terça-feira, 5 de maio de 2020

Cadomblé do Vata (Vila Miséria!!!)

"O meu Filhão Bonitão tem 2 anos e gosta de sacar uns belos piparotes no esférico. Tem tudo para ser um futuro Humberto Coelho ou Toni do Glorioso, mas olhando o nível de loucura que aquela pequena marmita já demonstra, temo que possa estar ali um Vítor Baptista ou Taarabt. Para além de chutar redondinhas, também adora correr, saltar, brincar e restantes actividades derivadas do escalão etário, incluindo expressar-se artisticamente no quadro com giz.
Se as habilidades dele com a bola me entusiasmam, o resultados dos 20 a 30 segundos que consegue estar parado em frente à ardósia preocupam-me. Tudo o que faz é rabiscar, rabiscar, rabiscar, rabiscar. Não há arte ali, só rabisco. Não há criação ali, só rabisco. Não há originalidade ali, só rabisco. No fim, se não estivermos com atenção, come o giz. Dizem-me que é normal, que só tem 25 meses, mas bem fundo no meu íntimo, eu receio estar a criar um Sportinguista.
O que esta noite foi feito no Mural das Velhas Glórias, por empedernidos lagartos, tem o traço e o risco-rabisco do meu Afonso. O que ali foi feito, vejo eu todos os dias na tela negra rija lá de casa, antes de desaparecer mais uma barra de giz no mais pequeno aparelho digestivo da família. Após ver as fotos dos bustos do Pantera Negra e do Monstro Sagrado besuntados de verde, não consegui evitar imaginar que feita a obra de arte, os vândalos tinham batido uma bucha de latas de spray. É certo que estou a comparar o comportamento deles com o de uma criança de 2 anos, mas quer dizer... não é descabido pensar assim.
Dizem-me muitos hoje, que tais actos deviam-nos motivar ainda mais para os 10 jogos de "twillight zone" que faltam até ao fim do campeonato. Mas isso é impossível. O SL Benfica é um ideal com personalidade. Não precisamos de olhar para o outro lado da estrada para existirmos. O SL Benfica não se fez a colar fotos dos rivais no balneário. O nosso Clube é melhor, o nosso Estádio é maior, o nosso Manto é mais bonito. O nosso Museu está (muito) mais bem composto.
À falta de melhor argumento, aplique-se o factor prático: que atleta histórico verde e branco pode ter a fronha pintada como resposta ao crime perpetrado sobre o Eusébio e o Sr. Coluna, craques que deixaram marca indelével nas nossas caminhadas europeias? O Morais do cantinho, o Miguel Garcia de Aalkmar ou o Rogério da glória russa, que marcaram os golos europeus mais importantes da história da Vila Miséria? O Ferrari não queima pneu contra uma bicicleta."

Mensagem do treinador do futsal, Joel Rocha

"Que jogo!!! Mais que um dérbi, um clássico, uma final de Taça, uma final de Campeonato, uma "negra", uma final de Europeu ou Mundial. Mais que um ouro olímpico. Estamos (de facto) perante o "jogo das nossas vidas", aquele jogo de "mata-mata", aquele jogo de "vida ou morte".
Quem diria que tantas expressões usadas em sentido figurado e metafórico aplicadas ao contexto desportivo são, hoje em dia, aplicadas à vida de cada um de nós. Sem idade, sem raça, sem género, sem clube ou nacionalidade. Não tenho memória de um "jogo" tão difícil. E porque defrontamos um adversário (vírus) invisível, que não sabemos onde está, de onde vem ou quem o tem, porque não sabemos como nos pode atacar, mas que sabemos que "não joga à defesa", estamos todos convocados!!!
Por estas e outras razões, torna-se muito difícil a sua análise e observação (conhecê-lo, identificá-lo e caracterizá-lo), e quando não conhecemos o adversário (coisa rara nos dias de hoje), o ideal é recolher e aceitar os conselhos de quem possa estar mais e melhor documentado do que nós, e quem nos possa ajudar – autoridades de saúde (DGS) e responsáveis da nossa estrutura do SL Benfica de âmbito médico e preventivo. É exactamente isso que temos feito. Ouvimos e acatamos indicações e recomendações, e fazemos a nossa parte: sermos cada um de nós um agente da saúde pública.
Por agora, o jogo de futsal vai ter que esperar. Dói. Magoa. Diria mesmo que é angustiante. Ficamos "cheios de nada", olhamos à nossa volta e falta-nos o que nos acelera o sangue e o batimento cardíaco. Falta-nos o que nos deixa com "pele de galinha". Falta-nos o som da bola, da sapatilha, do golo, do público, dos cânticos e das palmas…! Falta-nos Uma Parte da vida, mas, neste momento, é a VIDA que temos de agarrar.
Vamos todos confiar na expressão de âmbito desportivo que nos diz que "defesa ganha campeonatos" e "ataque" ganha jogos. E este… é um longo e difícil campeonato, e quanto mais nos defendermos, mais perto estaremos de vencer! E vamos conseguir!!! Mas desta vez… separados!!!
Parece contraditório, para nós, que temos como sentimento comum "nenhum de nós ser mais forte sozinho do que todos nós juntos", que agora seja estritamente necessário o contrário: "Nenhum de nós é mais forte junto do que todos nós separados." A vida e o desporto sempre a ensinar-nos! Mas aprendemos e vencemos. E vamos conseguir! Encontremos nesta "dificuldade" muitas "oportunidades".
Por enquanto, "hoje" um agente da saúde pública, "amanhã" um adepto na bancada. Saúde (protecção e cuidados) para todos e todas.

Joel Rocha"

O futebol português tem futuro?

"Se, entretanto, a situação não se degradar, a 1.ª Liga regressa daqui a sensivelmente um mês. É a solução ideal? Claro que não, é a solução possível num contexto de enorme incerteza. Acima de tudo, é a resposta a uma necessidade: sem competição, o futebol português colapsaria financeiramente.
O motivo para o regresso da 1.ª Liga não é, no essencial, o apuramento de um campeão, nem a determinação de quem vai à Europa e desce de divisão. O campeonato vai recomeçar porque não o fazer condenava à pauperização (quase) irreversível de grande parte dos clubes. Com jogos, mesmo que à porta fechada, regressam também as receitas televisivas - principal fonte de financiamento para a maioria dos clubes, que praticamente não têm receita de bilhética, quotização ou transferências. Aliás, o ponto é mesmo esse: quem menos precisava do regresso do futebol são os clubes que dependem menos da receita televisiva (os três grandes e o Sp. Braga, clubes em que o peso das transferências tem ganhado terreno). Pelo contrário, são os restantes clubes que se revelariam inviáveis sem transmissões.
Não devemos, também, menosprezar o sinal dado ao conjunto da sociedade com o regresso da competição. A fadiga do confinamento é evidente e o futebol ajuda a que velhas rotinas voltem. Além do mais, com jogos à porta fechada e rigorosos protocolos de acompanhamento de atletas, fica também dado o exemplo do que deve ser o novo normal - elementos de continuidade com o nossos quotidiano antes da Covid-19 que coexistem com importantes rupturas.
Mas, como sugeria Fernando Gomes num artigo publicado ontem, a Covid-19 questiona o futuro do futebol português.Na verdade, o sector não é excepção: também para o desporto-rei, a crise vem expor debilidades preexistentes e reforçar um conjunto da tendências. Como sempre acontece face a choques exógenos profundos, não é só a viabilidade de curto prazo que é ameaçada, é, também, a sustentabilidade futura que fica em risco.
O futebol português é, em muitos aspectos, um exemplo: com poucos atletas federados, num País com défices de prática desportiva e debilidade no associativismo de base, temos resultados desportivos e financeiramente bem acima do que seria previsível. Alguma coisa terá, por isso, sido bem feita. Mas esta avaliação positiva não nos deve impedir de olhar para debilidades estruturais que se tornarão mais visíveis: da dificuldade das entidades reguladoras em actuarem, passando pela fragilidade das instâncias associativas em promoverem convergências, culminando num clima adversartivo irrespirável, alimentado pelos clubes e que encontra eco na comunicação social.
É possível contrariar esta tendência? Fernando Gomes faz bem em revelar preocupação e mostrar ambição, mas temo que o futuro do futebol português não seja muito distinto do passado recente. Como uma diferença, será mais pobre."

Lógica da fruta !!!


"Mais uma opinião de um "especialista" "isento" a ter eco na comunicação nacional portuguesa. Só falta o "especialista" "isento" Jorge Coroado falar também."

Rúben dias - Honra aos capitães

"Personalidade, segurança e espírito competitivo são atributos incontestáveis, mas a qualidade de Rúben Dias vai muito para além disso. Indiscutível no Benfica e, também, na Selecção Nacional, sustentou a sua afirmação nas qualidades que o destinguem. Um bom líder não precisa de levantar a voz para impôr a sua lei.

Um bom líder sabe quando tem de intervir e faz-se ouvir pela competência e pela importância dos seus actos. Como na vida, assim é também no futebol. Rúben Dias já conquistou esse lugar por direito próprio. Na linha dos grandes capitães que vestiram a camisola do Benfica - Humberto Coelho e Luisão, para citar apenas os que desempenharam a mesma função em campo.
A poucos dias de completar 23 anos, Rúben Dias é hoje o rosto mais visível da aposta que o Benfica fez na academia do Seixal. Os 100 M€ com que Luís Filipe Vieira blindou a sua saída - na conjuntura actual, tão cedo não deveremos voltar a ter negócios tão lucrativos - também explicam a influência que o jovem defesa-central já exerce, dentro e fora do relvado. Personalidade, segurança e espírito competitivo são atributos incontestáveis, mas a qualidade de Rúben Dias vai muito para além disso. Indiscutível no Benfica e, também, na Selecção Nacional, sustentou a sua afirmação nas qualidades que o destinguem. Há quem defenda que para atingir (ainda) maior dimensão, só precisava mesmo de ser mais confiante a sair a jogar.
Um jogador é tanto melhor quanto menos se deixar influenciar pelos próprios erros. Mais ainda quando se trata de um defesa central. É com base nessa autoconfiança e controlo emocional que Rúben Dias marca posição num nível de exigência como aquele em que se enquadra o Benfica. Forte nos duelos, implacável na marcação, quantas e quantas vezes decisivo nas bolas paradas (sobretudo defensivas mas, também, ofensivas), desempenha com simplicidade e eficácia as tarefas que lhe estão confiadas. Geralmente com distinção.
Rúben Dias é dos jogadores com mais presenças em campo no quadro geral do futebol português. Basta observarmos os números das últimas épocas. Diz-se que não há insubstituíveis, é verdade, mas Rúben Dias é, claramente, um dos futebolistas mais difíceis de substituir no panorama atual. Pelas razões anteriormente expostas mas, sobretudo, pela qualidade que faz dele uma referência incontornável. No Benfica, na Selecção portuguesa e, acredito, no clube que lhe venha a estar reservado num futuro não muito longínquo, uma vez que poucos acreditam que permaneça na Luz até 2024, ano em que expira o vínculo que renovou recentemente com os encarnados...

B. I.
Rúben Santos Gato Alves Dias
Idade: 22 anos
Valor de Mercado: 30,5 M€ *
Jogos: 39
Minutos: 3510
Golos: 3
Assistências: 2

*Fonte: Transfermarkt"

O Passado Também Chuta: Pablo Aimar

"Quando se fala da “coroa” do futebol argentino, Pablo Aimar merece um lugar de referência numa lista com tantos jogadores talentosos. O craque argentino, que jogou em Portugal entre 2008 e 2013, no Sport Lisboa e Benfica, não deixou nenhum espectador do seu futebol indiferente, que o diga Lionel Messi (que já por várias vezes admitiu que Aimar é um dos seus ídolos de infância).
Nascido em Rio Cuarto, na Argentina, ‘El Mago’, como foi apelidado, começou a dar nas vistas ao serviço das camadas jovens do CA River Plate, clube no qual se estreou como profissional, com apenas 16 anos de idade.
Com exibições de alto nível, sobretudo durante a temporada de 1999/00, o médio ofensivo cativou os adeptos dos “Millonarios” ao apontar 22 golos em 87 partidas. O seu brilho despertou interesses na Europa, para onde acabou por se transferir em Janeiro de 2001, para o Valencia CF.
Com a camisola “Che”, Aimar “chegou, viu e venceu”. Num total de 214 jogos ao serviço do clube da zona este de Espanha, venceu aí o campeonato doméstico por duas vezes, as últimas em que o Valencia o conquistou, ao que juntou ainda uma Taça UEFA, em 2003/04, e uma ida à final da Liga dos Campeões, perdida no primeiro ano em que esteve no clube, frente ao FC Bayern.
No verão de 2006, ‘El Mago’ deu o que foi considerado por muitos como um passo atrás na carreira, quando rumou ao Real Zaragoza por 11 milhões de euros. Sabendo que não contava para Quique Flores, treinador do Valencia na altura, Pablo Aimar teria de sair inevitavelmente do Mestalla. Assim, a surpresa surgiu não na saída, mas sim no destino escolhido pelo argentino, uma vez que era rumorado o interesse de vários grandes clubes europeus nos seus serviços e este preferiu permanecer na Liga Espanhola.
A escolha de seguir para Saragoça revelou-se acertada na primeira época em que esteve no clube local. Juntamente com os irmãos Milito, Andrés D’Alessandro e também um jovem Gerard Piqué, devolveram o Real Zaragoza às competições europeias. Contudo, a época seguinte foi de desilusão: o clube não passou das pré-eliminatórias na Taça UEFA, foi eliminado relativamente cedo na Taça de Espanha e, o pior de tudo, terminou no antepenúltimo lugar do campeonato espanhol, o que ditou a despromoção ao segundo escalão.
Esta descida à Segunda Liga levou à saída de Aimar do clube, momento em que veio até Portugal, para representar o Benfica. Em cinco épocas de águia ao peito, ‘El Mago’ fez 179 jogos e marcou 17 golos, encantando os adeptos benfiquistas com o seu futebol simples, mas pleno de genialidade. Com o argentino como peça de destaque, o Benfica conquistou em 2010 o segundo título de campeão nacional do novo milénio, tendo vencido também quatro Taças da Liga e alcançado a primeira de duas finais consecutivas da Liga Europa, em 2012/13.
Depois da passagem pela Luz, Pablo Aimar decidiu rumar à Malásia para abraçar um desafio diferente, numa altura em que já estava em final de carreira. No entanto, ao serviço do Johor FC realizou apenas oito jogos e apontou dois golos, números ainda assim suficientes para fazerem dele campeão nacional em 2014.
Para fechar uma carreira de alto nível, ‘El Mago’ regressou a casa para se despedir em dois momentos. Inicialmente, os adeptos do River Plate receberam-no como um verdadeiro herói, quando realizou a derradeira partida pelo clube a 31 de maio de 2015, frente ao CA Rosario Central, que se pensava ter sido a última da sua carreira. Todavia, cerca de um ano e meio depois, escolheu as cores do Estudiantes de Rio Cuarto, clube da sua terra natal, para agora sim encerrar definitivamente a sua carreira.
Pablo Aimar foi um exímio criador de jogo, como tantos dos grandes talentos que saem da Argentina. Sem surpresa, também com a camisola do seu país espalhou o seu “perfume”, tendo representado a Argentina por 52 ocasiões e apontado oito golos, entre 1999 e 2009. Quando envergou pela carreira de treinador, foi também na Federação Argentina que começou tendo assumido a selecção de sub17, onde actualmente se encontra.
Com uma carreira de excelência, tanto do ponto de vista futebolístico como do ponto de vista humano, ‘El Mago’ é um ídolo em todos os clubes por onde passou. Quando se apresentou ao mundo do futebol era rápido e perspicaz nos seus movimentos, mas com o avançar da idade foi ficando cada vez mais inteligente na leitura do jogo e no momento de decisão. Quem teve o privilégio de o ver jogar certamente concorda que, numa só palavra, Aimar era genial."

Prós e contra

"Se há uma larga maioria de apoiantes da retoma do futebol, a verdade é que há igualmente quem se manifeste de forma contrária, fazendo assentar os seus argumentos em teses que dispõem igualmente de uma apreciável base de sustentação.

Quando começam a parecer definitivas as novas datas já estabelecidas para o regresso do Campeonato, levantam-se muitas vozes, nem sempre apontando no mesmo sentido.
Ou seja, se há uma larga maioria de apoiantes da retoma do futebol, a verdade é que há igualmente quem se manifeste de forma contrária, fazendo assentar os seus argumentos em teses que dispõem igualmente de uma apreciável base de sustentação.
Nos últimos dias escutámos, sobretudo, argumentos de dois professores universitários. Um, Nuno Teixeira, especialista em treino desportivo, outro, José Neto, metodólogo em treino desportivo, ambos entendendo que não há condições para o retorno do jogo tal como o conhecíamos ainda no passado mês de Março.
Também alguns jogadores perfilham opinião idêntica, tendo sido a mais recente expressa pelo internacional espanhol, Cesc Fabregas, actualmente ao serviço do Mónaco, que entende não haver condições para voltar aos relvados, aplaudindo por isso a decisão dos responsáveis em dar por terminado o campeonato gaulês.
Do lado oposto há muitas e mais diversas vozes que entendem não haver nada a opor ao reatamento das competições, sobretudo nos países onde essa decisão final ainda não foi adoptada, como são os casos da Itália, Inglaterra e Espanha.
Na Alemanha, a discussão volta agora um pouco atrás, após ter havido conhecimento de dez jogadores infectados entre os 1.724 que foram submetidos a testes e que pertencem aos clubes das duas ligas profissionais.
Parece, no entanto, haver motivos seguros e fortes para que a Bundesliga regresse e sejam cumpridas as jornadas ainda em falta.
Seja como for, por cá uma coisa é certa: não voltaremos a ter campeonato igual àquele de que nos despedimos no dia 8 de Março, quando Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães correram os taipais da jornada número 24, longe de imaginarem que começaria ali o mais longo intervalo da história do futebol português."

O fado dos pequeninos: são três solistas e o resto toca guitarra

"«É tão bom ser pequenino, ter pai, ter mãe, ter avós. Ter esperança no destino, e ter quem goste de nós», cantava Alfredo Marceneiro nos tempos em que a rádio era telefonia.
É diferente, porém, o fado dos clubes pequenos em Portugal. Não há parente que lhes valha.
A semana que passou foi reveladora nesse aspecto.
Se em Espanha, por exemplo, seria impensável ver o primeiro-ministro Pedro Sánchez receber no Palácio da Moncloa os presidentes da Federação e da Liga Espanhola apenas e só acompanhados dos de Real Madrid e Barcelona para discutir o futuro do futebol no país, por cá, a reunião entre António Costa e os três grandes, com presidentes da FPF e da Liga (este já acrescentado à posteriori), é recebida com aparente naturalidade.
Benfica, FC Porto e Sporting têm uma dimensão desproporcional no futebol português. E, entendamo-nos, os ditos pequenos têm culpa própria nessa correlação de forças, da subserviência com que afinam pelo mesmo diapasão dos maiores, à espera de alguma benesse com empréstimos, à inconsequência de movimentos como o G-15.
Na comunicação social há um critério editorial legítimo de dar mais tempo e espaço aos três grandes, por tal gerar um retorno maior em termos de interesse (do) público, mas coisa diferente é atribuir-lhes um estatuto diferente em termos institucionais.
Se formalmente há 34 clubes profissionais no futebol português, na prática há três que só por si pesam mais do que qualquer um dos restantes 31 em conjunto. Aliás, não será por acaso que havendo formalmente dois campeonatos profissionais em Portugal, na prática passou agora a haver só um. 
Enquanto os países europeus tomam decisões sobre a suspensão ou não das competições desportivas, é uma originalidade só nossa esta de na mesma modalidade avançar com uma competição profissional ao mesmo tempo que suspende outra.
No caso da II Liga, a justificação para o cancelamento será a falta de condições das estruturas e dos recintos para cumprir as determinações de segurança sanitária da Direcção-Geral da Saúde. Algo que justifica a anulação também do Campeonato de Portugal. Embora aí seja pouco defensável o critério de não dar sequer o direito aos líderes de duas das quatro séries (Praiense e Olhanense) de disputarem a subida ou em alternativa subirem também por via administrativa, recorrendo ao alargamento da II Liga.
Haverá, ainda assim, outro motivo incontornável para a discrepância das decisões entre as duas ligas profissionais: os direitos televisivos.
Na II Liga, o grosso da contestação fica resolvido com um apoio de cerca de 1,5 milhões de euros – um milhão da FPF e 550 mil da Liga – a distribuir pelos clubes.
Excepto para as três ou quatro equipas que ainda ambicionavam a subida, e outras duas que podem eventualmente ainda descer, o negócio acaba por ser vantajoso a curto prazo para os restantes: garante-lhes boa parte da principal fonte de receitas e permite a poupança em despesas com organização de jogos, deslocações e testes a clubes cuja fragilidade é tal que, ao primeiro abalo, tiveram em alguns casos de recorrer ao layoff dos seus futebolistas.
Ora, na I Liga 1,5 milhões não chega sequer para cobrir o valor pago pelas operadoras pela transmissão de um só jogo de Benfica, FC Porto ou Sporting.
O rombo financeiro pela não realização de 90 jogos do principal escalão seria bem mais devastador, pelo que é a discrepância em termos de dimensão do problema que leva ao recurso a esta solução de dois pesos e duas medidas.
Tal só surpreenderá quem não está ciente da desproporção que faz pesar os pratos da balança no futebol português.
Ainda assim, mais do que olharmos para a I Liga e perceber que «agora, a música é outra», o que soa mal é só ver e ouvir três solistas, enquanto o resto fica a tocar guitarra."

Euro 2000 | Aquele que foi o Europeu de afirmação

"O Euro 2000, realizado na Holanda e na Bélgica, é a primeira competição internacional de selecções da qual eu tenho memória de assistir. E tenho memória dos jogos e da emoção que houve naquela competição. Ainda hoje, o Euro 2000 é visto por muitos como o melhor Europeu de sempre em termos de futebol jogado. Para tal distinção, muito contribuiu a equipa das quinas que, com uma Geração de Ouro no auge, se exibiu em grande plano.
Na fase de qualificação, Portugal ficaria em segundo lugar do grupo sete, atrás da Roménia e à frente da Eslováquia, Hungria, Azerbaijão e Liechtenstein. No entanto, a vitória por 3-0 na Hungria, no último jogo de qualificação, permitiu à equipa das quinas a qualificação directa para a competição na categoria de melhor segundo classificado.
Chegada a competição, o seleccionador nacional Humberto Coelho escolheria os seguintes 22 jogadores para representar a equipa das quinas no Europeu:
Guarda-redes – Vítor Baía, Pedro Espinha e Quim
Defesas – Jorge Costa, Rui Jorge, Fernando Couto, Dimas, Abel Xavier, Beto e Secretário
Médios – Luís Vidigal, Paulo Sousa, Luís Figo, Rui Costa, Sérgio Conceição, Costinha, Paulo Bento e Capucho
Avançados – João Pinto, Sá Pinto, Pauleta e Nuno Gomes
No sorteio, pior seria impossível para Portugal, que iria estar inserido no grupo da morte, calhando no grupo A da competição, juntamente com a Inglaterra, a Roménia, que tinha ficado à sua frente na qualificação, e a Alemanha, então campeã europeia e que tinha afastado a equipa das quinas da qualificação para o Mundial em 1998.
O primeiro jogo do grupo contra a selecção da Inglaterra seria um dos jogos mais memoráveis da história do futebol na competição. Os Three Lions apresentavam-se na Holanda com uma equipa de grande qualidade, com uma espinha dorsal jovem composta por jogadores como David Beckham, Paul Scholes, Michael Owen e os irmãos Neville, mas que também contava com algumas referências experientes, tais como David Seaman, Tony Adams, Paul Ince e Alan Shearer.
O jogo não podia ter começado pior para a equipa das quinas que sofreu golo logo aos três minutos por intermédio de Paul Scholes. A equipa portuguesa procurou reagir, mas contra a corrente do jogo, a selecção de Sua Majestade aumentou a vantagem aos 18 minutos, após um remate de Steve McManaman.
Apesar das adversidades, a equipa das quinas não baixou os braços. Aos 22 minutos, Luís Figo reduziu a desvantagem através de um forte pontapé que ainda ressaltou na perna de Tony Adams. Aos 37 minutos, assistiu-se a um dos melhores golos da competição. Após Cruzamento de Rui Costa, João Pinto, sem ângulo e marcado de perto por Sol Campbell, cabeceou colocado e sem hipóteses para David Seaman. Estava reestabelecida a igualdade no marcador.
Aos 59 minutos, estaria confirmada a reviravolta no marcador. Com Rui Costa novamente na jogada, este assistiu para Nuno Gomes que, na cara de David Seaman, não vacilou e fez o 3-2 final. A selecção inglesa ainda procurou reagir, mas os seus atacantes foram muito bem anulados pela defesa portuguesa. Estava assim carimbada a primeira vitória na competição.
No segundo jogo seguir-se-ia a selecção da Roménia, que atravessava uma fase de transição geracional, misturando a juventude de Adrian Mutu e Christian Chivu, com a experiência de Gheorghe Hagi, Dan Petrescu e Gica Popescu. Num jogo muito táctico e com poucas oportunidades de perigo, um livre de Luís Figo já a acabar o jogo, Costinha antecipou-se ao guarda-redes Stelea e marcou o golo que assegurou o apuramento para os quartos-de-final.
Com o apuramento já assegurado, o seleccionador Humberto Coelho aproveitou o jogo contra a Alemanha para dar oportunidade aos jogadores menos utilizados, atribuindo, inclusive, as redes da baliza a Pedro Espinha. A envelhecida selecção alemã precisava de ganhar para sonhar com o apuramento.
No entanto, um hat-trick de Sérgio Conceição permitiu à equipa das segundas linhas portuguesas a maior vitória contra a selecção alemã. O resultado avantajado fez com que Humberto Coelho arranjasse um tempinho para fazer entrar o terceiro guarda-redes, Quim, cumprindo, assim, a sua primeira internacionalização pela equipa das quinas. Pleno de vitórias no grupo da morte. Melhor era impossível.
Seguiu-se a selecção da Turquia nos quartos-de-final, que contava com uma espinha dorsal do Galatasaray SK, que tinha acabado de conquistar a Taça UEFA. Nuno Gomes abriu o marcador aos 44 minutos, após assistência de Luís Figo. No entanto, no minuto seguinte, houve penálti a favor dos turcos, reinando a apreensão do lado português.
Porém, o guarda-redes assumiu o papel de herói, defendendo a grande penalidade cobrada por Arif Erdem. Aos 56 minutos, os mesmos protagonistas fariam o 2-0 final: Luís Figo a assistir e Nuno Gomes a marcar. Seguia-se a França nas meias-finais.
No jogo contra a selecção campeã mundial, Portugal voltaria a entrar bem no jogo, e Nuno Gomes inaugurou o marcador aos 19 minutos, com um pontapé de fora da área, e manteria a vantagem até ao intervalo. Porém, os bleus entrariam por cima do jogo na segunda parte e aos 51 minutos, Thierry Henry empatou o jogo, que acabaria por seguir para prolongamento.
No prolongamento, a equipa das quinas bem tentou, mas aos 117 minutos, após a polémica mão na bola de Abel Xavier, Zidane converteu a grande penalidade e carimbou o acesso à final através do Golo de Ouro. A estrelinha de campeão ditou as suas leis.
Apesar da forma dramática como a equipa das quinas foi eliminada, esta conseguiu passar uma mensagem bem vincada. A selecção de Portugal estava no convívio entre os grandes europeus e veio para ficar, marcando presença em todas as competições internacionais daí para a frente."

Imagens, símbolos e representações no desporto

"As pesquisas de Pierre Bourdieu sobre a sociologia das práticas culturais colocaram em evidência os sistemas de disposições, socialmente adquiridos, que orientam os indivíduos para determinadas actividades: o piano ou a viola, o desenho realista ou a figura abstracta, o futebol ou o golfe, entre outras.
Seguindo esta linha de investigação, Christian Pociello mostrou que as posições sociais intervêm amplamente na escolha de praticar um desporto e elaborou um espaço social dos desportos. Sem negar as determinantes sociais na escolha das práticas desportivas, deveremos também ter em conta os aspectos dinâmicos. Não se pode excluir que uma parte das motivações que intervêm nas práticas para as entradas (adesões), na vontade de acumular os códigos e os signos de um capital cultural, eventualmente convertível em capital social e para as saídas (abandonos), com a decepção, isto é, a actividade escolhida não fornece um capital rapidamente convertível.
Do ponto de vista qualitativo, as características longitudinais da prática individual (antiguidade) são essenciais para compreender o significado social, mas também compreender o estatuto dos praticantes nesta realidade sempre em construção (processo de aculturação). A estatística (aspecto quantitativo) apresenta esta questão como um fato estabelecido. A regra funda o desporto. Ela assegura o funcionamento e a diferenciação das várias práticas desportivas.
A psicologia social ou a psicossociologia é a ciência que tem por objecto de estudo as ideologias, as imagens, as representações e as atitudes dos indivíduos e dos grupos e das comunicações estabelecidas entre eles. A linguística é a ciência que tem por objecto de análise a língua, enquanto vector essencial desta comunicação. Ela examina a origem das palavras (etimologia), as condições de funcionamento e de evolução.
Com base nisto, podemos estudar a linguagem dos desportistas, a sua forma de falar, de definir a sua prática desportiva, dos seus gestos, etc. Podemo-nos esforçar para compreender as imagens e as metáforas que eles utilizam, numa linguagem especializada, de determinado desporto, assimilada a uma linguagem de origem. Podemos também nos interessar na difusão da linguagem e dos signos desportivos na linguagem corrente e nas imagens, nomeadamente publicitárias, que abundam e estruturam a vida moderna."

Modelo de financiamento do desporto em Portugal: soluções pós-Covid-19

"A desregulação do sistema desportivo em Portugal origina, entre outros, problemas de financiamento, quer pelo desajuste do próprio modelo quer pela entropia que gera no próprio sector. Este facto é tão mais determinante, porquanto se desconhecem as consequências da pandemia COVID-19, ao nível do financiamento, assente num determinado modelo do desporto em Portugal. 
Isto não significa, porém, que a questão se subsuma à desorganização sistémica, cuja resolução deveria ser uma prioridade antes de qualquer modificação da estrutura e modelo de financiamento existentes, começando pela descriminação em cada uma das OD’s com utilidade pública desportiva (UPD) e financiamento, especialmente as de cúpula (Comité Olímpico e Paralímpico de Portugal; Confederação do Desporto e Fundação do Desporto de Portugal; Federações Desportivas (FD’s); outras organizações desportivas):
I) Da missão, competência e sua fundamentação em face da UPD (que pode ou não garantir a sua continuidade) e dos recursos disponíveis para o desenvolvimento da actividade (humanos; materiais; organizativos) e respectivo financiamento público;
II) Dos resultados, actuais e históricos, em face da sua missão institucional e financiamento disponível.
(In)dependentemente deste trabalho de reorganização, a realidade é que face à relevância do desporto, em diferentes esferas de intervenção social, o financiamento público que existe não representa a cadeia de valor acrescentado que a prática de exercício físico (EF) e de actividades desportivas (AD) pressupõem ao longo da vida (benefícios para o praticante, para os espectadores, para os voluntários, dirigentes e outras actividades profissionais no âmbito do mercado do desporto, além do mercado não relacionado com o desporto).
Basta comparar o modelo de sustentabilidade financeira do desporto em Portugal, que se caracteriza por níveis de financiamento público dos mais baixos a nível europeu (aproximadamente 40 euros/hab) e com um orçamento que corresponde a 0.04% da despesa total (96,885 mil milhões de euros) com 40,458 ME, quando os mesmos serviços recreativos, desportivos e comunitários, valem em média 1% da despesa pública na EU.
Este facto sucede em virtude da inadequação das políticas económicas preconizadas pela Lei de Bases da Actividade e do Desporto (LAFD) que foram agudizadas pela deterioração das condições de eficiência económica, conforme pode ser atestado por alguns, poucos, estudos existentes em Portugal sobre a realidade financeira das OD’s.
Num trabalho académico, Carlos António Lopes da FMH, concluiu-se que as 57 FD’s, estudadas entre 2013-2015, enfrentam grandes dificuldades no cumprimento das suas obrigações financeiras, não obstante a existência de outros trabalhos, nomeadamente o realizado pelo COP em 2019, que se circunscreve a 27 Ids, da situação comparada entre o segundo ano do ciclo olímpico anterior (2014) e igual período do ciclo olímpico actual (2018) no que respeita aos exercícios financeiros das federações desportivas com modalidades olímpicas, que evidenciam resultados algo diferentes (neste universo).
Dos oito indicadores económico-financeiros analisados (rácio de liquidez geral; rácio de endividamento global; rácio de estrutura de endividamento; rácio estrutura dos capitais estáveis; rácio de estabilidade do financiamento; rácio de cobertura dos encargos financeiros; rácio do período de reembolso da dívida de curto prazo; margem de autofinanciamento) verifica-se que:
1. Apesar de em média apresentarem uma liquidez geral aceitável, metade das FD’s apresenta valores negativos, com uma fraca solidez financeira, sendo que doze delas apresentam falência técnica nos três anos estudados;
2. As FD’s apresentam bastantes dificuldades na variação das fontes de financiamento, tornando-as demasiado dependentes do Estado. Em média, apresentam um passivo de curto prazo de 91%. Já a margem do período de reembolso da dívida deste grau de exigibilidade foi negativo em 60% das federações.
3. O rácio de estabilidade do financiamento, que traduz a solidez financeira necessária para o desenvolvimento das modalidades, foi em média negativo, sendo mesmo negativo em 15 federações. 
Sendo inequívoca a associação entre o nível de prática e capacidade competitiva dos países e os recursos públicos e privados que são disponibilizados para o sector, facilmente se conclui que sem um modelo de financiamento adequado, o sistema desportivo em Portugal está condicionado, principalmente por todos estes motivos e os que decorrem da crise económica que resultará da COVID-19.
O desporto necessita de um modelo de financiamento que corrija as iniquidades históricas e contextuais existentes (1) e as incoerências de enquadramento legal (2), aprofunde a incorporação da externalização de benefícios económicos (3), indo para além do paradigma patente na LAFD, de financiamento indexado aos lucros das apostas sociais de tradição subserviente e assistencialista.
Há que potenciar, no modelo, o bem-estar que a prática de EF e da AD permitem, através do uso de indicadores económicos que atribua às OD’s os benefícios apropriados pela economia e pela sociedade com a sua ação, como: o valor da diminuição do absentismo laboral, o combate ao sedentarismo, a diminuição da mortimorbilidade, a criação das referências desportivas nacionais e internacionais, a valorização da autoestima nacional, entre outros. Neste particular, três medidas parecem relevantes.

Correcção das iniquidades históricas dos valores de financiamento do desporto
O período de intervenção da troika (crise subprime em 2008) provocou inequívocas alterações, fundamentalmente ao nível do financiamento público decorrente dos diferentes contratos programa com a tutela (IPDJ), com base no regulado pelo disposto no DL 273/2009 de 1 de Outubro, que estabelece o regime jurídico dos contratos programa de desenvolvimento desportivo, com uma redução substancial do orçamento disponível para as actividades e programas de acção das OD’s.
O caso concreto da Federação Portuguesa de Natação (FPN), em 2013 quando comparado com 2012 teve uma redução no financiamento de 26.1% (1.927.864€ em 2012 e 1.424.610€ em 2013), e se nos reportarmos a 2010 o valor do financiamento da Tutela foi de 2.055.390€ o que representou uma redução de 32.7% no espaço temporal de 4 anos (2010 a 2013).
Neste quadro de subfinanciamento, aduzido a níveis de EF e AD e de voluntariado baixos, e condicionalismos ao financiamento privado (com papel quase vestigial, neste âmbito, da Fundação do Desporto de Portugal), por via do consumo das famílias e da falta de investimento do tecido empresarial, seria de elementar justiça que fosse feita, a correcção do modelo, sem as cativações desnecessárias às assistidas entretanto, o que permitiria, pelo menos, a manutenção do quadro de financiamento (com uma injecção adicional de cerca de 10 ME) à s OD’s produtoras do EF e AD. 

Incoerência do enquadramento legal: verbas dos jogos sociais (2)
Urge a reformulação do modelo de financiamento que vigora há décadas e que se baseia no Fundo de Fomento do Desporto (FFD) que existiu até aos anos 90, gerindo os montantes recebidos dos Jogos Sociais da Santa Casa da Misericórdia, que partia do estudo do nível de financiamento do desporto e negociava externamente no Departamento de Jogos da Santa casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) os montantes de financiamento destinados ao desporto.
Este modelo foi posteriormente regulado, não necessariamente aprimorado, sendo que, na actualidade, a gestão financeira tem uma dimensão administrativa, perdendo a capacidade de estudo e de negociação enquanto características iniciais do FFD, descurando as especificidades e natureza das OD’s.
O DL 56/2006 de 15 Março define o enquadramento legal da distribuição das receitas provenientes dos jogos sociais, e o DL 67/2015 de 29 Abril, o regime jurídico da exploração e prática das apostas desportivas à cota territorial, regulado pela portaria 315/2015 de 30 Setembro, que fixa as condições de atribuição do montante da receita objecto da aposta a atribuir às entidades a repartir pelos clubes ou pelos praticantes e pela federação que organize o evento.
O que é sintomático e incoerente, neste enquadramento legal supramencionado, é o facto do desporto, gerador da receita dos jogos sociais, não tenha o retorno correspondente; já não digo à sua importância social, mas pelo menos à importância instrumental de veículo de geração de receita a redistribuir.
Somente 10.29 % das receitas geradas são redistribuídas para o ministério de educação, que tutela o desporto, sendo destes somente 8.87% transferidos para o IPDJ para o fomento e desenvolvimento de actividades e infraestruturas desportivas.
No entanto, parte desta verba foi usada para assumir o processo de fusão, no âmbito do Plano de Redução e Melhoria da Administração Central do Estado (PREMAC) com a incorporação numa única entidade, do Instituto do Desporto de Portugal, I.P., o Instituto Português da Juventude, I.P. e, por dissolução, a Fundação para a Divulgação das Tecnologias de Informação e é actualmente usada para financiar outras redundâncias necessárias com a diminuição do orçamento de estado para a despesa estrutural, como a dívida herdada e mapa de pessoal de dirigentes e trabalhadores.
Seria da mais elementar justiça que se promovesse, juntamente com as restantes entidades (ministério da administração interna, estado, presidência conselho ministros, ministério trabalho, solidariedade e segurança social, ministério da saúde, governo regional madeira e açores, santa casa da misericórdia), um acordo para o aumento percentual das verbas para o desporto. Cada 1% de aumento pressupõe um reforço de cerca de 5 ME.
Outra alteração necessária prende-se com a distribuição das receitas directas da exploração e prática das apostas desportivas à cota territorial, nos termos da lei (67/2015) que determina que somente 3.5% das mesmas sejam atribuídas às entidades objecto da aposta a repartir pelos praticantes, consoante o caso, e pela federação que organize o evento, incluindo as ligas se as houver. Urge a necessidade de, também neste âmbito, procurar em sede legal uma justa proporcionalidade contribuindo para o modelo de financiamento do desporto em Portugal aumentando este valor para uma cota territorial maior.

Modelo de financiamento desporto alternativo (3)
A possibilidade de a política desportiva criar um fundo de capital de risco do desporto que permita às OD’s desenvolver actividades não remuneradas pelo mercado, que a política desportiva pública considere prioritárias promover socialmente e cujo custo seja incomportável financiar através do mercado privado podendo, desta forma, fazer face aos custos de qualidade do desenvolvimento desportivo nacional e às dificuldades que surgirão da COVID-19.
O racional centrar-se-ia: i) nos benefícios que a prática de EF e AD geram em termos directos e pessoais (capital desportivo, humano e social), em termos indirectos, públicos e colectivos (saúde e menos afectação de despesa, educação, económica e produtividade, autoestima, identidade nacional, etc.); ii) no cálculo das externalidades económicas decorrentes e a descriminação da origem dos créditos de financiamento apurado; iii) da internalização dos benefícios creditados à ordem da instituição reguladora; iv) reinvestimento nas Dos produtoras do EF e AD.
A promoção da saúde e redução do absentismo laboral da população portuguesa pode ser combatida através do EF, AD e de um estilo de vida activo, sendo que se justifica que o acréscimo de produção desportiva seja financiado triplamente:
I) Pelos créditos obtidos dos benefícios diretos da produção de EF e AD por parte das OD’s apropriados nos restantes sectores, medíveis através da conta satélite do desporto (INE);
II) Pelos créditos obtidos com a descida da despesa no sector da saúde (prevenção e tratamento das doenças não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, respiratórias, oncológicas, mentais e ainda a diabetes) que dele beneficia, assim como das empresas públicas e/ou privadas beneficiadas (diminuição absentismo laboral);
III) Pela venda de créditos de exercício às pessoas/entidades públicas e/ou privadas cujo deficit de prática seja considerado, com base num valor de referência básica, de acordo com as normas internacionais para a prática sistemática semanal de EF e AD (exemplo 3h semana de EF e AD vigorosa), de acordo com a idade.
O processo de obtenção de créditos seria similar aos fundos de capitais de risco de créditos de carbono. Um crédito de carbono é a representação de uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida para a atmosfera, contribuindo para a diminuição do efeito estufa. Assim, a partir da diferença dos dois cenários, é calculado quanto de carbono deixou de ser emitido com essa substituição, gerando assim os créditos. O mesmo se passaria para os créditos de exercício, que seria a moeda utilizada no mercado de exercício. Considerando os efeitos benéficos do EF e AD e tendo em consideração os níveis de prática da população portuguesa, definir-se-ia o referencial de prática ajustável, devidamente calendarizado (exemplo 50% de prática em 2021), e da unidade de medida, designada de crédito de exercício físico e AD (CEFAD) correspondente ao valor de referência semanal (1 CEFAD= 3 h, exemplo).
As entidades públicas/privadas com níveis de prática mais baixo do que o referencial e CEFAD, comprariam créditos de exercício para compensar os níveis reduzidos ao mesmo tempo que investiam em projectos de promoção de prática institucional. Assim, por um lado, ajudariam a manutenção do projecto de aumento de prática pelo financiamento e, por outro, procuravam equilibrar o nível de prática com programas próprios junto das entidades produtoras (OD’s).
Comprar créditos de exercício no mercado corresponderia, desta forma, a comprar uma permissão para baixos níveis de prática (BNP). O preço dessa permissão, negociado no mercado, seria necessariamente inferior ao da multa que o emissor deveria pagar ao fundo, poder público, pelos BNP. Para o emissor, portanto, comprar créditos de exercício no mercado significa, na prática, obter um desconto sobre a multa devida. Devemos olhar para as crises como oportunidades de crescermos pessoal e institucionalmente. Mesmo que não sejam estas as opções, algo pode e deve ser feito para salvar o desporto."