarra e, ainda, Joselito, no filme Bello Recuerdo  (1961), que três anos antes da estreia poderia tê-lo cantado para o Benfica.
Desembarcado em Santa Apolónia, nos primeiros dias de 1958, Joselito foi esperado e aplaudido por um grande número de crianças. Perguntando se todos o conheciam do cinema, soube que muitos deles 'não têm dinheiro para ir ao cinema'. Surpreendido o menino pediu para se organizar um pequeno espectáculo para as crianças pobres, com exibição de um filme seu e cantando depois para o público que, como ele, 'tem apenas três palmos de altura'.
A visita aos clubes representativos de Lisboa, o Sporting e, sobretudo, o Benfica, foram os motivos de maior notícia, por lhe causarem 'viva curiosidade, do mesmo modo que a sua presença constituiu motivo de grande interesse'.
Na secretária do Clube, situada na Rua do Jardim do Regedor, inaugurada 24 anos antes, encontrava-se a Sala dos Troféus, autêntica 'amálgama de recordações e de triunfos que atestam uma existência notável e brilhante' do Benfica. A sua porta estava aberta, sendo 'largamente visitada (...) por indivíduos estranhos ao Clube, nacionais e estrangeiros', aos quais causou 'interesse e admiração'.
Joselito não ficou imune! A magnificência da Sala dos Troféus deixou 'emudecido' o pequeno 'rouxinol' - nome pelo qual era conhecido -, levando-o a dizer que 'nunca tinha visto coisa assim'. Ficou especialmente deslumbrado com a Taça de Portugal. O imponente troféu que é propriedade da Federação Portuguesa de Futebol era entregue aos vencedores, que a mantinham por um ano, como um testemunho de glória. Conquistada pelo Benfica frente ao Sporting da Covilhã, em Junho, a 'verdadeira e enorme' taça estava agora exposta no centro da Sala dos Troféus.
O presidente, Maurício Vieira de Brito, foi 'alvo particular da esfusiante simpatia' de Joselito, que em todos conquistou um amigo. O engenheiro acompanhava o actor, 'protegendo-o' da multidão que se arrastava, seguindo-os.
A recepção a Joselito revelou-se cheia de ternura e de afecto, tendo-lhe sido oferecido um emblema e um galhardete do Clube. No fim assinou o livro de visitas e declarou-se 'um ferrenho benfiquista'.
Não dedicou uma música ao Clube, mas deixou bem expressa a sua alegria e entusiasmo, com um derradeiro: 'Arriba, Benfica!'
Saiba mais sobre a presença do Benfica no universo da cultura na área 16 - Outros Voos, do Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica